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9.9.25

Diário e reflexões



Osasco, 9 de setembro de 2025. Terça-feira. 


IDENTIDADE

Tenho 56 anos de idade. Sou brasileiro, nascido na cidade de São Paulo, onde vivi até os 10 anos. A passagem para a adolescência, fase intensa dos seres humanos, foi um Uberlândia, Minas Gerais. Ao voltar para São Paulo, aos 17 anos, acabei vivendo a maior parte da vida em Osasco. Por 4 anos, ainda tive a oportunidade de morar em Brasília, a capital do Brasil. 

A data de hoje, 9 de setembro, é uma data aniversário, um dia marcante no percurso da minha existência única. Há 33 anos, eu me apresentava pela manhã à agência Rua Clélia, do Banco do Brasil, para começar a trabalhar de escriturário no maior banco público do país. 

Para tomar posse do cargo, como dizíamos, precisei passar no concurso público duas vezes, porque após comemorar a primeira aprovação, o certame foi cancelado por fraudes. Tive que passar de novo para ser bancário do BB. 

A identidade de uma pessoa vai se moldando no percurso do viver, é como entendo a vida humana. Certos momentos ou acontecimentos ficam marcados em nossa existência, são divisores de água, determinam como seremos dali adiante. Entrar no BB há 33 anos, foi um acontecimento desses em minha vida.

Se no domingo passado (7/09) estive nas manifestações populares ao lado dos pobres, das pessoas que sobrevivem nas ruas e praças, sem terem sequer o que comer, ou água para se lavarem, se estive no 31° Grito dos excluídos e excluídas, na Praça da Sé, e depois na manifestação da Praça da República, somando com milhares de pessoas em defesa de nossa soberania e lutando pelos direitos da classe trabalhadora, é porque existiu em minha vida o dia 9 de setembro de 1992, dia no qual me tornei um membro da comunidade de funcionários do Banco do Brasil, comunidade com mais de dois séculos de história. 

Nossa identidade vai se moldando no viver de acordo com as veredas que percorremos e principalmente em função das oportunidades que a comunidade na qual vivemos nos dá. Se as pessoas - crianças, jovens e adultos - têm oportunidades para escolher um presente e um provável futuro - uma perspectiva de futuro -, nossa identidade pode conter algumas características - diria características positivas -; se não houver oportunidades no ambiente do viver, nossa identidade pode ser completamente diferente do que gostaríamos que ela fosse.

O 9 de setembro de 1992 foi uma oportunidade em minha vida. O garoto que lavava carro em Uberlândia; que era entregador de uma farmácia, cortando a cidade o dia todo de bicicleta; que trabalhou em construção civil, quebrando concreto com talhadeira e ponteiro, mexendo em esgoto; que juntava metais como cobre e alumínio pra vender no ferro velho; que foi chapa de caminhão e ajudante geral de um monte de serviços por uma década antes de trabalhar como bancário, teve sua vida transformada ao passar no concurso mais disputado à época no país, e virar trabalhador da categoria bancária.

Outras datas tiveram importância central na minha identidade também, a partir da condição de bancário. O dia 5 de agosto de 2002 foi um divisor de águas na vida deste trabalhador, naquele dia fui liberado do trabalho no caixa da agência Vila Yara, do Banco do Brasil, para aprender a ser dirigente sindical e representar meus colegas que continuavam cumprindo a jornada nos locais de trabalho, atendendo ao público e às vezes sofrendo assédio e enfrentando péssimas condições de trabalho. Pensar nos colegas, os meus pares, definiu minha identidade enquanto os representei por 16 anos. Ainda penso nos colegas da ativa e nos aposentados, é a minha identidade, é o que sou. 

Refletindo sobre o dia 9 de setembro de 1992, e outros dias definidores de minha identidade, o 5 de agosto de 2002, o 2 de junho de 2014, o 3 de abril de 2019... fico aliviado pelas veredas que escolhi trilhar (ou que se apresentaram no meu caminho) e me sinto grato à existência, pois posso me considerar uma pessoa de sorte. Posso sim. Tive a felicidade de participar de momentos importantes da vida coletiva de nossa categoria e de nossa classe, a classe trabalhadora. 

E tenho consciência política suficiente para pesar e separar as partes que compõem a minha identidade. O que sou é uma mescla de oportunidades, casualidades e muito esforço e disciplina. Como ensina o professor Antonio Candido, essa parte da minha identidade também contém a parte com as vivências ruins que enfrentei ou que fui partícipe, a vida é tudo isso que nos deu identidade, somado com a personalidade que cada um de nós tem.

O jovem que saiu de Uberlândia para São Paulo, aos 17 anos, cheio de ódio e raiva do mundo, que vivia indignado com as injustiças diárias enfrentadas pelo povo brasileiro, um país ainda hoje violento e miserável, que maltrata e humilha as pessoas como nós, a imensa maioria do povo, queria ser mau... para lidar melhor com o mundo-cão, e, por sorte, acabou sendo moldado como um cidadão do lado certo da história, que não esteve na manifestação da Paulista no 7 de setembro de 2025 (e sabemos o quanto de gente com origem humilde encorpa essas manifestações que manipulam os ignorantes que não sabem qual é a sua classe); por sorte aquele jovem dos anos oitenta hoje escolhe o Grito dos excluídos e excluídas. 

O jovem que entrou no BB em 9 de setembro de 1992 ouviu seu coração, sua filiação, e depois ouviu os colegas e o sindicato, e os educadores que passaram por sua vida... e sua identidade está aí, naquilo que faz e vive diariamente. 

Sigo com desejo de mudanças no mundo e com vontade de aprender coisas novas todos os dias. Não tenho ódio em meu coração, apesar de me sentir indignado com as coisas. Acredito na educação e na transformação das pessoas. Por isso estudo e compartilho o pouco que sei em meus blogs. 

O Brasil e o mundo estão doentes, as pessoas foram capturadas e parte delas precisaria de tratamento médico para sair da neurose e mundo paralelo no qual foram inseridas. O mundo está muito doente.

Sigamos firmes estudando e nos organizando para salvar a vida no mundo e os seres humanos, essa espécie fantástica nas suas possibilidades, mas capturada e feita de massa de manobra de uns poucos espertalhões que odeiam o mundo e a vida no Planeta.

William Mendes 

31.7.25

Diário e reflexões


Presidente Lula fala
ao povo brasileiro

A luta por um país soberano e por cidades melhores para se viver segue firme e contamos com nossas lideranças populares para os avanços

Quinta-feira, 31 de julho de 2025.


Opinião

O mês termina com muitas incertezas para o Brasil e o mundo por causa da guerra global imposta pelos Estados Unidos a todos os países, principalmente para aqueles que não são vassalos do império decadente dos norte-americanos. O BRICS e os avanços chineses em todas as áreas são os motivos dos ataques ao país, e o clã de vira-latas do RJ é a desculpa que veio a calhar ao senhor MAGA. Se esses bolsonaros fossem de outro país, já estariam presos ou pior.

Trump liquidou as regras internacionais construídas após a 2ª Guerra Mundial. Agora as sanções econômicas e políticas são como as bombas que os EUA jogam sobre os países e povos que não se submetem a eles. Com o fim da diplomacia, a lei do mais forte e que tem poder de matar é a única regra no mundo. Imaginem o que é sofrer sanções que bloqueiam a vida de um país como Cuba enfrenta há 63 anos...

O Brasil governado pelo Partido dos Trabalhadores tenta resistir ao ataque covarde e fora da lei perpetrado pelos Estados Unidos. A luta é desigual porque dificilmente algum país importante como o nosso tenha uma quantidade tão grande de traidores da pátria, de gente quinta-coluna, como o clã Bolsonaro e seus seguidores lunáticos.

Se eu estivesse na política, estaria fazendo o que fiz por mais de duas décadas, estaria estudando os cenários e as possibilidades, pensando objetivos de curto, médio e longo prazo e estratégias e táticas para chegar aos objetivos. Mas isso é passado. Seguirei me esforçando por não dizer o que penso sobre o nosso governo, o partido, o movimento sindical e o que vejo ao meu redor no campo da esquerda.

