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15.11.22

Memórias (XXXIV)



Ainda é possível debater, argumentar, divergir e unir as pessoas em torno de objetivos comuns construídos de forma coletiva e plural? Podemos esperar do governo Lula uma mudança de diretrizes nos bancos e empresas públicas para deixarem de atuar como o setor privado atua?

Opinião


Osasco, 15 de novembro de 2022. Terça-feira.


As últimas semanas foram para mim um período de contatos com muitas pessoas, conhecidas e desconhecidas. As eleições brasileiras me fizeram sair de casa e me arriscar ao contato com os desconhecidos para buscar os indecisos e conquistar votos que pudessem tirar o país das mãos criminosas da milícia ocupando o poder central do Brasil. Relembrei um pouco do que vivi por quase duas décadas de representação política. A experiência me fez bem, me senti parte de uma luta e de uma conquista coletiva.

Os seres humanos de hoje estão muito diferentes dos seres humanos das décadas nas quais contatava pessoas para debater problemas comuns do mundo do trabalho e da cidadania para construir através de organização e mobilização direitos coletivos e um mundo diferente do qual criticávamos. Tive a oportunidade de lidar com seres humanos antes da criação das redes sociais que mudaram para pior o comportamento dos homo sapiens. Estamos virando bichos diferentes do que fomos nos últimos milhares de anos de evolução da espécie.

Apesar de começar essas memórias criticando o caminho pelo qual a nossa espécie vai, quero registrar momentos de esperança nas lutas coletivas, haja vista termos conseguido um grande feito ao derrotarmos a maior máquina de fraudes eleitorais de nossa história brasileira. A eleição de Lula contra tudo que enfrentamos demonstra que há chances de mudarmos as coisas para melhor, por mais difícil que seja a nossa realidade de classe trabalhadora. A eleição de Lula significa que se uma parte da humanidade quiser podemos nos unir pra salvar a natureza e a vida.

MILITÂNCIA POPULAR ESTÁ SE ORGANIZANDO

Neste sábado 12 participei de uma reunião de avaliação política da militância do Partido dos Trabalhadores da região do Butantã, zona Oeste de São Paulo. Que reunião boa tivemos! Mais de 80 pessoas presentes. Apesar de morar em Osasco, tenho uma relação de carinho e afeto com a região do Butantã porque nasci no bairro Rio Pequeno, cresci brincando nas ruas do bairro e me alfabetizei na Escola Estadual Prof. Adolfino Arruda Castanho.

O diretório do Partido na região é presidido por um companheiro bancário, um militante muito dedicado às lutas e um exemplo para tod@s nós. Ver a militância fazendo campanha me fez sair de casa e me unir a ela para conversar com as pessoas e lutar para mudar a trágica realidade brasileira que vínhamos enfrentando sob um governo genocida e criminoso.

Na reunião, ouvimos dezenas de pessoas, lideranças comunitárias, e ao final tivemos uma análise de conjuntura feita pelo querido companheiro José Genoino, um dos militantes mais antigos do diretório do Partido dos Trabalhadores da região do Butantã. Genoino é uma referência para mim e para tod@s nós que sonhamos e lutamos com um mundo mais justo e solidário.

Depois de duas décadas envolvido até os ossos com as lutas políticas da categoria bancária e da classe trabalhadora brasileira eu estava um pouco isolado do dia a dia das lutas coletivas. Participar de reuniões como essa de sábado me trouxe muitas memórias positivas do quanto é importante ouvir as pessoas, debater propostas e buscar soluções coletivas para melhorar a vida das pessoas.

Uma preocupação: estava observando as discussões da militância em uma rede social na qual me incluíram e em poucas horas vi duas pessoas começarem a divergir em uma questão, depois serem ríspidas uma com a outra, depois passarem a se ofender e ainda no mesmo dia terminaram com agressões e ofensas terríveis... gente, assim fica difícil construir um mundo melhor se não há tolerância e paciência para o básico da relação humana: divergir nas ideias... o desafio é grande!

BANCOS PÚBLICOS PRECISAM MUDAR AS DIRETRIZES A PARTIR DO GOVERNO LULA

Outra atividade social que tenho tido a oportunidade de participar de vez em quando é o contato com colegas bancários do Banco do Brasil, colegas da ativa e aposentados, momento no qual podemos compartilhar experiências atuais dos colegas nos locais de trabalho e às vezes comparar situações com algumas experiências que vivemos juntos quando estávamos no dia a dia da atividade bancária.

Na sexta-feira 11 conversando com colegas do banco sobre as funções sociais que o BB e os bancos privados priorizam e as que eles não querem fazer, pude ouvir a opinião sincera dos colegas ao se sentirem putos com a folga dos bancos privados em não receberem sequer os títulos deles mesmos, fazendo com que as pessoas queiram pagar no BB títulos dos bancos privados. Ouvi as justificativas dos colegas e eles têm razão de estarem na bronca. Mas também falei um pouco do que penso a respeito do papel dos bancos em geral e dos bancos públicos em particular.

Para que serve um banco, seja ele público ou privado? O que justificaria na atualidade a existência de um banco se as novas tecnologias e as novas formas de movimentação de meios de pagamentos mudaram radicalmente nas últimas décadas? Hoje, uma pessoa cria um banco digital, sem um funcionário sequer e começa a captar dinheiro das pessoas e fazer com o recurso o que bem entende... Para que serve um banco público ou estatal ainda hoje? 

Não vou num espaço deste de memórias refletir sobre as questões acima. Aliás, tem gente mais competente e mais atualizada nos temas para fazer isso. Mas não esqueço as noções que tinha desde quando entrei na categoria bancária e me politizei nela, trabalhando desde os anos oitenta até recentemente.

Eu entendo que um banco, principalmente um banco público ou estatal, deve ser um parceiro da população do local onde atua. Um banco deve fornecer crédito de forma facilitada e com taxas justas, deve financiar pessoas físicas e jurídicas - setores da agricultura, indústria e comércio -, deve guardar de forma segura os recursos das pessoas e empresas, e também as contas oficiais dos governos e órgãos públicos. Um banco deve executar políticas públicas e ser o agente dos governos no apoio ao desenvolvimento econômico e social.

Um banco público deve atuar de forma a balizar o sistema bancário e financeiro inclusive quando os bancos privados não fazem o papel que deveriam fazer em benefício da coletividade. O exemplo mais claro disso foi o caso brasileiro durante a crise mundial do subprime a partir de 2008, quando o governo Lula e depois Dilma utilizaram os bancos públicos e oficiais para atuarem de forma anticíclica na política de crédito e apoio à economia do país. 

Não à toa, tomamos dezenas de milhões de clientes dos bancos privados no período posterior à crise econômica mundial após o subprime, foi nos bancos públicos que a sociedade brasileira encontrou o apoio necessário aos seus negócios, e os bancos privados ficaram putos com o governo do PT e há suspeitas de que os banqueiros tiveram papel relevante na desestabilização do governo e apoio ao golpe de Estado em 2016.

Enfim, se o governo Lula quiser mudar alguma coisa em relação aos bancos públicos, é fundamental que comece mudando as diretrizes e metas estabelecidas a partir dos ministérios e conselhos de administração porque se as metas e o foco forem idênticos ao que perseguem a banca privada, fica impossível esperar outra coisa dos bancos públicos que não sejam metas abusivas, assédio moral ao corpo funcional, extorsão aos clientes e ao povo e a insatisfação de todo mundo, trabalhadores, clientes e usuários.

Imaginem, então, se o governo Lula não mudar as diretrizes e o foco dos bancos públicos com atuação privada atualmente, bancos como Banco do Brasil, Caixa Econômica Federal, BASA, BNB, BNDES e outras empresa estatais e públicas, como serão complicadas as relações internas e com a própria sociedade brasileira... imaginem! 

Estou na torcida para que o novo governo tenha uma atuação diferente em relação ao governo de destruição que está terminando e em relação ao governo golpista que iniciou a destruição do patrimônio público e dos direitos coletivos e sociais do povo brasileiro.

É isso. Paro as reflexões e memórias por hoje.

William Mendes


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30.9.22

Memórias (XXXIII)


Posse de Lula e novo ciclo, 01/01/2003.
Com os amigos Genésio e Rafael.

Opinião

As redes sociais e os algoritmos das corporações de comunicação capitalistas inviabilizaram as democracias liberais e hoje não temos como evitar manipulações em resultados de consultas populares e eleitorais 

1. Acordei nesta sexta-feira posterior ao debate presidencial de ontem à noite com um cansaço grande. Demorei pra sair da cama. Por ser aposentado do Banco do Brasil não precisei sair para trabalhar embaixo de chuva e frio. Diferente da maioria do povo brasileiro que depende de conseguir algum recurso para sobreviver ao próprio dia e que depende da nossa previdência pública quando conseguiu cumprir certas regras de aposentadoria, sobrevivo hoje do benefício de nosso fundo de pensão, caixa de previdência criada por nossa comunidade de trabalhadores há 118 anos. 

