Opinião
O Banco do Brasil está sob ataque mais uma vez. Os privatistas no poder atuam para desmontar e acabar com o nosso maior banco público. Ao longo de sua história bicentenária o BB já foi quebrado por alguns governantes e seus administradores de plantão. Já correu o risco de ser privatizado diversas vezes.
Em todos os períodos de ameaças o banco público foi salvo pela capacidade de organização e luta de seus funcionários e entidades representativas e pela parcela do povo brasileiro que sabe reconhecer a importância da instituição no financiamento dos setores produtivos da sociedade.
O cenário desta vez é bastante complexo, talvez o mais difícil de sua história. Provavelmente os cenários anteriores também fossem julgados em suas épocas como os mais difíceis da história do BB. A novidade neste momento de ameaças e ataques ao maior banco público do país é estarmos sob o governo do presidente Jair Bolsonaro e seus ministros de Estado, sobretudo de um deles, Paulo Guedes.
Não vou tecer comentários depreciativos a respeito dessa gente responsável pelo desfazimento do Brasil e de suas instituições centenárias. O Brasil está o caos! O caos!
Nos anos noventa, o BB foi preparado para a privatização com a eliminação de 50 mil postos de trabalho entre 1995 e 1998. O banco não acabou durante a gestão tucana porque não deu tempo, saíram em 2002 deixando o país sem a maior parte de suas empresas e patrimônios públicos.
O BB cresceu em todos os sentidos com a eleição de Lula, do Partido dos Trabalhadores. Durante os mandatos petistas (2003/2015), o Banco do Brasil empregou bancários concursados com direitos coletivos, chegou a 120 mil funcionários e salvou o país na crise mundial do subprime (iniciada em 2008 e agravada nos anos seguintes). Contou com o apoio dos demais bancos públicos e com a Petrobras.
Sob governos petistas, o BB, a Caixa, o BNDES e demais bancos públicos deram os maiores resultados de suas histórias. Expandiram o crédito, a bancarização, contribuíram com os programas sociais do governo federal e dos governos locais. Foram agentes de apoio a todos os setores produtivos do país. Contrataram trabalhadores concursados com direitos coletivos. Ajudaram o país, o povo brasileiro e ainda beneficiaram o governo e os acionistas.
Então veio o golpe de Estado em 2016 e a destruição de tudo nunca foi tão acelerada no país: destruição do emprego formal e das cadeias produtivas, destruição dos direitos civis, sociais e políticos. Estamos sob governos de destruição. E com a destruição de tudo, veio a morte do povo. Mortes severinas, morte morrida, morte matada, morte por falta de direitos básicos de cidadania. Estamos sob governos de morte. Governos de exceção desde o golpe de Estado.
SEM PERTENCIMENTO E PARTICIPAÇÃO, ADEUS DIREITOS, BB, PREVI, CASSI, ENTIDADES REPRESENTATIVAS...
O BB está sendo desmontado desde o golpe de 2016. Eliminação de 17 mil postos de trabalho; fechamento generalizado de agências e terceirizações absurdas; redução de salários através de mudanças nos planos de cargos e salários e na remuneração por funções; esvaziamento do papel do banco no apoio à sociedade brasileira. O nosso banco é chamado de "porra" pelo ministro de Estado do governo atual.
PREVI - Nossa Caixa de Previdência secular tem um dos maiores patrimônios acumulados da América Latina, é responsável pelo presente e futuro de quase 200 mil associados. Ainda é administrada de forma paritária pelos trabalhadores associados e pelo governo - apesar do voto de minerva no CD. Há anos as forças políticas do capital (mercado e órgãos do governo) tentam mudar as regras para tirarem dos funcionários o direito de gerirem seu próprio fundo de pensão, suas poupanças previdenciárias. Nosso poder e nosso patrimônio podem ser retirados de nós a qualquer momento, isso é uma questão de correlação de forças, de unidade dos 200 mil associados.