O que sei é que o presidente Lula está fazendo o possível e o impossível para defender o Brasil e o povo brasileiro dos ataques covardes dos Estados Unidos e da extrema-direita lixo do nosso país. Lógico que Lula está fazendo do jeito dele, como conhecemos há seis décadas. Lula não é e nunca foi um revolucionário, sempre foi um conciliador. Estudei isso por duas décadas como sindicalista cutista e compreendo o presidente e o PT, por mais que discorde de algumas coisas.

Obrigado por tanta dedicação e esforço por nós, presidente Lula!

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Heber fala em audiência sobre
o IFSP, unidade Osasco

LUNA ZARATTINI E O COLETIVO JUNTOZ: INSPIRAÇÃO E ESPERANÇA

O que tenho acompanhado minimamente na política partidária é a atuação das juventudes do Partido dos Trabalhadores que estão dando o melhor de si para renovar e revigorar a forma de fazer política do partido junto às bases sociais.

Em Osasco, Heber, Gabi e Matheus, do Coletivo JuntOz, estão atuando de forma extraordinária nesses 7 meses de trabalho no mandato parlamentar na Câmara Municipal de Osasco. Dá um orgulho danado ver a inteligência deles, o preparo e a atitude diária na busca de avanços para o povo da cidade.

Temos 1 (uma) cadeira em 21 cadeiras da Câmara, mas o trabalho deles em benefício do povo é como se eles fossem muitos mandatos, eles são muito bons. 

Ontem estive na 2ª audiência pública na Câmara para tratar do Instituto Federal em Osasco (IFSP). Todos os avanços nessa questão têm participação decisiva do Coletivo JuntOz.

Luna informa paulistanos
sobre medidas de Trump

E a nossa querida Luna Zarattini, vereadora mais votada do Partido dos Trabalhadores em São Paulo e no país, segue incansável nas diversas frentes de luta para as quais o partido destacou a companheira para liderar.

Luna, Heber, Gabi e Matheus, assim como outras lideranças do partido que admiro e respeito, são inspiração e esperança na política como meio de transformar a vida das pessoas que mais precisam, o povo pobre e trabalhador.

William Mendes

(21h)

19.5.25

Diário e reflexões



Osasco, 19 de maio de 2025. Segunda-feira.


CULTO À FUTILIDADE

Dó. Acho uma pena tanto conhecimento disponível acumulado pela espécie humana para nada, para chegarmos a 2025 em um mundo hegemonizado pela idiotização das pessoas como moda e objetivo.

Cultura do nada, da futilidade normalizada como o bom, época dos "influenciadores" da imbecilização das massas humanas. Dó.

Se ao menos a gozação, o humor, o passatempo, a descontração levassem a algum tipo de reflexão ou cultura ligada às grandes questões sociais de nosso tempo, tipo o mundo do trabalho e a exploração capitalista, como nos lembra o velho Marx, ou a questão ambiental do planeta, ainda teríamos algum contentamento. Mas até isso está escasseando ultimamente. 

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PRIVILEGIADO POR MINHA COR E GÊNERO

Olhando os conteúdos das pilhas de materiais de formação política - neles os de igualdade de oportunidades -, materiais que acumulei da época sindical, me lembrei de meu percurso de vida como trabalhador pobre branco. Minhas características biológicas influenciaram meu destino no Brasil, um dos países mais racistas do mundo. 

Me lembro do emprego que tive em uma escola de idiomas entre a demissão do Unibanco em 1990 e a entrada no Banco do Brasil em 1992. Quando trabalhava lá, a ordem da dona era nunca contratar mulheres porque elas engravidavam, tinham enxaqueca e faltavam muito... a dona da escola não era uma "mulher", era uma capitalista. Provavelmente, entrei na vaga por ser homem, e sendo o Brasil o que é, talvez tenha tirado a vaga de um rapaz negro...

Foda isso tudo!

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PAPÉIS VELHOS 

Passei o dia olhando mídias de formação e de história da classe trabalhadora. 

Se hoje meu corpo chegasse ao fim ficaria tudo aqui onde está essa papelada toda.

O destino das mídias seriam os sacos pretos e os caminhões de lixo para os lixões. 

As imensas quantidades de revistas, xerox e apostilas universitárias, livros e papéis entulham os espaços do ambiente faz tempo.

É sempre essa indefinição quando manuseio esses papéis velhos. 

William 

29.3.25

Diário e reflexões: o PT é estratégico nas lutas populares!

 


PARTIDO DOS TRABALHADORES 13 FAZ ANIVERSÁRIO!

O PT é estratégico nas lutas populares!


Estive hoje no evento de comemoração dos 45 anos do PT em Osasco, realizado na sede do Sindicato dos Metalúrgicos. O ato reuniu diversas gerações de lutadores e lutadoras que compõem a militância do partido. Foi um encontro muito bonito e que nos encheu de energia.

O partido voltou à Câmara Municipal de Osasco nesta legislatura após a bela campanha e eleição do JuntOz, o coletivo composto pelos jovens Heber, Gabi e Matheus. A militância da cidade se envolveu e nossas candidaturas petistas somaram votos para voltarmos à Câmara.

O PT segue firme no papel de partido das massas, de instrumento de luta do povo. As filiações tiveram avanços nos últimos meses, foram mais de 600 em Osasco e mais de 22 mil filiações novas no Estado de São Paulo

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100 DIAS DO JUNTOZ

Nossos representantes na Câmara Municipal prestaram contas do início do mandato popular e o trabalho dos três se mostra incansável.

O JuntOz está atuando em diversas frentes de lutas e busca atender demandas da população de todas as regiões da cidade de Osasco.

Só nesses primeiros meses foram mais de 150 solicitações à Prefeitura relativas a questões da cidadania vindas dos bairros.

A viabilidade do Instituto Federal em Osasco contou com a postura firme do JuntOz e os cursinhos populares são prioridade para que a juventude osasquense possa estudar de forma gratuita e com qualidade de ensino em nossa cidade.

A questão ambiental também é pauta central de nossos representantes no parlamento de Osasco.

Estive no gabinete do JuntOz dias atrás, o mandato é aberto ao povo, e pude comprovar que trabalho de qualidade a nossa representação está fazendo.

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MARCOS MARTINS: UMA REFERÊNCIA!

É sempre uma alegria imensa estar com uma de nossas maiores lideranças da cidade de Osasco, o companheiro Marcos Martins.

Como um cidadão politizado pelos bancários da CUT e do PT ao longo de mais de três décadas, tenho em Marcos Martins uma referência que me inspirou a forma de atuar quando fui dirigente do Sindicato dos Bancários de São Paulo, Osasco e região. 

Minha referência em Marcos Martins vem desde que trabalhei no Unibanco da Raposo Tavares, o CAU, nos anos oitenta. Lá estava ele organizando e politizando a categoria como funcionário do Sindicato.

Quando fui eleito diretor do Sindicato, procurei estar presente nas bases e nos locais de trabalho como vi Marcos Martins fazer a vida toda. Ele e Deise Lessa, companheira do Banco do Brasil, foram minhas referências de um bom trabalho de base!

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EMIDIO, ALUISIO E AS LIDERANÇAS DE OSASCO

Não poderia deixar de registrar as falas importantes que tivemos de nossa direção partidária local, dos sindicalistas e movimentos sociais, a potência das falas de nossas companheiras petistas e o resgate histórico que Emidio de Souza e Aluisio Pinheiro fizeram ao final do ato.

A companheira Flávia fez um resgate importante das lutas das mulheres para além do mês de março. O mês tem a data de 8 de março como referência, mas a jornada de luta das mulheres é o ano todo.

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Foi um dia de comemoração e também de organização das lutas e dos próximos passos para avançar com nossos projetos de sociedade.

Toda a militância está convocada para o ato de amanhã, domingo 30, na Avenida Paulista, com pautas de interesse da classe trabalhadora como impedir a tentativa de anistia dos golpistas bolsonaristas, a pauta do fim da jornada 6x1, a pauta da isenção do imposto de renda para quem ganha até 5 mil reais e outras agendas centrais.

É isso. Viva o PT e viva a classe trabalhadora!

William Mendes


1.3.25

Blog A Categoria Bancária - Retrospectiva 2022


Militância reunida após as lutas em 2022.