2. Meu olhar de mundo é marcado pelo que sou e pelo que fui. Não posso me colocar na posição de visão de mundo de um bancário comum, de um cidadão comum, normalmente despolitizado. Não sou como a maioria do povo brasileiro porque tive a oportunidade na vida de me formar politicamente. Minha experiência de vida me obriga a lidar com as coisas com o conhecimento que tenho do mundo. Por mais que todos nós sejamos humanos e tenhamos nossos comportamentos manipulados pelos sistemas criados para tal, tenho que avaliar a realidade material como ela é. O tal lugar de fala tem relação com isso.

3. Este momento eleitoral da história brasileira me lembra um pouco algumas campanhas da categoria bancária na qual me formei politicamente ao longo de três décadas. Às vezes, situações setoriais ilustram bem conjunturas maiores, as partes podem demonstrar como seriam as tendências no todo. Acontecimentos em segmentos menores de aglomerações humanas podem servir de referência para avaliações de probabilidades e perspectivas em conjuntos muito maiores de aglomerações humanas. Ou seja, talvez experiências vividas na categoria bancária possam ilustrar um pouco o macro, o Brasil e o povo brasileiro.

4. As eleições de domingo, 2 de outubro, vão ser decididas no 1º turno ou teremos um 2º turno longuíssimo de caos para decidir o futuro do Brasil? Ganhar no 1º turno e esperar 90 dias para uma eventual posse do que sobrar do Brasil é uma possibilidade? O contexto atual é muito diferente das eleições de 2014, quando já estava avisado que se o PT ganhasse não levaria o mandato adiante? Nosso lado está preparado com planejamento mínimo situacional para amanhecer segunda-feira começando um 2º turno? Essas são algumas de minhas preocupações...

5. Essas indagações que faço a mim mesmo são mais para me lembrar das discussões políticas que fui aprendendo ao longo da militância na categoria bancária do que para querer apontar alguma coisa para o Brasil, pois eu não tenho essa capacidade. Menos, bem menos! Estou pensando nas tendências dos acontecimentos em nossa realidade brasileira e mundial mais como um ex-bancário militante que virou dirigente da categoria e viu como se deram os acontecimentos no passado recente (20 anos é um passado recente, sim!). Não tenho como prever absolutamente nada do que vai acontecer amanhã.

CAMPANHAS BANCÁRIAS NAS QUAIS AS DIREÇÕES SINDICAIS SOUBERAM CONDUZI-LAS BEM NA ADVERSIDADE DAQUELE MOMENTO

6. (2002 e 2022) A campanha salarial dos bancários desse ano me pareceu um pouco a campanha salarial dos bancários no último ano do governo dos tucanos em 2002. Sabíamos que não daria para avançar naquele contexto e nem a inflação conseguimos repor com FHC. Eram 8 anos de massacres dos direitos e derrotas. O movimento sindical era de resistência, não de avanços e conquistas. Neste ano de 2022, os bancários vinham na mesma toada de resistência contra os massacres de direitos no pós-golpe de 2016 e reformas dos governos criminosos de 2016 até agora. A campanha de 2022 se deu sob a ameaça do fim da ultratividade, sob o risco de perdas enormes de direitos após 31 de agosto. Amig@s, não queiram saber como deve ter sido difícil a vida dos dirigentes sindicais numa conjuntura dessas... eu não julgaria de forma alguma quem está no comando das representações dos trabalhadores. É uma dureza tomar decisões assim.

7. Na campanha salarial de 2003, primeiro ano de governo democrático e popular de Lula, o contexto novo foi de difícil interpretação por parte das lideranças da classe trabalhadora. Isso é um pouco esperado, por suposto: ao ver um sindicalista chegar ao poder, espera-se a revolução, o mundo vindo por canetadas (ninguém se lembra que a chegada de Lula ao poder foi conciliação de classes e não revolução). As movimentações nos diversos segmentos de lutas foram intensas. Vários atores exerceram seus papéis. A vida das lideranças sindicais não foi tão fácil quanto se imaginaria porque foi difícil dosar o que se esperava nas negociações salariais com o que se arrancaria de propostas entre trabalhadores e governo Lula. Se em 2002, aceitamos propostas rebaixadas para encerrar um ciclo macabro, em 2003 apresentamos propostas insuficientes para o que significava o novo contexto de governo do PT. No BB, a proposta de acordo de campanha salarial foi rejeitada em assembleias pelo país afora e uma greve gigante arrancou diversos direitos novos três dias depois. As direções sindicais conduziram bem a situação: da derrota nas assembleias, fizemos uma condução da greve e tivemos um fechamento vitorioso de campanha.

8. Na campanha salarial de 2004, novamente teríamos dificuldades das lideranças do movimento sindical para dosar o nível de desejos das bases e suas expectativas com as propostas construídas ao longo de meses de negociações salariais na categoria bancária. As direções se pautaram pelas reivindicações aprovadas nos fóruns de trabalhadores, o que é correto. A campanha de 2004 dos bancários me faz pensar um pouco neste contexto de 2 de outubro de 2022... Ao final das negociações de 2004, conseguimos arrancar em mesa negocial as bases econômicas e sociais das reinvindicações da categoria. Tinha aumento real de salário, tinha melhoria na PLR, tinha direitos sociais novos no acordo coletivo, entre eles a 13ª cesta alimentação, e pela proposta tínhamos tudo para renovar os direitos da categoria sem o conflito máximo entre capital e trabalho: a greve. Mas havia um componente emocional e comportamental que as oposições souberam trabalhar com as oportunidades que tinham e as pessoas foram convencidas a rejeitar tudo e sair para a greve. Criaram desconfianças em relação às direções, ilações diversas (fake news) e fomos para 30 dias de greve. Felizmente, as direções souberam novamente conduzir o movimento e os danos pela rejeição da proposta foram reduzidos por aguentarmos uma greve longa. A interferência da Justiça do Trabalho (com apoio daqueles que estimularam a rejeição da proposta e a greve) reduziu a proposta apresentada e perdemos direitos conquistados em mesa de conciliação de classes. Repito: as direções conduziram bem a greve e o fechamento da campanha.

ESTAMOS PREPARADOS PARA A REALIDADE PARA ALÉM DE NOSSOS DESEJOS?

9. Estamos vivendo uma mudança de era na história da humanidade. As tecnologias surgidas no último quarto de século, do final dos anos noventa para o momento atual, as tecnologias da informação, das redes sociais, ampliaram exponencialmente a capacidade de manipulação de massas através dos algoritmos: manipulações antes restritas a espaços geográficos menores agora são de alcances incalculáveis. Mudou-se radicalmente nossa capacidade de previsão e controle das coisas nas sociedades humanas. O mundo virtual passou a definir o mundo físico, real, material. As consultas políticas aos povos nos mais diversos lugares do planeta - eleições e plebiscitos - em 2014, 2016, 2018 etc vêm demonstrando o poder que as big techs exercem sobre milhares, milhões, bilhões de pessoas. As evidências de que não temos controle algum do que vai acontecer no mundo real por causa das manipulações do mundo virtual estão na nossa frente a olhos vistos e não temos o que fazer para deter ou interromper essas máquinas e esses sistemas, dominados por poucos, dominando milhões.

10. Muito já foi dito sobre as interferências ilegais e ilegítimas, fora das regras e dos controles sociais, sobre processos de consultas populares como as eleições norte-americanas de 2016 e da consulta no Reino Unido sobre o Brexit. As redes sociais foram utilizadas de forma inadequada por setores com interesses nos resultados das consultas populares e há uma clareza de que houve interferência no comportamento dos milhões de consultados a favor de tal posição e contrários a outra posição. Estudos e documentários demonstram que as redes sociais criadas nas duas últimas décadas interferem no comportamento das pessoas - exemplo, o documentário premiado "O dilema das redes" -, alteram o comportamento das pessoas mesmo. Isso mudou dos últimos anos para cá? Descobriram alguma forma de interromper a capacidade de influência no comportamento das pessoas por parte dos poucos donos desses sistemas privados de redes sociais? Francamente, não! Não temos como impedir e ou controlar esses processos de alteração de comportamentos por fake news em massa.

11. Todos esses sistemas são movidos a dinheiro, grana, capital. Isso é claro pra vocês? Nossos perfis nessas redes sociais são a mercadoria negociada com os compradores de influência, de manipulação e criação de desejos e comportamentos. Hoje se sabe que os algoritmos são ferramentas para nos catalogar e nos vender como mercadorias para aqueles que pagam para os donos das redes sociais pelos nossos dados, pelos nossos desejos, pelas nossas almas, nossas mentes. As big techs vendem a certeza de que nós vamos consumir o que as empresas (e pessoas) pagaram para obter. Mais que isso, os algoritmos funcionam para impulsionar todo esse sistema. Tudo é movido a dinheiro, grana, capital. Se é possível comprar dezenas de imóveis com pacotes e malas de dinheiro vivo (milhões e milhões), imaginem vocês o que é possível pagar em dinheiro vivo para essas empresas fazerem disparos de milhões bilhões de mensagens mentirosas para influenciar o comportamento de pessoas em poucas horas, dias, semanas... Não há como deter as fake news em 2022 que influenciaram as eleições em 2018 no Brasil. Não há! Leiam o pequeno livro de Jaron Lanier sobre "Dez argumentos para você deletar agora suas redes sociais" para vocês terem uma noção do que estamos falando. Leiam!

