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8.3.25

Diário e reflexões



Dia Internacional das Mulheres

São Paulo, 8 de março de 2025. Sábado.


Estive hoje na Avenida Paulista para participar dos atos do Dia Internacional das Mulheres, o 8M, ou 8 de Março. Cheguei pontualmente no horário chamado para o início do evento, 14 horas.

O fechamento do vão livre do MASP foi uma sacanagem que deu certo por parte dos poderes da casa-grande. Simplesmente não temos mais como nos concentrarmos em frente ao lugar mais tradicional de São Paulo porque a medida tirou o ambiente de concentração das massas. Não há inocência na política. A medida foi higienista e para nos tirar de lá.

À medida que os grupos de manifestantes foram chegando, e começou a ficar perigoso para as pessoas por risco de atropelamento pelo fluxo constante de carros na avenida, nós fomos obrigados a nos concentrarmos do outro lado do MASP, na praça em frente. As centenas de policiais do governo do Estado não ajudam em nada, na minha opinião.

Felizmente o ato foi incorpando e assim que as mulheres e as organizações se avolumaram, começaram as intervenções das lideranças a partir do caminhão de som principal. Ouvimos falas potentes de diversas mulheres representando os movimentos de lutas.

Tenho procurado observar os movimentos, as pessoas, os gestos, as expressões, e a cada atividade de ocupação das ruas que participo, mais me convenço que nós não deveríamos abandonar as ruas por qualquer que seja o motivo, não deveríamos! A vida real está lá fora, nas ruas.

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Enquanto eu me deslocava de casa para o local da manifestação do 8 de Março, refletia sobre a questão atual do mundo dominado pelas plataformas das big techs e a inevitável manipulação dos seres humanos nessas redes de arrasto que pescam as multidões humanas como sardinhas para serem enlatadas e devoradas como mercadoria.

Cada dia que passa e que não se altera o poder de manipulação dessa meia dúzia de homens bilionários donos das plataformas que alteram o comportamento de seus usuários em benefício do lucro (desses fdp) e em prejuízo de milhões de pessoas, nós estamos perdendo a humanidade, estamos perdendo a chance de seguir adiante enquanto sociedade humana. Temos que mudar a forma como as big techs capturaram o mundo inteiro.

Faz anos escrevi um artigo no qual defendi que todos os governos e estados nacionais deveriam criar suas plataformas e redes sociais de preferência públicas e com regras claras sobre o funcionamento dos algoritmos e felizmente agora muita gente de nosso campo também defende o conceito e a ideia de nos livrarmos da dependência e captura dessas big techs para salvarmos a soberania e a nossa comunidade.

Fica registrado aqui o meu respeito e a minha esperança em cada mulher e cada homem que esteve hoje na Avenida Paulista. Cada pessoa que escolheu não ficar em casa, não ir para bloquinhos de carnaval, não passear ou descansar, que decidiu ocupar as ruas em um ato político, enalteço e aplaudo! Temos que ocupar as ruas enquanto ainda há espaço público e enquanto ainda não nos proibiram de nos manifestarmos.

William Mendes


6.3.25

Blog A Categoria Bancária - Retrospectiva 2020




RETROSPECTIVA 2020

O segundo ano trágico de governo Bolsonaro começou com a paralisação do mundo perante a maior pandemia mundial em mais de um século. A Covid-19 chegou ao Brasil nos primeiros meses do ano e o povo brasileiro sofreu as consequências de forma exponencial por causa de termos no país um governo negacionista em relação às medidas protetivas sugeridas pelos cientistas e especialistas no mundo todo.

O uso de máscaras, álcool em gel e distanciamento social eram medidas básicas para se evitar ou reduzir a contaminação das pessoas e o grande afluxo aos sistemas de saúde em todas as cidades do país. Apoio econômico e financeiro ao povo e às empresas também era uma necessidade básica para a manutenção das condições básicas de vida e cidadania. E, claro, vacinação em massa, pois a ciência já estudava a confecção de vacinas. O tirano era contrário a tudo isso.

O governo Bolsonaro era inimigo do povo e da classe trabalhadora e só tinha olhos e atenção para o empresariado, os militares e a elite do país, grupos que o mantinham no poder. As primeiras matérias do blog demonstram isso. Após uma quarentena que fiz depois do mandato eletivo na Cassi (jun/2014 a maio/2018), voltei a escrever no blog A Categoria Bancária em julho. Não fiz postagens em 2019.

