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16.4.21

Cassi 2021 - Impressões e opiniões (III)

Opinião

Olá, colegas da comunidade Banco do Brasil! Olá, dirigentes sindicais e demais representantes da comunidade BB!

Ao pensar em algumas questões relativas à Cassi para conversar com um grupo de bancários e bancárias do BB de Belo Horizonte e região, acabei inferindo sobre o futuro do nosso Plano de Associados, a razão de ser da autogestão Cassi, associação criada em 1944 por um grupo de colegas do banco, nossa Caixa de Assistência dos Funcionários do Banco do Brasil. 

Ao projetar a Cassi no amanhã, vi um filme com final triste... fiquei descabriado, como dizemos lá em Minas Gerais. Desacorçoei, deu até dor na região abdominal...

A companheira Luciana, diretora do Sindicato e liderança dos bancários, me pediu para abordar 3 questões:

1. Problemas atuais da Caixa de Assistência (Cassi)

2. Perenidade do plano (aí que pensei sobre o Plano de Associados)

3. Importância de eleitos com apoio do movimento sindical

Ontem à noite, estava lendo dois livros que me deixaram bastante pensativo, e ao colocar o cérebro pra pensar, o verdadeiro criador de tudo, como diz o neurocientista Miguel Nicolelis, rapidamente me peguei a pensar nossas cores, nossas coisas, nossos jeitos, nossos dramas... Pau-Brasil, como diria o escritor modernista Oswald de Andrade. 

A Cassi é uma coisa tão nossa... não tem nada igual! A Cassi não é um plano de mercado, não é da Europa, não é dos Estados Unidos, não é da burocracia do banco; tem saúde da família, mas não é o SUS; deve acolher da mesma forma o escriturário, o gerente e o diretor, tanto nas CliniCassi quanto na rede credenciada. A Cassi tem sua própria poesia (Pau-Brasil!). 

Antes de iniciar minha opinião e inferência sobre os 3 temas que vamos abordar, lembro aqui que não tenho nenhum problema pessoal com membros da direção da nossa Cassi, pois são todos colegas nossos associados. Tenho ponto de vista diferente a respeito de alguns atos de gestão, e isso é normal na política.

RELATÓRIO ANUAL 2020 - Quanto ao Relatório Anual que vai a votação na próxima segunda 19, já disse nas postagens que entendo que as informações foram verificadas por órgãos e conselhos responsáveis e por auditoria independente. Cabe agora uma boa participação dos associados e que se manifestem a respeito, pois isso é um exercício de democracia.

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Para falar sobre a Cassi é importante ter claro que as pessoas participantes do sistema não têm uma noção clara do que é a Cassi porque os responsáveis pela Caixa de Assistência e o patrocinador Banco do Brasil não atuam para que os associados saibam o que é a Cassi, principalmente no que diz respeito ao Plano de Associados e em relação ao modelo assistencial - Atenção Integral, com Atenção Primária (APS), através das CliniCassi e da Estratégia Saúde da Família (ESF).

O que é a Cassi? Seria um plano de saúde? Seria o mesmo que as Unimed? Ou seria o mesmo que a Amil? Seria uma empresa concorrente do plano de saúde do Bradesco? A Cassi seria uma "empresa" e agora vai diversificar seus "produtos" para beneficiar seus "clientes"? (não, a Cassi não é nada disso, por enquanto!)

1. QUAIS SÃO OS PROBLEMAS ATUAIS DA CASSI no meu ponto de vista, o ponto de vista do trabalhador, de uma pessoa que representou os trabalhadores por quase duas décadas de vida?

Do ponto de vista econômico-financeiro a Cassi está em equilíbrio neste momento, é o que diz o Relatório Anual 2020, assinado pela direção e aprovado pelos órgãos da gestão e com parecer favorável da auditoria independente. Por direito, os associados vão se manifestar agora sobre o relatório.

Mas quais os problemas atuais da Cassi, para dialogar com os associados e seus representantes? 

COPARTICIPAÇÃO - Alguns problemas já são apontados pelos sindicatos: os bancários estão pagando uma coparticipação muito alta e isso é injusto e indevido, porque a coparticipação está sendo usada como receita do Plano de Associados, o plano dos funcionários da ativa e aposentados. Os sindicatos exigem, e com razão, que a direção reduza os percentuais de coparticipação aos patamares de 2018 porque as justificativas que a direção deu para aumentar sem consultar os usuários do plano NÃO SE JUSTIFICAM MAIS! Além do fato óbvio de a Cassi estar superavitária e ter plenas condições de reduzir a coparticipação de seus associados, donos do Plano de Associados.

