Páginas

28.2.22

Memórias (XIX)


Conversando com associados da Cassi MS (out/2016).

Cassi e Cassems, exemplos de autogestão em saúde


Opinião

Nesta semana que passou conversei com um colega aposentado do Banco do Brasil a respeito de nossa Caixa de Assistência e da Caixa de Assistência dos Servidores do Estado do Mato Grosso do Sul. Ele está desenvolvendo um trabalho acadêmico que aborda questões sobre essas instituições de trabalhadores e como tive a oportunidade de ser gestor de nossa autogestão o colega avaliou que eu poderia compartilhar com ele algumas impressões e experiências que tive como gestor de saúde. Tivemos uma boa conversa.

Tenho boas lembranças a respeito dessas autogestões. As histórias dessas duas caixas de assistência à saúde são belíssimas, são exemplos de realização coletiva a partir do desejo do bem comum, são instituições que têm em sua raiz o desejo de solidariedade de classe. 

CASSEMS

Da Cassems tenho informações essenciais, públicas, li o livro comemorativo dos 15 anos de existência da autogestão e estive em contato com a instituição durante o mandato eletivo que exerci de diretor de saúde da Cassi (2014/18). Tenho uma leitura geral sobre a Cassems em relação à estratégia que os associados adotaram para a Caixa de Assistência (operadora) se estabelecer no agressivo mercado de saúde privado brasileiro. 

A palavra é essa mesma - "agressivo mercado" - porque ao se conhecer por dentro a forma como opera essa "indústria" fica claro o quanto pesa a questão do lucro e retorno financeiro nos objetivos dos vendedores de serviços de saúde. É uma grande indústria capitalista essa da saúde/doença como mercadoria.

Aliás, para vocês conhecerem a pujança da Cassems eu sugiro que vocês naveguem pelo site da autogestão. É de encher os olhos, lá vocês vão ver informações sobre os 10 (dez) hospitais próprios dos servidores do Estado. Conheço a história da aquisição e funcionamento de cada um deles porque li a respeito no livro comemorativo. 

Os servidores sul-mato-grossenses enfrentam os abusos cometidos pelo mercado privado de saúde (valores abusivos nos preços da rede credenciada) de igual para igual ao terem estruturas próprias de saúde em todos os níveis. 

CASSEMS: GESTÃO DO CUSTO SEM DEIXAR DE TER O SERVIÇO - Outra vantagem dessa estrutura verticalizada da Cassems é a gestão do custo da saúde. Uma coisa é comprar tudo fora como faz a Cassi, outra coisa é conhecer por dentro as operações dessa "indústria" que movimenta bilhões de reais por ano. Tendo estrutura própria, como faz o mercado privado que visa lucro, a Cassems pode direcionar boa parte de sua demanda por saúde para sua própria rede, ficando alguma coisa para ser feita em credenciados dos empresários-médicos do mercado.

Para vocês terem uma ideia, a Cassi chega a pagar mais de 1/2 bilhão de reais ao ano somente para 1 (um) prestador de serviços. Por não gerirmos estruturas de saúde de 2º e 3º graus, estruturas de procedimentos de alto custo, ficamos nas mãos dos médicos-capitalistas, cooperativas médicas por área profissional, médicos-empresários que faturam mais quanto mais procedimentos fazem em nossos participantes do sistema Cassi (fee for service), dentre outras desvantagens que o mercado oferece, como criar desejos que não são necessidades das pessoas e usar materiais que custam várias vezes mais que outros de mesma qualidade. 

CASSI OPTA POR FICAR NA DEPENDÊNCIA DO MERCADO PARA TUDO - A Cassi do Brasil pós-golpe não quer ter estruturas próprias de saúde (por opção da direção porque tem recursos para isso). A direção da Cassi está se desfazendo até da estrutura baratíssima de atenção primária e medicina de família, e assim a forma para "gerir custos" acaba sendo reduzir a rede prestadora e tirar os fornecedores do mercado de saúde que cobram mais caro. Vejam o exemplo da rede do novo plano que a direção atual lançou no "mercado". Um plano chamado Cassi Essencial com menos direitos, coberturas, rede, e com coparticipação e taxa de internação. 