12. Enfim, por que vejo semelhanças nessas eleições brasileiras de 2022 com as campanhas dos bancários em 2002, 2003 e 2004? Porque existe uma onda de possibilidades e expectativas positivas para o nosso lado da classe, para o lado progressista da sociedade brasileira. Existe. Mas existe uma coisa que está muito além de nosso controle, de nossa capacidade de deter e talvez de enfrentar. As pesquisas eleitorais em 2018 erraram feio nos mais diversos lugares e contextos. Já havia a interferência dessas máquinas e sistemas de interferência no comportamento das pessoas movidos a milhões de dinheiros por fora pra espalhar fake news de forma certeira em cada grupo de pessoas com seus medos, raivas e tendências (os algoritmos sabem bem disso). Estamos a dois dias das eleições. Os mesmos sistemas estão a todo vapor atingindo dezenas de milhões de pessoas para influenciar seus comportamentos até domingo. O objetivo do momento é Lula não vencer no 1º turno. Se conseguirem isso, será quase um mês de caos e 2º turno é outra eleição, lembrem-se disso!

13. Nas campanhas salariais dos bancários que citei como referência, as direções souberam lidar com as adversidades que se apresentaram naquelas situações e conseguiram conduzir bem as campanhas até o desfecho positivo para a categoria bancária. Espero que nossas direções dos movimentos sociais, progressistas e de oposição a essa extrema-direita que tomou o poder estejam bem para a eventualidade de acordarmos na segunda-feira 3/10 iniciando um difícil e imponderável 2º turno nas eleições presidenciais do Brasil. Repito: não devemos subestimar todas as formas de fraudes e ilegalidades na alteração de resultados a consultas populares neste momento da história. Espero inclusive que as direções não esmoreçam e não diminuam a energia que conseguimos até aqui nessa onda positiva e progressista que nos faz acreditar na possibilidade de vencermos logo no domingo 2/10 essa desgraceira brasileira capitaneada pelo bolsonarismo.

Que tudo dê certo para o nosso lado da classe*.

#LulaNoPrimeiroTurno

William Mendes


Post Scriptum: repito: neste instante em que escrevo ou que você lê, as plataformas das big techs, como o YouTube, movidas a dinheiro, lucro, privilegiam, e muito, sugestões de conteúdos favoráveis ao inominável genocida ou sua patota. Estudos como o do NetLab (UERJ) mostraram dias atrás que 14 de 18 visitas à plataforma sugeriam vídeos de uma fonte bolsonarista. Quanto mais próximo da data da eleição, maior é o favorecimento das plataformas aos candidatos da direita. É o dinheiro que define isso! Antes de concluir esse texto, dois sites de esquerda e progressistas que visitei indicaram vídeos do inominável e do "passa a boiada". É impressionante, até nos endereços de esquerda as sugestões do algoritmo do YouTube são as da direita...


*De fato, Lula e Bolsonaro foram para um segundo turno que se mostrou dificílimo. A eleição foi definida a favor de Lula por uma margem bem pequena de votos em 30 de outubro de 2022.


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19.9.22

História dos bancários: um olhar (VI)



Nosso Banco do Brasil tem mais de dois séculos de existência, mas não é bem assim...

Seguindo nas leituras de meus papéis velhos sobre a história dos bancários e das lutas de nossa categoria, lendo o livro comemorativo dos 180 anos de história do BB, vemos que na verdade o banco criado em 1808 por D. João VI (ler comentários aqui) seria encerrado em 1829, por lei do período regencial.

"As finanças do país iam de mal a pior. Em 1829 contraíramos novo empréstimo externo, ainda em Londres, destinado ao pagamento dos juros dos dois empréstimos anteriores. Em setembro de 1829 decidira-se por lei, a extinção do Banco do Brasil, que tantos serviços prestara." (p. 18)

A extinção do Banco do Brasil se mostrou um erro para o país à época. A economia daria sinais de melhoria com a crescimento da produção de café como produto de exportação e o país vivia um problema grande com a questão de crédito e emissão de moeda.

"Com a liquidação do Banco do Brasil, em 1829, deixaram de existir estabelecimentos bancários no país. isso indica o erro que foi a extinção do Banco, às vésperas da recuperação econômica trazida pelo café." (p. 19)

Hoje li mais três capítulos do texto de Afonso Arinos. Décadas depois da criação e encerramento do 1º Banco do Brasil, outro banco estatal ou público ou ligado ao governo iria surgir nos anos cinquenta do século 19, sendo ele fruto da fusão de dois bancos privados, um mais antigo do Rio de Janeiro e outro criado pelo Barão de Mauá.

O banco criado por Mauá também se chamou Banco do Brasil, apesar de ser privado.

"Em agosto de 1851, fundava o futuro visconde de Mauá um estabelecimento de crédito a que deu a denominação de Banco do Brasil. Vinha ele concorrer com o Comercial do Rio de Janeiro, único até então na capital do país." (p. 23)

A FUSÃO DE BANCOS QUE CRIOU O BANCO DO BRASIL EM 1853

O novo Banco do Brasil, segundo o texto de Afonso Arinos, foi criado em 1853 da fusão do banco de Mauá e o Comercial do Rio de Janeiro e da subscrição de capital de acionistas em geral.

"Em 1853, graças à iniciativa já referida do visconde de Itaboraí, ocorreu a fusão dos dois bancos do Rio de Janeiro num só estabelecimento com faculdade emissora, que conservou o nome do Banco do Brasil, desta vez, porém, com todas as características oficiais. Nessa fusão, Mauá entrara com 50.000 ações e o Banco Comercial com 30.000. As restantes ações, completadas até atingir o total de 150.000, foram lançadas na praça sendo rapidamente subscritas. Ainda em 1853 aprovaram-se os estatutos e o novo Banco do Brasil - para cuja diretoria Mauá fora eleito, recusando a homenagem - abriu suas portas em abril do ano seguinte." (p. 28)

Enfim, Mauá não quis participar da diretoria por divergências em relação ao papel do Banco do Brasil à época (1854) como, por exemplo, ser emissor de moeda, e criou seu próprio banco - Casa Bancária Mauá Mac Gregor & Cia.

Por fim, li um capítulo dedicado à questão da abolição da escravatura e ao final do capítulo, Arinos fala um pouco do papel do Banco do Brasil na estabilização da economia entre o fim do Império e o início da República e termina o texto do capítulo VII com uma lamentável expressão sobre a guerra de Canudos e seus combatentes:

"A recuperação financeira só teria, porém, condições favoráveis, depois de consolidada a República e exterminados os fanáticos de Canudos (1897)."

Puta que pariu! Essa é a visão elitista dos intelectuais de nossa "elite" da eterna casa-grande.

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GOSTO PELA HISTÓRIA

Eu ganhei a revista comemorativa de um gerente da agência onde trabalhei até o ano de 1998 - Rua Clélia -, época que sofri uma transferência compulsória (PAQ) para outra agência por ser o cara próximo ao Sindicato e que enfrentava com os colegas os desmandos dos gerentes da nossa agência. Acabei indo parar na agência Barra Funda e lá fiquei por dois anos, antes de pedir transferência para a agência Vila Iara em Osasco, no ano 2000.

Sempre gostei de história, de todas as linhas de textos de história, sejam textos da história antiga, sejam textos da história do Brasil. Depois que comecei a ser militante das lutas sindicais passei a me interessar também pela história dos movimentos sindicais e dos trabalhadores. Aos poucos fui acumulando muito material que pegava para ler e aprender alguma coisa sobre a categoria na qual trabalhava.

Se for possível, vou reler boa parte dos materiais que acumulei e comentar alguma coisa aqui no blog onde sempre postei questões relativas ao mundo do trabalho e da política. 

Tenho grande preocupação com o desaparecimento da história de nossas lutas sindicais. Tudo que escrevo aqui, depois acabo organizando e imprimindo em forma de cadernos ou brochuras. Ficam mais uns papéis em casa até que eu morra e alguém decida o que fazer com aquilo.

ELEIÇÕES 2022

Dia 2 de outubro teremos eleições no Brasil. O povo brasileiro vai eleger presidente da república, governadores, senadores e deputados federais e estaduais.

Como sabemos, a história das empresas públicas, estatais e de economia mista está diretamente ligada às opções que fazemos enquanto cidadãos que participam das decisões políticas do país.

Raras vezes, uma eleição foi tão decisiva para os destinos de todos nós e das empresas públicas. E a decisão em 1º turno se tornou mais importante ainda por causa das ameaças de golpe por parte do grupo criminoso que se apossou do Estado nacional.

Sendo assim, voto e peço o voto de cada colega da comunidade Banco do Brasil e da categoria bancária para o presidente Lula e para candidaturas aliadas ao presidente Lula nos Estados e DF, principalmente nos legislativos, deputados federais e estaduais.

#Lula13NoPrimeiroTurno

William Mendes


Bibliografia:

História do Banco do Brasil - Texto do Prof. Afonso Arinos de Melo Franco. Colaboração do Prof. Herculano Gomes Mathias. Edição de junho de 1988, produzida pela diretoria do Banco do Brasil.


