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19.8.24

Diário e reflexões



Opinião (5)

Osasco, 19 de agosto de 2024. Segunda-feira. 


Democracia (povo no poder)?

"Os livros servem para nos lembrar quanto somos estúpidos e tolos. São o guarda pretoriano de César, cochichando enquanto o desfile ruge pela avenida: 'Lembre-se, César, tu és mortal'. A maioria de nós não pode sair correndo por aí, falar com todo mundo, conhecer todas as cidades do mundo. Não temos tempo, dinheiro ou tantos amigos assim. As coisas que você está procurando, Montag, estão no mundo, mas a única possibilidade que o sujeito comum terá de ver noventa e nove por cento delas está num livro..." (Fahrenheit 451, 1953, Ray Bradbury, p. 125)


Ou damos um passo atrás com essas plataformas digitais e o poder do dinheiro nas eleições ou já era a sociedade humana e as democracias 

Os entusiastas da internet e do mundo virtual e digital, diriam que os livros físicos de ontem são as "nuvens" de hoje, que "guardam" todo o conhecimento do mundo. Essa é, na minha opinião, a mãe de todas as mentiras, a maior das ilusões inventadas pelos donos do poder. Baboseira! 

As "nuvens" digitais não resistem a uma tempestade solar de maior intensidade que as usuais. Não resistem a uma guerrazinha de destruição de estruturas de um país. Não resistem a falta de energia elétrica.

E o pior é que tem muita gente séria que acredita nisso... uma tragédia para a humanidade! Parte do conhecimento humano criado nas últimas décadas pode desaparecer assim como as nuvens no céu ao sabor dos ventos.

Acompanho há mais de duas décadas como ser político o surgimento da internet e mundo digital como os conhecemos hoje, 2024. 

Eu era dirigente da Executiva do Sindicato dos Bancários de São Paulo, Osasco e região em 2004 quando me envolvi num debate sobre terceirizar ou não nossa estrutura de dados e de comunicação. Eu era contrário e felizmente prevaleceu a estrutura própria do Sindicato. 

Poucos anos depois, o mundo descobriria as denúncias de Snoden e Assange e as invasões do governo norte-americano até nos emails das presidentas do Brasil e da Alemanha. Até porque os bancos de dados da internet estavam todos lá nos EUA: as nuvens.

Depois virei secretário de imprensa da nossa confederação dos bancários e lidei com toda a novidade da internet e mundo digital de novo. Surgiam as grandes redes sociais das plataformas que hoje chamamos de big techs. 

Após tudo o que sabemos nessas duas últimas décadas, só é inocente quem quer em relação a não acreditar que essas corporações controlam nossas vidas como na ficção Matrix (1999). Somos as baterias dessas corporações globais do capital, as mercadorias somos nós, nossos dados.

Ao reler Fahrenheit 451 fiquei pensando na atualidade da ficção distópica, lançada nos anos cinquenta por Ray Bradbury. Também fiquei pensando na temática da "economia da atenção", um conceito criado nos anos 70 por Herbert Simon. Há muito tempo, o capitalismo vem se apropriando desse "recurso limitado e valioso" um bem econômico: a nossa atenção humana. 

No fundo, o mundo hoje é a síntese global da sociedade do espetáculo (Guy Debord) e a tecnologia da informação concentrada cada dia mais na mão de poucos humanos (das big techs). Estamos chegando no momento do xeque-mate no jogo de xadrez da história humana na terra. Ou desfazemos esse poder de poucos humanos no planeta Terra ou já éramos enquanto espécie e sociedade humana. 

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Repito: ou desfazemos esse poder de poucos humanos em benefício da maioria ou já éramos enquanto sociedade humana!

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ELEIÇÕES EM SÃO PAULO

Vejam um exemplo que beira o absurdo (porém, nada mais é absurdo, tudo é "normalizado"):

Hoje, 19 de agosto, haveria um debate entre candidatos e candidatas à prefeitura de São Paulo e três deles - Boulos, Nunes e Datena - não aceitaram participar por causa do comportamento já sabido e "sendo normalizado" de um outro candidato. Pelo que apurei, participaram com ele as candidatas Tabata e Marina. 

Economia da atenção e uso de dinheiro na campanha - Desde o início da campanha eleitoral, as autoridades constituídas no país não estão fazendo nada de forma rápida e eficaz em relação ao que esse sujeito vem fazendo há dias. Isso é democrático? Estamos falando de democracia? Que poder do povo é esse? 

Qualquer cidadão comum, um bancário ou professor, por exemplo, dificilmente conseguiria amealhar 200 milhões de reais em suas vidas de classe trabalhadora. 200 milhões! É o valor declarado de patrimônio pelo sujeito.

Normalmente, após uns vinte anos de trabalho duro, talvez os trabalhadores tenham em sua declaração de imposto de renda um ou dois imóveis, de um milhão de reais, se tanto, e outros bens materiais como carros, por exemplo. Imaginem a realidade de dezenas de milhões de brasileiras e brasileiros.

O sujeito candidato tem 200 milhões de reais. Se lança candidato a prefeito. Paga milhares de pessoas por produtividade para fazer recortes de suas falas absurdas e consegue dezenas de milhões de visualizações nas redes sociais e na rede mundial (internet), visualizações compradas de uma forma imoral, imagino ilegal por abuso de poder econômico, e desproporcional com aquilo que chamaríamos de "igualmente de condições" e tudo fica por isso mesmo...

Estão normalizando isso... tudo seria normal... é como se não existissem normas legais no país. Uma anomia! Pode tudo!

DEMOCRACIA? PLUTOCRACIA? DITADURA DO DINHEIRO? Entendem o cerne do problema? Isso não é normal! Não condiz com os conceitos básicos de democracia!

É nesse mundo e sobre essa realidade objetiva que reafirmo que ou desfazemos essa lógica destruidora da sociedade humana ou já éramos!

William Mendes


Post Scriptum: o texto anterior sobre essa série eleições, pode ser lido aqui. O texto seguinte, dia de plenárias de lançamento da campanha de Boulos e de nossa vereadora Luna Zarattini, pode ser lido aqui.


Bibliografia:

BRADBURY, Ray. Fahrenheit 451. Tradução Cid Knipel. São Paulo: Globo, 2009. 


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