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23.12.21

Memórias (XIV)

Momento de descanso do sindicalista
admirador de Che Guevara.

INTRODUÇÃO

Hoje é véspera da véspera de Natal do ano de 2021. O cidadão que escreve suas memórias aqui no blog A Categoria Bancária está retirado das lutas do movimento sindical bancário. Sou beneficiário de nossas caixas de previdência e de assistência à saúde, associações criadas por nós do Banco do Brasil lá no século passado. Pertencer a instituições criadas pela classe trabalhadora nos dá algum sentido de pertencimento num mundo onde impera o capitalismo e o individualismo.

Pertenço a uma certa comunidade humana. O custo disso é pesado, mas acho importante pertencer a alguma coisa. Sou participante de um fundo de pensão, de uma caixa de assistência, sou sindicalizado, sou associado a algumas associações da comunidade Banco do Brasil.

Estou revisitando minhas postagens do ano de 2007 neste blog sindical. 

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REESTRUTURAÇÃO NO BB, PLR COM PRÁTICA ANTISSINDICAL, REFORMA ESTATUTÁRIA DA CASSI E REMUNERAÇÃO VARIÁVEL QUE DISCORDEI

Aquele ano foi um ano de muitas lutas. Tivemos a reforma estatutária da Cassi, tivemos uma reestruturação ruim e danosa para os funcionários do BB feita pela direção do banco, tivemos uma proposta de remuneração variável pensada pelo movimento sindical para debater com os banqueiros que eu não concordei com ela e pedi licença à corrente política Articulação Sindical, a qual pertencia, para não votar a favor dela.

Tivemos em março de 2007 uma proposta de PLR sacana e antissindical por parte da direção do Banco do Brasil (acordo para pagar a 2ª parcela de 2006), feita para tirar alguns reais dos grevistas da campanha salarial e feita para criar um clima de punição aos lutadores e para quebrar a solidariedade no movimento de lutas. Falei sobre a questão aqui.

Os caras que bolaram a sacanagem eram naquele momento gestores do BB do governo Lula. Queriam interromper o ímpeto grevista da militância que vinha num crescendo desde a greve de 2003, primeiro ano de governo democrático e popular. Eles plantaram uma semente do individualismo e contribuíram para diminuir o espírito de solidariedade na categoria e no BB. Parabéns para eles!

No acordo coletivo de PLR da campanha salarial de 2007/08 (fechada em outubro de 2007) nós exigimos que o acordo de PLR fosse anual e não mais semestral, para evitar sacanagens como aquela que ocorreu em março para pagar a 2ª parcela do ano anterior. Ler aqui.

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CONQUISTA DA 13ª CESTA-ALIMENTAÇÃO

Um dos objetivos alcançados na campanha daquele ano de 2007 foi incorporar a 13ª cesta-alimentação à Convenção Coletiva de Trabalho (CCT). Ler aqui.

HISTÓRIA - Nós (a Executiva Nacional dos Bancários) havíamos conseguido negociar com os banqueiros esse direito na campanha de 2004 e a 13ª cesta-alimentação seria incorporada à convenção. A proposta final dos banqueiros foi rejeitada pelas assembleias. A campanha teve um desenvolvimento complexo, uma longa greve de 30 dias e julgamentos no TST. Isso fez com que o direito não fosse mantido ao final da campanha de 2004. Só em 2007 implantamos esse direito.

Outra questão que avançamos na organização do movimento após a campanha de 2004 foi ampliar a Executiva Nacional para o Comando Nacional dos Bancários nos anos seguintes.

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2007 FOI UM ANO DE MUITA SINDICALIZAÇÃO, TRABALHO DE BASE E POLITIZAÇÃO DOS TRABALHADORES

Ao revisitar as 227 postagens que fiz no blog A Categoria Bancária naquele ano de lutas e representação sindical, avalio que a minha formação política teve como base a organização nos locais de trabalho (OLT), que se mostrou constante durante minha vida de bancário do Unibanco (1988-90) e do Banco do Brasil (1992-2019) - falei sobre isso aqui -, mesclada com o dia a dia da formação política que tinha na convivência com as companheiras e companheiros do movimento sindical.

Estamos na véspera de Natal e Ano Novo. Me lembrei que em todos os anos de minha representação sindical passava esses dias nos locais de trabalho do Banco do Brasil.

Em 2007, nos dias 26 e 27 de dezembro, lá estava eu conversando com meus colegas do BB nas agências e departamentos na região central de São Paulo, distribuindo materiais do Sindicato e da Contraf-CUT: agendas, Folha Bancária, revista O Espelho etc. (ver aqui)

O movimento sindical brigava com o governo e com a direção do banco o tempo todo para contratar mais funcionários. No banco público a contratação se dá por concurso. Felizmente, passei o ano todo de 2007 indo às posses de novos bancários e bancárias em São Paulo, às segundas-feiras. 

SINDICALIZAÇÃO - Além de apresentar o Sindicato e a história de lutas da categoria bancária e da classe trabalhadora, sindicalizei dezenas e dezenas de colegas em seus primeiros dias de trabalho no Banco do Brasil. Coisa boa de se lembrar!

Como disse no início desta postagem de memórias, pertencer a alguma coisa, um lugar, uma comunidade, é importante para dar sentidos à nossa natureza social. Não é fácil nos mantermos pertencentes às nossas associações hoje em dia, juro que não é. Mas é importante sermos sindicalizados e associados a nossas entidades de classe.

É isso. Fim de mais uma postagem de memórias sindicais e de lutas. Terminei a revisita a 2007. Agora vou revisitar o ano de 2008 em meu blog.

William


Clique aqui para ler a postagem seguinte, Memórias (XV).

Para ler o texto anterior, o Memórias (XIII), clique aqui.


10.12.21

Memórias (XIII)



Entre 1988 e 2018, tive uma formação política e sindical construída a partir do local de trabalho (OLT). Sou grato ao movimento sindical pela oportunidade de ter contribuído para as lutas de classe. Apesar de excluído dos fóruns políticos neste momento, desejo boas lutas ao meu lado da classe


INTRODUÇÃO

Estou revisitando meus registros e anotações sindicais e refletindo a respeito de minha formação política enquanto cidadão bancário do Unibanco e Banco do Brasil, sindicalizado ao Sindicato dos Bancários de São Paulo, Osasco e região desde o final dos anos oitenta, com uma interrupção entre a saída de um banco e a entrada por concurso no BB. 