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16.9.22

Memórias (XXXII)



"Você não é anarquista, William! Você só gostaria que as coisas funcionassem como deveriam funcionar"

Meus tempos de formação política foram os melhores anos de minha vida. Todo dia tinha ensinamento novo, seja participando de palestras e reuniões políticas, seja participando de cursos de formação ou nas leituras que fazia para conhecer a nossa história, seja dialogando com os trabalhadores na base, seja nas conversas amenas com companheiros e companheiras no dia a dia.

A lembrança a seguir não ocorreu exatamente com as palavras que registro abaixo, claro, reproduzo um pouco da essência do diálogo que tive com o companheiro Sérgio Braga, na Contraf-CUT, diálogo que me marcou e ficou registrado na memória. Depois da conversa, é lógico que fui estudar mais coisas a respeito do tema. Sempre que tínhamos debates na Confederação, era natural que o estudo dos temas fosse o caminho seguinte para evoluirmos enquanto dirigentes nacionais de uma categoria tão importante quanto a dos bancários.

Eu estava elencando situações que geravam muita decepção no dia a dia das pessoas porque elas depositavam esperanças nas instituições da sociedade e simplesmente as coisas não funcionavam corretamente ou funcionavam até de forma contrária ao que deveriam ser. Hoje, eu poderia sintetizar os diversos exemplos que talvez tenha dado na conversa como um estado de anomia, de falta de normas e regras que funcionem na sociedade na qual vivemos. 

Na ocasião, devo ter falado sobre o que achava que fosse "anarquia" e o companheiro Sérgio Braga provavelmente me explicou o que era a concepção do anarquismo enquanto movimento ideológico e em seguida, já me conhecendo, disse que eu não era anarquista, que eu simplesmente gostaria que as coisas funcionassem como deveriam funcionar numa sociedade organizada e democrática, num estado de direito. Hoje entendo perfeitamente o que o companheiro de lutas e amigo Sérgio me explicou à época. 

Aliás, um pouco das concepções e práticas sindicais da tendência política na qual militávamos no movimento sindical, a Articulação Sindical da CUT, eram baseadas nessa questão de organizar as classes trabalhadoras para que as instituições do Estado nacional funcionem plenamente, ou seja, é muito do que Lula e o PT defendem para a sociedade brasileira, um estado de direito que funcione para todas as pessoas, com igualdade de oportunidades e participação social em todos as dimensões da vida humana em sociedade. E com o pleno respeito às minorias e opiniões divergentes. Democracia é sobretudo respeitar as minorias e não somente um governo das maiorias esmagando as minorias.

Pois é...

ANOMIA APÓS O GOLPE DE ESTADO DE 2016

Imaginem a decepção que qualquer pessoa minimamente politizada ou decente e honesta sente neste momento da história brasileira após o golpe de Estado em 2016 estando todos nós sob governos de destruição de todas as instituições da vida nacional, governos que vieram para destruir tudo que a sociedade brasileira havia construído em séculos de lutas populares para que as pessoas tivessem o mínimo de seus direitos mais comezinhos respeitados como cidadãs. 

A estratégia dos golpistas era destruir tudo - direitos sociais, coisas públicas, regras sociais, a natureza, a cultura etc - para que não houvesse referência alguma em matéria de estado de direito. É assim que vivemos há 7 anos, numa terra de ninguém, sem leis que valham para todos, na base da violência dos mais fortes e mais espertos (os privilegiados de sempre) e com as relações sociais e comerciais baseadas em nada, sem regras, sem termos a quem ou que recorrer, sabendo que se tentarmos seguir as regras só seremos feitos de trouxas, e ainda vamos nos sentir uns manés afetando nosso estado psicológico pelas decepções por nada funcionar como deveria funcionar. Que merda nos enfiaram!

RECEIO DE ACREDITAR EM INSTITUIÇÕES QUE NÃO FUNCIONAM

Vivemos um dilema nos dias que correm, um dilema.

Nós que gostaríamos que as instituições da vida nacional funcionassem agimos, em muitas situações, como se as instituições funcionassem... francamente... vivemos num estado de anomia e nada funciona no Brasil após o golpe de Estado que destruiu tudo (como previa a estratégia dos inimigos). Vivemos sob um estado de exceção! Sem entender isso, fica difícil.

Eu poderia dar mil exemplos. Mil. Tanto da vida nacional - a política - quanto da vida cotidiana, de cada ser humano que sabe que as instituições da vida civil não funcionam mais. Dou um exemplo banal:

- Faz 17 dias que minha esposa fez um pedido de compras de supermercado pelo site como ficou comum após a pandemia. No dia seguinte, fizeram a entrega de 10 "volumes", sacolas lacradas. A compra deu 951 reais. Como tudo está caríssimo, cada mês a compra fica mais cara e o volume fica menor... Após subir com as sacolas, minha esposa foi abrindo e ticando as mercadorias. No fim, faltaram diversos itens. Faltaram 391 reais em mercadorias não entregues. Fizemos tudo que é necessário fazer num caso desses. Ligamos para o mercado, falamos com o SAC, registramos por email, foi gerado nº de protocolo... tudo. Um dia e não retornaram, 2 dias... a gente ligando atrás da solução com o nº do protocolo... 3 dias... acionei a administradora do meu cartão de crédito para pedir apoio e cancelamento do que paguei e não recebi... faz 17 dias... só recebemos uma ligação do SAC do supermercado uns 4 dias depois dizendo que iriam verificar se nós estávamos falando a verdade (!?)... são 17 dias e eu pensei num monte de coisas: levar as mercadorias que entregaram e jogar lá no mercado, entrar no mercado e pegar o que faltou e sair dizendo que já havia pago... e por saber como está o Brasil, avaliei que poderia tomar um mata-leão de algum segurança e ainda deixar a família na mão; que se chamasse a polícia poderia acontecer dos caras ficarem do lado dos "empresários" do mercado, que talvez sejam "amigos" da polícia... enfim, acho que tomei no cu em meus 391 reais.

O exemplo acima, do cotidiano, é percebido por qualquer pessoa. Depois do golpe, depois do Temer, depois do verme no poder, não existe mais lei nem instituição para as pessoas comuns. Pra nada! As empresas fazem o que querem com os "consumidores". Os governos fazem o que querem com o dinheiro do povo sem prestar contas (orçamento secreto...). A maior autoridade do país mente diversas vezes ao dia no cargo e não acontece nada. É um mundo Mad Max... Os poderosos fazem tudo com dinheiro vivo (prática para lavar dinheiro ilegal) e nada acontece com eles...

E seguimos vivendo (ou morrendo) num mundo Mad Max. Andei mais de 5 mil quilômetros pelas estradas do Brasil dias atrás e sabemos que aquilo é terra sem lei. As pessoas andam pelas estradas como se estivessem jogando GTA. Não existem mais sinais de trânsito, setas, cultura de faixa na via para mais e menos velocidade, nada! É o caos!

Ontem, reli no meu blog um texto de 2018 (ler aqui) no qual comentava meu desalento por causa das injustiças, pelas instituições do Estado não funcionarem como deveriam funcionar. Foi um texto feito no dia seguinte à ilegalidade de excluírem Lula das eleições de 2018, foi sobre o desrespeito e a destruição às leis e normas que existiam no Brasil e que nos levou a essa situação que nos encontramos neste momento, numa anomia social e na prevalência do crime organizado ocupando os poderes e determinando a calamidade em nossas vidas de cidadãos que vivemos neste país chamado Brasil.

Tenho muito receio ao ver que meus companheir@s e as pessoas em geral, gente de boa-fé, parecem acreditar piamente que as instituições estejam funcionando normalmente. Ao ver o quanto se acredita em pesquisas de intenção de voto, por exemplo, até parece que nada aconteceu em 2016, 2018, 2020... gente que sabe o quanto as pesquisas podem ser manipuladas e manipulantes agora só pensa nas pesquisas 24 horas por dia... impressionante! Vai ver agora os mesmos agentes públicos que executaram o golpe contra Dilma, contra Lula, contra o PT, contra o povo brasileiro, agora vão respeitar e permitir a volta de Lula, do PT, das possibilidades favoráveis ao povo brasileiro... 

Gostaria de acreditar que as instituições do Estado nacional estejam funcionando, mas acho difícil que isso aconteça e tudo dê certo ao final, que o dia 2 de outubro corra tudo bem pra nós etc. As instituições estão tomadas pelos nossos inimigos, pelo crime organizado... Mas... 

TEMOS QUE ENCERRAR ESSE LONGO ANO DE 2016

Pois é.

Temos que encerrar a longa noite que começou com o golpe em abril e agosto de 2016 contra o povo brasileiro. São válidos todos os esforços que os movimentos sociais e as pessoas do campo progressista estão fazendo para recuperarmos o Brasil e o estado democrático de direito. Todo esforço é válido.

Vamos votar em Lula e nas candidaturas do campo progressista caso tudo corra bem durante o dia 2 de outubro. Vamos votar em Lula num provável 2º turno se as instituições continuarem "funcionando" como estão atualmente... 