DOENTES CRÔNICOS SEM MEDICAMENTOS - Outro problema já em discussão pelos sindicatos é que a direção reveja seu ato de gestão de desmontar um dos principais programas de saúde da Cassi, o Programa de Assistência Farmacêutica (PAF), que foi drasticamente reduzido em tudo, tanto na lista de materiais e medicamentos abonáveis (LIMACA), quanto no acesso ao direito ao PAF porque a direção desmontou a distribuição por operador logístico, que garantia equidade no acesso para doentes crônicos tanto das grandes cidades quanto das cidades e regiões com escassez de fornecedores. Mais de 13 mil crônicos perderam o acesso aos benefícios do PAF. Com o caos atual no país os preços dos remédios de uso contínuo dispararam e com a pandemia muitos crônicos do grupo de risco podem estar sem acesso aos medicamentos. Ler aqui artigo a respeito do PAF.

(D)EFICIÊNCIA OPERACIONAL - A Cassi apresenta um índice de eficiência operacional inaceitável. Falei sobre isso durante 4 anos na gestão da associação. De lá para cá, as coisas pioraram! O que significa o índice de 5,5%, enquanto as demais autogestões têm índice de 8% e as demais operadoras de saúde têm índice de 9%? Significa que a Cassi está se desfazendo de sua capacidade própria de gestão do sistema de saúde Cassi. A autogestão está se desfazendo por dentro e isso é o inverso do que o setor inteiro está fazendo. É um equívoco sério de gestão, na minha opinião. 

A autogestão deveria investir em sua estrutura própria de saúde porque é barato e o custo-benefício é de grande retorno porque mais de 90% das receitas da Cassi vão embora para o mercado privado e com características de oligopólio dos conglomerados de hospitais e prestadores de serviços de saúde. A inflação do setor é na casa de 10% a 20% ao ano. Quanto menos estrutura própria, menos capacidade a direção terá para controlar custos básicos na operação de saúde. Isso é uma coisa óbvia!

A Cassi deveria ampliar sua estrutura de Atenção Primária (via ESF), investir um pouco em atenção em 2º grau para seus participantes cadastrados na ESF, com especialidades nas CliniCassi para monitoramento cada vez melhor de seus participantes. Só assim, seria possível usar melhor os recursos ao necessitar comprar serviços caros na rede prestadora. A Cassi poderia investir em pequenas estruturas em regiões específicas como faz a autogestão Cassems no Estado do Mato Grosso do Sul, que tem 10 hospitais próprios. O mercado da saúde atua assim. Controle de custo das operações de saúde em toda a rede de atenção. É outra questão meio óbvia! Olhem o setor de saúde, o mercado!

A cada dia, a Cassi se torna menos capaz de cuidar de seus mais de 650 mil assistidos porque terceiriza para os empresários da saúde sua estrutura, seu conhecimento, sua capacidade de fazer promoção de saúde, prevenção de doenças, monitoramento de doentes crônicos e perde sua característica de autogestão com Atenção Integral à Saúde (cuja Atenção Primária só funciona bem por ser realizada através da Estratégia Saúde da Família, centralizada a partir das CliniCassi e suas equipes de família). Foram duas décadas de experiências para o modelo exitoso da Cassi estar em funcionamento. (Não confundam questões de financiamento e custeio - quanto cada parte paga - com a operação do modelo assistencial da Cassi, que é testado e aprovado e está sendo desfeito por terceirização)

A direção quer implantar porta de entrada em seu sistema e ao mesmo tempo quer fazer isso com "parceiros" e terceirizando tudo. É um contrassenso isso. Os conglomerados de hospitais e planos de saúde que vendem planos de saúde com porta de entrada fazem isso por terem controle de custo de toda a rede para instituir porta de entrada. A Cassi quer fazer o inverso, quer apostar em "parceiros" privados como se eles fossem fiéis eternamente, coisa duvidável porque empresa visa lucro e assim que a Cassi não pagar o que eles querem, eles simplesmente deixam de ser "parceiros". Mas a Cassi ficará com as obrigações registradas na ANS da mesma forma. Sem estrutura própria mínima, isso não vai acabar bem. (o tal piloto de terceirização "Bem Cassi" não é a solução para a perenidade da Cassi!)