RETROSPECTIVA 2022


Os 26 textos do blog A Categoria Bancária no ano de 2022 foram textos basicamente de memórias, a exceção foi uma nova série que iniciei sobre a história dos bancários, reflexões feitas a partir do manuseio dos materiais que acumulei ao longo das últimas décadas de movimento sindical.

Pensando bem, tanto as memórias quanto os textos de história trabalham com o mesmo material: as lutas de nossa classe trabalhadora em geral, e as lutas da categoria bancária, principalmente a partir do olhar de um militante que participou do movimento entre o final do século passado e as primeiras décadas do novo milênio.

O ano de 2022 também foi decisivo para o futuro do Brasil porque no segundo semestre ocorreram as eleições presidenciais e o povo brasileiro escolheu em segundo turno se queria como presidente Jair Bolsonaro ou Luiz Inácio Lula da Silva.

O processo eleitoral foi muito difícil, as condições de disputa foram absurdamente desiguais, e nunca se abusou tanto da máquina pública e do poder econômico para tentar manter um político no poder como fizeram naquele ano. Vencemos a eleição, contra tudo e todos.

Ainda antes de terminarmos com a longa noite de terror que durou do Golpe de Estado contra Dilma em 2016 até a vitória de Lula de forma democrática em 2022, a casa-grande e toda a canalha agregada a ela já iniciou a tentativa de novo golpe antes da diplomação do presidente eleito, em novembro daquele ano.

No ano seguinte, 2023, o Brasil veria no dia 8 de janeiro cenas nunca vistas de ataques às instituições da República. As investigações apontaram recentemente que planejaram matar o presidente Lula. Mais uma vez, evitamos o golpe, mas foi por pouco.

Os textos de memórias foram escritos ao longo do ano, no calor dos acontecimentos, sofrendo tudo o que as pessoas conscientes e politizadas sofriam ao ver a destruição de anos de bolsonarismo e golpismo e ataques aos direitos sociais, políticos, civis e humanos do povo brasileiro.

Ao reler os textos, para preservá-los em forma de livro de memórias, e para encadernar a produção textual de uma vida política e sindical, achei textos e abordagens bem atuais e que poderiam suscitar reflexões sobre os temas tratados ainda hoje.

É meu desejo desde o início da produção textual, contribuir com o que aprendi ao longo da vida de estudos, de lutas e representações.

Pronto mais um caderno dos blogs.

É isso.

William Mendes


Post Scriptum: estou sistematizando toda a minha produção textual nos blogs. Neste sindical e de política e história, estou encadernando os textos por ano de produção. 

A síntese do caderno do ano de 2023 pode ser lida aqui. Já em relação ao caderno do ano de 2024, a síntese pode ser lida aqui.

20.1.25

Diário e reflexões



Osasco, 20 de janeiro de 2025. Segunda-feira.


SINDICALIZAÇÃO

Me associei ao Sindicato dos Bancários de São Paulo, Osasco e região quando trabalhava no Unibanco da Raposo Tavares, no CAU. O pessoal do sindicato me contatou como fazia com qualquer bancário ou bancária e na conversa do dia a dia eles me convenceram a me sindicalizar. Depois passei a sindicalizar todo mundo que conhecia lá dentro. Trabalhei lá entre abril de 1988 e maio de 1990, quando fui demitido.

Voltei a ser bancário dois anos depois, passei no concurso do Banco do Brasil e tomei posse da vaga de escriturário em setembro de 1992. Uns meses depois, assim que entrei em contato com o pessoal do sindicato novamente, me sindicalizei em fevereiro de 1993. Mais uma vez, virei um grande defensor da sindicalização e vivia ganhando prêmios do sindicato por sindicalizar um monte de bancários.

Uma década depois de entrar no Banco do Brasil, o pessoal me convenceu a ceder meu nome para compor a chapa da CUT que concorreu e ganhou a eleição sindical em abril de 2002 contra a chapa da oposição. Representar os colegas bancários mudou minha vida em tudo, eu mudei completamente em relação à pessoa que era antes de virar dirigente sindical.

Não vou abordar neste texto de sindicalização minha contribuição à corrente política para a qual dediquei a maior parte de minha vida adulta, a Articulação Sindical da CUT. Minha contribuição política faz parte da história e se a história ainda vale alguma coisa ou não, não sei, mas a campanha nacional unificada entre bancos públicos e privados foi alcançada com a minha participação efetiva nos primeiros anos do governo Lula. E também a política de aumento real de salário em substituição da antiga reivindicação de "perdas".

LAWFARE ANTECIPA MEU DESLIGAMENTO DO BB

Por motivos políticos acabei saindo do Banco do Brasil um pouco mais cedo do que talvez gostaria. Como um dirigente nacional da categoria exercendo um mandato eletivo numa entidade dos funcionários do banco, vinha sofrendo um processo de lawfare (desses com carta anônima e acusações falsas), que havia se tornado comum contra lideranças de esquerda. Como era tudo mentira para tirar minha atenção e tempo nos embates que enfrentava e para que eu não me reelegesse, após o uso político, o processo foi arquivado por falta de provas.

Aderi à aposentadoria antecipada de meu plano de previdência da Previ no dia em que completei a regra do estatuto para aderir. Estávamos no primeiro ano do governo Bolsonaro, e antes já vivíamos sob o jugo do governo golpista de Temer. Infelizmente, encerrei minha vida de dedicação ao Banco do Brasil sem um bolinho e abraços dos colegas.

Por sugestão de nossos advogados, durante minha defesa contra aquelas mentiras, era melhor que eu me silenciasse um tempo dos embates políticos que fazia através de meus textos em blog em nome da categoria que representava. Acatei a sugestão e me silenciei por mais de um ano na comunicação e prestação de contas que fazia através de meus textos. Muita gente que conhecia meu trabalho de representação e minha história ficou sem saber de mim por um bom tempo.

Veio a pandemia no ano seguinte. Aí que aumentou meu isolamento como aconteceu com praticamente todo mundo.

Mas e a questão da sindicalização? O texto é sobre sindicalização.

Como se tornaram raras as oportunidades de participar de assembleias do nosso sindicato, e como eu havia me desligado do banco em um dia e no dia seguinte passei a ser beneficiário do nosso fundo de pensão da Previ, entendi que tinha virado sócio remido do sindicato, como acontece com muitos bancários. 

Um dia, em algum evento virtual que não consegui participar, descobrimos que eu estava com a matrícula irregular no sindicato, o pessoal do sindicato e eu percebemos que minha filiação não estava em dia. Pesquisa vai, pesquisa vem, sou informado que estava inadimplente desde que me desliguei do banco e me tornei beneficiário da Previ.

R$ 5.311,14

A solução não foi eu voltar a pagar a mensalidade. A regularização seria eu pagar um montante inimaginável para voltar a ser sindicalizado como sempre fui desde minha entrada na categoria lá no Unibanco nos anos oitenta. Balancei em pagar o valor apresentado a mim...

A tomada de decisão em usar um recurso de minha família para voltar a ser sindicalizado foi dificílima. Pensei em tantas coisas que vocês não fazem ideia! 

Em primeiro lugar, eu tinha uma história no sindicato. Como bancário, como sindicalizador, como dirigente sindical. Como poderia não ser sindicalizado na entidade na qual participei no mínimo de três décadas de sua história?

Tomei a decisão e no dia 23 de dezembro de 2021 paguei os 5.311,14 ao Sindicato dos Bancários de São Paulo, Osasco e região para regularizar minha situação de sindicalizado há décadas, já que eu não era sócio remido ainda porque faltava me aposentar pela previdência pública, aquela que a cada reforma aumenta o prazo para os trabalhadores poderem se aposentar.

A QUEM DEVERIA INTERESSAR A SINDICALIZAÇÃO, FILIAÇÃO, ASSOCIAÇÃO?

Nos últimos 3 anos de pagamento em dia das mensalidades de nosso sindicato (paguei no mês de dezembro R$ 211,68), fiquei refletindo sobre um monte de coisas relativas ao movimento sindical que ajudei a construir, principalmente o da categoria bancária.

A quem deveria interessar a sindicalização? Como se dá o processo de sindicalização de um trabalhador ao seu sindicato? O que leva um trabalhador a querer ou aceitar ser sindicalizado ao seu sindicato de base? Amigos leitores, juro para vocês que tenho experiência nesse tema e poderia discorrer aqui sobre cada uma dessas questões. 

