Páginas

29.5.24

Cassi, nossa Caixa de Assistência (2)



29/05/24. Quarta-feira

Opinião


Nossa Caixa de Assistência (2)

A comunidade de trabalhadores da ativa e aposentados do Banco do Brasil criou oitenta anos atrás uma Caixa de Assistência que se mostrou fundamental na vida daquela parcela da população brasileira. Nossos colegas do banco tiveram uma visão de vanguarda e ao longo do tempo foram se especializando em solidariedade, cooperativismo e participação na vida social do país.

Quando olhamos hoje os dados demográficos da população assistida pela nossa Caixa de Assistência e pela nossa Caixa de Previdência vemos o quanto fomos favorecidos pela escolha correta da solidariedade e cooperativismo. Vivemos mais que nossas irmãs e irmãos brasileiros, que por sinal têm algum acesso a atendimentos de saúde por causa do Sistema Único de Saúde (SUS). Não fosse isso, as coisas seriam mais difíceis para todos.

São assistidas pela autogestão 184.461 pessoas com mais de 59 anos de idade, ou seja, 31,34% dos 588.541 participantes dos planos da Cassi. Tínhamos em dezembro de 2023, 163 centenárias e centenários, a maioria mulheres, lógico, 142. É importante lembrar a todos vocês que ao termos a Cassi funcionando e cuidando dessa população idosa, estamos aliviando as demandas no sistema público, o SUS, já sobrecarregado e subfinanciado.

Uma coisa eu aprendi como membro da comunidade de pessoas do maior banco público do país: a solidariedade e o associativismo são fundamentais para todos nós. Os bancários e bancárias foram vanguarda na criação de associações e sindicatos de trabalhadores brasileiros. Então, viva o movimento sindical e as entidades representativas dos trabalhadores!

Os estudos que realizamos na população Cassi ao longo de nosso trabalho de gestão do modelo assistencial Estratégia de Saúde da Família (ESF) demonstraram o quanto os participantes vinculados ao modelo foram beneficiados por serem cuidados por nossas equipes de família das CliniCassi e pelos programas aos quais estavam inseridos. Com isso, os recursos da Cassi foram melhor utilizados pelos segmentos cuidados por nós.

Seria uma excelente estratégia de sustentabilidade para a nossa Caixa de Assistência se continuássemos perseguindo o objetivo de cadastrar e acompanhar a saúde do conjunto dos participantes do sistema Cassi na ESF, o modelo de APS que havíamos definido e provado a eficiência dele.

---

Sobre os planos de saúde da Cassi

Estava vendo os números do primeiro bimestre de 2024 dos planos de saúde da Cassi e me chamou a atenção o resultado do Cassi Vida do período (Visão Cassi).

As contraprestações efetivas foram de 10.022 mil e os eventos líquidos indenizáveis de 10.925 mil, sendo o resultado operacional deficitário em quase um milhão de reais (-903 mil) e o resultado líquido -2.839 mil.

O plano é muito novo, foi lançado há menos de dois anos. Ter receitas brutas de 10 milhões e resultado deficitário de quase 3 milhões com tão pouco tempo é algo preocupante ao analisarmos o movimento de um plano de saúde ao longo do tempo. Se está assim no começo, como será quando estiver maduro?

Quem acompanha a minha opinião sobre esses diversos planos "de mercado" que a nossa Caixa de Assistência vem lançando sabe o quanto sou contrário a isso. 

Aliás, como disse no texto anterior, planos como esses Cassi Vida e Cassi Essencial só fazem vampirizar (tirar de um e ir para outro) o plano melhor para nossos familiares, o Cassi Família II, que tem melhores coberturas, não tem franquia e coparticipação.

Insisto nisso como alguém que conhece a Cassi. O melhor seria fortalecer o Cassi Família e para isso poderíamos fazer campanhas para adesão com um adendo específico no qual os usuários poderiam obter descontos que reduziriam as mensalidades para aderentes ao modelo de Atenção Primária e Estratégia de Saúde da Família (ESF).

