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17.12.23

História dos bancários: um olhar (XII)



Sindicato é sindicato, partido é partido, governo é governo...

O ano em questão era o de 2008, o Banco do Brasil comemorava os seus 200 anos de história e o Brasil era governado pelo Partido dos Trabalhadores, o presidente Lula estava em seu segundo mandato. A ampla maioria das lideranças do movimento sindical cutista e de outras forças políticas definiu em nossos congressos de trabalhadores apoiar a reeleição em 2006. 

No entanto, as condições de trabalho no BB estavam muito ruins, a direção do banco vinha numa sequência de decisões monocráticas que prejudicavam o conjunto dos funcionários, além de estar reestruturando o banco através de terceirizações. As metas e o assédio moral eram institucionalizados da mesma forma que ocorria nos outros bancos, tínhamos até mesa com a Fenaban para tentar frear o abuso na forma de cobrança de metas.

Foi nesse cenário que fiz um artigo de opinião dizendo que o movimento sindical deveria endurecer as relações com a direção do Banco do Brasil. Posso até ter sido duro com o governo ao falar dos seis anos, mas o dirigente sindical está no calor dos problemas e com seus representados sofrendo, é natural que eu carregasse no tom.

CENÁRIO INTERNACIONAL - Além da direção do BB estar atuando pessimamente com o corpo de funcionários e no papel de banco público, vivíamos a maior crise do capitalismo desde 1929, com a crise do subprime e a quebra da economia mundial. 

Meses depois do artigo que fiz criticando a direção do banco - e muita gente sindicalista e de esquerda não gostou de minha crítica ao nosso governo -, ficou claro que o governo Lula cobrava dos bancos públicos uma liderança na redução das taxas de juros e do maior spread do mundo. 

Os bancos públicos tinham a obrigação de liderar o sistema financeiro na queda dos juros e o presidente do BB era o que mais dava entrevistas ao mercado dizendo que não iria seguir as instruções do governo, que iria seguir o mercado blá blá blá... foi demitido!

Como diz o ditado popular, o tempo é o senhor da razão! (isso serve para mim também, pois em relação ao comentário que fiz sobre a China, eu pensaria duas vezes para fazer a mesma observação hoje rsrs)

Enfim, segue abaixo o texto que fiz, se não me engano, em agosto de 2008, estávamos no início da campanha nacional da categoria bancária. Lima Neto foi demitido em abril do ano seguinte. 

William Mendes

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Artigo de opinião


EM RELAÇÃO AO BB, O MOVIMENTO SINDICAL CUTISTA DEVE ROMPER COM O GOVERNO LULA

São 6 anos de governo do Sr. Luís Inácio Lula da Silva, do Partido dos Trabalhadores. É inegável que o Brasil mudou para melhor. Não é preciso destrinchar dados para mostrar melhor distribuição de renda, diminuição da miséria, melhor inserção brasileira no contexto internacional, fortalecimento das instituições públicas (com exceção do Banco do Brasil), entre tantos outros pilares econômicos e sociais.

São 6 anos de governo Lula e também são 6 anos de desmonte do papel do BB enquanto banco público. São 6 anos de assédio moral e condições de trabalho idênticas ou piores do que os piores momentos dos governos anteriores.

Ao mesmo tempo, é revoltante ver que não há sequer condições idênticas de tratamento por parte das empresas cujo comandante é o mesmo governo, pois se no BB tudo vai de mal a pior, na Caixa Federal percebemos nesses 6 anos que ocorreram avanços, com muita luta é verdade, mas as diferenças são substanciais.

Para ficarmos em alguns exemplos, basta lembrarmos que a Caixa executa programas sociais e é agente do governo no PAC (Programa de Aceleração do Crescimento). Além disso, teve negociações do PCS que puderam ser apreciadas pelo corpo social e contratada em acordo. Vem reduzindo a terceirização ano após ano, por força de acordos com o ministério público. Tinha uma força de trabalho de mais de 100 mil trabalhadores em 2002, onde metade era de terceirizados, e hoje os bancários concursados chegam a 75 mil. É evidente que estão sobrecarregados ainda, pois são necessários cerca de 120 mil trabalhadores para as demandas atuais.