As bases de consultas de minhas Memórias são principalmente meus registros no blog A Categoria Bancária, de 2006 adiante, e subsidiariamente sites de entidades representativas. Fuço também em minhas pilhas de guardados em papel - jornais, revistas, livros, papéis e mais papéis.

Hoje quero relembrar um pouco do meu aprendizado - minha formação política - a respeito dos fóruns democráticos nos quais aprendi como nós fazíamos política nos anos noventa e dois mil. Como bancário sindicalizado, aprendi política de forma orgânica ao participar dos diversos fóruns políticos do movimento sindical ao qual eu pertencia enquanto bancário de base e depois como dirigente eleito pelos trabalhadores.

Eu compreendi mais tarde, depois de me politizar, que fui um militante brigador contra as injustiças que via por aí desde muito cedo, adolescente, mas não era um militante político orgânico a um movimento organizado, era um rapaz voluntarioso, como boa parte das pessoas que não aguenta ver coisa errada e não fazer nada a respeito.

Enfim, vamos refletir um pouco.

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REPRESENTATIVIDADE A PARTIR DA OLT

UNIBANCO

Trabalhei no Unibanco entre abril de 1988 e maio de 1990. Meu local de trabalho era o Centro Administrativo do Unibanco (CAU) na Raposo Tavares. Foi lá que conheci o pessoal do Sindicato. Faz muito tempo isso, mas nossa memória seletiva guarda instantes marcantes em nossa vida. 

Me lembro que o representante do Sindicato me pediu para ajudar a parar a agência dentro do CAU, onde eu trabalhava. Eu deveria organizar por dentro a paralisação e, no dia da greve, eu deveria chegar às 5 horas da manhã para garantir que ninguém entraria para trabalhar. Deu certo! Foi um momento que meu cérebro guardou. Depois fui aprender que isso era Organização no Local de Trabalho (OLT).

O banco depois foi pra cima de todos nós, os militantes que organizavam os trabalhadores. Eu fui transferido para outro bloco do centro administrativo. Minha vida ficou mais difícil no departamento. Acabei saindo depois de não aguentar mais encheção de saco do chefe. Falei umas merdas pra ele e fui mandado embora. A experiência no Unibanco foi um começo de politização de forma orgânica.

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BANCO DO BRASIL

Passei no concurso nacional do Banco do Brasil em 1991. Foi uma alegria imensa. Depois de uma adolescência de trabalhos braçais, seria um funcionário de banco público. Cancelaram o concurso por fraude em Brasília... meu sonho se foi da noite para o dia. Em 1991, eu fazia faculdade de Ciências Contábeis e já conhecia um pouco do ambiente do BB porque era estagiário na agência Ceagesp. Tive que prestar o concurso de novo. Ufa! Passei novamente e tomei posse em setembro de 1992.

Voltei a receber a visita de representantes do Sindicato na agência onde trabalhava e alguns meses depois voltei a me sindicalizar: em fevereiro de 1993. Tomei posse no BB sob a gestão Collor, depois Itamar e depois vivi todo o martírio dos 8 anos tucanos de FHC: programas de demissão (PDV), transferências compulsórias (PAQ), destruição da vida das pessoas, dezenas de suicídios de colegas do banco, redução de 50 mil postos de trabalho entre 1995 e 1999. O caos! Durante o PDV, nossa agência, Rua Clélia, fechou na sexta-feira com 21 colegas e abriu na segunda-feira com 10 colegas pra fazer o mesmo serviço. Algo assim, se estiver errado o número é coisa mínima.

A OLT foi muito importante pra nós naqueles anos de FHC. Me aproximei do pessoal do Sindicato. O Sindicato me procurava quando precisava de alguma organização interna na agência, eu procurava o Sindicato quando alguma merda estava acontecendo conosco. Eu me reunia com os colegas da agência no bar, na rua, na casa de alguém e definíamos como enfrentar o assédio que rolava contra nós. O mesmo com o Sindicato, eu ia até a sede ou o Sindicato vinha até mim. Depois fui descobrir que isso era o papel de um delegado sindical.

CONVITE PARA SER CANDIDATO A DIRETOR DO SINDICATO

Dessa relação política de companheirismo nas lutas e da OLT surgiu o convite para que eu compusesse a chapa da situação para uma eleição que ocorreria em 2000. Não deu certo nas discussões internas da formação de chapa e não fui para a direção do Sindicato. A vida seguiu e em 2002 algumas lideranças do Sindicato me procuraram de novo propondo que eu dispusesse meu nome para os debates de formação de chapa. Acabei aceitando participar do processo interno. Foi assim que virei representante dos trabalhadores na diretoria do Sindicato.

MANDATO SINDICAL DE 2002 A 2005

Se eu tivesse que escolher uma palavra para sintetizar a minha experiência do 1º mandato sindical eu escolheria a palavra qualificativa INTENSO(A). Foi uma experiência intensa em todos os sentidos. Acho que me tornei um dirigente sindical "intenso" (rsrs) depois de "sobreviver" ao 1º mandato no Sindicato. 

O pessoal que fui conhecendo nas regionais e nos coletivos de bancos e na militância do BB dizia que eu não passaria do 1º mandato porque só mexia em vespeiro. Era um encrenqueiro de carteirinha.

ESTUDOS - Por achar que não tinha conhecimento político e histórico suficiente para estar na representação de milhares de colegas, me tornei um cara que passava 24 horas por dia tentando recuperar um suposto tempo perdido em não saber tudo sobre o movimento sindical brasileiro. 

Mudei até meu comportamento pessoal, passei a ser mais sério, mais sisudo, mais responsável etc. Tinha um sentimento ético de que eu não poderia errar, me desviar do bom caminho, porque meu papel era muito importante, eu representava aqueles colegas que estavam sofrendo toda aquela desgraça que os tucanos e os banqueiros faziam conosco em nosso mundo do trabalho.

Enfim, o foco desta postagem é a questão da representação política e os processos democráticos dentro do movimento, principalmente o sindical, no qual aprendi a fazer política. Vou resumir essa história que vinha contando daqui adiante. Tempos depois de ter entrado na direção do Sindicato, fui entender que eu pertencia à corrente política Articulação Sindical da CUT.