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2. PERENIDADE DO PLANO (Plano de Associados e os diversos planos de mercado que a Cassi quer lançar)

Ano ............................ Plano Associados

2004 .......................... 400.506

2009 .......................... 403.281

2014 .......................... 418.335

2017 .......................... 409.405 (-5.704)

2018 .......................... 403.701 (-6.951)

2019 .......................... 396.750 (-8.077)

2020 .......................... 388.673

O Plano de Associados não teve uma perda tão grande de participantes em duas décadas de existência após a reforma estatutária de 1996. A gestão dos tucanos foi traumática e quase destruiu o banco com o PDV/PAQ e as reestruturações, mas depois estabilizamos em 400 mil assistidos por décadas.

Após o golpe de 2016, e após as mudanças que vêm sendo promovidas pela direção atual do banco e da Cassi, o Plano de Associados perdeu 20.732 participantes em 3 anos, uma redução drástica de 5,33%.

Ao ver as apresentações da direção da Cassi em relação ao Relatório Anual 2020 - dados contábeis e atos de gestão -, algumas falas me chamaram a atenção: 

- TELEMEDICINA: a telemedicina virou uma espécie de panaceia (pretenso remédio universal para todos os males, um "emplasto Brás Cubas"), virou a solução de todos os problemas dos planos de saúde. Acho positivo a telemedicina ser incluída como mais uma opção de atendimento aos participantes (na Cassi o conceito é "acolhimento"), mas me parece que há um exagero na questão. Ficou claro que a telemedicina contribui muito na redução de custo das operações, mas isso não significa necessariamente solução em saúde na ponta, para os assistidos pelo plano, principalmente depois do primeiro atendimento (que não é Atenção Primária).

Me parece que a Cassi está mesclando dois conceitos e ou ferramentas de gestão de sistemas de saúde: Atenção Primária e Telemedicina. Repito: minha impressão até agora é que há uma confusão entre "Atenção Primária" e "primeiro atendimento". Bom, esse não é o tema dessa postagem, mas acho que é preciso se falar mais sobre isso. 

- TERCEIRIZAÇÃO DA ESSÊNCIA DA CAIXA DE ASSISTÊNCIA: o piloto em Curitiba, o "Bem Cassi" é isso. Faço um apelo aos sindicatos e associações e conselhos de usuários que reforcem suas atenções a esse piloto de terceirização das CliniCassi e da ESF/equipes de família. O risco de se desfazer a estrutura do nosso modelo assistencial é enorme. O Plano de Associados e os associados serão os prejudicados na hora que isso não seguir adiante.

- DIVERSOS PLANOS DE MERCADO: lançamento de diversos planos de mercado para um suposto público-alvo (familiares até 4º); seriam milhões de novos "clientes" a se prospectar. Segundo a direção, isso iria contribuir para que a operadora Cassi melhorasse suas margens contábeis no balanço consolidado dos planos, tanto o dos associados como os de mercado. 

Falaram em um plano "Cassi essencial" que custaria uns 30% menos que o Cassi Família disponível hoje. E têm pressa em lançar outros "produtos", um plano para "alta renda" ou executivos, outros regionais etc. Para os planos custarem menos, teriam menos direitos e coberturas que o plano disponível hoje. E os clientes vão pagar coparticipação, que não existe no Cassi Família.

A direção da Cassi comentou nas apresentações que tem associados que disseram ter interesse em sair do Plano de Associados e comprar algum desses planos de mercado porque seria mais vantajoso para eles. É muito importante que se alerte esses bancários e ou aposentados que não façam isso, por diversas razões. Uma delas é que ao sair do plano não é possível retornar, o plano é de custeio solidário e mutualista e inclusive o patrocinador BB é obrigado a pagar 4,5% por associado da ativa e aposentados. Outra razão básica, não cobra por idade.

Francamente, são tantas coisas envolvidas neste ato de gestão de lançar diversos planos Cassi, são tantos riscos que o texto ficaria enorme para citar alguns dos riscos mais sérios. Pelo conhecimento que acumulei na gestão da Cassi, fica claro para mim que essa opção da direção pode comprometer de forma irreparável a perenidade do Plano de Associados - a razão de ser da Caixa de Assistência desde sua criação em 1944 -, criada pelos trabalhadores do banco público.