(Cassi Essencial: o usuário acha que vai economizar em relação ao plano Cassi Família II, acha..., e vai perceber na hora que precisar que a coisa não é bem assim...)

A Cassems se estabeleceu de forma sólida em duas décadas de existência e hoje avança promovendo saúde e cuidando de uma população de quase 200 mil beneficiários. Eu continuo com a opinião que o modelo de verticalização da Cassems deveria ser estudado e implantado na autogestão da comunidade Banco do Brasil.

CASSI

A Caixa de Assistência dos Funcionários do Banco do Brasil foi criada em 1944 por colegas do banco e ao longo de décadas de existência foi incluindo novos participantes e avançando em direitos após lutas históricas do movimento sindical e associativo do quadro de trabalhadores desse banco público bicentenário.

Não vou aqui descrever a história da Cassi (fiz isso ao longo de centenas de postagens quando fui gestor eleito). 

O importante é destacar que nas primeiras 5 décadas de existência (de 1944 a 1995) a Caixa de Assistência foi uma mera pagadora de serviços de saúde do mercado empresarial privado. Ela praticamente ressarcia as despesas de seus associados. Modelos assim tendem a ter sérios problemas de déficit porque a inflação médica e as novas tecnologias e demandas de saúde sempre vão impactar no valor da compra de serviços em relação à capacidade do plano de saúde em arrecadar recursos para fazer frente às despesas assistenciais - nem sempre necessárias ou adequadas à saúde dos assistidos.

A reforma estatutária de 1996 mudou a essência da Caixa de Assistência, que passou a fazer - ou deveria - a gestão da saúde de uma determinada população ao longo do tempo e definiu um modelo assistencial para cumprir esse objetivo de Atenção Integral à Saúde. O modelo escolhido foi um dos mais exitosos no mundo quando se avalia modelos assistenciais e sistemas de saúde: um modelo baseado na medicina de família e comunidade (MFC), muito adequado para o perfil da população de associados e familiares que o sistema Cassi continha. 

Entre 1996 e 2001 foram feitos pilotos sobre o melhor modelo assistencial para se atingir o objetivo de Atenção Integral à Saúde, objetivo estatutário do sistema Cassi cuja essência e base é o Plano de Associados (e não planos de mercado x ou y). 

A Cassi e os patrocinadores definiram que a instituição (operadora) passaria a cuidar de sua população assistida através de um modelo de medicina de família, a Estratégia de Saúde da Família (ESF), uma das formas de se fazer Atenção Primária em Saúde (APS). A base do modelo definido e aprovado pela Cassi era ter uma estrutura PRÓPRIA de CliniCassi com equipes de família PRÓPRIAS e programas de saúde adequados aos diversos grupos de risco e populacionais identificados e acompanhados pelas CliniCassi, que seriam coordenadas por unidades regionais, em todas as capitais do país.

O que interessa registrar nessa postagem de Memórias é que a experiência de gestão e os estudos dedicados à Cassi e à gestão de modelos de saúde me permitiu ter claro algumas questões a respeito do tema. Uma coisa é o custeio e outra é o modelo assistencial, por exemplo. Uma é como se arrecada os recursos da Caixa de Assistência, outra é como se utiliza os recursos arrecadados. 

Como disse acima, a Caixa de Assistência sempre teve problemas de déficits em suas décadas de história e alguns motivos são claros como, por exemplo, os custos elevados e crescentes dos serviços comprados e a dificuldade de aumentar receitas para fazer frente às despesas assistenciais, em sua imensa maioria de procedimentos curativos e não preventivos.

CASSI COMPROVA EFICIÊNCIA DO MODELO APS/ESF/CLINICASSI - Estudos realizados na diretoria de saúde durante o nosso mandato comprovaram a eficiência do modelo de Estratégia Saúde da Família a partir da estrutura própria de atenção primária e gestão local do modelo, as CliniCassi com equipes de família e as unidades regionais da Cassi nos Estados e DF.

