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30.9.22

Memórias (XXXIII)


Posse de Lula e novo ciclo, 01/01/2003.
Com os amigos Genésio e Rafael.

Opinião

As redes sociais e os algoritmos das corporações de comunicação capitalistas inviabilizaram as democracias liberais e hoje não temos como evitar manipulações em resultados de consultas populares e eleitorais 

1. Acordei nesta sexta-feira posterior ao debate presidencial de ontem à noite com um cansaço grande. Demorei pra sair da cama. Por ser aposentado do Banco do Brasil não precisei sair para trabalhar embaixo de chuva e frio. Diferente da maioria do povo brasileiro que depende de conseguir algum recurso para sobreviver ao próprio dia e que depende da nossa previdência pública quando conseguiu cumprir certas regras de aposentadoria, sobrevivo hoje do benefício de nosso fundo de pensão, caixa de previdência criada por nossa comunidade de trabalhadores há 118 anos. 

2. Meu olhar de mundo é marcado pelo que sou e pelo que fui. Não posso me colocar na posição de visão de mundo de um bancário comum, de um cidadão comum, normalmente despolitizado. Não sou como a maioria do povo brasileiro porque tive a oportunidade na vida de me formar politicamente. Minha experiência de vida me obriga a lidar com as coisas com o conhecimento que tenho do mundo. Por mais que todos nós sejamos humanos e tenhamos nossos comportamentos manipulados pelos sistemas criados para tal, tenho que avaliar a realidade material como ela é. O tal lugar de fala tem relação com isso.

3. Este momento eleitoral da história brasileira me lembra um pouco algumas campanhas da categoria bancária na qual me formei politicamente ao longo de três décadas. Às vezes, situações setoriais ilustram bem conjunturas maiores, as partes podem demonstrar como seriam as tendências no todo. Acontecimentos em segmentos menores de aglomerações humanas podem servir de referência para avaliações de probabilidades e perspectivas em conjuntos muito maiores de aglomerações humanas. Ou seja, talvez experiências vividas na categoria bancária possam ilustrar um pouco o macro, o Brasil e o povo brasileiro.

4. As eleições de domingo, 2 de outubro, vão ser decididas no 1º turno ou teremos um 2º turno longuíssimo de caos para decidir o futuro do Brasil? Ganhar no 1º turno e esperar 90 dias para uma eventual posse do que sobrar do Brasil é uma possibilidade? O contexto atual é muito diferente das eleições de 2014, quando já estava avisado que se o PT ganhasse não levaria o mandato adiante? Nosso lado está preparado com planejamento mínimo situacional para amanhecer segunda-feira começando um 2º turno? Essas são algumas de minhas preocupações...

5. Essas indagações que faço a mim mesmo são mais para me lembrar das discussões políticas que fui aprendendo ao longo da militância na categoria bancária do que para querer apontar alguma coisa para o Brasil, pois eu não tenho essa capacidade. Menos, bem menos! Estou pensando nas tendências dos acontecimentos em nossa realidade brasileira e mundial mais como um ex-bancário militante que virou dirigente da categoria e viu como se deram os acontecimentos no passado recente (20 anos é um passado recente, sim!). Não tenho como prever absolutamente nada do que vai acontecer amanhã.

CAMPANHAS BANCÁRIAS NAS QUAIS AS DIREÇÕES SINDICAIS SOUBERAM CONDUZI-LAS BEM NA ADVERSIDADE DAQUELE MOMENTO

6. (2002 e 2022) A campanha salarial dos bancários desse ano me pareceu um pouco a campanha salarial dos bancários no último ano do governo dos tucanos em 2002. Sabíamos que não daria para avançar naquele contexto e nem a inflação conseguimos repor com FHC. Eram 8 anos de massacres dos direitos e derrotas. O movimento sindical era de resistência, não de avanços e conquistas. Neste ano de 2022, os bancários vinham na mesma toada de resistência contra os massacres de direitos no pós-golpe de 2016 e reformas dos governos criminosos de 2016 até agora. A campanha de 2022 se deu sob a ameaça do fim da ultratividade, sob o risco de perdas enormes de direitos após 31 de agosto. Amig@s, não queiram saber como deve ter sido difícil a vida dos dirigentes sindicais numa conjuntura dessas... eu não julgaria de forma alguma quem está no comando das representações dos trabalhadores. É uma dureza tomar decisões assim.