O fato concreto é que no meu caso de sindicalizado, se eu não fosse quem sou, se eu não fosse politizado, uma pessoa com ideologia e, principalmente, com história em nosso sindicato, eu não teria insistido todos esses anos em me manter sindicalizado. Se o tratamento que recebo do sindicato for a média do tratamento que os bancários recebem, eu imagino que o trabalhador deve estar pensando se permanece ou não associado.

Nesses 3 anos após a regularização que me custou 5.311,14, quem correu atrás dos boletos para pagar as mensalidades fui eu. A cada tempo, tenho que fazer email, pedir boletos etc. Eu não tenho boleto ainda para pagar a mensalidade de hoje, 20 de janeiro. 

Mesmo sendo sindicalizado como qualquer bancário sindicalizado, o coletivo de diretores do banco ao qual fui dirigente não me chamou para absolutamente nenhuma agenda de debates no sindicato nos últimos 3 anos. Imagino que teria contribuições a fazer em algumas questões como outros associados da entidade.

E, por fim, o sindicato ao qual eu participei de décadas de sua história não se dignou a me convidar para fazer uma fala sequer sobre os 100 anos da instituição!

E olha que em um evento de rua, dirigentes da executiva da entidade se disseram surpresos ao saber que eu ainda não havia sido convidado para um depoimento... me disseram que entrariam em contato comigo... (houve veto ou coisa do tipo?)

Essa é a relação do sindicato com um de seus sindicalizados com esse histórico que descrevi acima.

Será que chegou a hora de parar de pagar a mensalidade que vence hoje e que preciso pedir o boleto ao sindicato? Acho que cansei de verdade desse tratamento e dessa relação indigna com a qual sou tratado pelo sindicato ao qual dediquei minha vida.

Cara, acho que para mim chega!

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SINDICALIZEM-SE! É IMPORTANTE! O SINDICATO É OU DEVERIA SER A CASA DOS TRABALHADORES

Colegas bancárias e bancários e trabalhadores que me leem, por favor, não levem em consideração meu caso pessoal com a direção de nosso sindicato e se sindicalizem! É muito importante fortalecer nossas entidades representativas e de organização das lutas da classe trabalhadora.


William Mendes

Associado 351524. Se mandarem os boletos, seguirei associado.


31.12.24

Blog A Categoria Bancária - Retrospectiva 2024



(Atualizado e finalizado em 24/02/25)


RETROSPECTIVA 2024

O ano que termina foi um ano de muita militância política de minha parte, sendo eu um cidadão brasileiro que não tem mandato de representação como tive durante duas décadas. Minha participação política foi por ideologia e por princípios éticos.

Estive nas ruas o ano todo, sempre que os movimentos populares chamaram a militância para as manifestações em defesa de alguma causa sensível à classe trabalhadora e em defesa de um mundo mais justo e solidário.

Como fiz nos últimos anos, estive à disposição dos movimentos organizados dos trabalhadores para contribuir com a experiência que acumulei nas áreas de luta sindical e gestão de saúde em autogestões. Em março, participei do planejamento de uma importante autogestão em saúde: a Unafisco Saúde.

Mais uma vez, não fui demandado pelo sindicato ao qual sou filiado e para o qual contribuí por mais de três décadas de sua existência, pertencendo ao seu quadro dirigente em um período importante de sua história. Todo o conhecimento que acumulei no tema gestão em saúde, tendo sido diretor eleito da Cassi, não valeu para a direção do sindicato para uma participação sequer nos debates internos.

Ao longo do ano, militei no diretório do Partido dos Trabalhadores da região do Butantã e na Frente de Solidariedade e Luta da Zona Oeste. No segundo semestre me envolvi nas eleições municipais e fiz campanha para a reeleição da vereadora Luna Zarattini, eleita com mais de 100 mil votos. Também conheci os jovens do JuntOz em Osasco - Heber, Gabi e Matheus - e fiz campanha para eles: foi a única candidatura do PT eleita na cidade, com mais de 4 mil votos.

Fiz 34 publicações no blog, todas elas voltadas à contribuição aos leitores e leitoras sobre temas que conheço como, por exemplo, gestão em saúde e a Cassi dos funcionários do Banco do Brasil, história da categoria bancária, eleições e organização política etc.

Me sinto honrado com a grande quantidade de acessos que o blog teve neste ano, mesmo estando fora da representação política com mandatos eletivos. Foram 148 mil acessos aos textos do blog.

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Janeiro

Não fiz textos neste mês.

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Fevereiro

Fiz dois textos temáticos sobre gestão de sistemas de saúde. Os textos fazem parte de uma série que nominei "História dos bancários: um olhar".

No primeiro deles (ler aqui), desenvolvi o tema "A questão da saúde dos trabalhadores e as autogestões em saúde". No segundo (ler aqui), a 2ª parte do texto anterior, trago dados da saúde brasileira e aprofundo a temática enfatizando a Caixa de Assistência dos Funcionários do Banco do Brasil e seus modelos de saúde ao longo do tempo.

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Março

A partir deste mês, decidi criar a categoria de textos "Diário e reflexões" também no blog A Categoria Bancária, gênero que já faço no Refeitório Cultural desde o início do blog de cultura. 

O primeiro texto dessa categoria no mês foi sobre unidade e divisões no campo da esquerda e os cancelamentos de pessoas e instituições que ousam divergir e ter visões diferentes. Gostei de reler o texto. Ler aqui.

Depois fiz um texto sobre autogestões, já estudando para uma palestra que daria em um planejamento da Unafisco Saúde. Ainda no mês, fiz uma reflexão profunda sobre cancelamentos no campo da esquerda (ler aqui) e finalizei o mês com mais um texto de história do movimento, dessa vez sobre nossos cursos de formação na Contraf-CUT (aqui).

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Abril 

Não fiz postagens.

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Maio e junho

Fiz uma postagem reflexiva sobre os dilemas que tenho vivido em minha existência após ter saído do dia a dia do Banco do Brasil e estar militando através das manifestações nas ruas e na região onde vivo (ler aqui).

Depois fiz 3 artigos sobre a nossa Caixa de Assistência - Cassi, após analisar o balanço da autogestão e os atos de gestão dos últimos anos. Falei em especial sobre os planos que a operadora de saúde vem lançando no mercado (ler aqui) e que não estão dando o resultado esperado, na minha opinião. 

Também comentei uma nova estratégia da Cassi de terceirização de serviços, oferecendo serviços de empresa privada de consultas por telemedicina com psicólogos e psiquiatras para o conjunto dos participantes do sistema, quase 600 mil pessoas (ler aqui). Questiono que a conta a ser paga pode ser imensa, já que não é uma demanda orientada pelos profissionais das equipes de família da Cassi.

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Julho

Não fiz postagens.

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Agosto

As campanhas eleitorais para a escolha de prefeitas e prefeitos e vereadores começaram no mês de agosto. Como forma de contribuir com o debate democrático, decidi fazer textos no blog durante o processo eleitoral.

No mês, fiz 7 postagens falando sobre as cidades, os direitos dos munícipes e as candidaturas que representaram os segmentos populares e os trabalhadores. Em São Paulo, fiz campanha para a companheira Luna Zarattini, jovem lutadora do Partido dos Trabalhadores, e para Guilherme Boulos.

Também reproduzi no blog um manifesto dos eleitos de nossa Caixa de Previdência, a Previ, alertando os associados sobre fake news produzidas por parte da imprensa golpista e das forças reacionárias que apoiam nossos inimigos de classe (ler aqui).

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Setembro e outubro

Foram meses intensos de campanha eleitoral. Estive nas ruas, feiras, metrôs e calçadões panfletando e conversando com a população paulistana e de Osasco como não fazia desde que era sindicalista. Foi uma experiência muito legal.

Acredito que os textos que fiz no blog também contribuíram com o processo democrático das eleições. Tivemos milhares de acessos no período eleitoral. Todos os textos sobre eleições tiveram mais de mil acessos cada um entre os meses de agosto e outubro.

Elegemos Luna Zarattini com mais de 100 mil votos em São Paulo e os jovens do JuntOz com mais de 4 mil votos em Osasco: o PT volta à Câmara da cidade após oito anos sem representação. Fiz parte dessas lutas.