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CONCEPÇÃO E PRÁTICA SINDICAL

A maior parte do meu aprendizado político como dirigente sindical se deu no dia a dia da convivência com o coletivo de diretores e diretoras do Banco do Brasil no Sindicato (Coletivo BB), nos espaços do Sindicato com dirigentes e funcionári@s e no contato permanente com a base, principalmente do BB - militância e colegas em geral - e subsidiariamente dos demais bancos, quando fiz micro com diversos bancos no roteiro. Mais adiante, fui entender que nossas referências na prática sindical eram os princípios da Central Única dos Trabalhadores. Algumas práticas cito abaixo.

MANTENHA CONTATO COM A BASE SOCIAL QUE REPRESENTA - Aprendi com o Coletivo BB que nunca deveria deixar de fazer base, nunca! Ao longo da vida sindical é importante se dar bem com as lideranças e forças políticas internas do Sindicato e do movimento, mas quem nos garante de verdade é a base, é a representatividade que você conquista nos locais de trabalho. A OLT é um dos princípios cutistas que a corrente política a qual nós pertencíamos tinha como base. Esteja onde estiver na estrutura sindical, vá a base, converse com os trabalhadores, seja franco com eles, ouça o que eles têm a dizer, receba as críticas, pondere e apresente argumentos para construir uma relação de respeito entre pares.

O mesmo deve se dar quando estamos numa representação da estrutura vertical do sindicalismo, numa federação ou confederação, na central sindical ou até mesmo numa associação de classe como, por exemplo, uma caixa de assistência ou previdência. Normalmente, quem indica nomes e composições de chapas eleitorais para essas entidades são os sindicatos de base. Ouvir e prestar contas do mandato para as entidades que nos indicaram é trabalho de base.

ESTUDE E CONHEÇA A EMPRESA EM QUE TRABALHA - Outro aprendizado que o Coletivo BB sempre apontava como algo fundamental para nos tornarmos referência dos trabalhadores na base era estudarmos e conhecermos o banco no qual trabalhávamos. Você pode ser popular entre seus colegas da direção do Sindicato e até de seus colegas do banco, mas se não souber apontar as questões centrais que afetam o dia a dia dos trabalhadores, se não conhecer o histórico dos problemas, possíveis soluções etc, você não será um bom dirigente e não terá a representatividade necessária nas horas decisivas. Você tem que ser um bom trabalhador! Ouçam o personagem de Gianfrancesco Guarnieri em Eles não usam Black Tie (1981).

ESTUDE E CONHEÇA A HISTÓRIA DAS LUTAS E OS DIREITOS CONQUISTADOS - Essa recomendação é decisiva para sermos um representante de nossos pares num mandato político e sindical. Por isso disse acima que mudei radicalmente ao entrar no Sindicato. Todo dia era dia de estudar e aprender algo novo sobre nossa história, da categoria, do banco público, das lutas por direitos, acordos coletivos, greves históricas, vitórias e derrotas, lições tiradas com as lutas a cada ano etc. O patronato tem domínio de toda a estrutura de comunicação da burguesia, do capital, para jogar o trabalhador(a) contra nós. Temos que desconstruir as mentiras (fake news é coisa antiga) e ilações o tempo todo. 

Produção de textos - O pessoal do Coletivo BB me ensinou desde cedo algo que levei pra vida toda: após estudar e fazer contato com a base, escreva! A prática da escrita é importante, não podemos escrever qualquer coisa, escrever exige um mínimo de pesquisa e informação. Escreveu, está registrado. Então seja criterioso no que escreve.

Paro por aqui algumas das lições que foram muito úteis no 1º mandato sindical e que levei para a vida toda de representação, mesmo quando fui convencido a ocupar outras posições políticas na estrutura do movimento e outras instâncias de classe - executiva do Sindicato ainda no 1º mandato, representação da Comissão de Empresa (CEBB) pela Fetec CUT SP, secretarias de imprensa e formação da Contraf-CUT, coordenação das negociações nacionais no BB (CEBB) e inclusive na diretoria de saúde da Cassi, eleito pelos associad@s com o apoio da ampla maioria dos sindicatos e entidades associativas da comunidade BB.

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FÓRUNS DE DEBATES E INDICAÇÕES PARA FORMAÇÃO DE CHAPAS E CANDIDATURAS NO MOVIMENTO SINDICAL CUTISTA

Ao longo de aproximadamente 25 anos de militância e representação sindical aprendi o modelo cutista de organização das bases e das estruturas políticas e sindicais.

Em linhas gerais, a representação sindical começa nos locais de trabalho, quando a pessoa se destaca na organização dos colegas (OLT). Dessa atuação, pode vir uma indicação de lideranças do sindicato para que aquela pessoa seja mais observada e até convidada para cursos de formação política e para participar de fóruns diversos do movimento.

O movimento de lutas e a política são muito ecléticos. É comum também acontecer o inverso desse roteiro que citei acima. Às vezes, temos pessoas que convidam a si mesmas para tudo quanto é cargo e função, pleiteiam vaga em qualquer eleição que aconteça, são candidatas eternas a tudo. Não vejo nada de errado nisso. Mas posso afirmar a vocês que esse nunca foi o meu perfil! Nunca fui nem seria candidato de mim mesmo a nada.

As funções que ocupei no movimento sindical bancário entre abril de 2002 e maio de 2018 foram funções decididas em coletivo, em processos de debates que geralmente discutiam projetos, alianças e perfis possíveis para desempenhar aqueles projetos. Minha história no movimento sindical foi construída assim por 25 anos de militância, poderia até dizer 30 anos como contei acima, de 1988 a 2018. 

AGRADECIMENTO - Antes de mais nada, afirmo aqui que sou grato às oportunidades que tive de representar os trabalhadores e as entidades sindicais durante esse período de uma vida porque mudei como pessoa e acho que me tornei um ser humano melhor. As oportunidades de participação nas lutas bancárias começaram e terminaram com o meu sindicato de base, o Sindicato dos Bancários de São Paulo, Osasco e região. E de mais ou menos 1996 adiante, as oportunidades foram todas oriundas de meu coletivo de banco, o Coletivo BB.