7. Na campanha salarial de 2003, primeiro ano de governo democrático e popular de Lula, o contexto novo foi de difícil interpretação por parte das lideranças da classe trabalhadora. Isso é um pouco esperado, por suposto: ao ver um sindicalista chegar ao poder, espera-se a revolução, o mundo vindo por canetadas (ninguém se lembra que a chegada de Lula ao poder foi conciliação de classes e não revolução). As movimentações nos diversos segmentos de lutas foram intensas. Vários atores exerceram seus papéis. A vida das lideranças sindicais não foi tão fácil quanto se imaginaria porque foi difícil dosar o que se esperava nas negociações salariais com o que se arrancaria de propostas entre trabalhadores e governo Lula. Se em 2002, aceitamos propostas rebaixadas para encerrar um ciclo macabro, em 2003 apresentamos propostas insuficientes para o que significava o novo contexto de governo do PT. No BB, a proposta de acordo de campanha salarial foi rejeitada em assembleias pelo país afora e uma greve gigante arrancou diversos direitos novos três dias depois. As direções sindicais conduziram bem a situação: da derrota nas assembleias, fizemos uma condução da greve e tivemos um fechamento vitorioso de campanha.

8. Na campanha salarial de 2004, novamente teríamos dificuldades das lideranças do movimento sindical para dosar o nível de desejos das bases e suas expectativas com as propostas construídas ao longo de meses de negociações salariais na categoria bancária. As direções se pautaram pelas reivindicações aprovadas nos fóruns de trabalhadores, o que é correto. A campanha de 2004 dos bancários me faz pensar um pouco neste contexto de 2 de outubro de 2022... Ao final das negociações de 2004, conseguimos arrancar em mesa negocial as bases econômicas e sociais das reinvindicações da categoria. Tinha aumento real de salário, tinha melhoria na PLR, tinha direitos sociais novos no acordo coletivo, entre eles a 13ª cesta alimentação, e pela proposta tínhamos tudo para renovar os direitos da categoria sem o conflito máximo entre capital e trabalho: a greve. Mas havia um componente emocional e comportamental que as oposições souberam trabalhar com as oportunidades que tinham e as pessoas foram convencidas a rejeitar tudo e sair para a greve. Criaram desconfianças em relação às direções, ilações diversas (fake news) e fomos para 30 dias de greve. Felizmente, as direções souberam novamente conduzir o movimento e os danos pela rejeição da proposta foram reduzidos por aguentarmos uma greve longa. A interferência da Justiça do Trabalho (com apoio daqueles que estimularam a rejeição da proposta e a greve) reduziu a proposta apresentada e perdemos direitos conquistados em mesa de conciliação de classes. Repito: as direções conduziram bem a greve e o fechamento da campanha.

ESTAMOS PREPARADOS PARA A REALIDADE PARA ALÉM DE NOSSOS DESEJOS?

9. Estamos vivendo uma mudança de era na história da humanidade. As tecnologias surgidas no último quarto de século, do final dos anos noventa para o momento atual, as tecnologias da informação, das redes sociais, ampliaram exponencialmente a capacidade de manipulação de massas através dos algoritmos: manipulações antes restritas a espaços geográficos menores agora são de alcances incalculáveis. Mudou-se radicalmente nossa capacidade de previsão e controle das coisas nas sociedades humanas. O mundo virtual passou a definir o mundo físico, real, material. As consultas políticas aos povos nos mais diversos lugares do planeta - eleições e plebiscitos - em 2014, 2016, 2018 etc vêm demonstrando o poder que as big techs exercem sobre milhares, milhões, bilhões de pessoas. As evidências de que não temos controle algum do que vai acontecer no mundo real por causa das manipulações do mundo virtual estão na nossa frente a olhos vistos e não temos o que fazer para deter ou interromper essas máquinas e esses sistemas, dominados por poucos, dominando milhões.

10. Muito já foi dito sobre as interferências ilegais e ilegítimas, fora das regras e dos controles sociais, sobre processos de consultas populares como as eleições norte-americanas de 2016 e da consulta no Reino Unido sobre o Brexit. As redes sociais foram utilizadas de forma inadequada por setores com interesses nos resultados das consultas populares e há uma clareza de que houve interferência no comportamento dos milhões de consultados a favor de tal posição e contrários a outra posição. Estudos e documentários demonstram que as redes sociais criadas nas duas últimas décadas interferem no comportamento das pessoas - exemplo, o documentário premiado "O dilema das redes" -, alteram o comportamento das pessoas mesmo. Isso mudou dos últimos anos para cá? Descobriram alguma forma de interromper a capacidade de influência no comportamento das pessoas por parte dos poucos donos desses sistemas privados de redes sociais? Francamente, não! Não temos como impedir e ou controlar esses processos de alteração de comportamentos por fake news em massa.