Avaliação das eleições - O texto mais significativo desse período eleitoral é o que fiz de avaliação em 31 de outubro. Falo sobre a questão de ser ou não ser de esquerda ou direita. As pessoas são práticas na hora do voto e não é isso que define o voto, na minha opinião: ler aqui.

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Novembro e dezembro

Após as eleições municipais, fiz ainda alguns textos no blog. 

Dos cinco textos do período, o que mais apreciei na releitura foi o artigo político que fiz em novembro (ler aqui) para politizar o debate sobre o trabalho de representação política.

Aproveitei a experiência pessoal de ter sido representante político de milhares de trabalhadores do Brasil inteiro e argumentei sobre uma questão da época levantada por um importante youtuber influenciador criticando políticos por só "trabalharem" 3 dias da semana. Não é por aí.

Fiz um histórico sobre o que e como se dá a representação política numa democracia representativa, explicando que políticos não representam seus eleitores só quando estão no local sede do mandato que exercem.

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COMENTÁRIO FINAL

Enfim, ao rever os 34 textos do ano no blog, posso dizer que eles atingiram seus objetivos centrais de politizar nossos leitores e leitoras, compartilhar conhecimentos e opiniões e contribuir de forma honesta e democrática para a boa política.

Os textos do blog contam um pouco da nossa história no ano que se encerrou. Foi um ano de muita luta, de conquistas e derrotas de nossa classe, mas acumulamos forças para seguir lutando para mudar o mundo.

William Mendes


21.12.24

Diário e reflexões



Diários da história dos bancários (3)

Osasco, 21 de dezembro de 2024. Sábado.


Opinião 


LULA, O PT E O NOVO SINDICALISMO QUE CRIOU A CUT

Tirei algum tempo deste sábado, véspera de Natal, para mexer nos papéis velhos de um ex-sindicalista dos bancários da CUT.

Li uma revista no formato HQ muito legal, contando a história de Lula. A revista é anterior à vitória de Lula nas eleições presidenciais de 2002.

Neste mês, Lula está completando a metade do terceiro mandato presidencial. As avaliações do nosso lado da classe são as mais diversas possíveis. 

O debate franco é proibido no PT e na CUT. Quem tiver avaliação divergente dos chefes e das chefas não é convidado a falar nos espaços oficiais, e se for é sob risco severo de ser desconsiderado e cancelado. 

Eu afirmo a vocês que compreendo essa realidade, compreendo. Lembrando aqui o ensinamento de Eric Hobsbawm, que compreender não é concordar nem aceitar, é entender o processo histórico daquele fato, daquela situação. 

Eu já estava exercendo mandatos de representação da classe trabalhadora a partir de 2002 quando fui estudando nossa história diariamente, pois tinha muita necessidade de entender quem eu era sendo um membro da maior corrente política da CUT, a Articulação Sindical.

Só tomei plena consciência sobre quem éramos, de onde tínhamos vindo, quais eram nossas concepções e práticas sindicais e políticas quando estudei a história do Lula, a origem da CUT e do PT. 

Passei a entender melhor o fato de nunca termos sido revolucionários e sim conciliadores. 

Isso me ajuda a entender até hoje o que acontece na política dentro e fora do governo Lula, do PT e da CUT. 

Não poderia tendo o conhecimento que acumulei em décadas de luta e representação esperar mais do que está na natureza dessas instituições da classe trabalhadora brasileira que citei aqui.

É isso!

William Mendes 


25.11.24

Diário e reflexões

 


Ushuaia (ARG), 25 de novembro de 2024. Segunda-feira.


Opinião


O QUE É UM TRABALHO DE REPRESENTAÇÃO POLÍTICA?

Sempre que vejo críticas ao trabalho de representação política me sinto na obrigação de manifestar o que penso a respeito quando entendo que há distorções no caráter da crítica feita.

Por ter sido um dirigente nacional de uma das principais categorias organizadas do país, a categoria bancária, com o único acordo coletivo de âmbito nacional e para diversas empresas, entendo que seja importante não permitir que se desvalorize a Política como solução pacífica das controvérsias.

Vi ontem um questionamento sobre a jornada de trabalho dos parlamentares no contexto do importante debate acerca da redução da jornada de trabalho legal da classe trabalhadora brasileira, hoje de 44 horas semanais, em até seis dias da semana (6x1) durante a jornada semanal. 

Um dos maiores influenciadores das redes sociais, hoje uma pessoa do campo progressista, questionava em sua postagem a atuação dos parlamentares em Brasília somente por 3 dias da semana, justamente os parlamentares que podem ou não reduzir a absurda jornada de 6x1 do povo brasileiro.

O influenciador pedia em seu post um argumento coerente que justificasse a jornada de 3 dias dos parlamentares nas sessões de votação do Congresso Nacional. 

Eu não vou entrar no mérito da atuação efetiva dos parlamentares. Vou expor meu argumento sobre o que entendo ser o trabalho de representação política em sua visão ampla e democrática.

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VISITA ÀS BASES SOCIAIS É TRABALHO POLÍTICO

A argumentação sobre trabalho de representação política que vou expor aqui é baseada em minha experiência efetiva de mandatos eletivos ao longo de praticamente duas décadas.

Em 2014 passei a exercer um mandato eletivo de diretor de saúde de uma das maiores autogestões em saúde do país. A base social que elegeu nossa chapa com sete pessoas foi uma base nacional, fomos eleitos por associados e associadas de todos os estados brasileiros e Distrito Federal.

Fizeram parte do processo de organização da chapa, construção das propostas e campanha junto aos trabalhadores da ativa e aposentados dezenas de entidades representativas dos eleitores: sindicatos, associações e grupos políticos diversos. Foi uma disputa intensa entre grupos à direita e à esquerda.

Ao iniciar o mandato de 4 anos, sendo a minha função de representação em tempo integral, com reuniões semanais na sede da autogestão em Brasília, me mudei para a cidade por uma questão de logística.

Pela história de representação que tinha, por ser quem eu era no movimento nacional da categoria bancária e pela formação política que tive através dos bancários da CUT, a primeira decisão que tomei foi a de que o nosso mandato não seria burocrático e distante das bases sociais. 

Nosso mandato na direção da autogestão em saúde seria um mandato combativo contra as teses de redução de direitos dos associados, esclarecedor sobre os temas ligados ao sistema de saúde que gerenciávamos e organizador das bases sociais, sobretudo das entidades representativas, para o enfrentamento nas lutas entre patrão e trabalhadores e para que os associados fortalecessem o modelo assistencial ao conhecê-lo melhor.

Já nos primeiros 3 meses de mandato, reunimos todas as equipes sob nossa liderança e realizamos um planejamento estratégico para os 4 anos de trabalho. Ali traçamos os objetivos, as estratégias e táticas e os principais eixos a serem desenvolvidos nos 4 anos de trabalho para defender direitos dos associados e ampliar o modelo assistencial da autogestão.

A mim coube o papel central de fazer o que estivesse ao alcance da representação política daquela direção, pois a metade da direção era indicada pelo patrão e a outra metade era eleita pelos associados no país. Eu seria uma das pontes entre a direção da autogestão e os associados através de um contato permanente com os formadores de opinião: entidades sindicais, associações da ativa e de aposentados e conselhos de usuários. E também os associados em mais de 4 mil locais de trabalho no Brasil.

Assim fizemos obstinadamente por 4 anos. À medida que as dificuldades foram aparecendo, fomos desenvolvendo estratégias para superá-las. O patrão gestor impôs dificuldades mês a mês internamente, tirou recursos para que eu não exercesse meu trabalho estatutário de gestão das unidades de saúde nos Estados, por exemplo. Nós demos um jeito de ir aos Estados com recursos próprios ou das entidades representativas etc.

Durante os 4 anos atuei nos eixos de trabalho sob minha responsabilidade. Lia e estudava pautas gigantes de súmulas e atas, relatórios técnicos e estudos relativos aos sistemas de saúde. Começava a leitura na sexta-feira quando eram liberados e os lia nos finais de semana até definirmos todas as estratégias políticas para as reuniões de diretoria às terças-feiras. Diria que entre sexta e terça, trabalhava umas 40 horas.