O presidente da república Jair Bolsonaro vetou (ler aqui) uma conquista do movimento sindical e associativo dos trabalhadores negociada no Congresso Nacional: a ultratividade, ou seja, a manutenção de direitos em acordos e convenções coletivas enquanto patrões e empregados não concluíam as negociações salariais e de direitos. A categoria bancária, por exemplo, tem direitos conquistados há décadas, que poderiam ser perdidos caso não renovados até 31 de agosto, data-base da categoria.

As primeiras matérias no blog, postadas em julho, informam ainda outros esforços de nossas entidades de classe para garantir direitos aos trabalhadores e aposentados. Uma delas é a manutenção do convênio entre a Previ e o INSS para que nossos colegas seguissem recebendo a aposentadoria pública pela Previ. O governo Bolsonaro havia encerrado os convênios. Outra luta em desenvolvimento era a defesa da Caixa Federal, na mira da privatização do governo.

LUTA DE CLASSE

As outras postagens do mês de julho abordam as discussões da campanha salarial da categoria bancária, a vitória da Chapa 1 – Previ para o associado nas eleições do fundo de pensão dos funcionários do Banco do Brasil e tem um artigo meu sobre a saúde dos trabalhadores (ver aqui).

No mês de agosto (de 2020), postei matérias antigas da confederação sobre as negociações com o banco público BB no ano de 2006 para registrar as contradições que existem nas lutas sindicais entre capital x trabalho, trabalhadores x governos. Existem pontos positivos e pontos negativos mesmo em governos simpáticos ao povo pobre e humilde como os do Partido dos Trabalhadores (Lula e Dilma). Claro que é pior negociar com governos de direita e ultradireita, mas é sempre duro defender direitos dos trabalhadores.

Vejam a questão da ultratividade, por exemplo, enquanto o direitista de merda Bolsonaro vetou (em 2020) a manutenção dos direitos de acordos coletivos após a data-base, os governos do PT renovaram a ultratividade em todos os anos cuja medida foi necessária.

CASSI

Por outro lado, qual o sentido de executivos do governo Lula fazerem o que os do Banco do Brasil fizeram conosco nas negociações sobre a Cassi em 2006? As propostas da direção do banco eram péssimas, eram mais que liberais e de direita, os caras no papel de negociadores queriam literalmente “economizar” para o banco às custas de milhares de trabalhadores, colegas deles.

A empresa não cumpria o Estatuto da Cassi desde 1998 e os caras ficaram o primeiro mandato do governo Lula fazendo cara de paisagem ao invés de regularizar o que estava errado. Só em 2005 a direção do BB aceitou negociar a Cassi por força de Acordo Coletivo em campanha salarial e foram 3 anos de insistência nas negociações para se regularizar a questão em 2007. Uma sacanagem!

O que estou afirmando é público, é história. No blog tem dezenas de matérias sobre esse período, matérias da confederação e dos sindicatos. Um exemplo de publicações da época pode ser lido aqui.

E mais, em 2014 e 2015, já estando na gestão da Cassi, os executivos do BB do governo do PT fizeram o mesmo que antes. Os colegas do banco defendiam teses contra os trabalhadores do BB por ideologia liberal, prejudicando os associados da Cassi às vezes igual ou pior do que fizeram os tucanos.

Um exemplo na Cassi: a forma de rateio do custeio por parte dos associados do Plano de Associados só competia a nós definir o modelo e não ao patrocinador. Ele tinha que pagar corretamente seu compromisso estatutário e só (4,5% sobre ativos pré e pós-1998 e aposentados). No entanto, aquela direção tinha uma fixação por quebrar a solidariedade do Plano e fez de tudo para conseguir seu objetivo. Liberais!

PLR NO BANCO DO BRASIL

Ainda em agosto, recuperei um artigo que fiz em 2006 contando a história da conquista da Participação nos Lucros e Resultados no Banco do Brasil e demais bancos públicos (ler aqui), conquista de 2003, enquanto na categoria a PLR é paga desde 1995. Em 2020 os banqueiros quiseram se aproveitar do regime bolsonarista para reduzir o direito.