Repito: não acho que as instituições estejam funcionando, não acho! Afinal de contas, o clã criminoso no poder está participando do processo eleitoral normalmente (a anomia...). Mas consideremos que estejam funcionando...

Acho que não sou anarquista. Minha formação política e cultural não caminhou para isso. No entanto, por ter a visão de mundo que tenho neste momento da história, registro meu receio grande de que as instituições não funcionem como deveriam funcionar para essas eleições, para a vida nacional a partir de 1º de janeiro e adiante. Não é o que percebo ao acompanhar a realidade brasileira desde 2016.

Apesar de meus receios,

#LulaNoPrimeiroTurno

William


Post Scriptum: no dia seguinte ao texto, vejo uma das tais pesquisas, a do Datafolha, que traz a informação de que até 9% dos eleitores podem deixar de votar no dia das eleições por medo de violência. Desses, 10% são eleitores de Lula e só a metade é do verme fascista (5%). É assim que a extrema-direita tem atuado no mundo na última década. Onde há eleições com cenários apertados, atua-se para que o lado progressista dos eleitores não compareça às urnas, alterando o resultado que seria esperado pelo desejo real da população. É uma merda! No caso brasileiro, os 10% de eleitores de Lula não votarem ou até mesmo a metade disso, já equivale a aumentar a chance de 2º turno e o caos pretendido pelo verme fascista e seus seguidores...


Para ler o capítulo anterior, é só clicar aqui. O capítulo seguinte pode ser  lido aqui.


9.9.22

Memórias (XXXI)



Há 30 anos tomava posse de meu cargo de escriturário do Banco do Brasil, vaga conquistada por concurso público

Dia 9 de setembro de 1992, numa segunda-feira, me dirigi logo cedo para a agência Rua Clélia, na região da Lapa, bairro de São Paulo, para tomar posse da vaga de escriturário do Banco do Brasil, após cumprir todas as etapas anteriores na área de gestão de pessoas do banco público. 

Prestei o concurso em 1991 e após ser aprovado tive que fazer novamente as provas porque o resultado foi cancelado por fraudes ocorridas em Brasília (DF). Felizmente passei novamente e lá estava eu dia 9 de setembro para começar a trabalhar no maior e mais antigo banco público do país. Aquele dia mudou a minha vida.

Ao me atentar à data de hoje, 9 de setembro de 2022, comecei a me lembrar de alguns momentos dessa relação de uma vida inteira entre um cidadão e uma empresa, me lembrei de diversas experiências que vivi como funcionário dessa instituição pública tão importante na história do Brasil e do povo brasileiro desde o início do século 19.

Eu me lembro que ainda nos primeiros anos de trabalho, lá na Rua Clélia, tive propostas para sair do BB e ser sócio de empresa de contabilidade, pois eu havia me formado em Ciências Contábeis. O senhor Luís, um cliente do banco, queria de todo jeito que eu fosse sócio da empresa dele. No BB, nós vivíamos o inferno na Terra com o governo de FHC (PSDB): demissões, perseguições, suicídios de colegas, PDV, o terror. Acabei optando por ficar no banco.

Agora mesmo, enquanto escrevo, são muitas lembranças dos primeiros anos de trabalho no BB, lembranças que vão se alternando em minhas memórias. O que me tornei pra vida toda teve muito a ver com o que vivenciei nos primeiros anos de banco, na relação com os colegas de trabalho e com o sindicato de nossa categoria. 

Hoje entendo que sempre tive uma natureza de servidor público, de querer servir à coletividade, de ajudar e atender às pessoas. Nunca seria um "empresário", um capitalista. Isso não tem nada a ver comigo. 

Foram 10 anos atuando no dia a dia nas agências bancárias, mais de 9 anos como caixa executivo, atendendo a clientes e público em geral. Depois vieram os desafios da representação dos colegas bancários: 4 mandatos no Sindicato dos Bancários, 3 mandatos na Confederação e um mandato na direção de nossa autogestão em saúde. 

Foram quase 27 anos de trabalho em nosso querido Banco do Brasil, sim, "querido" porque o BB pode e deve continuar sendo um agente do desenvolvimento do Brasil e do povo brasileiro, e isso nos dá um orgulho imenso em pertencer a essa instituição, a essa comunidade, a essa história do Brasil.

A FORMAÇÃO POLÍTICA ATRAVÉS DO MUNDO DO TRABALHO

Vejamos meus primeiros ensinamentos do mundo do trabalho em uma grande empresa...

Eu era estagiário do Banco do Brasil na agência do Ceagesp no ano de 1992. O estágio era pelo fato de eu ter começado a cursar faculdade de Ciências Contábeis. O dia a dia no local de trabalho sempre tinha debates e reflexões sobre a política nacional e o mundo do trabalho. Eu só havia experimentado algo parecido durante os dois anos que passei no Unibanco (1988-1990) porque lá conheci o pessoal do Sindicato, me sindicalizei e ajudei a organizar uma greve.

Naquele ano de 1992 o Brasil inteiro acompanhava as denúncias de corrupção do governo Collor e nos bancos sempre havia as fortes mobilizações da data-base da categoria em setembro. No Ceagesp vi muitas análises sobre a campanha dos bancários do ano anterior, uma campanha difícil que havia sofrido reveses por interferência dos tribunais de justiça, sempre favoráveis aos patrões e governos.

Aí comecei minha vida de funcionário do BB. Achava que a vida de jovem brasileiro seria bem melhor por trabalhar numa grande empresa estatal. Mal cheguei ao banco e chegou ao governo federal o social-democrata Fernando Henrique e o massacre do funcionalismo público começou também...

O aprendizado da organização nos locais de trabalho (OLT) foi acelerado, foi na veia. Havia organização tanto interna quanto com o apoio do Sindicato. O alvo do governo eram os trabalhadores mais antigos de banco, com maiores direitos sociais acumulados em décadas de lutas sindicais. 

Me arrepio e me emociono só de lembrar o quanto meus colegas sofreram com os ataques perpetrados pelo governo e pelos meios ideológicos dos privatistas - a tal imprensa secular, a voz da casa-grande contra as senzalas, contra a classe trabalhadora.

Como disse acima são tantas memórias que vêm umas atrás das outras ao me lembrar da minha história na comunidade de trabalhadores da ativa e aposentados do Banco do Brasil que se eu deixasse os dedos registrarem as lembranças faria um texto enorme. 

Posso resumir neste 9 de setembro de 2022 que o homem que me tornei é o resultado do aprendizado de três décadas de convivência com o mundo do trabalho numa grande empresa com organização interna por parte dos trabalhadores, é resultado de ter pertencido a uma grande categoria com sindicatos fortes e organizados.

O cidadão com consciência política que me tornei é resultado direto sobretudo da oportunidade que tive de representar com mandatos eletivos meus colegas de trabalho por quase duas décadas.

Hoje não estou mais no dia a dia dos trabalhadores do Banco do Brasil e da categoria bancária, mas carrego comigo a politização que aprendi das lutas sociais e coletivas, e procuro acompanhar as questões do mundo do trabalho e dos direitos sociais da forma que meu cotidiano particular me permite neste momento.

Desejo que o Banco do Brasil e todas as associações por nós criadas ao longo de mais de um século permaneçam em nossas vidas por muito tempo, desejo que as empresas públicas sejam preservadas e fortalecidas e que os direitos sociais voltem a ser conquistados pelo povo brasileiro após encerrarmos esse período devastador que vivemos com o crime organizado ocupando espaços de poder no Brasil.

Espero que em outubro possamos virar a página dessa tragédia que vivemos com a destruição do país e de nosso mundo da classe trabalhadora*.

Eu voto #Lula13Presidente porque quero o melhor para o Brasil e para o povo brasileiro.

William Mendes


*Lula foi eleito pela 3ª vez presidente do Brasil em outubro de 2022.


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8.9.22

História dos bancários: um olhar (V)



Opinião

200 anos de mandiocas, brochas e idiotas

"Elaborou-se o anteprojeto constitucional, a cargo de uma comissão cuja presidência coube ao deputado Antônio Carlos, irmão de José Bonifácio. Em setembro de 1823 era apresentado à Assembleia, com 272 artigos. Tendo fixado, como condição básica para a qualificação dos eleitores, divididos em 4 categorias, o critério de uma renda anual correspondente ao valor de 150, 250, 500 ou 1.000 alqueires de farinha de mandioca, o projeto foi humoristicamente apelidado pelo povo de 'Constituição da Mandioca'." (p. 15)


Ontem foi o dia 7 de setembro de 2022. No Brasil se comemorou os 200 anos de independência política da colônia brasileira de exploração em relação à metrópole imperialista Portugal. Uma data importante porque o início do século XIX foi marcado por diversos processos de independência de regiões das Américas invadidas e massacradas pelos ibéricos e demais povos do Norte.

Pois é...

Nosso 7 de setembro de bicentenário da independência foi um dia de vergonha nacional e internacional!

Fica registrado na história da pátria o discurso da autoridade máxima da nação: "- (sou) imbrochável!".

Tivemos aqui uma nova imagem construída para a data em questão. Apesar de ser uma narrativa questionável, ainda soava bem melhor a mitológica cena do grito às margens do Ipiranga "Independência ou morte!" do que a cena patética do grito de "- imbrochável!", após o sujeito inominável lascar um beijo na sua senhora no palanque do 7 de setembro.