Algumas preocupações e inferências sobre o ato de gestão sobre os diversos planos de mercado, com direitos e mensalidades diferenciados:

- O Plano de Associados vai sofrer perdas maiores ainda e isso comprometerá a capacidade de sustentabilidade do plano. Pode ser que saiam os maiores salários e benefícios e os mais jovens por motivos episódicos, momentâneos. A Cassi e os participantes só têm a perder com a redução do Plano. O único que ganha com isso é o patrocinador banco, porque cada vez que sai um associado, reduz o valor que o banco é obrigado a investir por força estatutária.

- Mesmo com a ideia de que os diversos planos terão bom público e carteira, um grande problema desses planos é a longevidade deles, as pessoas acabam saindo e eles ficam com sinistralidade reversa, só ficam os que mais precisam e mais usam. Se às vezes já temos problemas de equilíbrio no Cassi Família I (grupo fechado, sem entrada de novos clientes), imaginem termos diversos planos assim daqui alguns anos.

- Os planos de saúde são regidos por uma legislação draconiana e que é feita com muito lobby das empresas privadas de saúde e conglomerados e multinacionais. A ANS é a agência reguladora e se baseia na legislação e já penalizou a Cassi de forma equivocada, na minha opinião, quando proibiu a entrada de novos funcionários ao Plano de Associados por índices de reclamação como se o Plano fosse um desses de mercado. Imaginem a hora que a Cassi tiver vários planos com clientela revoltada judicializando tudo contra a Cassi!

- Tenho diversas outras preocupações sobre esses planos. Só mais uma: Como pode a Cassi lançar diversos planos para disputar mercados locais com operadoras que têm toda a rede local própria e controle fortíssimo de custo assistencial? A Cassi não terá a mínima condição de vencer essa disputa no mercado terceirizando tudo.

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3. IMPORTÂNCIA DE ELEITOS COM O APOIO DO MOVIMENTO SINDICAL

Enfim, acho fundamental a relação entre eleitos em nossas associações e instituições da comunidade BB e os sindicatos de trabalhadores, essa questão é uma opinião de quem atuou junto aos trabalhadores e representou a categoria bancária e os colegas do Banco do Brasil por muitos anos.

O sindicato é a casa do trabalhador e da trabalhadora, fortaleçam nossas associações de organização e luta por direitos coletivos.

EFEMÉRIDES

Hoje é um dia importante para a classe trabalhadora, em especial para os bancários de São Paulo, Osasco e região e para os trabalhadores do Banco do Brasil. 

O Sindicato comemora 98 anos e é uma história fantástica de lutas e conquistas. Tive a honra de participar das direções da entidade por 12 anos, eleito pelos bancários. Vida longa ao nosso Sindicato.

A nossa Caixa de Previdência, a Previ, completa hoje 117 anos. É um dos maiores fundos de pensão do mundo e nosso patrimônio tem uma das gestões mais modernas do país. A Previ é gerida por nós mesmos, os associados.

Parabéns, parabéns!

Abraços,

William

14.4.21

Cassi 2021 - Impressões e opiniões (II)

Opinião

Olá, colegas bancários e colegas de entidades representativas da comunidade Banco do Brasil!

Como disse no texto anterior (ler aqui), o primeiro dessa série que vou fazer sobre algumas impressões e opiniões a respeito da nossa Caixa de Assistência (Cassi), vejo com preocupação algumas estratégias adotadas pela autogestão para atingir alguns objetivos desejados por todos os intervenientes ("stakeholders") da associação de trabalhadores para prestar Atenção Integral à Saúde a seus participantes.

A Cassi é para todos da comunidade BB ou só para uma parcela dos trabalhadores da ativa e aposentados? A Cassi é solidária ou só para aqueles que momentaneamente podem arcar com os altos custos da saúde? A questão central é: a Cassi é direito de todos ou privilégio?

Vou apresentar minha impressão e minha opinião a respeito de algumas das estratégias da Cassi que pedem atenção de seus associados e lideranças das entidades representativas, principalmente daquelas pessoas que conhecem minimamente temas como direitos trabalhistas, direitos sociais, gestão de saúde, direitos em saúde, sistemas de saúde, temáticas importantes para termos opinião sob a ótica dos trabalhadores e não só o olhar dos capitalistas e do patronato através de seus representantes indicados.

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ASSISTÊNCIA FARMACÊUTICA A CRÔNICOS (PAF: MAIS AUTONOMIA?)