CAMPANHAS SALARIAIS NO BB FORAM MELHORES COM LULA

Após a campanha salarial da categoria bancária em 2020, postei no blog um pequeno livro a respeito das campanhas da categoria bancária após a eleição de Lula em 2002. Estudei e compilei em março de 2009 as campanhas dos bancários, sobretudo no Banco do Brasil, entre os anos de 2003 e 2008. (ler aqui)

TERCEIRIZAÇÃO DA ATIVIDADE-FIM DA CASSI

Fechei o ano de 2020 em dezembro com 4 textos sobre gestão em saúde. Além de abordar a questão do modelo de atenção primária baseado na medicina de família e comunidade, fiz artigos de opinião sobre a terceirização da atividade-fim de nossa Caixa de Assistência dos Funcionários do BB, a Cassi, que lançou naquele ano parcerias no mercado para fazer o que deveria ser feito por unidades próprias de atendimento em saúde, as nossas CliniCassi. Os 4 artigos podem ser lidos aqui.

É isso. Mais um caderno do blog concluído para meu centro de documentação (cedoc).

William Mendes

5.3.25

E o "Bem Cassi" terceirizado lá de 2020? Deu em quê?


Apresentação do blog:

Escrevi sobre o plano "Bem Cassi", modelo de terceirização da atividade-fim da Caixa de Assistência (Cassi), faz mais de 4 anos (em 09/12/20). Como está o plano na atualidade? E o projeto? Ao reler o que escrevi em 2020 me parece que as preocupações que apresentei seguem atuais.

William


"Viver é muito perigoso... Querer o bem com demais força, de incerto jeito, pode já estar sendo se querendo o mal, por principiar. Esses homens! Todos puxavam o mundo para si, para o concertar consertado. Mas cada um só vê e entende as coisas dum seu modo." (ROSA, 2001, p. 32/33)


OPINIÃO


A Cassi apresenta projeto que claramente visa terceirizar o que a Caixa de Assistência tem de melhor, a Atenção Primária e a Estratégia de Saúde da Família, desenvolvidas através das CliniCassi, essência do modelo assistencial que possibilitou o menor custo assistencial de participantes vinculados à ESF em graus complexos de necessidades mesmo nas maiores faixas etárias. Ao invés de ampliar o modelo próprio, de baixo investimento e de bom custo-benefício, direção opta por terceirizar a atividade-fim da Cassi, uma triste escolha ideológica


Terceirização é uma praga! O capitalismo parece invencível, mesmo sabendo que a vida é a grande derrotada com a vitória do modo de produção capitalista, cujo foco absoluto é o lucro e a mais-valia dos explorados em benefício de pouquíssimos humanos. Com a hegemonia do capitalismo neoliberal tudo na sociedade humana gira em torno desse sistema de acumulação de tudo nas mãos de poucos. A terceirização faz parte dessa lógica.

Sinceramente, eu não sei como começar esse artigo. Perdi o jeito para tratar de assuntos mais técnicos como fiz ao longo de muitos anos ao falar de saúde e de sistemas de saúde como gestor eleito de uma autogestão dos trabalhadores, enfim, enquanto meu lugar de fala foi como diretor de saúde da Caixa de Assistência dos Funcionários do Banco do Brasil (jun/2014 a mai/2018) escrevi mais de 600 textos a respeito dos temas de interesse dos trabalhadores na área de saúde. Aliás, eu tinha um público preferencial como leitor: os formadores de opinião, lideranças e representantes dos associados da Cassi, trabalhadores da ativa e aposentados do BB.

RESPEITO A OPINIÃO DE QUEM PENSA DIFERENTE

Em primeiro lugar, quero registrar que minha opinião sobre esse processo de terceirização da atividade fim da Cassi é uma opinião respeitosa, feita no plano das ideias. Eu conheço parte dos colegas que estão na gestão de nossa Caixa de Assistência, e respeito a opinião deles. Sou defensor ardoroso da ampliação da ESF para o conjunto dos participantes Cassi, todos sabem disso. 

A questão de minha divergência é quanto à estratégia adotada de terceirizar a essência da Cassi. Vejo com muita preocupação isso, tanto no presente quanto no futuro. A epígrafe inicial, do personagem Riobaldo Tatarana, traz sabedoria e um alerta aos defensores da APS/ESF na Cassi: "Querer o bem com demais força, de incerto jeito, pode já estar sendo se querendo o mal, por principiar".