O atual presidente da república em campanha para a sua reeleição sequestrou a data do 7 de setembro para transformar uma data importante de nossa história num palanque eleitoral, com o beneplácito das instituições públicas e autoridades brasileiras. Ele pode tudo, ele é inimputável, nada que ele pratica de irregular é irregular, pois ele continuou e continua lá desde o dia 1º de janeiro de 2019...

Pensando na história da alcunha de "Constituição da Mandioca" ao texto construído pelos constituintes em 1823, me parece que ontem o presidente em campanha quis levar ao pé da letra uma brincadeira do período da independência do Brasil, 200 anos antes, e num certo momento de seu discurso oficial de 1º mandatário (será que lembrou da mandioca?) lascou um beijo na primeira-dama e conclamou ao seu séquito de aloprados que gritassem "- imbrochável!", "- imbrochável!", "- imbrochável!"... (que vergonha...)

(brincadeira minha, ele é um ignorante que engana idiotas e ignorantes, ele não deve saber da questão de história sobre a Constituição da Mandioca, na constituinte frustrada de 1823...)

O Brasil não é para amadores...

Fica registrado o fato nos anais da história. (aff... lá vamos nós com expressões esquisitas)

Sinceramente, brochei ao saber desse discurso que marcou os 200 anos de nossa independência. Aqui é realmente uma terra estranha... e com gente esquisita (ao pensar naquela multidão de verde e amarelo gritando "- imbrochável!").

Dia 2 de outubro de 2022 é dia de apertar #Lula13Presidente e marcarmos uma nova independência do Brasil.

William


Bibliografia:

História do Banco do Brasil - Texto do Prof. Afonso Arinos de Melo Franco. Colaboração do Prof. Herculano Gomes Mathias. Edição de junho de 1988, produzida pela diretoria do Banco do Brasil.


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7.9.22

História dos bancários: um olhar (IV)



A independência do Brasil

"Ao deixar o Brasil, em abril de 1821, o rei D. João VI, que confiara a Regência de nosso País a seu filho D. Pedro, não alimentava dúvidas sobre a nossa Independência. Tornou-se famosa a frase em que recomendava ao herdeiro que, no caso da separação, pusesse a coroa na cabeça não permitindo que ninguém lhe tomasse a dianteira.

Na realidade, expressara-se da seguinte forma: 'Pedro, se o Brasil se separar, antes seja para ti, que me hás de respeitar, do que para alguns desses aventureiros'." (p. 13)


Hoje é 7 de setembro de 2022. Há 200 anos o Brasil se tornava politicamente independente de Portugal. Em situações normais, hoje seria um dia de grandes comemorações por parte de tod@s os brasileiros. Como vivemos num Estado tomado pelo crime organizado desde o golpe de Estado em 2016, a data nacional foi capturada pelo regime de exceção para ser utilizada como evento político de manipulação de parte do povo para que se mantenha os criminosos no poder central.

Como a história é feita diariamente pelos seres humanos, vamos seguir adiante, fazendo história e recuperando a independência verdadeira do Brasil e do povo brasileiro, lutando para que haja eleições diretas e democráticas em outubro de 2022, e lutando para nos libertarmos dessa máfia que assumiu o poder por fraudes diversas e golpes em 2018. Vamos eleger Lula presidente do Brasil, governadores progressistas e parlamentares do campo popular, de esquerda e apoiadores do projeto de Brasil soberano liderado por Lula.

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A INDEPENDÊNCIA DO BRASIL DE FATO OCORREU E TEMOS QUE REFLETIR SOBRE O 7 DE SETEMBRO DE 1822 E OUTROS 7 DE SETEMBRO

Hoje pela manhã, li o ponto de vista de alguns intelectuais que respeito e ponderei a respeito da opinião deles sobre críticas exageradas que se fazem sobre o 7 de setembro.

Opiniões que li no site do Brasil247:

- O economista Paulo Nogueira diz que é um erro dizer que o Brasil se tornou uma colônia da Inglaterra após a independência em 7 de setembro de 1822. Ele afirma que havia divergências políticas entre as elites luso-brasileiras e os ingleses. Eu já disse isso que ele afirma, quando comentei capítulos do livro Formação Econômica do Brasil, de Celso Furtado. Posso ter exagerado, reconheço isso sem problemas. Segundo Paulo Nogueira, a integridade territorial brasileira foi fruto do acerto entre D. João VI e D. Pedro I, veja o acerto na citação acima na abertura da postagem.

Também li opiniões do sociólogo Jessé Souza, do ex-ministro Aldo Rebelo, do presidente do PCO Rui Costa Pimenta e do professor e filósofo Alysson Mascaro e todos eles enaltecem a data do 7 de setembro. A dependência que seguimos tendo até hoje é uma dependência muito atrelada ao imperialismo e ao capitalismo em relação aos países do Norte. E nossa luta pela independência segue firme nesse sentido, a busca de soberania popular em todas as dimensões sociais.

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HISTÓRIA DO BRASIL E DO BANCO DO BRASIL

Voltando à história dos bancários e ao texto de Afonso Arinos em comemoração aos 180 anos de criação do Banco do Brasil, ao reler o capítulo III sobre a independência do Brasil, tive um olhar menos crítico do que a primeira vez que reli dias atrás. 

Afonso Arinos nos lembra do risco que o BB correu logo no início de sua existência ao ficar sem recursos financeiros assim que a Corte retornou a Portugal em 1821.

"(...) Com a partida de D. João, em abril do ano anterior, entrara o meio comercial em pânico. O Banco do Brasil, fora posto em risco pelas retiradas de dinheiro. As dívidas dos que tinham ido para Lisboa ficavam por receber, inclusive a da rainha Carlota Joaquina..." (p. 14)

O Banco do Brasil estava quase falindo já naquela ocasião.

O capítulo III tem subdivisões que nos atualizam bastante sobre o período: A independência; As guerras da independência; A consolidação do império e as dificuldades econômicas do período; O empréstimo de Londres; A Assembleia Constituinte de 1823; A Constituição de 1824.

É por causa desses acontecimentos e dos empréstimos seguidos que o Brasil tomou dos Ingleses, tanto para acertar sua independência em relação a Portugal quanto para se manter internamente, que muitos de nós já fala logo que a independência foi um faz de conta. 

O Brasil se tornou independente de forma política, mas se manteve dependente de forma econômica não só da Inglaterra naquele momento, mas dos imperialismos por causa da hegemonia do modo de produção capitalista no mundo. 

É isso. Seguiremos escrevendo alguns comentários sobre o Brasil e o nosso querido Banco do Brasil e a categoria bancária conforme eu vá relendo materiais que me ajudaram a ser mais politizado.

William


Para leitura do texto anterior, clique aqui.

O texto seguinte desta série (o nº V) pode ser lido aqui.


1.9.22

História dos bancários: um olhar (III)



História do Banco do Brasil - Afonso Arinos

O texto do professor Afonso Arinos de Melo Franco, com colaboração do professor Herculano Gomes Mathias é um dos materiais antigos que tenho em minha biblioteca de estudos sindicais, meu centro de documentação da história da categoria bancária (Cedoc do William rsrs).

O texto veio a público em 1988, encomendado pela diretoria do Banco do Brasil em comemoração aos 180 anos da história de nosso banco público mais antigo. Eu ganhei a edição de um dos gerentes com os quais trabalhei nos anos noventa, quando estava na agência Rua Clélia, dependência fechada após o golpe de 2016, neste duro momento de esvaziamento do papel do BB.

Apesar do formato de revista desse texto, ele é praticamente um livro contendo 14 capítulos. Estou lendo o material e o conteúdo tem muita coisa que me desagrada por ser muito baseado naquela história oficial que nos passaram a vida toda. Basta ver as imagens que ilustram os textos para se ter uma ideia dos lugares-comuns. Mas vamos nos lembrar que o material é de 1988 e o mundo daquele momento era um e o de hoje é outro.

As histórias do Brasil e dos povos e do mundo passaram a ter olhares mais diversos nas últimas décadas e isso foi muito importante para refletirmos sobre o caminhar da humanidade ao longo do tempo. As versões oficiais dos donos do poder passaram a conviver com outros olhares e outras interpretações da história. Imaginem no nosso caso como isso foi impactante...

Enfim, já li 4 capítulos e alguns dados são interessantes porque os autores se basearam em documentos de época e a versão de Afonso Arinos e daquela diretoria sobre a história do Banco do Brasil tem seu valor, assim como outras histórias do banco e dos trabalhadores também têm os seus valores.

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CRIAÇÃO DO BANCO DO BRASIL EM 1808

No capítulo I vemos no texto aquelas versões clássicas de história do Brasil: A expansão territorial; Fundação do Rio de Janeiro; Os bandeirantes; Os tratados de Madri e Santo Ildefonso; Os ciclos econômicos - o Pau-Brasil e o açúcar; o ouro e os diamantes; As limitações impostas por Lisboa.

No capítulo II veremos a parte que conta sobre a criação do BB assim que a corte portuguesa chegou ao Brasil e precisou de uma instituição pública para lidar com as questões financeiras do Estado, no caso a Corte.