É minha opinião.

William Mendes


Post Scriptum: o texto anterior desta série pode ser lido aqui.


17.5.24

Cassi, nossa Caixa de Assistência (1)



17/05/24. Sexta-feira.

Opinião


Nossa Caixa de Assistência

A Cassi é a Caixa de Assistência dos Funcionários do Banco do Brasil, uma autogestão em saúde gerida de forma compartilhada entre os seus associados e o patrocinador BB. A associação foi criada em 1944 e neste ano completou oitenta anos de existência. 

Atualmente, a Cassi é uma operadora de saúde na modalidade de autogestão, atua no setor de saúde suplementar brasileiro, tem estatuto próprio, e se submete à legislação do país. O setor onde atua é fiscalizado em parte pela Agência Nacional de Saúde Suplementar, a ANS. Digo em parte porque a Cassi compra serviços de saúde em um mercado que não é controlado pela ANS, o que é ruim para as autogestões em saúde.

Esse cenário onde a Cassi opera não foi sempre assim: nossa Caixa de Assistência foi criada por trabalhadores do BB muito antes de boa parte das instituições do Estado nacional. Pertencemos a uma comunidade de vanguarda no mundo do trabalho, cuja cooperação sempre esteve presente em nosso cotidiano. Associativismo e solidariedade fazem parte da história dos funcionários do maior banco público do país.

Sou associado de nossa Caixa de Assistência há mais de trinta anos e tive a oportunidade e a missão de ter sido um dos administradores eleitos pelos associados e associadas na história de nossa autogestão. Foi um período de muito aprendizado e de muita luta por direitos em saúde porque a realidade dos direitos dos associados da Cassi vem sendo construída desde janeiro de 1944. Contei parte da história de nossa associação ao longo do mandato que exerci em nome dos associados.

---

Relatório 2023 (dados retirados do site da Cassi)

Hoje, saiu o resultado da consulta ao corpo social em relação ao Relatório 2023. Participaram do processo de prestação de contas 55.200 participantes, de um total de 160.239 associados, pouco mais de 34% do total do público com direito a voto em nossa Caixa de Assistência. A maioria aprovou o relatório: 31.894 pessoas. Achei preocupante a quantidade de pessoas que não aprovaram o relatório: 23.306 pessoas ou 42,2% dos manifestantes (total de votos contrários 4.606, brancos 8.436 e nulos 10.264). 

Desde minha saída da gestão de nossa Caixa de Assistência, acompanho de longe os avanços e retrocessos em relação aos direitos dos associados e em relação à própria operadora do ponto de vista das formalidades do setor onde a Cassi opera. Avalio que os associados vivenciaram momentos difíceis e de retrocessos em relação aos nossos direitos durante os governos de Temer e Bolsonaro (2016-2022). É importante lembrarmos que o governo federal é acionista majoritário do BB e indica a metade da gestão da Cassi. 

O Relatório 2023 expressa a realidade da operadora e o que foi feito em nossa Caixa de Assistência no ano passado, incluindo, é lógico, o que foi feito nos últimos anos (consequências das gestões anteriores). O Relatório foi aprovado pelos conselhos fiscal e deliberativo e por auditoria independente. A direção fez apresentações do Relatório para os associados e suas representações.

Eu ainda não terminei a leitura completa do Relatório. Segui o voto de nossas representações eleitas e de nossas entidades representativas do funcionalismo. 

Algumas questões me chamaram a atenção. Lógico que a minha leitura do Relatório não é uma leitura de leigo, é uma leitura de quem geriu a nossa Caixa de Assistência por muitos anos e de quem tem opinião em relação às decisões tomadas pela direção da Cassi.

---

Duas observações iniciais sobre o Relatório 2023

No geral, percebi um esforço do nosso governo Lula (sou eleitor de Lula) e da composição da direção da Cassi em 2023 em resolver o problema do déficit preocupante que se realizaria no exercício, de aproximadamente 448 milhões de reais (p. 7), caso não avançasse o acerto das dívidas do patrocinador relativas às reclamações trabalhistas. Lógico que a preocupação segue em relação aos valores recorrentes de receitas operacionais e despesas assistenciais.