11. Todos esses sistemas são movidos a dinheiro, grana, capital. Isso é claro pra vocês? Nossos perfis nessas redes sociais são a mercadoria negociada com os compradores de influência, de manipulação e criação de desejos e comportamentos. Hoje se sabe que os algoritmos são ferramentas para nos catalogar e nos vender como mercadorias para aqueles que pagam para os donos das redes sociais pelos nossos dados, pelos nossos desejos, pelas nossas almas, nossas mentes. As big techs vendem a certeza de que nós vamos consumir o que as empresas (e pessoas) pagaram para obter. Mais que isso, os algoritmos funcionam para impulsionar todo esse sistema. Tudo é movido a dinheiro, grana, capital. Se é possível comprar dezenas de imóveis com pacotes e malas de dinheiro vivo (milhões e milhões), imaginem vocês o que é possível pagar em dinheiro vivo para essas empresas fazerem disparos de milhões bilhões de mensagens mentirosas para influenciar o comportamento de pessoas em poucas horas, dias, semanas... Não há como deter as fake news em 2022 que influenciaram as eleições em 2018 no Brasil. Não há! Leiam o pequeno livro de Jaron Lanier sobre "Dez argumentos para você deletar agora suas redes sociais" para vocês terem uma noção do que estamos falando. Leiam!

12. Enfim, por que vejo semelhanças nessas eleições brasileiras de 2022 com as campanhas dos bancários em 2002, 2003 e 2004? Porque existe uma onda de possibilidades e expectativas positivas para o nosso lado da classe, para o lado progressista da sociedade brasileira. Existe. Mas existe uma coisa que está muito além de nosso controle, de nossa capacidade de deter e talvez de enfrentar. As pesquisas eleitorais em 2018 erraram feio nos mais diversos lugares e contextos. Já havia a interferência dessas máquinas e sistemas de interferência no comportamento das pessoas movidos a milhões de dinheiros por fora pra espalhar fake news de forma certeira em cada grupo de pessoas com seus medos, raivas e tendências (os algoritmos sabem bem disso). Estamos a dois dias das eleições. Os mesmos sistemas estão a todo vapor atingindo dezenas de milhões de pessoas para influenciar seus comportamentos até domingo. O objetivo do momento é Lula não vencer no 1º turno. Se conseguirem isso, será quase um mês de caos e 2º turno é outra eleição, lembrem-se disso!

13. Nas campanhas salariais dos bancários que citei como referência, as direções souberam lidar com as adversidades que se apresentaram naquelas situações e conseguiram conduzir bem as campanhas até o desfecho positivo para a categoria bancária. Espero que nossas direções dos movimentos sociais, progressistas e de oposição a essa extrema-direita que tomou o poder estejam bem para a eventualidade de acordarmos na segunda-feira 3/10 iniciando um difícil e imponderável 2º turno nas eleições presidenciais do Brasil. Repito: não devemos subestimar todas as formas de fraudes e ilegalidades na alteração de resultados a consultas populares neste momento da história. Espero inclusive que as direções não esmoreçam e não diminuam a energia que conseguimos até aqui nessa onda positiva e progressista que nos faz acreditar na possibilidade de vencermos logo no domingo 2/10 essa desgraceira brasileira capitaneada pelo bolsonarismo.

Que tudo dê certo para o nosso lado da classe*.

#LulaNoPrimeiroTurno

William Mendes


Post Scriptum: repito: neste instante em que escrevo ou que você lê, as plataformas das big techs, como o YouTube, movidas a dinheiro, lucro, privilegiam, e muito, sugestões de conteúdos favoráveis ao inominável genocida ou sua patota. Estudos como o do NetLab (UERJ) mostraram dias atrás que 14 de 18 visitas à plataforma sugeriam vídeos de uma fonte bolsonarista. Quanto mais próximo da data da eleição, maior é o favorecimento das plataformas aos candidatos da direita. É o dinheiro que define isso! Antes de concluir esse texto, dois sites de esquerda e progressistas que visitei indicaram vídeos do inominável e do "passa a boiada". É impressionante, até nos endereços de esquerda as sugestões do algoritmo do YouTube são as da direita...


*De fato, Lula e Bolsonaro foram para um segundo turno que se mostrou dificílimo. A eleição foi definida a favor de Lula por uma margem bem pequena de votos em 30 de outubro de 2022.


Para ler o texto anterior de Memórias (XXXII), clique aqui. O texto seguinte dessa série pode ser lido aqui.


11.2.22

Memórias (XVII)



Revendo anotações de um velho caderno do ano de 2005

A vez do escrutínio de papéis velhos foi a do velho caderno de anotações com a bela capa colorida de nossa antiga gráfica do Sindicato. Deu pra reduzir bastante o volume de páginas de anotações episódicas. O que ficou é muito interessante. As anotações do processo de formação de chapa do Sindicato para as eleições de 2005. 