NÃO SE ABRE À CONCORRÊNCIA O QUE SE TEM DE MAIS PRECIOSO

Certa vez, ainda jovem, quando participava de estudos sobre autoconhecimento, aprendi que os seres humanos seriam julgados nos finais dos tempos ou no dia do julgamento final - dependendo de como cada um vê essas questões metafísicas - os humanos seriam julgados de acordo com o conhecimento que tinham, de acordo com o que fizeram ou que não fizeram quando poderiam ter feito. Os mestres diziam aos estudantes que quanto mais conhecimentos adquiríamos, maior seria o peso do julgamento de nossos erros porque não poderíamos alegar ignorância ("não-saber", no sentido respeitoso) e desconhecimento das coisas. Nesse sentido, ignorância seria uma benção!

Sinto que tenho que registrar minha opinião sobre o projeto de terceirização da atividade-fim da Cassi, o "Bem Cassi", piloto lançado em Curitiba (PR) nesta conjuntura de "novo normal" do mundo sob pandemia de Covid-19 e sob a fase capitalista atual, que muitos intelectuais chamam de necrocapitalismo. Eu não tenho informações detalhadas e "técnicas" a respeito do projeto "Bem Cassi"; a informação que tenho é a propaganda do lançamento dele, que vi hoje em um vídeo de 4 minutos e que li no hotsite do projeto. A Cassi vai ampliar a APS/ESF através de duas empresas terceirizadas. De novo, cito Riobaldo Tatarana do Grande Sertão: Veredas: "Eu quase que nada não sei. Mas desconfio de muita coisa". (ROSA, 2001, p. 31)

MINHA OPINIÃO RESPEITOSA É BASEADA NO CONHECIMENTO ADQUIRIDO POR EXPERIÊNCIA NA GESTÃO DA CASSI

Durante 4 anos, eu tive a oportunidade de conhecer a autogestão dos funcionários do Banco do Brasil, a Cassi. Estudei sua história de quase oito décadas. Quase não dormi por 4 anos, pois tive que intercalar os percalços da escolha das estratégias que adotamos no planejamento do mandato: estudar as questões técnicas do sistema Cassi, participar dos fóruns deliberativos internos (milhares de súmulas, notas e documentos), estar nas bases formando e informando os participantes. Em síntese, seria:

1. Estudar a Cassi (tudo: história, processos, pontos fracos, pontos fortes, desafios, soluções, essência da associação, modelo assistencial, modelo de custeio, responsabilidades de cada um: os associados, o patrocinador, a própria Cassi e seu corpo de profissionais, os "parceiros" no mercado privado que vendem serviços caríssimos e nem sempre adequados etc). 

2. Manter os direitos dos associados: solidariedade no custeio entre participantes jovens e idosos, sãos e adoecidos, de baixa renda e com remuneração/benefícios maiores, da ativa e aposentados (ex-colaboradores segundo o patrão) e com o patrocinador assumindo a parte dele na proporção estatutária 40/60 no custeio do plano para todos (ativos e aposentados), enfim: solidariedade plena para todos poderem estar no Plano de Associados por toda a vida. 2.1. Manter a democracia na associação: pesos iguais na gestão entre patrocinador BB e associados para tomada de decisões; aumentar a participação dos associados através de envolvimento nos conselhos de usuários, sindicatos, associações, conferências de saúde, parcerias entre unidades do BB nos Estados e Unidades Cassi/CliniCassi (PCMSO, ESF, Convênios, canais de solução locais).

3. Informar e formar a base associada com conceitos básicos sobre a Cassi, o que era a Caixa de Assistência, seu modelo assistencial, os direitos em saúde maiores que os de planos de saúde de mercado, e buscar colocar os intervenientes do sistema Cassi no mesmo objetivo: fortalecer a Cassi perante o mercado privado prestador de serviços e consumidor dos recursos da Caixa. Fizemos mais de 600 matérias a respeito, mais de 40 boletins mensais; 53 conferências de saúde que contaram com milhares de associados, 65 reuniões presenciais com os conselhos de usuários e dezenas de visitas às unidades Cassi e CliniCassi e entidades representativas nos Estados.