Nossas equipes técnicas desenvolveram metodologia própria inédita no mercado para demonstrar que populações cadastradas e vinculadas por um determinado tempo no sistema ESF/CliniCassi tinham custos assistenciais menores, menos internações, menos idas ao pronto socorro/atendimento, de acordo com determinados graus de complexidade e isso mesmo nas faixas etárias maiores. 

Chegamos a demonstrar estudos onde o crescimento de despesas assistenciais de faixas etárias de 60 e 70 anos de populações cadastradas e vinculadas à ESF era menor que o crescimento de despesas assistenciais de não cadastrados nas primeiras faixas etárias, de 30 e 40 anos. 

Demonstramos que mesmo dentro da curva A, grupo com os participantes de maior custo em um plano de saúde, as despesas assistenciais eram quase 15% menores nos vinculados à ESF em relação a não cadastrados. Estou falando de um grupo cujas despesas assistenciais chegam a um bilhão de reais, conforme o ano avaliado.

---

Enfim, essas postagens cansam tanto quem escreve quanto os raros leitores que leem. A Cassi fez uma reforma estatutária para melhorar a questão do custeio em 2019 e teria tudo para avançar no modelo próprio de APS/ESF/CliniCassi e se tornar menos dependente do mercado como faz a Cassems. 

Mas... a direção que passou a comandar a autogestão fez o inverso, passou a apostar todas as fichas no mercado privado, desfazendo algo que havia sido comprovado que era o que de melhor tinha na Cassi, seu modelo assistencial solidário, próprio e autônomo e que nos levaria a sermos menos dependentes do mercado consumidor de recursos dos planos.

Fim dessas Memórias e reflexões sobre autogestões em saúde, instituições associativas de trabalhadores.

William


Para ler o texto de Memórias (XVIII), clique aqui.

Clique aqui para ler o texto seguinte, o XX.


18.2.22

Memórias (XVIII)


Eu e Miguel no FSM, Belém do Pará, 2009.
Foto de Paulo de Tarso.

Fórum Social Mundial, Cursos de Formação da Contraf-CUT em parcerias com o Dieese e entidades sindicais e curso de formação na Organização Internacional do Trabalho (OIT) foram algumas das agendas sindicais nas quais me envolvi em 2009


Ao revisitar uma agenda do ano de 2009 pude relembrar alguns momentos sindicais que compuseram minha formação política daquele ano e minhas contribuições para a organização dos trabalhadores na luta de classes.

Para complementar minhas memórias, aproveitei para dar uma repassada nas 211 postagens de meu blog sindical A Categoria Bancária (ver aqui), pois naquele momento eu já estava acrescentando à agenda de papel uma espécie de agenda sindical pública, uma prestação de contas de minha representação dos trabalhadores e entidades sindicais.

---

#FSM2009 - No mês de janeiro fui um dos representantes da Contraf-CUT e de nossas entidades sindicais bancárias paulistas a participar da edição do Fórum Social Mundial, ocorrida em Belém do Pará. Eu e o companheiro Miguel Pereira tivemos uma oficina sobre questões do ramo financeiro (foto que abre a postagem, feita por Paulo de Tarso).

---

OLT - As visitas e reuniões nos locais de trabalho foram intensas nos meses de janeiro (aqui) e fevereiro (aqui). Na agenda sindical constam reuniões em diversas agências e departamentos do Banco do Brasil. Também tivemos reuniões com delegad@s sindicais. Eu sempre pautei todo tipo de assunto para os bancários que representava, assim o líder sindical politizava a categoria que representava. Um sindicato cidadão politiza todas as questões do mundo do trabalho e da cidadania das pessoas.

Terminei o ano da forma que comecei: estando na base e discutindo questões sensíveis aos trabalhadores do BB relativas à ascensão profissional. Foi no dia 30/12/09, ver registro aqui.

---

Eu e o companheiro Genésio no ato contra a FSP.