Amig@s, montar uma chapa eleitoral como a de nosso Sindicato é um processo bastante complexo. Emociona relembrar aqueles meses de reuniões com a militância, com os dirigentes e rever os dilemas que enfrentamos para definir alguns nomes em meio a tanta gente boa disposta a contribuir com a luta. Sem dúvida, a política é a melhor forma de resolver as coisas na sociedade humana. 

Pelas anotações, me lembrei do quanto eu tinha contatos e militância em meu trabalho do dia a dia de OLT (Organização por Local de Trabalho). Contei perto de 40 militantes de minha lista de contatos. Muitos deles, amigas e amigos até hoje.

CONTEXTO - Eu era da Executiva do Sindicato, era secretário de organização, uma pasta que compunha o que chamávamos de Comitê Administrativo: Presidência, Secretaria Geral, Sosa e Finanças. 

Eu estava terminando meu primeiro mandato no Sindicato. Como já disse em outras postagens, a minha formação política neste mandato foi exponencial, foi acelerada. Ao final daquela formação de chapa, nosso Coletivo BB definiu que eu fosse para a representação de São Paulo na Comissão de Empresa dos Funcionários do BB e outro companheiro assumiu a nossa vaga na Executiva do Sindicato.

ANOS DE FORMAÇÃO POLÍTICA

Tivemos a campanha salarial de 2003 com rejeição em assembleia das propostas feitas pelas direções de BB e Caixa Federal após aprovação da proposta geral da Fenaban, era o 1º ano de Governo Lula. Tivemos uma greve fulminante no BB em 3 dias (se não me engano, na Caixa foram 8 dias) e tiramos grandes conquistas após a greve. 

CONQUISTAS - O BB cumpriu o reajuste da categoria (Fenaban), conquistamos o direito à PLR nos moldes da PLR da categoria, sem excluir ninguém (autorização do Dest por gastar mais de 6,25% do LL), passamos a ter um valor maior de cesta-alimentação (isonomia com CCT), 5 dias de abonos para os pós-1998 (isonomia com os mais antigos) e o direito de eleger delegados sindicais com estabilidade. 

Em 2004 tivemos uma campanha salarial duríssima, com uma boa proposta construída em mesa de negociação com a Fenaban e bancos públicos (aumento real, boa PLR e um direito novo: a 13ª cesta-alimentação) e rejeição da proposta em assembleia com uma greve de 30 dias e julgamento no TST, que reduziu direitos conquistados em mesa negocial e ordem de compensar dias de greve, coisa que não havia acontecido em 2003. A 13ª cesta-alimentação só viria como direito na CCT em 2007.

E tivemos ainda uma tentativa de divisão de base em nosso Sindicato, em uma de nossas regionais, a de Osasco e região. Os novatos da chapa eleita em 2002 tiveram que aprender política rapidamente naquele mandato que se encerrava em 2005. 

Eu era o responsável político do Coletivo BB por questões específicas do banco em duas regionais do Sindicato, a da Oeste e a de Osasco. Tínhamos poucos dirigentes na diretoria. Me envolvi diretamente na peleja de manutenção da base sindical porque eu pertencia a ela, eu era da agência Vila Iara - Osasco. 

Enfim, era muito trabalho político para administrar na base do Banco do Brasil. Após um período nas duas regionais, acabei sendo o responsável político pelas questões BB na regional Centro e pelo complexo do BB no Edifício da São João, eram 22 dependências no prédio. Eu não quis deixar de fazer base ao virar membro da Executiva e seria mais fácil realizar OLT no prédio ao lado do Martinelli.

Posso afirmar que aprendi muito em 3 anos. Ainda tivemos a reforma da sede do Martinelli, eu era do Comitê Administrativo e tivemos muito trabalho naquela bela reforma que foi feita.

William


Post Scriptum: minhas memórias sindicais e políticas não têm intenções de ficar expondo nem a militância nem as nossas instituições organizativas das lutas de classes. Sempre que possível, registro alguma memória sem citar nomes de pessoas, o que vale é a lembrança e o aprendizado político, nas vitórias e nas derrotas do dia a dia da organização sindical.

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Para ler o texto anterior, o Memórias (XVI), clique aqui.

E aqui para ler o texto seguinte, o Memórias (XVIII).


14.11.21

Memórias (VI)



Memórias das lutas sindicais em março de 2007

Olhar as postagens do blog sindical A Categoria Bancária é olhar os registros que fiz como dirigente nacional dos trabalhadores do ramo financeiro. Ao criar o blog eu tinha a intenção de me aproximar tanto das entidades sindicais e seus dirigentes quanto das pessoas que representávamos com mandatos eletivos. 

Em março daquele ano fiz 22 postagens e nelas é possível ver que o movimento sindical bancário ao qual fiz parte era relativamente bem-organizado. Percebe-se que nós nos organizávamos e tínhamos algum tipo de planejamento e estratégias definidas. 