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EXPURGADO PELA ARTICULAÇÃO SINDICAL DE SP (MAS SIGO TORCENDO PELO SUCESSO DAS LUTAS QUE SERÃO EMPREENDIDAS)

Nesta sexta-feira, 10 de dezembro de 2021, está acontecendo um dos fóruns democráticos desses que citei acima. Uma das principais correntes políticas da Central Única dos Trabalhadores e trabalhadoras, a Articulação Sindical, está reunida debatendo temas importantes para a categoria bancária do segmento do Banco do Brasil: projetos, arcos de alianças e perfis para processos eleitorais de entidades do movimento para o ano de 2022.

Os fóruns democráticos do campo cutista têm um percurso organizativo que começa sempre a partir das bases sociais de 1º grau, os sindicatos. Isso ocorre tanto quando vai começar uma campanha de data-base de uma categoria profissional como quando vai haver processos eleitorais de caráter nacional ou regional. O pertencimento e a militância ao movimento começam pelo sindicato de base, tanto para o segmento da ativa quanto dos aposentados no caso das empresas e bancos públicos.

Nesta semana que se encerra hoje ocorreu nos mais diversos cantos do país um desses processos organizativos e deliberativos da Articulação Sindical da CUT. Os sindicatos e federações foram orientados a levar para a reunião nacional os debates feitos e acumulados a respeito da pauta em debate. A base sindical na qual me formei politicamente desde 1988 se reuniu também, a começar pelo meu sindicato (o Coletivo BB) e depois a federação cutista de SP.

Entendi de uma vez por todas que fui expurgado do Coletivo BB da Articulação Sindical de SP. Fiquei um pouco surpreso desta vez, confesso, porque aparentemente vínhamos numa relação saudável de construções políticas conjuntas. Nos últimos meses fui convidado a contribuir com diversas questões a respeito de uma das pautas em debate hoje. Encontros diversos, cursos de formação etc. Não achei que fossem fazer comigo o mesmo que ocorreu em 2020. 

Fiquei surpreso com o expurgo. Achei que teria o que contribuir nas discussões sobre projetos, arcos de aliança e perfis para os projetos do ano de 2022 no Banco do Brasil.

Durante o tempo todo em que fui dirigente sindical e inclusive das instâncias ditas "superiores" do movimento, nós tínhamos processos sempre difíceis de devolução de algum militante para a base ou a exclusão de participação formal do movimento, mas havia algum processo. As pessoas eram ouvidas e tinham o direito de serem avaliadas e de se defenderem. Isso não ocorre mais, me parece.

Desejo boa sorte para a companheirada da Articulação Sindical e da CUT para os difíceis processos organizativos e de lutas que teremos pela frente neste Brasil tão complexo em que nos encontramos após o golpe de Estado de 2016.

É isso, me alonguei bastante nesta postagem de memórias sindicais sobre minha formação política e os fóruns e espaços coletivos de organização do movimento de lutas dos bancários e dos trabalhadores e trabalhadoras.

William


Para ler o texto de Memórias (XIV), clique aqui.

Caso queira ler o texto anterior, está aqui.


6.12.21

Memórias (XII)



Histórias sobre a PLR no Banco do Brasil: onde há remuneração variável, há disputa de classes, ou seja, o patrão vai jogar trabalhador(a) contra trabalhador(a)


Estou escrevendo um pouco a respeito das lutas do movimento sindical bancário, mais especificamente do período no qual fiz parte dele como dirigente e representante d@s trabalhadores: de 2002 a 2018. 

A minha fonte principal de consultas e fio condutor das memórias são as minhas postagens no blog A Categoria Bancária - e sites sindicais subsidiariamente - porque o blog se tornou uma ferramenta de trabalho na comunicação com a categoria e com as entidades e lideranças sindicais e vejo no blog uma fonte interessante de registros de uma época.

INTRODUÇÃO

Dia desses escrevi memórias sobre o mês de março de 2007 (ler aqui) e o tema mais destacado naquele mês foi o embate entre nós do movimento sindical e a direção do Banco do Brasil. Alguns caras da direção decidiram prejudicar os bancários e bancárias que participaram da greve da campanha nacional da categoria em 2006, momento em que definimos os acordos coletivos e a convenção da categoria.

São muitas as formas dos representantes do capital para prejudicarem a classe trabalhadora. Não falta imaginação na hora de pensar sacanagens para vender caro direitos conquistados na luta organizada. A cada campanha salarial, a cada data-base e greve dos anos dois mil, alguns dos negociadores da parte do BB, que representavam o governo do PT, tiravam da cartola uma proposta marota, que tinha algum tipo de casca de banana para atingir algum segmento do movimento.

ATENÇÃO: durante os governos Lula e Dilma, tivemos muita gente boa nas áreas de gestão de pessoas e negociações com entidades representativas. Os avanços nos direitos contaram com a contribuição de muita gente dentro dessas áreas. Mas, às vezes, tinha uns caras difíceis como, por exemplo, quando fui coordenador da Comissão de Empresa: tivemos dois diretores do banco que ficaram marcados por quererem ser mais realistas que o rei. O movimento sindical da época com certeza sabe quem são esses caras. Faz parte...

Digo isso por conhecimento prático e isso não quer dizer que eu não tenha noção clara de que é muito melhor negociar com governos progressistas e democráticos como foram os governos de Lula e Dilma, que apesar de terem sido governos de composição com forças conservadoras (a tal governabilidade), foram governos melhores para a classe trabalhadora que todos os outros na história do país, na minha opinião. 

Vai tentar negociar com o PSDB ou com esses governos de ultradireita e fascistas como os dois após o golpe de 2016 - Temer e Bolsonaro. Tenta negociar com essa gente!

Enfim, o tema agora é a Participação nos Lucros e Resultados (PLR) no Banco do Brasil.