Vejo com preocupação a questão dos planos de saúde para familiares dos associados. Desde que era gestor, tenho senões a essa estratégia de criação de um monte de planos hipoteticamente mais baratos (direitos menores para nossos familiares). O que parece ser um avanço no Cassi Essencial e Cassi Vida, ampliarem a carteira em 8.500 e 6.802 planos vendidos (+15.302) nada mais é, na minha opinião, que a saída de 15.790 participantes do Cassi Família I e II. Não é avanço algum no "público-alvo" como costumam dizer. Só estamos enfraquecendo o principal plano para familiares. 

Entendo que poderíamos fortalecer o CF II, que é melhor, com descontos por adesão espontânea ao modelo de Atenção Primária e Estratégia de Saúde da Família (ESF). Seria melhor para todos: Cassi e o modelo assistencial, familiares e patrocinador. Os planos familiares não foram pensados para oferecer direitos menores para nossos entes queridos. Isso é um equívoco! Imaginem se tem cabimento um colega do banco com o filho ou neto com um plano de saúde com coberturas menores e redes piores...

Enfim, desejamos perenidade para nossa Caixa de Assistência e sustentabilidade com manutenção e ampliação de direitos em saúde para o conjunto das trabalhadoras e trabalhadores da ativa e aposentados(as) e demais assistidos(as) da comunidade Banco do Brasil.

Parabéns à direção pelo trabalho que vem realizando e parabéns a todos nós associados por essa conquista extraordinária que é a Caixa de Assistência.

---

Nossa solidariedade ao povo do RS

Por fim, presto aqui a nossa solidariedade ao povo irmão do Rio Grande do Sul. O Estado sempre foi uma base referência no que diz respeito à Cassi, nosso modelo assistencial de Estratégia de Saúde da Família (ESF) e sempre contamos com uma participação muito ativa do voluntariado nos conselhos de usuários. 

Aprendi muito com os colegas e amigos do RS. Temos uma população de mais de 31.500 participantes da Cassi no Estado. Esperamos que nossas irmãs e irmãos se recuperem e retomem a vida o mais breve possível. Contem conosco da comunidade Banco do Brasil e com todo o povo brasileiro!

William Mendes


Post Scriptum: o texto seguinte desta série pode ser lido aqui.


15.5.24

Diário e reflexões - Dilemas



Dilemas ainda atormentam minha consciência política e dificultam minha busca por sentidos e significações

Osasco, 15 de maio de 2024. Quarta-feira. 


Antes de começar esta reflexão, registro minha solidariedade e apoio ao povo irmão do Rio Grande do Sul, que enfrenta uma das maiores tragédias da história de nosso país. Contem conosco para recomeçar a vida, o povo brasileiro está com vocês.

À medida em que percebo que minha saúde e minha energia já não são as mesmas que antes, me pego com os mesmos dilemas que me atormentaram pelas décadas de vida adulta jovem. Como utilizar meu tempo de vida? O que fazer?

Na primeira e segunda década de vida como adolescente e adulto queria estudar e me tornar uma pessoa culta, queria sair da condição de incerteza no presente e no amanhã como membro da classe trabalhadora brasileira, subproletário que vivia de trabalhos precários e às vezes humilhantes. Não podia estudar como gostaria pelo esgotamento físico e mental. E ainda vivi meus tempos de fúria e revolta.

Como trabalhador de empresa pública, virei representante eleito pelos colegas e por quase duas décadas exerci mandatos eletivos. Pelo meu comprometimento com as causas que defendia e pelas lutas que muitas vezes liderava, coloquei cem por cento de meu tempo e energia para tentar fazer o melhor que pudesse no papel de representação de meus pares. Por saber que era uma liderança mediana, tinha que me dedicar ao máximo para fazer justiça à confiança que depositavam em mim.