ATO CONTRA FOLHA DE SÃO PAULO "DITABRANDA" - No mês de março de 2009 participei de uma atividade na porta do jornal Folha de São Paulo, que havia dito que no Brasil a ditadura teria sido "branda" (ver postagem aqui). Durante o mandato na Contraf-CUT como secretário de imprensa eu me envolvi muito com a temática de comunicação. Foi uma lição para toda a vida.

O mês de março foi bem agitado. Estive em várias bases sindicais a trabalho. Fui ao Paraná e ao Rio de Janeiro para participar de questões relativas ao Banco do Brasil. A Contraf-CUT estava organizando seu congresso e com isso tivemos muitas agendas e grupos temáticos. Ver aqui postagens do mês.

---

30 ANOS DE RETOMADA DO SINDICATO (1979-2009) - Ainda em março, tivemos um evento comemorativo da histórica retomada do Sindicato dos Bancários de São Paulo Osasco e região da mão dos pelegos que serviam à ditadura daquela época. Gushiken foi o grande homenageado, junto a outros companheiros que contribuíram para a formação do Novo Sindicalismo brasileiro. Ler postagem aqui.

---

2º CONGRESSO DA CONTRAF-CUT - Em abril, a delegação do congresso de nossa confederação elege a nova diretoria para o triênio 2009/12. O companheiro Vagner Freitas deixa a presidência e assume o comando da entidade o companheiro Carlos Cordeiro. Fui eleito secretário de formação e o companheiro Ademir assumiu a secretaria de imprensa. Novos desafios e nova aprendizagem começavam ali para todos nós. Ver postagem aqui.

Ainda no mês de abril nós tivemos os congressos de BB (20º) e Caixa Federal em Brasília. Fiz artigo no mês falando sobre "Melhorar renda, condições de trabalho e a vida da classe trabalhadora" (ler aqui). Também fiz um artigo sobre "Formação e informação". Gostei do conteúdo ao reler o texto (aqui). Segue bem atual a questão pautada nele.

---

ENCONTROS ORGANIZATIVOS - Os meses seguintes foram meses de preparação para diversos encontros e congressos da estrutura sindical brasileira. Tivemos eventos da corrente política Articulação Sindical, tivemos CECUT e CONCUT, seminários e fóruns preparatórios e organizativos da campanha dos bancários, dentre outros eventos políticos. Na Contraf-CUT realizamos nosso planejamento de gestão.

E mesmo com agenda intensa da estrutura sindical, lá está o registro de minhas visitas às bases sindicais, conversando com os trabalhadores que representava (OLT).

Em relação à secretaria de formação, organizamos um encontro nacional com as entidades afiliadas à Contraf-CUT e do Comando Nacional. Ler aqui. (como já comentei diversas vezes, os links de nossas entidades sindicais normalmente dão a mensagem "error", ou seja, não temos mais o conteúdo virtual: história apagada, deletada)

---

Participação em curso na OIT, Turim, Itália.

PARTICIPAÇÃO EM CURSO DA OIT, REPRESENTANDO A CUT

No mês de setembro, estive por 3 semanas em um curso de formação na Organização Internacional do Trabalho (OIT), com sede em Turim, Itália. A pauta principal do encontro era a crise mundial causada pela crise do subprime e as consequências para a classe trabalhadora. Foram representantes sindicais de diversos países sul-americanos.

As duas primeiras semanas foram na sede da OIT na Itália e a última semana do curso foi em Madri, Espanha, na sede das CCOO. Fui indicado na vaga da CUT pela nossa confederação e ramo financeiro.

---

GREVE DE 15 DIAS - Em outubro, tivemos a campanha nacional dos bancários e como era prática dos banqueiros não apresentarem proposta razoável em mesa de negociação, a categoria foi à luta e a campanha teve uma boa greve para arrancar uma proposta melhor dos banqueiros na mesa única da campanha geral e propostas nas mesas específicas dos bancos públicos. Ver aqui.

---

Na foto: Miguel Huertas, Regina, Carlindo,
eu, Magaly e Cardoso. Não tenho o nome
do autor da foto.