DIVERGÊNCIA ENTRE CAPITAL E TRABALHO É NORMAL QUANDO SE TRATA DE DEFINIR AS RECEITAS E AS FORMAS DE RATEIOS DA ASSISTÊNCIA MÉDICA DE UMA COLETIVIDADE

Como representantes dos trabalhadores, tivemos que defender a Cassi e os direitos dos associados diuturnamente, ora porque chegavam propostas "técnicas" (e políticas) que de alguma forma eram desfavoráveis aos associados (principalmente querendo onerar mais os associados e dependentes e/ou reduzir os recursos e custos que o patrocinador tinha obrigações de investir), ora porque as propostas eram prejudiciais à essência do que era a Caixa de Assistência - uma autogestão de trabalhadores, baseada na Atenção Integral à Saúde, cujo modelo assistencial se desenvolvia através de unidades próprias de Atenção Primária em Saúde (APS) e Estratégia de Saúde da Família (ESF), com programas de saúde que se adequavam às estratégias do modelo. Junto a esse modelo de Atenção à Saúde dos associados, tínhamos um convênio exitoso de saúde do trabalhador (PCMSO) que atuava na saúde de 100 mil funcionários do Banco do Brasil. Os dois sistemas convergiam na busca de saúde coletiva da comunidade BB em todo o território nacional.

Para defender a Cassi e seu modelo assistencial, tivemos que desfazer uma quantidade absurda de mal-entendidos, desinformações e ignorâncias (não-saberes), lugares comuns e, às vezes, até mentiras (fake news). O próprio patrocinador, através de alguns de seus representantes à época, contribuía para desinformar os participantes da ativa e aposentados (e suas entidades representativas) quando sugeria que o modelo assistencial da Cassi não era eficiente, que as Unidades Cassi e CliniCassi não atendiam seus objetivos, que a estrutura da Cassi era cara e onerosa etc. Inclusive, o patrocinador atuou fortemente na desconstrução dos direitos estatutários dos associados na gestão da associação, dizendo que a autogestão não tinha mecanismos de decisão adequados. Lógico que aqui estamos falando que a "grita" do banco era quando a Cassi não aprovava as propostas mais favoráveis ao patrão/patrocinador e contrárias aos interesses dos associados.

CONSEGUIMOS UNIR A COMUNIDADE BANCO DO BRASIL NA DEFESA DO MODELO ASSISTENCIAL, DA ESTRUTURA PRÓPRIA DE SAÚDE E DOS PROFISSIONAIS DA CASSI. PROVAMOS QUE A ESF REDUZ O CUSTO DO SISTEMA, MESMO COM POPULAÇÃO MAIS IDOSA

Por 4 anos, mesmo sem recursos financeiros e materiais adequados, fomos grandes incentivadores dos profissionais da Cassi, principalmente das áreas de saúde, para que seguissem atuando naquilo que mais tinham perfil para atuar: desenvolver estratégias para ampliar o modelo de saúde APS/ESF, a promoção de saúde e prevenção de doenças, o acompanhamento dos participantes crônicos, a recuperação dos pacientes adoecidos e agravados etc. Basta ver que ampliamos em mais de 20 mil o número de cadastrados na ESF. A Cassi desenvolveu estudos nunca feitos nos planos de saúde que apresentaram resultados das vantagens do modelo de APS/ESF numa população relativamente estável ao longo do tempo no Plano de Associados e nos crônicos do Cassi Família. Colocamos todos os intervenientes na mesma direção para defender o modelo assistencial da Cassi.

Além disso, também desfizemos os mal-entendidos e as bobagens que se falavam da estrutura de saúde da Cassi, Unidades Cassi, CliniCassi, quadro próprio de profissionais do sistema de Atenção Primária/ESF e PCMSO. O custo administrativo da estrutura Cassi era o menor do setor de saúde brasileiro, em relação às empresas similares de autogestão, das medicinas de grupo e das cooperativas médicas. Uma estrutura absolutamente eficiente ao se comparar o custo-benefício. E isso com a Cassi tendo a maior quantidade de idosos do setor no país! Os recursos do sistema Cassi (mais de 90%) são gastos nos prestadores através das internações, e grandes despesas assistenciais com materiais, exames etc. Os recursos são gastos na estrutura de 2º e 3º graus e de apoio na rede privada.

A estrutura de Atenção Primária da Cassi, com quase 150 equipes de família nas 66 CliniCassi e 27 unidades Cassi, e a estrutura de medicina do trabalho (PCMSO) era e é muito barata e deveria ser ampliada ao longo dos anos para poder reduzir o custo assistencial na compra de serviços de saúde na rede prestadora daquilo que não era possível fazer na estrutura primária da Cassi. A direção e os associados poderiam avaliar diversas formas de verticalização ou parcerias para atendimento das demandas de segundo e terceiro graus e estruturas de apoio à saúde. Isso é normal e faz parte das estratégias de gestão.