CASSI - Nossa Caixa de Assistência é um patrimônio inestimável da comunidade Banco do Brasil porque não se avalia a importância da Cassi em cifras de moedas e números frios de balanços patrimoniais episódicos. Se olharmos seus resultados econômico-financeiros nas dezenas de anos de assistência aos funcionários da ativa e aposentados e seus familiares (e eu estudei isso), veremos que a Caixa sempre teve dificuldades de recursos por algumas questões óbvias:
- as despesas assistenciais dos sistemas de saúde, públicos e privados, tendem a ser maiores que os valores arrecadados;
- os modelos de sistema de saúde escolhidos são centrais na definição do uso dos recursos disponíveis;
- os perfis dos beneficiários que se quer incluir no sistema de saúde também são definidores da relação receitas/despesas;
- e o principal: não existe sistema de saúde que se sustente sem solidariedade na arrecadação e no uso dos recursos.
Na minha opinião, a Cassi segue sob forte ameaça de existência e de manutenção naquilo que é sua essência: ser a Caixa de Assistência do todos os trabalhadores da ativa, aposentados e dependentes, de ontem, de hoje e de amanhã do banco público BB. Estou falando do Plano de Associados, a razão de ser da Cassi. Estou falando do modelo de Atenção Integral à Saúde, através da Estratégia Saúde da Família (ESF), da Atenção Primária à Saúde (APS) e através de estrutura própria (CliniCassi) e equipes de família e programas de saúde próprios. Estou falando dos programas de saúde dos trabalhadores através do (PCMSO) com o Banco do Brasil.
Muito me preocupam diversas questões do momento em relação ao presente e ao futuro da Cassi:
- a telemedicina na forma como o mercado está lidando com ela;
- a terceirização da ESF/APS como a direção atual está experimentando (piloto no Paraná);
- a ideia de criar diversos planos locais de Cassi Família (é modelo de mercado, que visa lucro e pode dar prejuízo);
- a redução da solidariedade no custeio no sistema Cassi (Plano de Associados);
- o alto custo para mais da metade dos funcionários da ativa e aposentados se manterem no Plano de Associados por causa das mensalidades com cobrança por dependentes e coparticipações muito altas;
- a redução drástica de direitos relacionados a programas de saúde;
- o enfraquecimento da participação social tanto na gestão da Cassi quanto nos espaços regionais de controle social.
- a redução de salários e do quadro de funcionários do banco etc.
Entendo que as entidades representativas, principalmente as sindicais, deveriam se envolver nestes temas que citei acima fazendo amplos debates porque há uma tendência de se naturalizar decisões administrativas do atual momento como se fossem "técnicas" ou "modernas" ou ainda "inexoráveis" sem a devida discussão política que se deve ter nas questões de saúde de interesse da classe trabalhadora. Um exemplo claro disso é o silêncio das entidades representativas em relação à terceirização da atividade fim da Cassi no piloto que a direção está fazendo ("Bem Cassi").
Enfim, sem espírito de pertencimento em relação às nossas entidades de saúde e previdência privada e ao nosso banco público por parte de dezenas de milhares de aposentados do Banco do Brasil e de seus quase 90 mil trabalhadores da ativa, fica bem reduzida a capacidade de organização da luta unitária em defesa dos direitos dessa comunidade bicentenária, inclusive na manutenção de sua existência enquanto um coletivo de trabalhadores brasileiros.
DIA NACIONAL DE LUTAS - As atividades sindicais feitas nesta quinta 21 em todo o país foram muito importantes para envolver os funcionários e a sociedade sobre o desmonte do Banco do Brasil por parte do governo federal. Centenas de agências e dependências serão fechadas e milhares de funcionários estão sendo pressionados para saírem em planos de adequação e desligamento por perderem suas funções e seus salários.
Sem o envolvimento e participação dos 200 mil cidadãos da ativa e aposentados, dificilmente manteremos o BB público, nosso patrimônio da Previ e nosso Plano de Associados da Cassi. De nada valeria comemorar hoje o reajuste dos benefícios da Previ e amanhã sofrermos intervenções e/ou ataques ao patrimônio da Previ. De nada valeria comemorar eventual equilíbrio nas contas da Cassi se milhares de associados estiverem saindo por não conseguirem pagar as mensalidades e coparticipações.
Abraços!
William Mendes
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