Eu me reunia periodicamente com o coletivo de diretores do BB no Sindicato (Coletivo BB); nos reuníamos também no secretariado da Contraf-CUT para organizar o dia a dia da confederação. Tivemos reunião da comissão de empregados do BB, que antecedeu negociação sobre a PLR dos bancários. E eu fazia reuniões com bancários na base. Fiz isso enquanto fui dirigente. E também fiz reunião de sindicalização com novos funcionários do BB.

Vejam aqui as postagens do mês de março de 2007 no blog. Elas estão em ordem cronológica inversa, do último dia do mês para o primeiro.

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PLR 2007 - DIREÇÃO DO BB TENTA PERSEGUIR GREVISTAS

HISTÓRIA DA PLR NOS FEDERAIS - A história da conquista da Participação nos Lucros e Resultados no BB e demais bancos públicos federais é uma história de luta muito bonita e não pode ser esquecida pelos trabalhadores e seus dirigentes sindicais.

Os bancários do setor privado e dos bancos públicos estaduais e regionais que assinavam e cumpriam a Convenção Coletiva de Trabalho (CCT), assinada entre a federação dos bancos (Fenaban) e os sindicatos e federações da CUT (CNB) desde 1992, conquistaram o direito a receber a PLR com regras gerais desde a campanha salarial de 1995. Foi uma grande conquista dos anos noventa.

Os bancários dos bancos públicos federais não recebiam PLR por alguns motivos. Os governos de plantão se aproveitavam do fato de a campanha de data-base dos bancários não ser unificada entre públicos e privados e com isso os trabalhadores se enfraqueciam em suas lutas. Além disso, havia uma legislação que só permitia a distribuição de 6,25% do resultado em empresas S/A como o BB.

Banco do Brasil, Caixa Federal, BNB, BASA, BNDES quando conseguiam algum acordo negociado com os governos assinavam ACT (acordos por banco), e nem sempre isso ocorria porque o governo se utilizava dos tribunais de justiça do trabalho para impor acordos rebaixados ou a Contec, mesmo em bases cutistas. Os tais "dissídios coletivos no TST". Os bancários de bancos federais ficaram sem PLR entre 1995 e 2002.

Só após a eleição de Lula em 2002 e posse em 2003 é que se abriu uma possibilidade de campanha unificada dos bancários em geral. Mas a unidade era uma decisão dos trabalhadores em seus congressos e encontros. Após unificar a categoria, a luta foi para o governo aceitar uma mesa de bancos públicos e privados. Eu tive a honra e o privilégio de ajudar a construir toda essa história.

GREVE 2003 - A PLR NO BB só veio após uma greve de 3 dias na campanha salarial de 2003. O governo Lula não quis cumprir as conquistas dos bancários da data-base de setembro, negociadas entre a CNB/CUT e a Fenaban. O mesmo se deu em relação à Caixa Federal. Resultado: os bancários do BB e da Caixa fizeram uma greve muito forte e para sair da greve os sindicatos conseguiram diversos direitos em nova mesa de negociação para fechar a campanha de 2003.

Os sindicatos haviam defendido a proposta negociada com a direção do BB (um erro de leitura das direções sindicais) e os bancários democraticamente disseram não a ela e só após a greve é que nova proposta incluiu diversos direitos, entre eles uma PLR nos moldes do modelo Fenaban, sem discriminar ninguém.

Depois disso, nós fomos melhorando a PLR nos bancos públicos, ano a ano. Veio no BB a parcela linear de 4%. Depois veio o modelo específico na Caixa. Enfim, foi a nossa PLR melhorada em 2006 que a direção do BB tentou piorar em 2007.

Faço esse histórico porque tenho ele de memória. É isso. Ver aqui um informativo que fizemos na Contraf-CUT sobre a negociação da PLR no começo de 2007. Era uma questão ideológica que estava em discussão. A direção do banco queria penalizar os grevistas diminuindo o valor que eles receberiam em relação aos colegas.

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PROPOSTA DA CASSI EM 2007

Em uma postagem do dia 23 de março de 2007, reproduzi no blog um artigo de uma das lideranças que participou das negociações sobre a Cassi. Eu não consegui a informação sobre o autor do artigo, sei que ele foi publicado na AAFBB e traz um resumo bem interessante do que foram as negociações entre nós e o banco/governo por quase dois anos.

Vale a pena ler o artigo porque ele segue atual em relação às bases das discussões sobre a Cassi, o Plano de Associados, os direitos dos associados e a questão dos déficits recorrentes ao longo do tempo, bem como o novo modelo assistencial pós estatuto de 1996, que previu implantar um sistema preventivo e de cuidados dos participantes com uma estrutura própria de Atenção Primária e Estratégia de Saúde da Família (ESF), através das CliniCassi.

