Memórias das lutas sindicais em março de 2007
Olhar as postagens do blog sindical A Categoria Bancária é olhar os registros que fiz como dirigente nacional dos trabalhadores do ramo financeiro. Ao criar o blog eu tinha a intenção de me aproximar tanto das entidades sindicais e seus dirigentes quanto das pessoas que representávamos com mandatos eletivos.
Em março daquele ano fiz 22 postagens e nelas é possível ver que o movimento sindical bancário ao qual fiz parte era relativamente bem organizado. Percebe-se que nós nos organizávamos e tínhamos algum tipo de planejamento e estratégias definidas.
Eu me reunia periodicamente com o coletivo de diretores do BB no Sindicato (Coletivo BB); nos reuníamos também no secretariado da Contraf-CUT para organizar o dia a dia da confederação. Tivemos reunião da comissão de empregados do BB, que antecedeu negociação sobre a PLR dos bancários. E eu fazia reuniões com bancários na base. Fiz isso enquanto fui dirigente. E também fiz reunião de sindicalização com novos funcionários do BB.
Vejam aqui as postagens do mês de março de 2007 no blog. Elas estão em ordem cronológica inversa, do último dia do mês para o primeiro.
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PLR 2007 - DIREÇÃO DO BB TENTA PERSEGUIR GREVISTAS
HISTÓRIA DA PLR NOS FEDERAIS - A história da conquista da Participação nos Lucros e Resultados no BB e demais bancos públicos federais é uma história de luta muito bonita e não pode ser esquecida pelos trabalhadores e seus dirigentes sindicais.
Os bancários do setor privado e dos bancos públicos estaduais e regionais que assinavam e cumpriam a Convenção Coletiva de Trabalho (CCT), assinada entre a federação dos bancos (Fenaban) e os sindicatos e federações da CUT (CNB) desde 1992, conquistaram o direito a receber a PLR com regras gerais desde a campanha salarial de 1995. Foi uma grande conquista dos anos noventa.
Os bancários dos bancos públicos federais não recebiam PLR por alguns motivos. Os governos de plantão se aproveitavam do fato da campanha de data-base dos bancários não ser unificada entre públicos e privados e com isso os trabalhadores se enfraqueciam em suas lutas. Além disso, havia uma legislação que só permitia a distribuição de 6,25% do resultado em empresas S/A como o BB.
Banco do Brasil, Caixa Federal, BNB, BASA, BNDES quando conseguiam algum acordo negociado com os governos assinavam ACT (acordos por banco), e nem sempre isso ocorria porque o governo se utilizava dos tribunais de justiça do trabalho para impor acordos rebaixados ou a Contec, mesmo em bases cutistas. Os tais "dissídios coletivos no TST". Os bancários de bancos federais ficaram sem PLR entre 1995 e 2002.
Só após a eleição de Lula em 2002 e posse em 2003 é que se abriu uma possibilidade de campanha unificada dos bancários em geral. Mas a unidade era uma decisão dos trabalhadores em seus congressos e encontros. Após unificar a categoria, a luta foi para o governo aceitar uma mesa de bancos públicos e privados. Eu tive a honra e o privilégio de ajudar a construir toda essa história.
GREVE 2003 - A PLR NO BB só veio após uma greve de 3 dias na campanha salarial de 2003. O governo Lula não quis cumprir as conquistas dos bancários da data-base de setembro, negociadas entre a CNB/CUT e a Fenaban. O mesmo se deu em relação à Caixa Federal. Resultado: os bancários do BB e da Caixa fizeram uma greve muito forte e para sair da greve os sindicatos conseguiram diversos direitos em nova mesa de negociação para fechar a campanha de 2003.
Os sindicatos haviam defendido a proposta negociada com a direção do BB (um erro de leitura das direções sindicais) e os bancários democraticamente disseram não a ela e só após a greve é que nova proposta incluiu diversos direitos, entre eles uma PLR nos moldes do modelo Fenaban, sem discriminar ninguém.
Depois disso, nós fomos melhorando a PLR nos bancos públicos, ano a ano. Veio no BB a parcela linear de 4%. Depois veio o modelo específico na Caixa. Enfim, foi a nossa PLR melhorada em 2006 que a direção do BB tentou piorar em 2007.
Faço esse histórico porque tenho ele de memória. É isso. Ver aqui um informativo que fizemos na Contraf-CUT sobre a negociação da PLR no começo de 2007. Era uma questão ideológica que estava em discussão. A direção do banco queria penalizar os grevistas diminuindo o valor que eles receberiam em relação aos colegas.
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PROPOSTA DA CASSI EM 2007
Em uma postagem do dia 23 de março de 2007, reproduzi no blog um artigo de uma das lideranças que participou das negociações sobre a Cassi. Eu não consegui a informação sobre o autor do artigo, sei que ele foi publicado na Aafbb e traz um resumo bem interessante do que foram as negociações entre nós e o banco/governo por quase dois anos.