A autogestão Cassems dos servidores do Estado do Mato Grosso do Sul, por exemplo, é um caso exitoso de verticalização própria de hospitais pequenos e médios nos interiores do Estado, e também laboratórios e clínicas, inclusive de Atenção Primária. Nós propusemos ampliar a estrutura própria da Cassi de Atenção Primária e ampliar os serviços nas CliniCassi, inclusive criando estruturas para especialidades, para dar sequência no atendimento primária da ESF. O investimento era baixíssimo, se comparado com o custo assistencial dos participantes na rede privada em serviços similares. A estrutura própria de saúde da Cassi é eficiente e de baixo custo administrativo. Isso é fato.

A TERCEIRIZAÇÃO É GRANDE RESPONSÁVEL PELA CONCENTRAÇÃO DE RECURSOS A POUCOS E PELA EXCLUSÃO DO ACESSO A DIREITOS POR PARTE DA CLASSE TRABALHADORA 

Tem uma reflexão do historiador Eric Hobsbawm, contida no livro A era dos extremos, que ilustra bem o que estamos vivendo neste momento da história humana em relação à superexploração do trabalho através de terceirização, quarteirização, uberização, privatizações transformando direitos em serviços etc:

"(...) De qualquer modo, o custo do trabalho humano não pode, por nenhum período de tempo, ser reduzido abaixo do custo necessário para manter seres humanos vivos num nível mínimo aceitável como tal em sua sociedade, ou na verdade em qualquer nível. Os seres humanos não foram eficientemente projetados para um sistema capitalista de produção. Quanto mais alta a tecnologia, mais caro o componente humano de produção comparado com o mecânico." (HOBSBAWM, 2006, p. 404)

Já estamos superando até os cabeças de planilha do sistema capitalista, aqueles que planilham tudo para cortar custos diariamente e aumentar os resultados das empresas (tudo é empresa, e tudo visa eficiência operacional "em tese"). Os próprios trabalhadores são destacados para direcionar os clientes/usuários aos novos serviços tecnológicos que irão cortar os postos de trabalho deles mesmos. 

Um exemplo disso no setor de saúde é a panaceia chamada de "telemedicina", que virou uma espécie de "Emplasto Brás Cubas" para curar todos os males da humanidade. Uma coisa seria a telemedicina auxiliar os processos de saúde durante a crise humanitária da pandemia de Covid-19 ou como sequência de um atendimento já com histórico do paciente; outra coisa é substituir o acolhimento presencial das pessoas por "telemedicina" como começa a surgir no mercado dos serviços de saúde.

Nos bancos, os bancários foram obrigados a empurrar os clientes para terminais de autoatendimento, serviços telefônicos e terceirizadas ao lado do banco. Os trabalhadores com direitos trabalhistas coletivos históricos são demitidos e convidados a serem eles mesmos "empresas" e isso deu nos uberizados do mundo. Os donos de tudo ficam mais bilionários e os trabalhadores mais miseráveis e sem nada. Como diz Hobsbawm, os trabalhos dos seres humanos estão ficando mais caros que qualquer processo por máquina e até os centavos gastos com uberizados têm que ser reduzidos... 

A INTENÇÃO PODE SER BOA, MAS TERCEIRIZAÇÃO DA ATIVIDADE-FIM DA CASSI É UMA OPÇÃO RUIM E TALVEZ SEM VOLTA, CASO SE ABRA MÃO DA ESTRUTURA DE SAÚDE DA CAIXA DE ASSISTÊNCIA

Durante 4 anos de mandato fizemos "loonngos" debates com as representações do patrocinador/patrão contestando e refazendo cálculos de planilhas sobre as Unidades Cassi, as CliniCassi (eram eficientes ou não?), o quadro de profissionais da Cassi (eficientes e preparados ou não?); apresentávamos outro ponto de vista e em muitos casos convencemos os colegas com argumentos consistentes como a eficiência da ESF, como o baixo custo administrativo da Cassi, dentre outros. Discordei de todas as propostas nas quais o Banco poderia deixar de custear os aposentados, ou cobrar mais de quem usasse mais o sistema Cassi, quebras de solidariedade, redução de direitos em saúde etc. 