Como esse trabalho técnico e político podia ser feito de qualquer lugar, nosso planejamento era perseguido de forma militante. Ao longo do mês, eu sempre estava trabalhando alguns dias nas bases sociais da autogestão: os Estados onde estavam as unidades de atendimento e os associados que representávamos. 

Nos 4 anos, participei de 52 conferências de saúde, sendo palestrante. Me disponibilizei em mais de uma centena de reuniões presenciais em entidades representativas e conselhos de usuários. Se somar esse trabalho ao outro, foram mais de 80 horas semanais de trabalho de representação.

A forma como exercemos o mandato deu resultados positivos. O modelo assistencial da autogestão se consolidou naquele período, virou consenso entre os agentes envolvidos do sistema (stakeholders), viramos referência no setor e fomos premiados na área de saúde. 

Durante nossa gestão, os associados não perderam direito algum, mesmo estando a operadora em uma de suas recorrentes crises de desequilíbrio econômico-financeiro, algo que se repete desde sua criação.

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A EDUCAÇÃO POLÍTICA DA CLASSE TRABALHADORA DEVE COMBATER MITOS E NARRATIVAS DESPOLITIZANTES

Vou finalizar esta reflexão citando mais um exemplo pessoal para depois falar do que entendo ser mais adequado no trabalho de fortalecimento da representação política do povo, ou seja: democracia ou o povo no poder.

Logo no início de nosso trabalho de direção da autogestão em saúde, um mandato eletivo nacional com uma exigência mista de competência técnica e política ao mesmo tempo, começaram os ataques de nossos adversários políticos. No nosso caso, havia um constante ataque da parte patronal e dos grupos derrotados nas eleições, o principal deles do segmento da direita política.

Uma das formas que definiram para atacar nosso mandato era desqualificar o trabalho de representação política. Diziam os adversários na gestão - o patrão e a direita - que a operadora ia mal porque tinha representantes dos trabalhadores, que a política só atrapalha as empresas blá blá blá. Esse tipo de narrativa é muito comum por parte de burocratas e liberais. 

Detalhe: as áreas de administração e de finanças que geravam consecutivos déficits e desperdícios na operadora são todas geridas pelo patrão naquela autogestão. Sem contar que parte dos déficits é estrutural, tem relação com o mercado de saúde, sempre com dificuldades e déficits. O patrão queria que só os trabalhadores pagassem a conta.

Logo nos primeiros meses de mandato, duas ex-gestoras da operadora, derrotadas na eleição, publicaram texto nas redes sociais à época, inventando mentiras a meu respeito, sendo a acusação principal a pecha de que o diretor de saúde não trabalhava, eu seria uma espécie de "vagabundo", pois diziam que eu só trabalhava nas terças-feiras, dia de reunião da diretoria executiva. Percebem como atuam desqualificando o trabalho político de representação da classe trabalhadora?

O fato concreto é que ouso dizer que poucas vezes na história da autogestão uma pessoa leu e estudou tanto a operadora, sua história, sua operação interna e no mercado, seu público usuário; e defendeu os direitos de seus associados como fizemos. No final do mandato, a única forma que encontraram de nos tirar tempo de embate político e nos colocar sob forte ataque foi um processo de lawfare (um processo administrativo baseado em cartinha anônima, arquivado depois por falta de materialidade).

Então, é interessante que politizemos as questões relativas ao povo e ao mundo do trabalho. É papel das lideranças do campo democrático e também das áreas de formação política dos movimentos populares ampliar os conceitos de trabalho e representação política. Uma liderança exercendo um mandato não pode se tornar uma burocrata e se afastar das bases sociais. Qualquer parlamentar ou representante deverá conjugar sua jornada de trabalho na área onde atua como eleito e nas bases de onde saiu o seu mandato.

Para citar algum exemplo de pessoas que conjugam atuações técnicas e políticas tanto nos ambientes para onde foram eleitos como nas bases de onde vieram, eu aponto os mandatos da jovem vereadora Luna Zarattini (PT-SP), do deputado estadual Marcolino (PT-SP), do deputado federal Guilherme Boulos (PSOL-SP) e do senador Paulo Paim (PT-RS). Esses representantes congregam um pouco do que expus em minhas reflexões acima.

Eles trabalham de segunda a segunda, de manhã, de tarde, de noite, nos finais de semana, têm competências técnicas e políticas, ao mesmo tempo que fazem duríssimos embates nos parlamentos onde atuam, dão um jeito de prestarem contas e pisar o chão de onde vieram os votos e a esperança das pessoas que confiam neles. Estão sempre sob fogo cerrado e as baterias inimigas dos adversários deles e do povo que eles representam têm munição pesada para depor contra a imagem e o trabalho deles.

É isso. Espero ter contribuído sobre essa questão do que seja um trabalho de representação política e as diversas narrativas criadas em torno dessa ferramenta central da democracia e da participação social nos destinos de todos nós.

William Mendes

Ex-dirigente nacional dos bancários


31.10.24

Diário e reflexões

 

Atividade no BB em 2012. Foto: Lazarri.


Osasco, 31 de outubro de 2024. Quinta-feira.


Opinião (18)


O povo não é nem de direita nem de esquerda

Há um processo de politização do povo pela direita, mas podemos politizar as pessoas também se lutarmos contra o sistema de dominação atual


1. INTRODUÇÃO

Escrevo esta reflexão no momento seguinte ao resultado das eleições municipais do Brasil. O articulista é pessoa com experiência na política: fui dirigente sindical e representei com mandatos eletivos a classe trabalhadora por quase duas décadas. Já fui também líder estudantil, síndico de condomínio, membro de conselhos e gestor eleito de autogestão em saúde.

Ao longo de minha vida alternei visões de mundo diametralmente opostas. Sendo hoje uma pessoa materialista e sem nenhum tipo de fé em explicações místicas da vida humana, já fui católico praticante, uma pessoa movida pela fé cristã. Também frequentei e estudei o espiritismo e o candomblé. Já fiz curso completo de gnose, uma escola de autoconhecimento. Diria que sou, hoje, humanista e anticapitalista.

Já tive os preconceitos comuns da cultura brasileira, preconceitos que perduram há séculos nesta ex-colônia sul-americana. O principal preconceito que tive pela minha ambientação dos anos oitenta adiante, quando me tornei jovem adulto no Brasil, foi o preconceito relativo às diversas formas de amor, orientação sexual e relacionamentos humanos, ignorância que só superei ao ser politizado e educado pelo movimento sindical brasileiro.

Já senti ódio, muito ódio em minha vida, e desde pequeno. Já enfrentei um lawfare, um processo administrativo inventado pelos meus adversários políticos para destruir minha história e minha vida. Acreditem: muitas pessoas podem sucumbir aos processos de destruição e assédio. Ninguém merece ser acusado injustamente de algo que não fez. O lawfare teve seu uso político pretendido e depois do objetivo alcançado foi arquivado por falta de provas e materialidade. Acho que minha saúde nunca mais foi a mesma.

Fiz essa introdução em minha reflexão para situar as leitoras e leitores do texto que não tenham o hábito de ler meus artigos no blog, que talvez não me conheçam há mais tempo. Minha experiência de vida e militância exigem de mim um esforço para compreender as questões das diversas formas de fé das pessoas, os ritos e vícios da política sindical e partidária e as causas e efeitos das ferramentas ideológicas do preconceito, que incluem as novas ferramentas tecnológicas das big techs.

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2. A IMPORTÂNCIA DA SOLIDARIEDADE DE CLASSE

Antes de escrever alguma coisa a respeito do resultado dos processos eleitorais que se encerraram nesta semana - com a prevalência expressiva das candidaturas de direita nas cidades do país -, quero registrar algum comentário a respeito da absolvição pelo Supremo Tribunal Federal do companheiro José Dirceu: fiquei feliz com a absolvição. Que bom que lutadoras e lutadores de nosso lado da classe receberam nossa solidariedade nos momentos mais difíceis de suas vidas! Nossos inimigos de classe não têm solidariedade alguma conosco.

Eu não teria como enumerar as diversas lideranças de nosso lado da classe trabalhadora que foram vítimas de novos métodos de assédio, tortura e eliminação da vida política e, inclusive, da vida biológica por parte dos detentores do poder econômico e político instalado no Brasil há cinco séculos: a casa-grande, para resumir os opressores do povo brasileiro.