Vale a pena ler o artigo porque ele segue atual em relação às bases das discussões sobre a Cassi, o Plano de Associados, os direitos dos associados e a questão dos déficits recorrentes ao longo do tempo, bem como o novo modelo assistencial pós estatuto de 1996, que previu implantar um sistema preventivo e de cuidados dos participantes com uma estrutura própria de Atenção Primária e Estratégia de Saúde da Família (ESF), através das CliniCassi.
É isso. Ver o artigo e a postagem aqui.
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Encerro as memórias de hoje.
Muitas foram as lutas, as conquistas e os embates com o patronato, independente do governo. Evidente que governos mais identificados com a classe trabalhadora como os governos do Partido dos Trabalhadores facilitam os caminhos a serem trilhados por nós, a classe trabalhadora.
Aqui neste blog há muita história, isso eu posso dizer a vocês.
William
Post Scriptum: após fazer essa postagem relembrando o embate entre a direção do BB e nós a respeito da PLR daquele período, o 2º semestre de 2006, fui reler diversas matérias da época e inclusive coloquei várias delas nas postagens de março como "post scriptum", porque são história pura de luta de classes.
Vou fazer outra postagem de memórias a respeito dessa luta sobre a PLR no BB. A direção do banco saiu vitoriosa em sua prática de assédio moral e prática antissindical e manteve até o fim sua sacanagem de discriminar os grevistas. Apostou em dividir os trabalhadores e ganhou, venceu o individualismo e perdeu a solidariedade. Mesmo a Contraf-CUT e sindicatos indicando rejeição nas assembleias, os bancári@s aprovaram a proposta.
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Para ler a postagem seguinte, Memórias (VII), clique aqui.
E para ler a anterior, a V, clique aqui.
Um comentário:
Registro aqui o comentário feito por Doralvino Sena, em outra mídia, porque ele nos conta um pouco do processo histórico das discussões sobre a criação da PLR no BB ainda nos anos noventa. Informações interessantes e históricas. (William)
Doralvino Sena: "O debate da participação em lucros e resultados começou no início da década de noventa. Por intervenção do Garef Luiz Oswaldo Souza foi criada a COPAR Comissão de Participação em Lucros e Resultados. A comissão era paritária e tinha participação dos funcionários e do BB e produziu um grande relatório que ficou nos anais do BB.
Em 1998, em virtude da legislação vigente foram eleitos representantes dos funcionários para um grande grupo que durante meses estudou modelos, casos, benchmarks e propostas do meio sindical, acadêmico e empresarial. Eu fui indicado pela Comissão de empresa para coordenar o trabalho. Após toda essa labuta os 16 representantes reunidos rejeitaram a proposta do BB por 12 x 4 votos. Na última reunião fiz a contraposta de um debate nacional com os funcionários mas o representante do BB César Degraf Matheus rejeitou e o BB implantou unilateralmente.
Já na gestão do governo Lula fui chamado para coordenar um novo grupo de trabalho interno para atualizar tudo que já tinha sido produzido a respeito. Feito o resgate e sistematização começamos um processo negocial com a Contraf e Comissão de empresa do BB. E depois de muito debate chegamos a uma proposta consensual que foi agregada ao Acordo Coletivo de Trabalho e aprovado nas assembleias de todo o país. Eu mesmo defendi na assembleia de Brasília em frente ao Sede I. Esse acordo foi considerado o melhor acordo de PLR da América Latina pois era o único que equilibrava a premiação do trabalho à remuneração do capital. 12,5% do Lucro Líquido do BB passou a ser distribuído de acordo com uma tabela amplamente debatida e aprovada.
"A cada um de acordo com sua necessidade, a cada um de acordo com sua capacidade."
Karl Marx apoiado por Dodoiewhisky..."
Doralvino Sena 2: "Uma correção é necessária:
Os funcionários do BB receberam de 1998 a 2002 uma participação nos lucros e resultados de forma quase linear e havia um bônus para os executivos do BB."
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Eu agradeci as contribuições do companheiro Doralvino na rede social onde ele postou os comentários:
William: "salve, salve! Cara, muito legal essa parte da história que vc nos traz dos anos 90. Como eu tenho explicado nas memórias que estou escrevendo no blog, minha contribuição em textos é muito baseada no período que vivi no movimento como dirigente. Esse texto que vc leu e o que publiquei ainda sobre a PLR de 2006, paga em 2007, tem como ponto de partida os registros que fiz (fizemos) no blog e na Contraf-CUT (março de 2007). A história do BB e da categoria é de luta de classes, é feita por todos nós, sujeitos da história, e são infinitas (e sem donos da verdade, cada um tem sua impressão a partir da experiência que viveu). Essa postagem que vc detalha os anos 90 achei tão interessante que vou agregar nos comentários do blog, na postagem, porque aqui no perfil do Facebook costumo deixar as postagens um tempo e depois apagar. Com o tempo, quero usar o Face só para divulgar o que escrevo nos blogs. Abração! (gostei do complemento do Marcello sobre o "Desgraça" Matheus... rsrs)"
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