Os subtítulos do capítulo: A Corte no Brasil; A abertura dos portos; Importação e Exportação; Fundação do primeiro Banco do Brasil; Primeiros passos da econômica brasileira como nação quase independente; D. Pedro assume a regência do Brasil.

"A desordem na administração financeira era completa, quando a Corte se estabeleceu no Rio de Janeiro.

(...) Naquele tempo as pessoas de recursos recusavam os bilhetes do Real Erário, pois sabiam que o mesmo estava falido. Essa situação perigosa, que já durava desde antes da vinda da Corte, é que levou alguns administradores e estudiosos a pensar na fundação de um Banco de Estado, que viesse atenuar as dificuldades financeiras com as quais se debatia o governo português, tanto em Lisboa como no Rio de Janeiro. O banco cogitado era mais um instrumento de auxílio das finanças públicas do que uma instituição destinada ao progresso da economia particular, quer dizer, da economia do País como um todo e não do governo, como um grupo." (p. 9)

E o autor Afonso Arinos segue em 1988 falando do papel do banco público desde sua criação em 12/10/1808 como um instrumento de Estado.

"Desde os primeiros planos, sempre houve a intenção de fazer do Banco do Brasil um instrumento auxiliar da administração pública, missão que ele, com o progresso do País e as novas normas da administração financeira, continuou sempre realizando e que tem sido a vida dos seus 180 anos.

É datado de 12 de outubro de 1808 o alvará (lei) que criou o Banco do Brasil. Esse documento começa reconhecendo que o Real Erário não tinha condições para realizar os fundos de que depende a manutenção da monarquia. Por isso criava-se, no Rio de Janeiro, um banco público que 'facilite os meios e os recursos de que as rendas reais e as públicas necessitarem para ocorrer às despesas do Estado'." (p. 10)

Fecho as citações dessa parte com uma que tem muita relação com o momento que vivemos no Brasil após o golpe de Estado em 2016, que diz que o BB vai bem ou mal de acordo com o momento político e econômico do país.

"Então, como hoje, como sempre, o Banco do Brasil destinava-se a atender às necessidades do planejamento financeiro do governo e, também, realizar transações com particulares, firmas ou pessoas. As grandes dificuldades que o Banco do Brasil atravessou na sua vida refletiram, sempre, crises internas da nacionalidade. Seus sucessos e fracassos foram o espelho dos momentos de progresso ou recesso nacional..." (p. 10)

BANCO DO BRASIL VIVEU GRANDE MOMENTO NOS GOVERNOS DO PT

Durante os 3 governos do Partido dos Trabalhadores (2003-2014), o BB e demais bancos públicos tiveram papel central de apoio às políticas públicas de Estado para o desenvolvimento do país e de seu povo. Basta citar o papel anticíclico dos bancos públicos na crise mundial de 2008/09 - crise do subprime. BB, Caixa Federal e BNDES financiaram a economia e os setores produtivos do país e o Brasil lidou bem com a crise mundial. Basta ver que o desemprego em 2014 era menos de 5% mesmo com a crise mundial e o desemprego altíssimo no restante dos países centrais e periféricos.

É isso.

À medida que for lendo esse material, vou comentando alguma coisa por aqui. Em 1829, o primeiro BB seria encerrado por lei também... mas essa parte fica para depois.

William Mendes


Post Scriptum: o texto seguinte pode ser lido clicando aqui. Para ler o texto anterior, clique aqui.


29.8.22

História dos bancários: um olhar (II)



Eleições presidenciais de 1989

A categoria bancária brasileira sempre esteve na vanguarda das lutas sociais e ao longo de sua história contou com lideranças políticas concatenadas com as demandas imediatas e também históricas da classe trabalhadora e do povo brasileiro à frente das entidades sindicais. Nas eleições presidenciais de 1989 não foi diferente. Membros da Executiva nacional do BB e outras lideranças sindicais declararam apoio à Frente Brasil Popular e à candidatura de Lula/Bisol, pelo Partido dos Trabalhadores.

Mais de três décadas depois, vivemos em 2022 momentos decisivos da história do país e do povo brasileiro. E essa categoria de lutas e conquistas novamente se coloca na vanguarda tanto ao enfrentar os banqueiros em mais uma dura campanha salarial na qual os bancos estão intransigentes nas mesas de negociação e ameaçam direitos coletivos importantes, quanto é vanguarda ao vermos a imensa maioria das lideranças bancárias apoiando a candidatura de Lula para que o país possa retomar a esperança e as oportunidades para o povo como um todo.

Segue abaixo a reprodução de trechos do material que tenho em meus arquivos pessoais relativo às eleições que ocorreriam no dia 15 de novembro de 1989 para a presidência do Brasil (aos 100 anos de "República"). Eram as primeiras eleições diretas para presidente desde o início dos anos sessenta e após mais de duas décadas de regimes ditatoriais e o povo escolheria entre mais de duas dezenas de candidatos. A eleição se deu após a Constituinte iniciada em 1986 e após a promulgação da nova Constituição Federal, a Constituição Cidadã de 1988.

Materiais como este me ensinaram muito - como liderança nos locais de trabalho e depois como dirigente eleito pelos colegas - e aprendi que era importante nos posicionarmos sobre todas as questões relativas à vida da classe trabalhadora que representávamos.

William Mendes

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FRENTE DO JORNAL

LULA VESTE A CAMISA DO BANCO DO BRASIL POR QUE VESTE A CAMISA DO BRASIL

O funcionalismo do BB já sabe: o futuro do Banco (e do Brasil) está em jogo nessa eleição

Os últimos cinco anos foram muito ricos para o aprendizado político dos bancários do BB. A retomada das greves, a luta pelo salário e pelas condições de trabalho, a defesa perante o ataque permanente ao banco, seu papel social e ao conjunto das estatais criaram e desenvolveram uma consciência da necessidade de lutar permanentemente contra projetos políticos que visavam enfraquecer os bancos estatais e consolidar o sistema financeiro como instrumento de concentração de renda, via especulação financeira.

Nesse período, o movimento sindical cresceu e ampliou-se dentro do BB; a conquista dos sindicatos mais importantes do país por direções combativas e sérias criou as condições para a recomposição salarial no BB e a melhoria de nosso acordo coletivo, com novas cláusulas sociais e sindicais, ampliadas a cada ano.

Ao mesmo tempo em que a luta do funcionalismo torna-se uma referência no movimento sindical, o governo Sarney, sempre pronto a atender as orientações dos banqueiros e do FMI, implementa o plano de esvaziamento do BB, através da redução do papel social do banco, das restrições à admissão de pessoal, da total falta de transparência na administração de seus recursos.

A luta do funcionalismo ajuda a barrar uma parte significativa dos ataques, mas aponta para os trabalhadores do BB a necessidade de uma luta bem mais ampla que passa pelo engajamento na luta político-partidária, na discussão dos diferentes projetos, para o sistema financeiro e para a democratização da sociedade como um todo, a começar pelos locais de trabalho e pela administração nas empresas estatais.

DEFENDER O BB É DEFENDER O BRASIL

Nesse processo, o discurso neoliberal tenta localizar no Estado a origem de todos os males. Tenta debitar aos servidores públicos e de estatais a prática clientelista e corrupta das elites; tenta caracterizar as conquistas dos trabalhadores de algumas estatais como odiosos privilégios. Tudo isso para abrir caminho para o tão sonhado leilão de ações de estatais lucrativas, que converteria em capital sem risco o dinheiro multiplicado pela ciranda financeira, que corre risco cada vez maior de se tornar apenas papel, diante da inviável dívida interna, multiplicada pela irresponsável política de Maílson.

Nesse cenário, é fundamental (para eles) destruir o BB, até mesmo como símbolo nacional de estatal eficiente, como atesta a pesquisa do Datafolha. No caminho, o ataque permanente ao funcionalismo serve como cortina de fumaça para as negociatas de Maílson e Berard. O anúncio de prejuízo é seguido pela queda das ações na bolsa e uma súbita compra pela corretora de Roberto Marinho. Roubo!!?

O QUE QUEREMOS PARA OS PRÓXIMOS ANOS

Nessas eleições presidenciais, estão em jogo projetos que podem levar o país para diferentes caminhos. Um deles se apresenta ao eleitor com toda a clareza, sem um discurso mitificador e sem demagogia de palanque. É um projeto que aponta na participação e na democratização as saídas para um país rico, com a pior distribuição de renda de toda a América Latina; aponta para o fim da especulação financeira, canalizando os recursos do sistema para o crédito produtivo; aponta para a defesa das estatais, com o controle de seus funcionários e da sociedade. É um projeto que está à frente da defesa do BB e que tem investido na organização da classe trabalhadora como forma de sustentar politicamente as principais mudanças estruturais que serão feitas para garantir que o Brasil seja o país do presente, não o país de um incerto futuro, apontado pelas elites como o pote de ouro do final do arco-íris.

Este projeto tem seu vetor apontado para a eleição do dia 15 de novembro. Está representado pela Frente Brasil Popular, pela candidatura LULA, pelos compromissos assumidos junto aos setores que vêm lutando contra a miséria, e exploração, a dilapidação do patrimônio público. No dia 15, você tem um compromisso: defender o BB, defender o Brasil, conosco.