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PLR NOS BANCOS FEDERAIS, CONQUISTA DA UNIDADE

Como no blog tem muitos textos sobre a história da conquista da PLR no BB e bancos federais, não vou me alongar em detalhes (o essencial já será textão). Para ler alguns textos a respeito basta clicar aqui e ver as postagens do embate entre nós e o BB na 1ª quinzena de março de 2007. Em linhas gerais, é o seguinte a história da PLR:

CUT E FENABAN ACORDAM PLR EM 1995 - Os bancários brasileiros de bancos signatários da Convenção Coletiva negociada e assinada entre a Fenaban e a CNB/CUT conquistaram em 1995 a PLR com regras que garantiam a remuneração para todos os bancári@s, independente de qualquer questão pessoal como alguma ausência no semestre de referência, resultado na dependência de trabalho, não cumprimento de meta etc. O banco deu lucro, todos recebiam PLR baseada em valores mínimos estabelecidos no Acordo Coletivo de PLR. Recebiam essa remuneração variável trabalhadores de bancos privados e de bancos estaduais e regionais que assinavam com a CUT o acordo.

BANCOS FEDERAIS NÃO PAGARAM A PLR DA CATEGORIA ENTRE 1995 E 2002 - Os trabalhadores de bancos públicos federais não recebiam PLR acordada entre a CUT e a Fenaban porque o governo de plantão se aproveitava de diversos subterfúgios para não pagar a remuneração aos bancários. Ficaram sem PLR assinada com a CUT entre 1995 e 2002 bancári@s do BB, Caixa Federal, BNB, BASA, BNDES. Durante o governo FHC, o BB criou um programa provisório monstrengo para pagar uma grana para certos segmentos preferenciais definidos pela direção do banco. A base da pirâmide recebia alguns reais, uns trocados, e o topo da pirâmide recebia valores dezenas de vezes maiores. Por 9 semestres os bancários da base da pirâmide recebiam uns 200 reais ou pouco mais e a direção do banco recebia dezenas de milhares de reais. Milhares de funcionários da base não recebiam nada por motivos estapafúrdios: uma ausência, a agência foi assaltada e não teve resultado positivo etc.

SOMOS BANCÁRIOS, QUEREMOS OS DIREITOS DOS BANCÁRIOS - Já no final dos anos noventa, os congressos de trabalhadores dos bancos públicos federais debatiam a importância da unidade geral da categoria bancária. Com o início do governo Lula, vimos uma oportunidade de realizar esse objetivo antigo da categoria, uma mesa única e uma convenção coletiva que abrangesse trabalhadores de bancos públicos e privados. Deu trabalho, mas conseguimos a unidade.

Em 2003, BB e Caixa Federal são forçados a negociar com os trabalhadores alguma forma de PLR porque as greves daquele ano foram fortes e a saída exigiu o atendimento de questões específicas, além do cumprimento das conquistas da categoria assinadas com a Fenaban. No BB, foi a nossa 1ª PLR com regras gerais, sem excluir nenhum(a) bancário(a) por motivos esdrúxulos. 

(ALIÁS, o movimento sindical e o governo Lula CORRIGIRAM a injustiça feita aos bancários que não receberam aqueles valores de "PLR" provisória da era tucana. Negociamos com o governo Lula o pagamento retroativo para todos que não receberam a remuneração naqueles 9 semestres.)

PLR NO BB AVANÇA COM PAGTO LINEAR DE PARTE DO VALOR - Depois da conquista da PLR com regras gerais em 2003, veio a conquista do módulo de distribuição linear de parte do lucro, 4% no BB. Regra que a categoria vinha discutindo em seus fóruns para ampliar o valor da distribuição de lucros e resultados. 

Como se sabe, negociação pressupõe conciliar interesses de ambas as partes (com ou sem "pegadinhas" ou sacanagens). No BB, a direção queria contratar algum tipo de remuneração por resultados locais, para estimular o cumprimento de metas, óbvio, e premiar as funções do topo da pirâmide funcional. Em 2005, já contratávamos com o BB regras gerais de distribuição de PLR, definidas por nós no ACT, sem excluir ninguém, e o banco se utilizava dos benefícios da lei de PLR para o seu módulo bônus, com valores determinados por ele. Mesmo assim, nós negociávamos as linhas gerais, valores mínimos etc. Nosso foco sempre foi contratar benefícios para os trabalhadores em geral.

Antes, ainda em 2003, para o BB acordar conosco as regras gerais semelhantes à do Acordo Coletivo CNB/CUT e FENABAN (adaptadas ao BB) foi preciso autorização de órgãos do governo para que o BB distribuísse aos funcionários mais que 6,25% do resultado porque as regras gerais da PLR da categoria faziam com que os bancos federais gastassem mais que os grandes bancos privados (porque tinham mais funcionários, porque o lucro era diferente etc).

Amig@s leitores, essa descrição acima é um resumão feito de memória, pois vivi intensamente cada negociação de PLR entre 2003 e 2013, como uma das lideranças dos funcionários do BB. São tantas, mas tantas histórias a cada ano que iríamos longe aqui.

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A PLR DE 2006/2007 E A PRÁTICA ANTISSINDICAL POR PARTE DA DIREÇÃO DO BB: QUEBRA DA SOLIDARIEDADE E VITÓRIA DO INDIVIDUALISMO

As negociações sobre distribuição de lucros e resultados entre nós representantes dos trabalhadores e a direção do Banco do Brasil e dos banqueiros em geral sempre foram balizadas por algumas lógicas ou princípios gerais. 

Os representantes do capital querem puxar a sardinha pro lado de seus "capatazes", ideólogos do patronato e líderes na gestão dos modelos de remuneração e nós queremos regras sempre mais gerais, que beneficiem todos que produziram aqueles resultados astronômicos dos bancos, e se tiver que escolher segmentos da pirâmide por causa do valor que os bancos apartaram para distribuir (cobertor curto), vamos priorizar a base da pirâmide, porque ao longo do ano cada pessoa já recebeu uma remuneração de acordo com a função desempenhada na empresa. Isso em linhas gerais, logicamente.

Nos congressos de trabalhadores, via de regra, definimos propostas de PLR que simplifiquem a distribuição para todos como, por exemplo, "n" salários + valores em reais, sem definir tetos gastos pelos bancos. As regras contratadas no final das negociações são as possíveis, num movimento estica e puxa entre nós e os banqueiros. Quanto maiores os valores fixos em reais, melhor para a base da pirâmide. Se não estipular alguma regra em relação à quantidade de salários, o montante do programa pode favorecer o topo da pirâmide em relação à base.