Ano............................ crônicos assistidos

2017.......................... 53.308

2018.......................... 51.613

2019.......................... 47.859

2020.......................... 39.898

(dados dos relatórios anuais da Cassi)


Essa redução do acesso ao direito de uso do Programa de Assistência Farmacêutica, rápida redução de 13.410 pessoas, participantes, doentes crônicos, é uma coisa boa? Sob qual ótica? Ela foi boa para as pessoas? Será que essa redução de acesso aos materiais e medicamentos foi boa para os participantes do Plano de Associados? Quais serão os segmentos de participantes que não se beneficiaram do direito ao PAF em 2020? Seriam pessoas com mais ou menos recursos? Seriam pessoas residentes em grandes cidades ou em pequenas cidades? Seriam pessoas com mais acesso a tecnologia e ajuda de terceiros ou menos acesso a ajudas? Existe alguma tendência de redução de crônicos na atualidade? Será que as pessoas estão mais sadias nos últimos anos? Por fim, será que os doentes crônicos do Plano de Associados da Cassi estão medicados, estão estabilizados em suas condições crônicas? 

Qual deveria ser o objetivo dos programas de saúde de um sistema de saúde cujo objetivo é promoção de saúde, prevenção de doenças, recuperação e reabilitação dos participantes identificados com problemas de saúde, inclusive doenças crônicas? Não seria fundamental medicar e monitorar os participantes crônicos de forma a mantê-los estáveis e sem agudizações de suas condições crônicas? Entregar o medicamento na casa dos doentes crônicos como fazíamos antes era interesse direto da Cassi porque dava qualidade de vida aos doentes e reduzia as despesas assistenciais na utilização da rede credenciada de alto custo.

Os associados do Plano de Associados têm os mesmos direitos na hora da procura por socorro, atendimento, isso é uma questão básica perante os contratos e leis, e se os crônicos não estiverem medicados e estabilizados e vierem a ter piora em suas condições de saúde, o plano de saúde vai ter que arcar com as despesas exponencialmente maiores como consequência da utilização de estruturas mais caras e complexas na rede prestadora de serviços. (infartos, AVC, amputação de membros nos casos de diabetes etc)

Pergunto: não seria interessante manter medicados e estabilizados justamente os participantes crônicos do Plano de Associados para evitar agudizações e piora de saúde e consequentemente procura por rede credenciada e internações, estejam eles onde estiverem, ou seja, naquelas localizações onde há oferta de estrutura de saúde e de medicamentos e naquelas localizações onde NÃO há estrutura adequada ou nenhuma, como alguns milhares de municípios do Brasil?

Pergunto de novo: deveria haver alguma diferença de tratamento na medicalização de pacientes crônicos de acordo com o local onde vivem, estejam eles nas capitais e metrópoles com toda infraestrutura de farmácias e drogarias, estejam eles naqueles milhares de municípios brasileiros e regiões onde não há praticamente estrutura alguma de saúde e de medicamentos?

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"Com isso, a Instituição estende a facilidade de acesso aos medicamentos de uso contínuo aos participantes de todo o país, residentes tanto na capital e regiões metropolitanas, quanto no interior dos Estados. Mais do que comodidade, a Cassi garante equidade no acesso a serviços e tecnologias em saúde e qualidade do cuidado de seus participantes." (matéria do site da Cassi)

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Em março de 2018, a Cassi anunciava aos associados que finalmente havia conseguido igualar para o conjunto dos pacientes crônicos do Plano de Associados o direito a receber materiais e medicamentos por operador logístico, ou seja, a partir daquele momento TODOS os participantes estariam exercendo da mesma forma o uso do direito ao PAF ao receber em suas casas, todas as capitais e regiões do país, localidades com oferta de estrutura ou desabastecidas de estrutura de fornecimento de medicamentos, os remédios e materiais necessários para sua condição satisfatória de saúde, evitando assim agudizações de suas condições crônicas. O PAF havia sido aperfeiçoado por mais de 14 anos na Cassi.

REDUÇÃO DRÁSTICA DA LIMACA

                                   Antes         Depois        Redução

Princípio ativo..........  365 ...........  92 ............74,8%

Medicamentos.......... 2.985 ........ 1.167 .........60.9%

Materiais................... 143 ............ 31 ............78,3%

(Fonte: matéria site do Sindicato dos Bancários de São Paulo em 10/9/20)


Tenho a impressão e opinião de que a redução drástica da LIMACA e o desfazimento da distribuição de medicamentos e materiais por operador logístico aos associados de TODOS os municípios e regiões do país não foi uma opção vantajosa para os doentes crônicos da Cassi, porque um sistema de saúde tem que ser isonômico e atuar para atender a todos da forma mais igualitária possível, isso é solidariedade. 