É isso. Ver o artigo e a postagem aqui.

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Encerro as memórias de hoje. 

Muitas foram as lutas, as conquistas e os embates com o patronato, independente do governo. Evidente que governos mais identificados com a classe trabalhadora como os governos do Partido dos Trabalhadores facilitam os caminhos a serem trilhados por nós, a classe trabalhadora.

Aqui neste blog há muita história, isso eu posso dizer a vocês.

William


Post Scriptum: após fazer essa postagem relembrando o embate entre a direção do BB e nós a respeito da PLR daquele período, o 2º semestre de 2006, fui reler diversas matérias da época e inclusive coloquei várias delas nas postagens de março como "post scriptum", porque são história pura de luta de classes. 

Vou fazer outra postagem de memórias a respeito dessa luta sobre a PLR no BB. A direção do banco saiu vitoriosa em sua prática de assédio moral e prática antissindical e manteve até o fim sua sacanagem de discriminar os grevistas. Apostou em dividir os trabalhadores e ganhou, venceu o individualismo e perdeu a solidariedade. Mesmo a Contraf-CUT e sindicatos indicando rejeição nas assembleias, os bancári@s aprovaram a proposta.

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Para ler a postagem seguinte, Memórias (VII), clique aqui.

E para ler a anterior, a V, clique aqui.


23.8.12

Funcionários do Banco do Brasil aguardam boa proposta de PLR

As negociações entre o Comando Nacional dos Bancários, coordenado pela Contraf-CUT, e a Fenaban estão em andamento. Os bancários aguardam propostas sobre todas as reivindicações apresentadas tanto na mesa geral da Fenaban quanto nas mesas específicas dos bancos públicos, inclusive sobre a regra geral de PLR.

Assim como ocorre desde a conquista desse direito pelos funcionários do Banco do Brasil na greve histórica de 2003, haverá provavelmente alguma proposta adicional à regra geral de PLR da categoria. A negociação visa ampliar o direito.

É importante esclarecer que nenhuma proposta na mesa da Fenaban reduz a PLR. Pelo contrário, ela pode aumentá-la. Foi assim quando a porcentagem do salário aumentou de 80% para 90% do paradigma ao ano.

Pelos resultados apresentados pelos maiores bancos do sistema financeiro, a proposta precisa ser boa porque, mesmo com abusivas provisões para devedores duvidosos (PDD), eles lucraram mais de R$ 25 bilhões no primeiro semestre deste ano.

E olha que o BB lucrou R$ 5,7 bilhões e provisionou R$ 6,93 bilhões para PDD. A provisão sofreu um acréscimo de 26,58% e a variação da inadimplência do banco foi de 0,1% (comparação com primeiro semestre de 2011), segundo cálculo do Dieese.

Os resultados estão aí e foram produzidos pelos bancários que merecem receber a sua parte.

PLR no BB: importante conquista da unidade da categoria

Quando se fala em conquistas oriundas da luta unitária de uma categoria profissional sempre é bom apresentar o histórico da distribuição da Participação nos Lucros e Resultados no Banco do Brasil. O banco só passou a ter PLR a partir da greve de 2003.

Histórico na categoria

A PLR foi conquistada pela categoria bancária no ano de 1995. O acordo foi assinado entre a então Confederação Nacional dos Bancários (CNB/CUT) e a Fenaban e valia para dezenas de bancos do país.

A conquista foi fruto da luta dos bancários e o modelo garantia uma distribuição de uma porcentagem do salário do trabalhador mais um valor fixo distribuído para todos sem vínculo com metas individuais.

Uma das principais características da regra geral da PLR da categoria sempre foi garantir que ninguém seja excluído do direito à participação.

Bancos públicos federais sem PLR até 2002

Antes da campanha unificada nos anos 2000, os bancos públicos federais não assinavam a Convenção Coletiva de Trabalho (CCT) dos bancários e, com isso, os trabalhadores desses bancos não tinham alguns direitos da categoria como a PLR.

A greve de 2003 no BB e na Caixa foi histórica, pois a reivindicação dos bancários era pelo cumprimento da CCT da categoria e pela isonomia de direitos como reajustes salariais, Vale-Alimentação, Vale-Refeição, Auxílio-Creche/Babá (todos com valores menores que a CCT da época) e PLR assinada com os sindicatos, federações e CNB/CUT.

O BB, antes dessa conquista da campanha unificada, tinha um programa de resultados (PR) entre 1998 e 2002, que discriminava milhares de bancários, pois pagava valores irrisórios para as principais funções nas agências e até 54 vezes mais para os executivos do banco. Pelas regras do Dest - departamento que controla as empresas estatais -, o banco não pode distribuir mais que 6,25% do lucro entre os bancários.