Pelos papéis que tiveram nas lutas de libertação do povo brasileiro nas últimas décadas, cito as seguintes lideranças de esquerda que sofreram perseguição política e uso da máquina estatal contra suas vidas e suas liberdades: Luiz Inácio Lula da Silva, Dilma Rousseff, José Genoino, José Dirceu, Luiz Gushiken e João Vaccari Neto, com quem militei no Sindicato dos Bancários. Todos foram vítimas de processos de lawfare para destruir suas vidas e de seus familiares e atingir o Partido dos Trabalhadores e, consequentemente, toda a esquerda brasileira.

O presidente Lula foi vítima de mentiras contra si desde os anos setenta, quando se tornou líder sindical. As mentiras foram escalando até que ele fosse preso sem crime e sem provas por 580 dias para que não disputasse as eleições de 2018. A presidenta Dilma Rousseff foi presa e torturada na juventude por lutar contra a ditadura no país. Após ser eleita com 54,5 milhões de votos em 2014, sofreu um impeachment sem crime e sem provas. Sofri muito durante esses processos que acompanhei como dirigente dos bancários! A dor era de adoecer por ver fazerem o que fizeram com nossas lideranças!

O mesmo sofrimento e impotência contra a injustiça sentimos quando a casa-grande condenou e ou prendeu sem crime e sem provas José Genoino, José Dirceu, Luiz Gushiken e João Vaccari Neto. Genoino e Dirceu, lutadores da mesma geração de Dilma e Lula. Gushiken e Vaccari, líderes da categoria bancária do Novo Sindicalismo brasileiro. Acusar lideranças da classe trabalhadora, destruir suas histórias e expô-las à execração pública a partir dos anos dois mil passou a ser a nova ferramenta de tortura e eliminação de lideranças das lutas populares.

Até hoje, temos visto serem inocentadas lideranças populares vítimas de processos de lawfare, como nos casos famosos "Operação Lava Jato" e "Ação Penal 470" (conhecida como "Mensalão" para achincalhar as vítimas). Gushiken foi absolvido por falta de provas pouco antes de falecer em 2013 e a notícia saiu nos rodapés dos jornalões e revistas que o execraram por anos. O mesmo se deu com Vaccari, preso por condenações revistas por falta de provas. Me lembro de ter me posicionado em defesa de Vaccari no auge dos massacres midiáticos que sofríamos em 2015 (ler artigo aqui).

Fico feliz e aliviado pela notícia da absolvição do companheiro José Dirceu neste momento da história brasileira. Sempre suspeitamos das práticas criminosas daquela gente da tal "República de Curitiba". O tempo foi o senhor da razão. Lendo o livro de memórias de Dirceu, temos orgulho das pessoas que ao longo da vida estiveram do lado certo da história, do lado do povo.

Essas revisões tardias de processos criminais inventados contra pessoas que representam a resistência ao avanço das políticas liberais, privatistas e contrárias aos interesses da classe trabalhadora reforçam uma questão central entre nós de esquerda: a necessidade da solidariedade entre nós nos momentos em que estamos sob ataques de nossos inimigos de classe.

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3. NEM DE DIREITA NEM DE ESQUERDA

Tive a oportunidade de participar de reuniões políticas em bases comunitárias nos últimos dois anos. Naqueles espaços de reflexões populares me lembrei muito dos tempos de representação sindical nos bancários e também dos ambientes familiares de muita pobreza e simplicidade.

Sempre que começam as reuniões nas comunidades, as pessoas que se atrevem a se inscrever para falar vão logo marcando suas posições dizendo que não gostam de política, nem dessa coisa de partido A ou B. Aí sim falam da questão do ônibus, do posto de saúde, das carências em casa, da falta de vaga na escola, segurança no bairro etc.

A questão de se classificar alguém como sendo de esquerda ou de direita e outras classificações comuns na boca da militância orgânica dos movimentos sociais ou de acadêmicos e intelectuais passa longe do dia a dia da ampla maioria das pessoas. O povo em geral não gosta de gente de esquerda "cagando" regras para ele.

Se voltar ao tempo em que fazia a base do sindicato, visitando locais de trabalho da categoria bancária ou participando de reuniões, plenárias e assembleias, poderia dizer a mesma coisa em relação a classificações de trabalhadores como de direita ou de esquerda.

Buscando na memória lembranças dos ambientes onde nasci e cresci, a parentada toda e os amigos e conhecidos na adolescência e na primeira fase de adulto jovem é a mesma coisa. Ninguém que conheci tinha esses papos de ser de direita ou de esquerda. 

É evidente que identificar fenômenos sociológicos e definir as coisas do mundo humano é importante para nós que nos interessamos em compreender e mudar a realidade social não natural. 

A desigualdade social, a injustiça contra as pessoas, o privilégio de poucos em contraposição à miséria da maioria, tudo isso são fenômenos não naturais. E podemos mudar a realidade porque somos seres históricos e fazemos a história diariamente.

As ciências humanas que se debruçam sobre os fenômenos sociológicos são necessárias, repito. O mestre Paulo Freire diz que só se educa gente. Ou seja, é possível educar e politizar as pessoas.

3.1. ALGUMAS LEITURAS INTERESSANTES

Eu, particularmente, gosto dos estudos e das conclusões do professor e sociólogo Jessé Souza a respeito do comportamento das classes dominantes e das classes subalternas. Concordo que as elites são corruptas e manipuladoras do povo. Entendo os motivos para ele definir um segmento do povo como "o pobre de direita".

Por outro lado, também apreciei as definições que ouvi dias atrás do professor e historiador marxista Valério Arcary, em entrevista ao Mauro Lopes, ao dizer que não concorda em se chamar um segmento do povo como "pobres de direita". 

Ele alegou na entrevista que importantes camadas da população estão em condições tão precárias de subsistência diária que elas não podem se dar ao luxo de recusar uma cesta básica, um telhado novo, alguma ajuda de políticos que lhes pedem o voto em troca de algo essencial.

Aí, penso na análise do professor Alysson Mascaro, jurista e filósofo do direito marxista, que em entrevista ao jornalista Leonardo Attuch, após o primeiro turno das eleições, disse que a direita e a extrema-direita politizaram o povo, que agora teria uma consciência de direita. Já a esquerda fica defendendo o sistema capitalista, a ordem estabelecida e fazendo coraçãozinho. 

Por fim, cito a tese "Os sentidos do lulismo" do professor e cientista político André Singer como um estudo que fez muito sentido para mim. De maneira geral, gostei das reflexões dele sobre as características do povo brasileiro e o comportamento dos diversos estamentos sociais ao longo das eleições para presidente entre 1989 e 2010. Fiz uma leitura do livro com postagens comentadas. (ler aqui)

Entendi que o que menos pesou no voto das pessoas foram questões como "esquerda" ou "direita" em relação aos candidatos Collor e Lula, FHC e Lula, Lula e Serra, Lula e Alckmin, Dilma e Serra. Os eleitores decidiram de forma muito prática seus votos em relação ao que era melhor para eles e da forma como viam o mundo, incluindo crenças, medos, cultura, preconceitos etc.

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4. QUAL A MINHA OPINIÃO SOBRE O CENÁRIO E SOBRE O FUTURO?

Vivemos um momento histórico com ferramentas tecnológicas que não existiam em outras fases da história humana. O ser humano é um animal movido a paixões e sentimentos, uma espécie que organizou o mundo a partir das abstrações criadas pela mente humana. 

O livro "O verdadeiro criador de tudo", do professor neurocientista Miguel Nicolelis, nos explica isso. A comunicação virtual e as redes sociais dominadas por algumas corporações, as big techs, sincronizam milhões de seres humanos em frações de segundos. 

Num mundo plataformizado e baseado na economia da atenção, viramos commodities e não mais seres livres. O professor e sociólogo Sérgio Amadeu, da UFABC, fala bem sobre o tema.

Quando as ideias que nos movem são inoculadas em nossa mente de forma sistêmica e intencional para ditar nosso comportamento como se dá hoje, questiono se ainda temos "livre-arbítrio".