A PLR do BB vinha sendo uma referência para a categoria desde que inovamos em mesclar uma parte linear (4%) + um valor fixo em reais + uma porcentagem da remuneração da função (45% do Valor de Referência, VR, sendo a ref. E6 para escriturários e caixas). Essas eram as regras gerais, que não excluíam nenhuma pessoa, como conquistamos em 2003, as bases da PLR da categoria. Ainda negociávamos um módulo baseado em resultados, o módulo bônus, mas todos estavam garantidos na regra geral.

SUBSTITUIÇÃO DE FUNÇÃO - Uma das práticas mais comuns no dia a dia dos 100 mil funcionários do BB era a substituição de função nos locais de trabalho. A prática era importante tanto para a empresa quanto para os trabalhadores. Ausências por férias, aposentadorias, licenças diversas, cursos de formação eram comuns nas dependências e as substituições de funções por outros trabalhadores tanto supriam as necessidades da empresa quanto eram oportunidades de treinamento para os bancári@s e uma remuneração maior no final do mês. 

O fato concreto é que boa parte dos funcionários substituíam, às vezes, o semestre inteiro em algumas funções como, por exemplo, caixas, assistentes, analistas, gerências médias e até gerências gerais. 

PRÁTICA ANTISSINDICAL - A direção do BB, para acordar o pagamento da 2ª parcela da PLR, relativa ao 2º semestre de 2006, decidiu usar o programa para tentar refrear o impulso de luta do funcionalismo que vinha num crescendo desde 2003 e nas negociações para fechar a parcela a ser paga em março de 2007 decidiu agir de forma antissindical e com assédio moral institucional. 

A direção do BB propôs pagar o valor da PLR SEM CONSIDERAR A SUBSTITUIÇÃO NO SEMESTRE INTEIRO por causa de alguns dias de greve da data-base da categoria, dias de greve que aliás eram compensados até data definida em acordo coletivo. Ou seja, nenhuma justificativa para prejudicar os substitutos.

Durante duas semanas de negociações com as entidades sindicais, os "colegas" da direção do BB, funcionários de carreira da empresa, não abriram mão de penalizar os substitutos que fizeram greve e apostaram que as maiorias aprovariam isso nas assembleias, pensando em si mesmas. A Contraf-CUT e as lideranças sindicais indicaram a rejeição da proposta para que pudéssemos reverter essa sacanagem por parte da direção do BB, mas a proposta foi aprovada.

Como disse acima, ao ler os registros no blog no mês de março, ler em ordem cronológica é melhor, é possível ver o embate que fizemos com a direção do banco e nossa postura nas assembleias defendendo a solidariedade entre os colegas e dizendo "não" ao individualismo.

Ao longo dos anos, foram várias as artimanhas da direção do BB para nos dividir, como se o BB fosse um banco privado, gerido pela banca. São as contradições do mundo capitalista.

O texto foi longo, deu trabalho para fazer, mas entendo que é importante resgatar a história de luta dessa categoria tão aguerrida e que tanto contribuiu para as conquistas da classe trabalhadora brasileira.

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Tenho outras histórias para contar e relembrar sobre PLR como, por exemplo, a PLR dos colegas do Banco do Brasil cedidos para trabalhar na nossa Caixa de Assistência, a CASSI. Quando cheguei lá na autogestão como diretor de saúde eleito pelos trabalhadores (2014), o programa de PLR dos bancários do BB era bancado pela associação em saúde e não pelo banco e fiz uma luta pesada para corrigir isso. A insistência me custou muito caro (dezenas de milhares de reais... rsrs), mas fiz o que tinha que ser feito por um princípio ideológico: nunca recebi um centavo de PLR da Cassi. A luta que empreendi gerou (e gera) uma economia de milhões de reais para a Cassi. Muita gente que estava lá na gestão sabe disso. Qualquer hora eu conto essa história pra vocês.

William


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4.12.21

Memórias (XI)


Eu, Cacaio e Marcel. que era coordenador da Comissão de Empresa
dos Funcionários do BB; eu representava a Fetec CUT SP.

Agosto de 2007 foi um mês de muito contato com os trabalhadores que representávamos, mês de sindicalização para fortalecer o Sindicato e a luta coletiva


INTRODUÇÃO

Tenho dedicado algumas horas do dia para relembrar a minha participação nas lutas da classe trabalhadora brasileira. Fui dirigente sindical da categoria bancária por 16 anos, exercendo 4 mandatos no Sindicato dos Bancários de São Paulo, Osasco e região e 3 mandatos na Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro, a Contraf-CUT.

Na metade da 1ª década dos anos dois mil, a internet e as redes sociais começavam a ganhar escala e os sites e blogs se tornaram uma forma de comunicação que permitiam a nós militantes de esquerda furar a bolha dos meios de comunicação hegemônicos das corporações de famílias bilionárias - casa-grande e capitalistas -, empresas de comunicação detentoras de todos os meios midiáticos e manipuladoras da opinião pública, grandes iniciadoras daquilo que hoje chamamos fake news, mentiras a respeito de boa parte das informações que veiculavam com "cara" de verdade. Quando não eram mentiras, eram omissões e invisibilizações da pauta da classe trabalhadora. A pós-verdade nasceu com o PIG - Partido da Imprensa Golpista.

Foi nesse contexto que criei o primeiro blog como dirigente sindical. Ele não existe mais porque o provedor desapareceu com ele e com as informações que produzi nele. Durou uns dois anos, entre 2005 e 2006. No final de 2006, criei novamente um blog em outro provedor, o blog A Categoria Bancária. A partir daí, passei a interagir com a categoria bancária e com as entidades sindicais e representativas através de minhas postagens. Foi uma experiência muito rica e que durou até o último mandato que exerci em nome da classe trabalhadora, na Caixa de Assistência dos Funcionários do Banco do Brasil, a Cassi, onde fui diretor de saúde até maio de 2018.

AGOSTO, MÊS DE CONVERSAS COM A BASE

Ao olhar minha agenda sindical (ver aqui), as 23 postagens mostram que fiz muito contato com os trabalhadores, seja nas posses de novos funcionários do Banco do Brasil - momento de apresentar o movimento sindical e de sindicalização -, seja nos locais de trabalho ou ainda em reuniões de delegados sindicais. 