Unidade com a categoria traz PLR ao BB

Com a greve de 2003, o governo federal foi obrigado a implantar a PLR no BB assinada com os sindicatos, federações e CNB/CUT na mesa da Fenaban. A conquista fez o banco passar a distribuir mais que 6,25% do resultado para atender às regras da convenção da categoria, que prevê uma porcentagem do salário mais um valor fixo distribuído a todos.

Os bancários perceberam a conquista já no primeiro pagamento da PLR em 2003, uma vez que, ao invés de receber uns R$ 400 e milhares de bancários não ganharem nada, todos receberam valores muito maiores.

O banco gasta, em geral, entre 10% e 12% na distribuição do lucro justamente para cumprir a regra conquistada na luta, com base no modelo da Fenaban. Os bancários não aceitam que o banco apague essa referência.

Avanços a partir de 2005

A partir de 2005, os funcionários do BB conquistaram na campanha unificada daquele ano um aditivo de 4% linear, além da regra geral da categoria, e as entidades sindicais passaram a negociar um acréscimo de módulo bônus atrelado ao resultado coletivo das dependências (ATB).

É importante deixar claro que os funcionários do BB não abrem mão da referência na regra da categoria na mesa da Fenaban, pois foi da luta da campanha unificada que garantiram o direito. E o modelo da Fenaban mais a distribuição linear de 4% não têm nenhuma vinculação com metas.

O módulo bônus, que foi negociado entre 2005 e 2011, sempre teve como referência o resultado coletivo das unidades e é importante salientar que, em geral, 95% das dependências cumpriam os 400 pontos do ATB.

Antigo Sinergia não impedia adicional de módulo bônus

O programa Sinergia foi criado em outubro de 2005, com a participação dos superintendentes, gerentes regionais, gerentes de mercado, administradores e aprovado pelo Conselho Diretor em dezembro de 2005. Uma das "premissas" era estabelecer objetivos de acordo com o ORC/ATB (Acordo de Trabalho), além de estimular o atingimento de resultados de todas as dependências do banco.

Um dos problemas do programa sempre foi a falta de um acordo efetivo de trabalho que verificasse a realidade de mercado de cada dependência, ou seja, tudo sempre foi imposto sem um acordo real e efetivo.

Foram traçados objetivos no programa, porém alguns deles nunca foram mensurados adequadamente, dentre eles, o de assegurar a adoção das melhores práticas bancárias e o de utilizar racionalmente os recursos disponíveis. Os únicos objetivos que foram perseguidos pela direção do BB foram os de alinhamento estratégico da "força de vendas" e o de melhorar os resultados para o banco. Na verdade, a obsessão do BB era ser o primeiro, manter a liderança e incrementar lucro. Sempre a qualquer custo.

Foram criadas quatro etapas: inicial, bronze, prata e ouro. E o Sinergia era igual ao ATB. A pontuação era dividida em Negócios (400 pontos) e Gestão (50 pontos), além dos bônus e dos indutores com pontuação móvel (no tempo do cumprimento e na quantidade de pontos) ao sabor de interesses pouco claros da diretoria do banco.

O que deveria ser "excepcional" para ajustar, incluir ou excluir indicadores, adequando o programa em função da dinâmica do mercado, possíveis alterações do cenário econômico e/ou outras necessidades detectadas, os diretores da DIRED, DIREV, DIMPE, DIREO e DIRCO, em decisão colegiada, passaram a usar como regra diária.

O aditivo da PLR não foi prejudicado em função do Sinergia porque todos os gestores e funcionários tinham uma noção de por onde caminhar mesmo com as metas impostas e abusivas. Os bônus e os indutores serviam para maquiar o resultado final do programa.

Com a manipulação das metas do ATB ao final de cada semestre, em torno de 95% das dependências recebiam a PLR integral e o restante das dependências poderiam fazer recursos ou recebiam uma proporcionalidade.

Novo Sinergia BB destrói regra de parcela adicional

A Contraf-CUT, fundada em 2006, ocupando o lugar da extinga CNB-CUT, as entidades filiadas e os funcionários do BB foram surpreendidos em 2012 com a mudança na gestão de metas do banco, que eliminou o ATB na rede de agências com a criação do Novo Sinergia BB.

Sob o comando do presidente do BB, Aldemir Bendine, e dos superintendentes nomeados pela diretoria, o programa foi piorado e rebatizado, estabelecendo metas individuais por carteira e enterrando de vez a solidariedade nos locais de trabalho.