No entanto, a hegemonia do capital e do mercado é uma praga! É sempre assim! Enquanto se veem com maus olhos qualquer investimento em estrutura própria (ou despesa administrativa), que poderia trazer economias importantes de milhares e milhões de reais em despesa assistencial na compra de serviços caros na rede privada, o foco das discussões acaba sendo repetidamente desviado para o custo administrativo e as supostas vantagens em contratar ou fazer fora o que se poderia fazer na própria autogestão. E daí vem a solução mágica do mercado: TERCEIRIZAÇÃO, com os nomes mais perfumados possíveis.

Por 4 anos, ouvi dos mais diversos setores, dirigentes e profissionais da Cassi que tínhamos razão em quase tudo que discutíamos sobre ampliar a APS/ESF e a estrutura de saúde do modelo assistencial Cassi. A questão era a época errada para aquela discussão: não tínhamos recursos na Caixa por causa dos déficits recorrentes e subfinanciamentos do sistema. E agora? A escolha por terceirizar a atividade-fim do modelo assistencial da Cassi é por falta de recursos? Não me parece.

É isso! Para quem está fora dos debates há mais de dois anos, já fiz o registro respeitoso do que penso sobre esse projeto "Bem Cassi" de terceirização da Cassi naquilo que é a essência da autogestão. A tendência lógica desse "modelo" é vermos depois do piloto as planilhas de "eficiência operacional", depois as comparações com a estrutura interna de saúde da Cassi, depois as dificuldades de investimento próprio, depois a opção em expandir a terceirização e reduzir os "custos" da estrutura da "empresa" etc. 

Eu não culpo as representações dos associados por às vezes apoiarem iniciativas que podem não ser tão ideais para os trabalhadores (TERCEIRIZAÇÃO não é boa para os trabalhadores) porque certas áreas de conhecimento precisariam da assessoria técnica e de dirigentes eleitos com visões de mundo próximas ao mundo do trabalho, dirigentes que dialogassem com os sindicatos, associações e conselhos de usuários e que, se necessário, se colocassem contra os interesses do capital, do patrão. É uma questão de lado, e nesse sentido não tenho visto isso acontecer na Cassi. E repito: respeito os colegas que temos lá, conheço muitos deles. 

Aproveito para reafirmar meu grande apreço pelos trabalhadores da Cassi, que além de serem muito dedicados à autogestão, cumprem suas tarefas com muito profissionalismo.

Esta é minha opinião sobre o "Bem Cassi". Finalizo meu registro com mais uma reflexão do personagem Riobaldo Tatarana, contida no Grande Sertão: Veredas: "pão ou pães, é questão de opiniães... O sertão está em toda a parte" (ROSA, 2001, p. 24)

Abraços a tod@s e desejo uma Cassi fortalecida em seu modelo assistencial, sustentável e com uso racional dos recursos, solidária em seu custeio do Plano de Associados, longeva e que seja para o conjunto dos trabalhadores da ativa e aposentados e seus dependentes.

William


Bibliografia:

HOBSBAWM, Eric. Era dos extremos - O breve século XX, 1914-1991. São Paulo: Companhia das Letras, 2006.

ROSA, João Guimarães. Grande Sertão: Veredas. 19ª edição. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2001.


1.3.25

Blog A Categoria Bancária - Retrospectiva 2023




RETROSPECTIVA 2023


Os 16 textos do blog A Categoria Bancária não repercutiram no ano de 2023 ações políticas como nos anos pares, aqueles que contêm nos calendários do ano as eleições do país.

Os temas tratados em meus escritos foram mais relacionados à história das lutas da classe trabalhadora, notadamente com o viés de um militante de banco público que além de bancário sindicalizado foi também dirigente nacional de uma das categorias mais organizadas do Brasil.

Meus textos de memórias já vinham sendo produzidos desde o ano de 2021 e após confeccionar mais cinco capítulos dessa temática dei por encerrado o percurso de visitas a momentos marcantes em minha vida como bancário politizado pelos bancários da Central Única dos Trabalhadores. Ao total, foram 39 capítulos de memórias.

Outro tema que escrevo quando entendo ser necessário dizer o que penso sobre algum acontecimento ou tendência de futuro é sobre a Caixa de Assistência dos Funcionários do Banco do Brasil, a autogestão em saúde Cassi. Por ter sido gestor eleito da associação, me tornei um estudioso de sua história e do funcionamento do setor de saúde suplementar no Brasil.