O mês de agosto marcava o início das negociações da data-base da categoria bancária (setembro) com as minutas de reivindicações entregues: geral na Fenaban e específicas por bancos. Nós estávamos na construção da campanha unificada dos bancários e os avanços vinham ocorrendo. Já havíamos conseguido que o Banco do Brasil e a Caixa Econômica Federal assinassem a Convenção geral - a CCT entre a Contraf-CUT e a Fenaban -, ficando as questões específicas em Acordos Coletivos aditivos à CCT.

O 18º Congresso Nacional dos Funcionários do Banco do Brasil (CNFBB) havia ocorrido na sequência da 9ª Conferência Nacional e com as entregas das minutas de reivindicações, começavam as mobilizações para fortalecerem as mesas com banqueiros e governo. Veja aqui uma postagem sobre o 18º CNFBB. O nosso coordenador da Comissão de Empresa (COE-BB ou CEBB) era o companheiro Marcel Barros.

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SINDICALIZAÇÃO - Fui a 4 posses de bancárias e bancários novos do Banco do Brasil, nos dias 6, 13, 20 e 27 de agosto. Os concursados tomavam posse dos cargos de escriturário e ficavam duas semanas em treinamento em um ambiente do banco. Em geral, nós sindicalizávamos várias pessoas no 1º dia de trabalho delas. Passei anos encontrando bancári@s que diziam ter sido sindicalizados por mim lá no início de suas vidas de colegas do BB. Muito legal isso!

REUNIÃO DE DELEGAD@S SINDICAIS - No dia 21 de agosto o Sindicato dos Bancários de São Paulo, Osasco e região realizou uma reunião organizativa com a militância do Banco do Brasil. Era comum fazermos reuniões com a militância, tanto nas agências e locais de trabalho, como fiz nos dias 15 (ag. Vila Iara - Osasco) e 17 (ag. São Bento), como nas regionais do Sindicato.

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REFORMA ESTATUTÁRIA DA CASSI - Os associados da Caixa de Assistência dos Funcionários do Banco do Brasil iriam voltar a se manifestar em relação às negociações ocorridas entre a direção do banco, da Cassi e as entidades representativas do funcionalismo entre os dias 8 e 21 de agosto.

"Cassi - Para a Cassi, o Congresso do BB decidiu por uma campanha pela aprovação do novo estatuto, que será votado pelos associados entre os dias 8 a 21 de agosto." (Matéria sobre o Congresso aqui)

O tema foi debatido no 18º CNFBB e os participantes, em decisão majoritária, decidiram apoiar as mudanças que traziam entre outras coisas, mais recursos para a Cassi e compromissos por parte da direção do Banco e da Cassi em ampliar o modelo assistencial de Estratégia Saúde da Família, baseado em unidades próprias CliniCassi e programas de saúde. 

A proposta foi aprovada anteriormente, mas com o quórum abaixo do necessário como define o estatuto da associação.

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Os anos como dirigente da classe trabalhadora foram anos de muito aprendizado, muito companheirismo e de muita luta em defesa daquilo que acreditamos, um mundo mais justo e igualitário para todas as pessoas.

William


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3.12.21

Memórias (X)



Memórias de lutas sindicais e democracia no Brasil

Nas memórias de hoje, vou relembrar as agendas de lutas do mês de julho de 2007. Fiz 23 postagens no blog A Categoria Bancária. O mês foi intenso porque foi mês de finalizar a primeira parte da campanha da categoria: tivemos assembleias de base e depois a 9ª Conferência Nacional e os congressos de bancos em seguida.

Este dirigente que revisita as memórias era o secretário de imprensa da Contraf-CUT, diretor do Sindicato dos Bancários de São Paulo, Osasco e região e representante da Fetec-CUT SP na Comissão de Empresa dos Funcionários do Banco do Brasil, uma comissão que assessorava a confederação e o Comando Nacional na organização e negociação de questões específicas por bancos (COE-BB ou CEBB).

A VIDA TODA JUNTO ÀS BASES - Ao ver as postagens do mês (ver aqui), fico feliz em relembrar que não deixei de fazer contatos com a base de trabalhadores do Banco do Brasil nem em meses tão cheios de agendas internas ao movimento como esse de organizar e finalizar as estratégias, as reivindicações e as bandeiras de lutas da campanha nacional dos trabalhadores do ramo financeiro. 

SINDICALIZAÇÃO - Achei espaço na agenda para ir conversar com bancários e bancárias do BB na posse e sindicalizá-los no 1º dia de trabalho deles no banco público. Aliás, as mulheres só tiveram direito de prestar concurso e trabalhar no BB depois de mais de um século de existência do banco. Agendas dos dias 16 e 23 de julho.

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Na 1ª semana de julho tínhamos agendas de reuniões diversas, na secretaria de imprensa da Contraf-CUT, porque estávamos confeccionando a revista nacional O Espelho, definindo propostas para a mídia da campanha nacional 2007 e trabalhando para dar visibilidade à luta da categoria na imprensa empresarial, a dos capitalistas e da casa-grande.

Eram frequentes reuniões de diretoria, tanto gerais como de corrente política. Eu tinha ainda horas e horas de dedicação à confecção da tese política da Articulação Sindical da CUT, feita em conjunto com outras companheiras e companheiros. 

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REMUNERAÇÃO VARIÁVEL - Como já disse nas outras postagens de memórias sindicais, desde cedo no movimento passei a escrever e contribuir com teses, propostas e opiniões a respeito da organização e luta da classe trabalhadora. Nesse ano de 2007, tive que fazer longos e cansativos debates internos na Articulação Sindical a respeito de propostas feitas para regular a remuneração variável na categoria. 

Tínhamos a intenção correta de regular e negociar com o patronato toda a remuneração dos trabalhadores porque os banqueiros estavam criando formas de remuneração variável com diversos programas de participação em resultados, formas de acelerar as metas abusivas e a sobrecarga de trabalho, gerando grande estresse e adoecimento, inclusive com assédio moral.

Eu não concordava com algumas propostas a respeito de contratação da remuneração variável e fiz o debate democrático dentro da corrente. Estudei, escrevi, fiz debates com diversas lideranças etc. Foi um momento rico na democracia interna do movimento e da corrente política. Valeu bastante. 