O BB, ao contrário, vem lançando pacotes de DESestruturação todos os anos. Enxuga aqui, terceiriza ali, centraliza e descomissiona acolá. Só para lembrar alguns casos: centralização das Eqesps, que viraram Nucacs, que foram incorporadas pelas Geries, que viraram Gerel, que viraram SCO e SCL. Todas elas com movimentações compulsórias de trabalhadores e suas famílias.

Além disso, vieram as centralizações das Corporates e das Empresariais. Também centralizaram-se as Gecex. Agora está centralizando, terceirizando, enxugando e dispensando de novo as pessoas da mesma Gecex. Demissões em massa de advogados das Ajures. Reestrutação de URRs e por aí afora.

Em 2003, chegamos a exigir a nomeação de mais de 5 mil caixas executivos. Achávamos que era uma vitória perene. Mal sabíamos que o banco logo mais viria a não querer mais atender à população, e acabar de vez com os caixas, inclusive terceirizando o processamento dos envelopes de autoatendimento, para a Cobra, que quarteirizou, e hoje existe regime de quase escravidão para o tal setor. Aos caixas sobreviventes, sobra a opção de ser caixa volante: um dia aqui, outro ali, onde precisar... (e o banco sabe que nós sempre fomos contra part-time e contratações sazonais!)

Para não passar em branco, não vamos esquecer que o BB faz concurso extorquindo a população, pois não chega a chamar mais que 10 ou 20% dos aprovados, ludibriando as pessoas com concursos que não prometem vagas e sim “quadro de reservas”. E olha que só em 2007 dispensou mais de 7 mil bancários no auge de suas carreiras para ficarem recebendo em casa por até 10 anos, além da bolada que pagou a eles para aliviar passivo trabalhista. Custo este que ficou na casa de ½ bilhão só no primeiro ano.

É bom saber que o plano foi feito para um conjunto de altos executivos (feito por eles mesmos). Mas, para darem uma capa de transparência, tiveram que estendê-lo a outros funcionários, o que acabou retirando do corpo funcional 5 mil pessoas a mais do que o planejado pela diretoria.

Dessa vez o BB chutou o pau-da-barraca: o LIC que trata da reestrutuação da Gecex (“LIC PAQ GECEX”) é idêntico às instruções que nós enfrentamos na época do PDV/PAQ entre 1995/97. O que é pior, ele diz que não reconhece direitos dos bancários, cipeiros, delegados sindicais (então o banco quer dizer que o contrato com a Contraf-CUT não existe?!).

Penso que o movimento sindical CUTista deve romper com o governo federal em relação ao Banco do Brasil e não deve mais haver negociações com essa diretoria que aí está. Essa diretoria, a começar pelo seu presidente Sr. Lima Neto e incluindo toda a sua cúpula, está envergonhando a todos nós que queríamos mudanças no banco, tanto de diretrizes quanto de tratamento ao corpo funcional.

De que adianta mostrarmos boa vontade em negociar com o banco, sendo que coisas básicas como respeito às leis trabalhistas, condições de trabalho, dignidade humana e não terceirização dos serviços bancários o banco prefere dizer que não negocia e que busquemos a justiça?

Nesse período de (des)comemoração de 200 anos do BB, devemos exigir do Governo Federal a troca desses senhores que, além de não mudarem os rumos da empresa Banco do Brasil a partir de 2003, fizeram foi piorar as condições internas e externas da empresa que, hoje, pouco tem de coisa pública.

O BB está para público, assim como a China está para comunista; ambos gigantes por natureza, antidemocráticos, com alguns mais iguais que os outros, e em função de interesses privados e, às vezes, escusos.

William Mendes

Secretário de imprensa da Contraf-CUT

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Post Scriptum - O texto anterior desta série pode ser lido aqui.