As novas "premissas" englobam o foco na gestão das carteiras e nos grupos negociais, cuja importância foi ampliada, considerando atribuição de 70% do peso total para a formação da nota das agências. Além disso, o sistema de avaliação semestral tem intenção de fazer premiações periódicas e individualizadas.

Nada disso foi capaz de melhorar o desempenho porque as metas continuaram abusivas. Conforme sondagem das entidades sindicais, no primeiro semestre de avaliação de 2012 verificou-se que 50% das agências nem saiu da etapa inicial e menos de 20% atingiu a etapa ouro, demonstrando a distorção do modelo, e 90% das superintendências ficaram na etapa prata.

O movimento sindical chegou a alertar o banco em negociação nos primeiros meses do ano de que os funcionários estavam revoltados com o Novo Sinergia BB, que tem como foco metas individuais e ainda dificulta a gestão do resultado da agência pelos administradores.

O programa do banco alterou o parâmetro negociado desde 2005 com as entidades sindicais para a parcela adicional de módulo bônus e os representantes dos bancários tinham informado da dificuldade de qualquer negociação de metas individuais na regra de PLR dos funcionários do BB.

Compete agora ao BB fazer uma proposta que contemple as demandas dos bancários e corrija o problema que ele mesmo criou.


Fonte: Contraf-CUT com sindicatos e federações

15.3.07

Quinta, 15 de março (Artigo sobre a composição da PLR do BB)


Trabalho na parte da tarde na Contraf-CUT.

Trabalhei 6 horas.

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Post Scriptum: A direção do BB decidiu perseguir os grevistas no 1º ano do 2º mandato do presidente Lula. Contradição pura é o nosso dia a dia na luta de classes. Como dirigente que negociou as PLR do BB desde a primeira delas, conquistada com a greve de 2003, fiz um artigo publicado na Contraf-CUT sobre o tema. Veja abaixo:

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ARTIGO: Entenda a composição da PLR do BB

15 de março de 2007 - 19:04

Por William Mendes*


Logo após a divulgação da proposta de Participação nos Lucros e Resultados (PLR) feita pelo Banco do Brasil, a Contraf-CUT recebeu dezenas de e-mails questionando sobre o módulo variável. No semestre passado, os funcionários receberam uma parcela equivalente a 95% do salário, que agora seria de 45%.

Esta redução da porcentagem do salário já era prevista. Desde 2003, quando conquistamos com a greve o modelo de PLR da Fenaban, o percentual do salário gira em torno dos 40%. Naquele ano, reivindicamos o modelo da Convenção Coletiva (80% do salário + R$ 828 fixos em valores atualizados), que é anual, e adaptamos à nossa PLR que é semestral. No último semestre, o BB teve um lucro que incluiu quase R$ 2 bilhões de créditos tributários. Com o montante envolvido conseguimos dar esse salto na porcentagem. Mas foi um valor extraordinário, que se deveu justamente ao lucro maior do banco.

É importante destacar que se fossem aplicados os 95% do semestre anterior, praticamente todo o montante destinado à PLR seria consumido com esta parte do módulo variável. Isto quer dizer que a metade da pirâmide para baixo seria prejudicada e os altos salários seriam favorecidos.

Não é isto que a Contraf-CUT defende. Brigamos pela distribuição do percentual do lucro líquido de forma linear para privilegiar a base da pirâmide. A parte fixa da PLR de R$ 412 e os R$ 1.011,36 referentes à distribuição dos 4% do lucro líquido consomem quase a metade do montante reservado, o que é importante para os trabalhadores que ganham menos.

Vale ressaltar que o problema da PLR do BB está nos critérios de distribuição, que penaliza os bancários substitutos que participaram da greve no ano passado. Além de ser muita cara-de-pau da empresa não reduzir o módulo bônus do topo da pirâmide, ou seja, dos NRF 01, na mesma proporção de todos os bancários.

O modelo da PLR não é problema e nós entendemos ser bastante positivo, inclusive se comparado ao da categoria, que foi a nossa referência. Pois os bancos privados não aceitaram até hoje a distribuição de parte do lucro de forma linear.

É bom lembrar, ainda, que a Contraf-CUT tem aceito o módulo ATB (acordo de trabalho) desde o primeiro semestre de 2005 por considerar avanços as conquistas para o conjunto dos bancários nos módulos variável e fixo, que não excluem ninguém.

Desta vez, a Contraf-CUT está indicando a rejeição da proposta nas assembleias porque o BB quer perseguir e punir os colegas substitutos que lutaram na campanha salarial passada. E isto não podemos admitir, mesmo que tenhamos que programar uma greve para as próximas semanas não só pela PLR, mas pelo “conjunto da obra” do BB.


* William Mendes é secretário de Imprensa da Contraf-CUT e membro da Comissão de Empresa dos Funcionários do BB