A CANDIDATURA LULA CRESCE EM TODO PAÍS

(...) A candidatura Lula só é possível porque se apoia inteiramente no trabalho consciente de milhões de pessoas que lutam por seus salários, por democracia, por moradia, por terra, em defesa da ecologia e pelos direitos humanos. É esta a força da candidatura Lula: a luta do povo por uma vida melhor.

(...) Nesta eleição, quem representa o novo é LULA.

Por que o novo, num país onde as elites estão há tanto tempo no poder, significa respeito ao povo e democracia em todos os níveis

(Frente Brasil Popular - PT, PSB, PCdoB)


VERSO DO JORNAL

PROPOSTAS DA FRENTE BRASIL POPULAR PARA O BANCO DO BRASIL

1 - Exclusividade como agente do Tesouro: todos os fundos públicos devem estar centralizados no BB. Arrecadação de impostos, pagamentos do governo, contas de todas as estatais, etc. A administração desses recursos deve priorizar a aplicação em projetos de interesse da população, garantindo o financiamento, com juros e prazos favoráveis, do crescimento da produção e do consumo.

2 - Financiamento para agricultura de consumo interno: as linhas de financiamento à agricultura devem priorizar as culturas para consumo interno, e não para exportação. Prazos e juros devem ser extremamente diferenciados de acordo com o tamanho e tipo de propriedade rural. Em caso de programas incentivados com juros negativos o tesouro deve remunerar o banco, pagando o eventual spread negativo.

3 - Financiamento da pesquisa e implementação de tecnologia de ponta: criação de linhas especiais de crédito para pesquisa, através de aplicações de prazo mais dilatado e fatias dos depósitos à vista de pessoas jurídicas.

4 - Reativar e desenvolver o MIPEM: o financiamento e acompanhamento das pequenas e médias empresas contribui para a distribuição de renda e para a ampliação da capacidade de produção e geração de empregos na indústria e no comércio.

5 - Valorizar e profissionalizar o funcionalismo: profissionalizar o funcionalismo, enquanto bancários, dando formação e oportunidade de desenvolvimento na empresa, ampliando seu conhecimento do processo de produção, retirando o caráter de máquina que o BB e outros bancos têm e humanizando o trabalho bancário.

6 - Democratizar o BB, a partir dos locais de trabalho: criar condições democráticas dentro do banco, descentralizando as decisões, ampliando ao máximo a democracia interna, envolvendo o funcionalismo num projeto de banco social, motivando a participação e garantindo transparência nos rumos da instituição a partir de cada agência, através da participação do funcionalismo e da comunidade na definição de prioridades para aplicação de recursos. Realizar, em curto prazo, concurso público para preenchimento das vagas e garantir a abertura das mais de 400 agências prontas, sem inaugurar. Reformular o Plano de Cargos e Salários e Plano de Cargos Comissionados, para eliminar as distorções e facilitar o desenvolvimento profissional, dentro de critérios democráticos de avaliação.

7 - Democratização da Cassi e Previ: as duas caixas, cujos benefícios devem estar voltados aos funcionários, devem ser administradas por funcionários eleitos, com a direção do banco limitando-se ao papel de fiscalização e acompanhamento. Realizar auditoria nessas caixas para verificar a existência de malversação ou corrupção nas administrações passadas.

8 - Auditoria do BB: realizar auditoria nas contas do banco nos últimos vinte anos para apurar denúncias de utilização política dos recursos do BB, durante os últimos governos.

9 - Exclusividade na regulamentação e fiscalização do Comércio Exterior: é fundamental manter o controle do Comércio Exterior pela CACEX, a fim de manter um total acompanhamento do processo de exportação/importação.

10 - Levantamento e cobrança dos grandes inadimplentes históricos: regularização de todos os débitos, com a devida atualização monetária, e responsabilização das direções anteriores por prejuízos causados.

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Estes companheiros lutam em defesa do Banco do Brasil

E POR ISSO APOIAM LULA E BISOL

Membros da Executiva Nacional do BB que apoiam Lula:

Maia (POA); Ivan (Florianópolis); Rui e Tadeu (Curitiba); Lúcio Prieto, Deli e Paulo Assunção (SP); Amaral, Imaculada, Joel e Fernanda (RJ); Eder e Angela (BH); Lessivan (Salvador); Zé Roberto (Alagoas); Enaide e Fernando Duarte (Recife); Pimentel e Sofia (Fortaleza); Sérgio Taboada (Acre).

Outros apoios no BB:

Ricardo Berzoini (Seeb SP e presidente do DNB); Samuel Lima (presidente Seeb Florianópolis); José Luís (ex-diretor Seeb Porto Alegre e diretor eleito da CASSI); Zé Reis (Seeb Porto Alegre); Ana Júlia (Oposição Sindical do Pará); Magela e Jaques (Alternativa Bancária de Brasília); Regina Souza (Seeb Piauí); Jorge Streit (presidente Seeb Rondônia); Luisinho (Seeb SP); Simon (Oposição sindical de Goiás); Nelson (presidente do Seeb Ceará); Jandira (Seeb PB); Zeca (ex-diretor Seeb MS); Paulo Pinto (presidente Seeb ES) e muitos outros companheiros, dirigentes sindicais e funcionários em todo o país.

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História dos bancários: um olhar (I)

 


Um olhar pessoal da história dos bancários brasileiros

Dia 28 de agosto é o dia dos bancários e das bancárias do Brasil. Dia 28 de agosto também é aniversário de criação da maior e mais importante central sindical do Brasil, a Central Única dos Trabalhadores (CUT), que completou 39 anos de existência e, na minha opinião, segue sendo uma instituição estratégica para a classe trabalhadora brasileira.

Ao longo de três décadas trabalhei como bancário, 2 anos no Unibanco e quase 27 anos no Banco do Brasil, primeiro como estagiário e depois como funcionário concursado. Durante mais da metade dessa jornada laboral, atuei como um dirigente eleito pelos colegas para representá-los em espaços de organização e negociação de direitos coletivos. Foi o que fiz de melhor em minha vida.

Quando cheguei eleito ao Sindicato dos Bancários de São Paulo, Osasco e região, em 2002, já era bancário do Banco do Brasil sindicalizado há uma década. Já era um pouco politizado pelo mundo do trabalho, mas não era tão politizado quanto passei a ser ao virar sindicalista. Minha formação política de esquerda foi de certa forma tardia, após os 30 anos de idade, ao ser dirigente estudioso e presente nas bases, porque antes minha participação nas lutas sociais e estudantis eram voluntariosas, mas sem consciência histórica e de classe.

Nos primeiros anos de movimento sindical, era minha característica prestar atenção em tudo e em todos, ouvir com atenção as lideranças mais experientes e das diversas forças políticas que havia, ler e guardar os materiais impressos que existiam sobre nossa história de organização e lutas etc. E assim me formei no dia a dia da representação e nas lutas da categoria e da classe trabalhadora. Minha base formativa foi o Sindicato e mais especificamente o coletivo de diretores e diretoras do Banco do Brasil no Sindicato e no movimento nacional do BB.

Exerci mandatos sindicais e de representação por praticamente duas décadas. Saí do movimento sindical, da vida política e de representação e do Banco do Brasil em 2019. Após meu afastamento dos espaços de organização e lutas da categoria à qual militei a vida toda passei a viver uma realidade bastante diferente daquela que vivia. Sair do topo das organizações sociais para o seio de sua casa e ainda enfrentar dois anos de isolamento pela pandemia mundial é um choque traumático. A mudança é muito radical e se a pessoa não encontrar um certo equilíbrio emocional e novos sentidos e significados pode ser que ela pire. Eu ainda estou buscando sentidos. Isso é normal.

Acumulei durante a vida de estudos e representação de classe uma quantidade enorme de materiais relativos à nossa história. Sabendo que é necessário mexer nessas coisas, se desfazer de boa parte delas e seguir adiante buscando sentidos para o viver, venho olhando os materiais, avaliando o que não dá para jogar fora, o que se poderia fazer com alguns dos materiais etc. Algumas coisas são muito interessantes. 

Pode ser que alguns dos documentos de nosso passado de lutas valham a pena serem citados, comentados e ou transcritos no blog A Categoria Bancária, uma página na internet para a qual dediquei muito tempo de minha vida durante os mandatos que exerci, um espaço de formação e informação dos leitores, de prestação de contas e de registro da história coletiva de uma categoria de lutas e conquistas importantes do povo brasileiro.

Vamos ver se a vida e o momento atual me permitem dedicar algumas horas da semana para compartilhar um pouco de história da categoria bancária sob o meu olhar e com as minhas lembranças. Quase todo o material que acumulei é material que serviu de estudos para eu me tornar o dirigente que fui entre o início dos anos dois mil e meados de 2018, quando encerrei meu último mandato de representação. Tudo que li, estudei e aprendi no fazer sindical me transformou como ser humano. Eu mudei, o mundo mudou e tudo segue mudando. A mudança é a essência do que somos: natureza.

William Mendes


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