"- Costuma-se até dizer que não há cegueiras, mas cegos, quando a experiência dos tempos não tem feito outra coisa que dizer-nos que não há cegos, mas cegueiras." (Ensaio sobre a cegueira, José Saramago)
Olá prezad@s associados e participantes da Cassi e companheir@s de lutas,
Vivemos tempos estranhos. Fico pensando nas frases do fantástico livro de Saramago, Ensaio sobre a cegueira, como a que citei acima. Apesar de haver um certo "caos" no mundo e nas organizações sociais, não há inocência e acasos nos destinos da classe trabalhadora. Na minha opinião e leitura de mundo, há disputas de hegemonia e estratégias de dominação. Há ideias e ideologias que prevalecem.
Quando cheguei eleito à gestão da Cassi (junho de 2014), representando o conjunto dos associados desta entidade de saúde dos trabalhadores do Banco do Brasil, havia uma realidade material (déficit no Plano de Associados) e uma tese hegemônica colocada internamente e na comunidade de associados: o problema do déficit seria de "custeio", a culpa não seria do patrocinador BB e ele não poderia colocar um centavo a mais por causa de limites do Estatuto (4,5%) e da CVM 695.
Por outro lado, era mais fácil culpar a própria Caixa de Assistência, seu modelo assistencial (ESF/CliniCassi) e os associados trabalhadores pelos déficits no plano de saúde.
Atuamos com paciência, transpiração e racionalidade para definir estratégias que permitissem reverter a tese hegemônica contra os direitos em saúde dos trabalhadores do Banco do Brasil e mais favoráveis ao patrão.
Percorremos um longo caminho para convencer o nosso lado, os associados que representamos, que não podemos abrir mão do modelo de Custeio Solidário Mutualista Intergeracional, que a Atenção Integral à Saúde, via Atenção Primária/ESF/CliniCassi é a melhor perspectiva de Sustentabilidade para a Cassi e que o BB também foi responsável pelo déficit do Plano porque congelou salários e acabou com o PCS dos trabalhadores.
Ao final de dois anos de lutas, os associados da Cassi e as entidades representativas conseguiram sair de duas propostas patronais onde só os trabalhadores eram onerados e seus direitos eram reduzidos e conseguimos fazer o Banco apresentar uma terceira proposta onde ele entrou com R$ 851 milhões e os associados com R$ 629 milhões (Memorando de Entendimentos out/2016).
GESTÃO DA INFORMAÇÃO É ESTRATÉGICA
Agora, a nova etapa de lutas precisa do mesmo grau de mobilização e envolvimento das entidades representativas e dos associados. Tenho dito isso às lideranças e entidades associativas. Nossas opiniões são baseadas no conhecimento e na experiência que já acumulamos na gestão da Cassi.
Nós estamos há 3 anos dando informações e subsídios técnicos e políticos para centenas de conselheir@s de usuários e para mais de uma centena de entidades representativas e lideranças sindicais. Foram 34 Boletins Prestando Contas Cassi e mais de 500 postagens de nosso mandato de representação. Esse grau de transparência do mandato não me impediu em momento algum de negar informações estratégicas da Cassi quando achei que não devia fornecê-las.
Eu sou muito franco com o conjunto de lideranças e associados que represento. Concordo e discordo de ideias, estratégias, táticas e encaminhamentos a respeito da Cassi e dos direitos em saúde e estou sempre focado na visão do que é melhor para os trabalhadores associados que represento e focado também no que entendo ser o melhor para esta entidade maravilhosa de saúde dos trabalhadores, a Cassi.
"Transparência"?
Hoje, fui surpreendido por um hotsite da Caixa de Assistência da qual também sou gestor (não deliberei sobre a questão), abrindo informações com alto nível de detalhamento por Estado com dados da população por plano de saúde, gênero, faixa etária e demais informações gerenciais que me fizeram pensar se o patrocinador Banco do Brasil faria o mesmo com os seus dados, colocando em seu site as informações dos seus clientes por praça/UF, com renda, quanto aplicaram, que produtos financeiros adquiriram etc. Imaginem se a concorrência iria gostar das informações.
A Cassi já é de longe a operadora de saúde mais transparente da Saúde Suplementar brasileira. Parte dessas informações estão lá no site da ANS como de outras operadoras. Mas não concordo com o nível de exposição de dados como está apresentado no hotsite. Isso é um risco para a nossa autogestão, que está inserida num mercado extremamente agressivo de venda de serviços de saúde (Rede Prestadora) e com concorrentes interessados em nossos "clientes" (outros segmentos de operadoras de planos de saúde). Acho um equívoco fazer isso! Uma coisa é falarmos em fóruns de participantes, outra é detalhar ao nível que vi hoje. É minha opinião.
Aliás, apesar de ser defensor da ANS no que diz respeito a defender usuários de planos de saúde, penso que algumas dessas informações deveriam ser passadas para ela como Agência Reguladora, mas não disponibilizadas para o mercado. Basta lembrar que a ANS regula planos mas não regula vendedores de serviços de saúde - hospitais, clínicas, cooperativas de profissionais de saúde etc. Os planos e seus usuários estão em condições inferiores na relação comercial com os prestadores de serviços, que fazem o que bem entendem com os compradores de serviços de saúde. E tome multa e suspensão só dos planos e não dos prestadores de serviços!
Outra questão que vinha discutindo no âmbito da governança e que não esperava ver divulgado antes de deliberar a respeito é sobre a periodicidade das informações disponibilizadas. A gestão em saúde tem uma sazonalidade enorme, de meses de diferença. Não se opera em D+1 ou D+2 como ocorre em bancos. Opera-se em D+30, D+60, D+90 em relação a contabilizar despesas e receitas. Glosas de contas podem gastar meses para acordos entre prestador e operadora. E o valor pode ser de milhares ou milhões de reais.
O que se pretende ganhar em "transparência" pode gerar uma grande confusão na cabeça dos associados, que não têm obrigação de entender de gestão de operadora de saúde. Além disso, dados/resultados parciais podem, inclusive, favorecer teses e ideias que prejudiquem os próprios associados em disputas de hegemonia de modelo ou de quem deve pagar a conta da saúde.
Imaginem vocês se isso já fosse feito no cenário que peguei e descrevi no início da postagem, quando o Banco patrocinador queria porque queria se livrar de qualquer responsabilidade com o déficit do Plano de Associados e tentava justificar "tecnicamente" que a conta deveria ser paga pelos associados e ponto final. Vocês acham que eu teria maior facilidade ou dificuldade de reverter a tese hegemônica de quebra de direitos em saúde onerando somente os associados? O pessoal da ativa dizia que a culpa era dos idosos/aposentados e os idosos/aposentados diziam que a culpa era do pessoal da ativa. O patrão dizia que a culpa era da Cassi, do mau uso dos associados, do envelhecimento da população, blá blá blá.
Fica aí a questão para reflexão de meus colegas e pares.
William Mendes
Diretor de Saúde e Rede de Atendimento (mandato 2014/2018)
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