Ao final do processo, como não tinha concordância em votar a favor da proposta final de contratar remuneração variável na forma de parte do que os bancários produziam com tarifas e taxas de serviços nas agências (entendo isso como um contrassenso para a luta contra as metas abusivas), recebi por parte da Articulação Sindical autorização para me abster nos fóruns de decisão. Inclusive, no fórum final, fiz declaração de voto esclarecendo ao conjunto dos delegados e delegadas da 9ª Conferência Nacional os motivos por que não votei a favor daquela proposta.

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DURANTE GOVERNOS DO PT, AS AGENDAS DA CLASSE TRABALHADORA ERAM POR MAIS E MELHORES DIREITOS SOCIAIS

Ao ler uma matéria sobre a abertura da 9ª Conferência Nacional (ler aqui) vemos o quanto a classe trabalhadora brasileira estava com uma agenda propositiva e em ascensão social, pois queríamos a redução da jornada de trabalho sem redução de salários, aumentos mais significativos no salário mínimo do país, desenvolvimento econômico sustentável e com distribuição de renda para o povo brasileiro que efetivamente produz a riqueza do país. 

Os períodos dos governos do Partido dos Trabalhadores - governos de esquerda ou centro-esquerda, até sociais-democratas podemos dizer - são tempos de mais oportunidades para a base da pirâmide social e de mais felicidade para o povo. E sabemos que as contradições sempre vão existir, sempre. Elas fazem parte das lutas de classes.

ORGANIZAÇÃO DOS TRABALHADORES DO RAMO FINANCEIRO

A criação da Contraf-CUT em 2006 foi uma nova etapa da organização da categoria bancária dentro da Central Única dos Trabalhadores, a nossa CUT.

Quando se estuda a história dos trabalhadores dentro do setor financeiro brasileiro, vemos que nossas lutas começaram ao mesmo tempo em que a família real veio para o Brasil, em fuga de Portugal por medo de Napoleão Bonaparte. Eles chegaram aqui tomando casas e propriedades das pessoas e criando instituições da sociedade moderna como bancos, comércios etc.

Tínhamos trabalhadores bancários atuando no século XIX, tanto nos bancos públicos ou de governo como nos bancos privados. Banco do Brasil e Caixa Federal foram criados naquele período. O século XX foi de grande envolvimento dos bancários nas lutas de trabalhadores por direitos trabalhistas e sociais. Muitos sindicatos nasceram como associações no início do século e ainda hoje são dos mais organizados do país.

A categoria bancária teve papel preponderante na criação da CUT e nós fomos vanguarda na ideia de organizar os bancários em departamento, mesclando a lógica de estrutura vertical com a da Central, mais horizontal e de classe. Em 1985/86, dois anos após a criação da CUT, organizamos o Departamento Nacional dos Bancários (DNB). A estratégia foi muito exitosa e rapidamente estávamos organizados no país todo, fazendo grandes greves nacionais entre 1985 e 1989.

Nos anos noventa, avançamos para uma Confederação e passamos a contratar direitos em acordos e convenções coletivas. A CNB/CUT contribuiu enormemente para o fortalecimento da Central e da classe trabalhadora brasileira.

Ao mesmo tempo em que nós nos organizávamos, os banqueiros e patronato da casa-grande se organizavam também, é lógico. Reestruturações e avanços tecnológicos marcam essa história de embate entre bancários e banqueiros. A Contraf-CUT surge num momento em que mais de meio milhão de trabalhadores estão gerando lucros para as corporações dos banqueiros e não têm os direitos da categoria, reunidos na Convenção Coletiva dos Bancários, a CCT/CUT.

Bom, já me alonguei nessa postagem de memórias sindicais. O fato é que nós tínhamos uma missão ao criar a Contraf-CUT, missão difícil, mas muito bem-intencionada por parte das organizações sindicais dos bancários. Veja aqui a postagem que fala das estratégias definidas naquele ano de 2007, na 9ª Conferência Nacional, para organizar diversas categorias dentro do ramo financeiro e enfrentar a casa-grande e os banqueiros.

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FOCO NA UNIDADE DO LADO DOS TRABALHADORES, AUMENTO DE DIREITOS E CONTRATAÇÃO DA REMUNERAÇÃO TOTAL

A 9ª Conferência definiu suas reinvindicações, estratégias e agendas de campanha a serem aperfeiçoadas e adaptadas dia a dia pelo Comando Nacional dos Bancários, que foi ampliado naquele ano. Ver a matéria aqui.

Abaixo, deixo um trecho da questão que debati intensamente com a companheirada da Articulação Sindical e demais forças políticas e participantes dos fóruns decisórios da categoria. A vida seguiu, eu discordando das propostas e todos lutando juntos contra os banqueiros.

"Além do reajuste salarial, os bancários também querem uma remuneração complementar de 10% do total das vendas de produtos feitas em cada unidade, distribuído de forma linear para todos os empregados da unidade, creditados mensalmente como verba salarial, incidindo sobre FGTS, 13º, férias e descontos previdenciários.

Na mesma linha, outro item que consta na minuta é a remuneração complementar sobre receita de prestação de serviços para todos os bancários. O benefício reivindicado é de 5% da arrecadação com prestação de serviços distribuídos trimestralmente de forma linear a todos os bancários de cada instituição, inclusive aos afastados por licença-saúde. " (Matéria da Contraf-CUT)

Ao ver as propostas acima, sigo pensando do mesmo jeito que pensei 14 anos antes. Acho que elas não eram as propostas ideais para contratar a remuneração variável da categoria. Mas a vida seguiu e tudo mudou para pior após o golpe de Estado em 2016. 

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A HISTÓRIA SERVE DE REFERÊNCIA, ELA NÃO SE REPETE. A HISTÓRIA NOS MOSTRA QUE PODEMOS MUDAR A REALIDADE TERRÍVEL NA QUAL NOS ENCONTRAMOS EM 2021

É isso! Mais um momento de memórias de lutas da classe trabalhadora. Todas as pessoas podem e devem se envolver nas questões inerentes à nossa vida em sociedade.

Hoje vivemos sob pandemia de Covid-19, num país tomado pelo crime organizado dentro do poder do Estado e sem democracia desde abril de 2016.

Mudar a realidade sempre é possível. Depende de cada um de nós, duzentos milhões de brasileiras e brasileiros.

William


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