O PAF operacionalizado na forma anterior (ver aqui a reprodução da notícia de 13/3/18 da Cassi em matéria deste blog), após mais de uma década de aperfeiçoamento pela Cassi, era um programa de saúde solidário e isonômico, e contribuía para reduzir as despesas assistenciais na rede prestadora de serviços (o mercado e seus produtos), a rede onde a Cassi compra serviços com uma inflação médica que varia de 10% a 20% ao ano, com serviços de alta complexidade e mercado onde a Cassi tem capacidade limitada de impor tabelas de preços a pagar pelo serviço/produto vendido pelo conglomerado médico. 

Entendo que todos ganharão caso avancem as negociações entre a Cassi, o patrocinador Banco do Brasil e as entidades representativas dos associados no sentido de ampliar as alternativas disponíveis na Lista de Materiais e Medicamentos Abonáveis Cassi (LIMACA) e na forma de se acessar o direito ao Programa de Assistência Farmacêutica (PAF), de forma que o conjunto dos participantes acometidos de uma ou várias doenças crônicas possam estar medicados e estabilizados, estejam eles nas capitais e regiões metropolitanas dos Estados, estejam eles nos interiores e regiões carentes de estruturas de saúde.

E VEM MAIS PROBLEMAS POR AÍ (COVID-19, FARMÁCIA POPULAR)

Aliás, por falar em doentes crônicos, alguém já leu alguma matéria a respeito das consequências duradouras dos efeitos do terrível vírus Sars-Cov-2 (Covid-19)? Os estudos têm demonstrado um número impressionante de sequelados após contraírem o novo coronavírus. Ao que parece, teremos daqui adiante uma população mundial, brasileira e de participantes da Cassi com mais problemas de saúde do que tínhamos antes de 2020. Não é uma preocupação a mais em mantermos estabilizados e medicados todos os nossos doentes crônicos como fazíamos na Cassi antes das reduções drásticas do PAF?

Matéria no Jornal da USP alerta para os prejuízos que serão causados ao Sistema Único de Saúde e o aumento dos custos no sistema de saúde por causa dos ataques que o programa Farmácia Popular vem sofrendo. Vejam abaixo e reflitam se não é a mesma preocupação que expressei acima em relação aos crônicos da Cassi e a redução dos direitos ao PAF.

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"Fim do Programa Farmácia Popular pode elevar custos da saúde

Sílvia Storpirtis afirma que internações hospitalares devem aumentar em decorrência das doenças crônicas se o programa, que distribui medicamentos gratuitamente, for extinto

A justificativa para acabar com o Programa Farmácia Popular é o plano de reformulação de políticas sociais do governo, que prevê cortes no orçamento. Em novembro de 2017, o governo já havia demonstrado a intenção de acabar com o programa, chegando a fechar 400 lojas da rede própria. No ano seguinte, cogitou reformular o modelo de pagamento para estabelecimentos particulares credenciados. Com 28 mil farmácias cadastradas, somente em 2019, o sistema foi responsável por atender 21,3 milhões de pessoas, oferecendo medicamentos gratuitos ou com descontos de até 90% para a população. Entre os remédios oferecidos estão os de uso contínuo para tratamento da asma, rinite, dislipidemia, diabete, hipertensão arterial, osteoporose e muitos mais.

“Como consequência do fim do Farmácia Popular, os custos dos sistemas de saúde vão aumentar muito, dado o elevado número de internações hospitalares em decorrência das doenças crônicas, que poderiam ser evitadas”, cita Sílvia Storpirtis, professora formada e aposentada pela Faculdade de Ciências Farmacêuticas da USP e vice-presidente da Sociedade Brasileira de Farmácia Clínica. O prejuízo será maior para o SUS, o que já vem ocorrendo nos últimos anos pela falta de investimentos. Segundo a professora Sílvia, “este não é um programa que deva ser extinto, mas aprimorado, porque é um avanço em relação à saúde no nosso país”.
"

Fonte: Jornal da USP, 17/9/20

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Próximos temas que pretendemos abordar em postagens:

- (D)EFICIÊNCIA OPERACIONAL (5,5%)

TERCEIRIZAÇÃO DO MODELO ASSISTENCIAL DA CASSI ("BEM CASSI")

ATENÇÃO PRIMÁRIA TERCEIRIZADA (ESF SOB RISCO SÉRIO DE CONTINUIDADE)

- NOVOS PLANOS DE MERCADO (ALTO RISCO PARA A CASSI)

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Esses temas elencados acima são outros temas que tenho algumas impressões e opiniões a respeito deles. Conhecendo um pouco a Cassi, a "indústria" da saúde e as tendências do mercado entendo que são questões preocupantes e que merecem atenção dos associados da autogestão.