1º CURSO DE FORMAÇÃO DA CONTRAF-CUT/DIEESE - SINDICATO, SOCIEDADE E SISTEMA FINANCEIRO

Entre os dias 26 e 30 de outubro, realizamos em Minas Gerais o 1º módulo do 1º curso de uma longa série de cursos de formação numa parceria da Confederação, Dieese e entidades sindicais, que patrocinaram a formação de seus dirigentes e assessores. Ver uma postagem sobre o módulo do curso aqui.

Tivemos o privilégio de estar à frente de um curso muito exitoso, com a participação de centenas de pessoas ao longo de 6 anos na secretaria de formação. Praticamente tod@s completaram os 3 módulos do curso de PCDA. As lideranças que não concluíram tiveram agendas complicadas em suas bases de representação.

A convivência com os amig@s e companheir@s do Dieese e convidad@s palestrantes foi uma escola de vida para mim e para as pessoas que passaram pelos cursos. E aprendemos muito uns com os outros, cada pessoa passava o conhecimento que tinha. Sem dúvida, os anos de formação sindical foram alguns dos melhores anos de minha lembrança na vida sindical.

O 2º módulo ocorreu no Rio de Janeiro (ver aqui) e o 3º módulo fechou o curso da 1ª turma (aqui).

---

FALECIMENTO NA FAMÍLIA - No mês de novembro de 2009 sofremos uma grande perda em família, faleceu a nossa querida tia Alice, lá em Minas Gerais, em decorrência de um câncer. Tia Alice era funcionária da Prefeitura de Uberlândia, cuidava de uma praça onde cresci - bairro Marta Helena - e sempre foi muito amada por todos nós. Saudades imensas de tia Alice! Eu sempre tive orgulho de ser um dirigente sindical porque pensava em melhorar a vida do povo simples brasileiro como era a tia Alice.

---

Enfim, termino aqui mais um momento de Memórias. Foram horas trabalhosas de pesquisa e leitura, mas valeu a pena para deixar registrado momentos singelos de lutas da classe trabalhadora. 

Os momentos que vivi não são só meus, são nossos. Somos indivíduos, mas somos legião. Se estivermos organizados e com projetos claros e bem estruturados para nos engajarmos, temos chances de boas lutas contra os capitalistas, mas isolados e com cada um cuidando de seus interesses, só temos derrotas e sofrimentos acumulados.

É isso!

William


Para ler o texto anterior, Memórias (XVII) clique aqui.

E clique aqui para ler o texto seguinte, o XIX.


11.2.22

Memórias (XVII)



Revendo anotações de um velho caderno do ano de 2005

A vez do escrutínio de papéis velhos foi a do velho caderno de anotações com a bela capa colorida de nossa antiga gráfica do Sindicato. Deu pra reduzir bastante o volume de páginas de anotações episódicas. O que ficou é muito interessante. As anotações do processo de formação de chapa do Sindicato para as eleições de 2005. 

Amig@s, montar uma chapa eleitoral como a de nosso Sindicato é um processo bastante complexo. Emociona relembrar aqueles meses de reuniões com a militância, com os dirigentes e rever os dilemas que enfrentamos para definir alguns nomes em meio a tanta gente boa disposta a contribuir com a luta. Sem dúvida, a política é a melhor forma de resolver as coisas na sociedade humana. 

Pelas anotações, me lembrei do quanto eu tinha contatos e militância em meu trabalho do dia a dia de OLT (Organização por Local de Trabalho). Contei perto de 40 militantes de minha lista de contatos. Muitos deles, amigas e amigos até hoje.

CONTEXTO - Eu era da Executiva do Sindicato, era secretário de organização, uma pasta que compunha o que chamávamos de Comitê Administrativo: Presidência, Secretaria Geral, Sosa e Finanças. 

Eu estava terminando meu primeiro mandato no Sindicato. Como já disse em outras postagens, a minha formação política neste mandato foi exponencial, foi acelerada. Ao final daquela formação de chapa, nosso Coletivo BB definiu que eu fosse para a representação de São Paulo na Comissão de Empresa dos Funcionários do BB e outro companheiro assumiu a nossa vaga na Executiva do Sindicato.