A gestão da Cassi passou por mudanças no ano de 2023 por termos eleito outro governo. Novos gestores foram indicados para a direção da operadora de saúde, que tem na gestão a metade eleita pelos associados e a outra metade indicada pelo patrocinador Banco do Brasil, estatal do governo federal.

Fiz apenas três textos sobre a Cassi no blog. No entanto, os textos tiveram 8 mil acessos. Por isso escrevo com muita responsabilidade.

Em linhas gerais, reflito nas postagens as consequências que podem advir com a mudança de foco no modelo assistencial da autogestão, que perseguia até 2018 objetivos de avançar na Estratégia de Saúde da Família (ESF) com unidades de atendimento e equipes próprias de saúde, modelo que melhora o uso da rede prestadora onde se compra serviços – nossos estudos demonstraram isso com participantes fidelizados à ESF – e segue apostando na terceirização do modelo, inclusive incentivando mais uso de rede através de teleatendimento, nas gestões de 2019 adiante.

Por fim, fiz alguns textos da série sobre a história dos bancários sob meu olhar de participante ativo nas lutas sindicais das últimas décadas. Li um livro sobre o Banco do Brasil no formato de revista comemorativa feito por Afonso Arinos a pedido da direção do banco nos anos oitenta. E também comento alguns materiais informativos feitos pela categoria bancária, como boletins O Espelho e outros.

Mais um caderno do blog sistematizado. 

Repito o que digo em meus textos: a intenção de tudo que compartilho nos blogs é trocar experiências, dar opinião sobre temas dos quais conheço alguma coisa ou acabei de aprender e partilhar saberes.

É isso!

William Mendes

Blog A Categoria Bancária - Retrospectiva 2022


Militância reunida após as lutas em 2022.


RETROSPECTIVA 2022


Os 26 textos do blog A Categoria Bancária no ano de 2022 foram textos basicamente de memórias, a exceção foi uma nova série que iniciei sobre a história dos bancários, reflexões feitas a partir do manuseio dos materiais que acumulei ao longo das últimas décadas de movimento sindical.

Pensando bem, tanto as memórias quanto os textos de história trabalham com o mesmo material: as lutas de nossa classe trabalhadora em geral, e as lutas da categoria bancária, principalmente a partir do olhar de um militante que participou do movimento entre o final do século passado e as primeiras décadas do novo milênio.

O ano de 2022 também foi decisivo para o futuro do Brasil porque no segundo semestre ocorreram as eleições presidenciais e o povo brasileiro escolheu em segundo turno se queria como presidente Jair Bolsonaro ou Luiz Inácio Lula da Silva.

O processo eleitoral foi muito difícil, as condições de disputa foram absurdamente desiguais, e nunca se abusou tanto da máquina pública e do poder econômico para tentar manter um político no poder como fizeram naquele ano. Vencemos a eleição, contra tudo e todos.

Ainda antes de terminarmos com a longa noite de terror que durou do Golpe de Estado contra Dilma em 2016 até a vitória de Lula de forma democrática em 2022, a casa-grande e toda a canalha agregada a ela já iniciou a tentativa de novo golpe antes da diplomação do presidente eleito, em novembro daquele ano.

No ano seguinte, 2023, o Brasil veria no dia 8 de janeiro cenas nunca vistas de ataques às instituições da República. As investigações apontaram recentemente que planejaram matar o presidente Lula. Mais uma vez, evitamos o golpe, mas foi por pouco.

Os textos de memórias foram escritos ao longo do ano, no calor dos acontecimentos, sofrendo tudo o que as pessoas conscientes e politizadas sofriam ao ver a destruição de anos de bolsonarismo e golpismo e ataques aos direitos sociais, políticos, civis e humanos do povo brasileiro.

Ao reler os textos, para preservá-los em forma de livro de memórias, e para encadernar a produção textual de uma vida política e sindical, achei textos e abordagens bem atuais e que poderiam suscitar reflexões sobre os temas tratados ainda hoje.

É meu desejo desde o início da produção textual, contribuir com o que aprendi ao longo da vida de estudos, de lutas e representações.

Pronto mais um caderno dos blogs.

É isso.

William Mendes


Post Scriptum: estou sistematizando toda a minha produção textual nos blogs. Neste sindical e de política e história, estou encadernando os textos por ano de produção. 

A síntese do caderno do ano de 2023 pode ser lida aqui. Já em relação ao caderno do ano de 2024, a síntese pode ser lida aqui.