Após os cinquenta anos de idade, com o fim dos mandatos representativos, com um certo trauma pelo processo de perseguição e assédio moral que enfrentei de meus adversários políticos na empresa e no governo golpista e com a saída do dia a dia da vida laboral do banco público onde dediquei o melhor de minha capacidade produtiva, entrei em um novo ciclo de existência no qual a pessoa pode ter dificuldades para se adaptar. O que fazer dali adiante?

Ao mesmo tempo em que queria seguir na militância política na qual dediquei o melhor de mim, queria também aproveitar um hipotético tempo livre que nunca tive para estudar um pouco mais do que antes. Foram cinco anos de dilemas, que não foram diferentes de uma vida de escolhas difíceis. Achei que seguiria sendo "útil" para o movimento sindical por ter acumulado conhecimentos em algumas áreas e temas políticos e por ter construído uma história de representação que diria aguerrida, decente e honesta. As coisas não se deram assim. E isso é de certa forma normal.

Enfim, volto às questões iniciais. Como utilizar o tempo de vida que tenho? Tudo mudou drasticamente na vida humana, nas instituições da sociedade e no planeta Terra. 

As pessoas mudaram e as relações humanas mudaram. Nossos comportamentos foram alterados por meios poderosos de comunicação que fazem parte de nossa vida sem a percepção das pessoas. As pessoas ao nosso redor são outras pessoas, tenho noção disso hoje e sei que qualquer contato com conhecidos é meio que novo contato, contato com nova pessoa, até se forem familiares e amigos. E os laços já não serão os mesmos que nós construíamos no passado humano. Amor, amizade, companheirismo são possíveis, imagino, mas são diferentes. Temos que refazer essas dimensões dos sentimentos humanos. Tudo é de fácil ruptura, cancelamento.

Nos últimos cinco anos, tentei manter uma militância política meio que anônima, nas ruas quando os movimentos convocavam, em reuniões organizativas quando convidado, escrevendo sobre o que sei do tempo de representação política e sindical, uma militância do tipo mais um na multidão, numa panfletagem, numa passeata, numa organização para algo coletivo. Sem protagonismo, sem liderar nada, sem mandato. O problema é que me falta algo. Talvez pertencimento como senti no passado. No partido e na região na qual milito, não posso votar nas pessoas que gostaria porque minha seção eleitoral é outra. No mundo sindical, meus conhecimentos não serviram para mais nada. É compreensível, até porque tenho divergências propositivas e hoje isso é um pecado mortal na esquerda.

E os dilemas seguem. O que fazer hoje, amanhã, daqui adiante? Que saúde e energia terei para fazer algo? O que o meu corpo me reserva? Pelo que ando sentindo, imagino que meu corpo sentiu o viver dez anos a mil durante nossos mandatos de representação. O último mandato, especificamente, passei ele sem dormir, ligado na tomada para dar conta de ser técnico e político ao mesmo tempo, para ser tudo o que fui ao mesmo tempo para proteger os direitos em saúde da categoria que representava, para organizar um movimento nacional para responsabilizar o patrão também pelo déficit da caixa de assistência, para viajar o país e politizar as representações sobre o que era a autogestão e seu modelo que poucos conheciam com profundidade. Foram anos intensos. E no final, para que eu não seguisse no enfrentamento, montaram um lawfare para me abater. 

Isso é passado, e aprendi que o passado não nos pertence. Hoje, questiono até aquelas frases de autoajuda que as pessoas falam a si mesmas, do tipo "ninguém vai apagar o que fizemos..." ou coisas parecidas. Apagam sim! Nada mais reflexivo do que o conceito do livro distópico de Orwell: "Quem controla o passado, controla o futuro. Quem controla o presente, controla o passado."

Meu dilema segue. Imagino que me falte atitude para definir minha própria vida. Estudar, ler e escrever ou não, participar de ações políticas ou não, planejar algo de curto, médio e longo prazo para o viver ou não.

Reflexão feita.

William Mendes