ANOS DE FORMAÇÃO POLÍTICA

Tivemos a campanha salarial de 2003 com rejeição em assembleia das propostas feitas pelas direções de BB e Caixa Federal após aprovação da proposta geral da Fenaban, era o 1º ano de Governo Lula. Tivemos uma greve fulminante no BB em 3 dias (se não me engano, na Caixa foram 8 dias) e tiramos grandes conquistas após a greve. 

CONQUISTAS - O BB cumpriu o reajuste da categoria (Fenaban), conquistamos o direito à PLR nos moldes da PLR da categoria, sem excluir ninguém (autorização do Dest por gastar mais de 6,25% do LL), passamos a ter um valor maior de cesta-alimentação (isonomia com CCT), 5 dias de abonos para os pós-1998 (isonomia com os mais antigos) e o direito de eleger delegados sindicais com estabilidade. 

Em 2004 tivemos uma campanha salarial duríssima, com uma boa proposta construída em mesa de negociação com a Fenaban e bancos públicos (aumento real, boa PLR e um direito novo: a 13ª cesta-alimentação) e rejeição da proposta em assembleia com uma greve de 30 dias e julgamento no TST, que reduziu direitos conquistados em mesa negocial e ordem de compensar dias de greve, coisa que não havia acontecido em 2003. A 13ª cesta-alimentação só viria como direito na CCT em 2007.

E tivemos ainda uma tentativa de divisão de base em nosso Sindicato, em uma de nossas regionais, a de Osasco e região. Os novatos da chapa eleita em 2002 tiveram que aprender política rapidamente naquele mandato que se encerrava em 2005. 

Eu era o responsável político do Coletivo BB por questões específicas do banco em duas regionais do Sindicato, a da Oeste e a de Osasco. Tínhamos poucos dirigentes na diretoria. Me envolvi diretamente na peleja de manutenção da base sindical porque eu pertencia a ela, eu era da agência Vila Iara - Osasco. 

Enfim, era muito trabalho político para administrar na base do Banco do Brasil. Após um período nas duas regionais, acabei sendo o responsável político pelas questões BB na regional Centro e pelo complexo do BB no Edifício da São João, eram 22 dependências no prédio. Eu não quis deixar de fazer base ao virar membro da Executiva e seria mais fácil realizar OLT no prédio ao lado do Martinelli.

Posso afirmar que aprendi muito em 3 anos. Ainda tivemos a reforma da sede do Martinelli, eu era do Comitê Administrativo e tivemos muito trabalho naquela bela reforma que foi feita.

William


Post Scriptum: minhas memórias sindicais e políticas não têm intenções de ficar expondo nem a militância nem as nossas instituições organizativas das lutas de classes. Sempre que possível, registro alguma memória sem citar nomes de pessoas, o que vale é a lembrança e o aprendizado político, nas vitórias e nas derrotas do dia a dia da organização sindical.

---

Para ler o texto anterior, o Memórias (XVI), clique aqui.

E aqui para ler o texto seguinte, o Memórias (XVIII).


10.2.22

Memórias (XVI)



Associativismo e cooperativismo são essenciais para a classe trabalhadora. A Caixa de Previdência dos Funcionários do Banco do Brasil é um belo exemplo da história de uma comunidade que se organiza há séculos


Osasco, 10 de fevereiro de 2022.

Ao olhar papéis, revistas e documentos antigos e diversas postagens em meu blog sindical me vêm à memória as imagens e as lembranças de tantos anos de participação na organização das lutas por direitos dos trabalhadores da comunidade Banco do Brasil, uma comunidade com mais de dois séculos de existência na sociedade brasileira.

Entre ontem e hoje reli no blog algumas matérias publicadas entre 2006 e 2010, marcadas com a categoria "Previ", relativas às nossas lutas por melhorias de direitos e benefícios em nosso fundo de pensão, a Caixa de Previdência dos Funcionários do Banco do Brasil. 

Ao ler a matéria sobre o acordo e distribuição do superávit do Plano 1 na Revista Previ nº 157, de fevereiro de 2011, me dei conta do quanto o associativismo e o cooperativismo são essenciais na vida da classe trabalhadora. A começar pela constituição dos sindicatos e associações de classe e incluindo as caixas e fundos financeiros para darem suporte aos trabalhadores e seus familiares nos momentos difíceis e pós-laborais.