O sistema capitalista está por trás da organização e movimentação da sociedade humana global. Não vou discorrer sobre isso. Seria exaustivo neste artigo que precisa terminar. Conto com o conhecimento que as leitoras e leitores desta reflexão já possuem.

Como identificação de fenômeno social, concordo com os professores Jessé Souza e Alysson Mascaro. A direita tem sido exitosa em estabelecer suas ideias no cotidiano das pessoas em todos os segmentos da sociedade, inclusive entre as classes subalternas e exploradas. Eu entendo que ser proprietária dos meios de produção e de criação de ideias tem peso central na prevalência das ideias de direita no mundo.

No entanto, tendo a concordar com as impressões dos professores Valério Arcary e André Singer em relação ao comportamento prático que as classes sociais têm na hora de se posicionarem em eleições ou na sobrevivência diária. As pessoas se movem à direita, centro ou esquerda de acordo com seus interesses imediatos e não por adesão ou militância a tais conceitos teóricos.

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ELEIÇÕES MUNICIPAIS BRASILEIRAS: baseado no que estou argumentando, fica fácil compreender o resultado das eleições em 2024, com o domínio amplo dos partidos de direita disfarçados sob a alcunha de "Centrão" em milhares de cidades do país. O dinheiro das emendas do orçamento público irrigando as candidaturas contra nós da esquerda mais os preconceitos e mentiras prevalentes nos meios digitais das plataformas somados aos tradicionais meios da imprensa de direita são bases efetivas da vitória da direita nas urnas. Reconheço, também, a incapacidade atual da esquerda de compreender e representar as necessidades e anseios da classe trabalhadora. Estamos distantes das bases. 

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É verdade que o domínio totalitário dos meios de produção por parte da classe dominante tem pesado para que o mundo experimente essa ascensão das ideias de direita, inclusive sobre as classes vítimas da crise do capital. Somos seres movidos pelas paixões e sentimentos: uma abstração divulgada de forma massiva em segundos pelas redes sincroniza milhões de pessoas - sentimentos como o ódio -, por exemplo. E o ódio cega as pessoas e impede o império da razão.

Na guerra de conquista das ideias, os donos dos meios estão vencendo, mas entendo que nós podemos enfrentar o avanço da direita e extrema-direita, que representam os privilegiados do mundo, nos posicionando a favor da mudança e a mudança está em questionar o sistema vigente - o capitalismo - e exigir outra forma de organização da sociedade humana.

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Contestar o capitalismo e a captura dos recursos públicos em prejuízo do povo e em privilégio de poucos é algo básico para uma liderança ou organização de esquerda.

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5. PARTIDOS, SINDICATOS E ASSOCIAÇÕES

Não acredito em mudanças substantivas e perenes na sociedade humana sem organizações sociais por trás dessas mudanças. Movimentos populares episódicos - uma ocupação, uma greve, uma mobilização por questão A ou B -, por mais que sejam bonitos de se ver, não têm acúmulos crescentes com capacidade de alterar a realidade geral. Eu pensava isso em relação aos Fóruns Sociais Mundiais quando não aceitavam partidos, sindicatos e governos.

É minha opinião que nós temos que ter partidos políticos, sindicatos e associações que liderem movimentos de massas para questionar e forçar as mudanças necessárias para disputar os rumos de uma comunidade humana. 

Temos que ter atuação constante e não só em períodos eleitorais. Ampliar nossa força nos parlamentos deve ser consequência de trabalhos realizados na base o ano todo e com coordenação local e nacional. Temos que mudar essa lógica personalista de nomes e mandatos prevalecerem sobre projetos e coletivos locais, temáticos e programáticos de esquerda, lutas de classe.

Para isso, as lideranças populares precisam exigir as mudanças necessárias das velhas burocracias encasteladas em partidos, sindicatos e associações que são estratégicos para a classe trabalhadora, mas que têm deixado insatisfeitas as bases sociais por completa ausência nas bases.

Tenho visto surgirem novas lideranças nos partidos de esquerda e nos movimentos organizados. Temos que fortalecer e apoiar essa juventude que está dando as caras. 

Se permitirmos que as ideias da burocracia partidária e sindical prevaleçam - ideias de conciliações improdutivas com adversários e inimigos na atualidade e parcerias ruins com nossos algozes -, não mudaremos a realidade na qual as ideias de direita e extrema-direita estão prevalecendo nas camadas populares que, repito, não são nem de esquerda nem de direita.

Nossos partidos de esquerda, sindicatos e organizações populares podem fazer a diferença, mas para isso é necessário que mudem e ouçam as bases e as novas lideranças que estão chegando para fazer história. Que Brasil e mundo queremos em 2035 e 2050? Para pensar 2026 temos que pensar o que queremos para o mundo.

William Mendes


Post Scriptum: o texto anterior desta série sobre eleições municipais brasileiras, que termina com este texto de avaliação do processo, pode ser lido aqui.


27.10.24

Diário e reflexões



A semana decisiva foi de muita energia e sentimento de mudança nas ruas de São Paulo

Domingo, 27 de outubro de 2024.


Opinião (17)


ELEIÇÕES MUNICIPAIS

Esta semana foi de muitas atividades da militância para conversarmos com eleitores indecisos e conquistarmos os votos necessários para elegermos Guilherme Boulos e Marta Suplicy para a prefeitura de São Paulo. E o próprio candidato fez algo inédito: ficou a semana toda nas ruas junto à população paulistana.

Nós da militância da Zona Oeste de São Paulo, fizemos atividades praticamente todos os dias. Num dos dias, a professora Ione, minha companheira, ficou horas conosco e o time da vereadora Luna Zarattini virando votos na Avenida do Rio Pequeno, Butantã. Vejam vocês, até pessoas que não estão acostumadas a abordagem popular, entraram em cena pelo vira voto e muda São Paulo. Muita energia no ar!

Estivemos nas imediações dos metrôs da região, onde panfletamos nos últimos meses. A percepção que eu tive foi muito positiva. Diferente de outras fases da campanha, muita gente nos pedia adesivo, trabalhadores de aplicativos colocaram adesivos em suas motos: é Boulos 50 pra mudar São Paulo. Até motoristas de ônibus se aproximaram e de dentro do veículo me pediram adesivos. Clima de virada no ar!

E, no sábado, para fechar a campanha pela eleição de Guilherme Boulos 50 prefeito de São Paulo, fizemos uma ótima caminhada da vitória, saindo da Avenida Paulista e descendo a Rua Augusta até a Praça Roosevelt. Que energia! 

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CRIME ELEITORAL DO GOVERNADOR DE SP

A certeza de impunidade por parte da casa-grande brasileira não tem limites. Eu acompanho e estudo política e história do Brasil há tempos. Já vi muita coisa e sei de muitos abusos dos poderosos no país explorado há séculos pelos imperialismos e por seus lacaios daqui - a burguesia vira-latas.

Hoje a casa-grande se superou. O governador Tarcísio de Freitas, parceiro do candidato Ricardo Nunes a reeleição em São Paulo, ousou no dia da eleição a praticar um crime absurdo de ir à imprensa declarar que a maior facção criminosa do país, o PCC, havia declarado voto e apoio à candidatura de Guilherme Boulos... (sem apresentar provas, e mesmo se as tivesse não poderia ter feito isso) 

É tão chocante e descabido o que fez o bolsonarista Tarcísio, de uma forma torpe para que sua declaração influencie os eleitores sem chance de desmentido pelo candidato opositor, que se não houver punição rápida e severa a essa interferência de poder político nas eleições, podem decretar o fim dos processos eleitorais! Que se declare que não há democracia no país e chega de farsa!

Vamos ver o que acontece nas próximas horas.

William Mendes

(Domingo, 17:40 horas)


Post Scriptum: a plutocracia prevaleceu, como se espera em processos de consultas como esses baseados em poder do dinheiro e da máquina estatal pela manutenção do status quo. A candidatura de Guilherme Boulos obteve o apoio de 40% dos eleitores que se dispuseram a votar. A luta deve continuar, não há alternativa para nós que pensamos nas pessoas e no planeta Terra.

Post Scriptum (2): para ler o texto anterior desta série sobre eleições, clique aqui. O texto seguinte, de avaliação do processo eleitoral, pode ser lido aqui. Nele, foco minhas reflexões na questão sobre os brasileiros serem ou não de esquerda ou de direita.