Eu tive a oportunidade de ser dirigente eleito dos bancários e representante dos colegas da comunidade Banco do Brasil ao longo de quase duas décadas. Durante o período de representação eu estudava muito as questões técnicas de nossas duas caixas, a de previdência e a de assistência à saúde (Cassi). E uma característica que marcou meus mandatos foi a presença nas bases conversando com os trabalhadores sobre essas questões. Os registros no blog mostram isso.

Como representante de dezenas de milhares de bancárias e bancários do BB e do Sindicato dos Bancários de São Paulo, Osasco e região e da CNB/CUT e depois Contraf-CUT participei de diversas negociações relativas ao nosso fundo de pensão. Me lembro, por exemplo, de ter contribuído para as negociações nacionais sobre o uso do Fundo Paridade e a redução do valor da Parcela Previ e sobre os superávits do Plano 1 da primeira década dos anos dois mil.

A Revista Previ que cito nesta postagem traz o resultado final das negociações relativas ao superávit que gerou o Benefício Especial Temporário (BET), que melhorou os benefícios dos associados durante um determinado tempo*, e outras melhorias contínuas nos benefícios dos aposentados e pensionistas e futuros aposentados do Plano 1.

Estou olhando e avaliando um grande volume de papéis e documentos acumulados ao longo de uma vida de dirigente sindical. Não dá mais para guardar toda essa papelada. Alguma coisa vou acabar guardando porque é difícil se desfazer de coisas que nos lembram o que fomos e o que fizemos ao longo de nossa existência.

Os rascunhos de estudos, anotações que geraram processos negociais e organizativos e muitos documentos que valeram para a época não têm como serem guardados, mas alguma revista, algum jornal ou documento a gente acaba separando. 

As novas gerações apostam todas as fichas na internet e nos materiais virtuais. Acho isso um equívoco imenso! Opinião minha. 

Os próprios sites de nossas instituições da comunidade Banco do Brasil, tanto as caixas de previdência e assistência à saúde quanto as páginas das associações e sindicatos não conservam quase nada de história, tudo que fica é coisa recente, se alguém quiser coisa antiga (uma década é "antigo", imaginem décadas) vai ficar sem a informação. Quando tem o link a resposta é "error" ou não existe.

------------------------------

CASSI - Quando vejo a destruição que vem ocorrendo em nossa Caixa de Assistência dos Funcionários do Banco do Brasil, conhecida como Cassi, vejo o quanto chegamos longe no desconhecimento da essência do que deveria ser uma caixa de assistência para uma comunidade de trabalhadores e familiares. 

As pessoas que estão na gestão neste momento estão desfazendo toda a essência solidária da autogestão e o modelo assistencial próprio de Estratégia de Saúde da Família (ESF), apostando no mercado privado e reforçando o que o capitalismo tem como essência: a saúde como mercadoria para quem pode pagar e não como um direito. 

É triste! Mas são os tempos. Eles acham que o mercado vende prevenção e saúde... fala sério! O mercado vendo intervenção cirúrgica, remédios, próteses, fetiches etc. E a conta é cara!

------------------------------

Vou guardar essa Revista Previ nº 157. Quando eu morrer, a pilha de coisas guardadas da história de lutas da categoria profissional e comunidade às quais me fiz cidadão trabalhador ficará para o expurgo feito por outra pessoa.

William

*Post Scriptum: os fundos específicos desses benefícios especiais temporários duraram até o final do exercício de 2013. A direção da Previ informou aos associados no início de 2014 que a Previ precisaria cumprir o artigo 18 da Resolução CGPC 26/2008, recompondo a Reserva de Contingência do Plano 1. Com isso os associados voltaram a contribuir mensalmente e cessaram os recursos extraordinários do BET. 

---

Para ler o texto anterior, o Memórias (XV), clique aqui.

Se quiser ler o seguinte, o XVII, clique aqui.