Abraços,

William


13.4.21

Cassi 2021 - Impressões e opiniões (I)

Opinião

Olá, colegas da comunidade Banco do Brasil e colegas de entidades representativas dos bancários!

Durante 4 anos fui um dos dirigentes eleitos pelos associados da Caixa de Assistência dos Funcionários do Banco do Brasil, entidade de saúde de autogestão mais conhecida por todos como Cassi. Minha contribuição formal à gestão da associação e à luta dos trabalhadores em relação aos direitos em saúde se deu entre junho de 2014 e maio de 2018. Ou seja, as mais de 600 postagens neste blog durante o mandato de diretor de saúde eram opiniões e impressões de uma pessoa pública, era o meu lugar de fala.

De junho de 2018 até o presente momento, abril de 2021, muita coisa mudou. Aliás, o mundo mudou absurdamente em pouquíssimo tempo. Para dar um exemplo de mudanças radicais em nossa vida por um evento de efeito planetário temos aí a pandemia mundial de Covid-19. Para falar de mudanças que já estavam em andamento em 2018 e que trouxeram consequências negativas incalculáveis para o país e para o povo brasileiro, temos os efeitos do golpe de Estado em 2016, da operação lesa-pátria chamada Lava Jato e da fraude nas eleições de 2018, eventos nacionais que trouxeram como consequência esse governo inqualificável de um sujeito inominável: diria que estamos sob a banalidade do mal, para usar uma expressão de Hannah Arendt.

O QUE É A CASSI?

A Cassi é uma entidade privada de saúde coletiva. É uma caixa de assistência de um segmento de trabalhadores do país, os bancários do banco público BB. Ambos, o banco e a caixa de assistência, têm décadas de existência e histórico de participação social interna e na vida da sociedade brasileira. Eu não estou falando como um técnico de algum tema específico, estou falando como um trabalhador com conhecimentos suficientes em determinadas áreas nas quais atuei ao longo da jornada de vida laborativa, que passou a vida no Banco do Brasil e que aprendeu política nessa comunidade por causa do histórico de organização e das lutas democráticas desse segmento social brasileiro.

Quando cheguei eleito à Cassi, com um grupo de pessoas eleitas comigo em uma chapa, passamos a vivenciar a gestão da entidade, e passamos a conhecer o dia a dia de uma entidade de saúde nacional, regida por leis internas e externas, estatuto, regimentos, contratos, e por toda a legislação brasileira de saúde. Como operadora de saúde, a Cassi pertence ao sistema de saúde suplementar do Brasil, suplementar ao SUS, Sistema Único de Saúde. E por ter estudado profundamente tudo que envolvia o mandato, acabei conhecendo bastante a realidade do setor onde a Cassi opera. E posso dizer com tranquilidade que as pessoas que utilizam e precisam dos sistemas de saúde em operação no Brasil não têm sequer as noções básicas a respeito disso. Eu também não tinha.

Por que digo isso, da falta de noção das pessoas em relação aos sistemas de saúde e aos direitos em saúde? Porque um dos objetivos de nosso mandato como diretor de saúde foi justamente tentar levar essas noções ao conjunto das entidades sindicais e associativas dos trabalhadores da ativa e aposentados da comunidade Banco do Brasil. Foram 4 anos perseguindo esse objetivo e naquela época conseguimos melhorar um pouco o nível de conhecimento e reduzir a desinformação (não saber, ignorância) pelo menos das centenas de lideranças dos associados da Cassi. 

Apresentar a Caixa de Assistência aos seus legítimos donos, os associados, era fundamental para que pudéssemos criar algum grau de pertencimento em relação à própria autogestão, ao seu modelo assistencial revolucionário, aos direitos em saúde que a Cassi proporcionava aos participantes da ativa e aposentados e aos direitos de participação social (democracia) que os trabalhadores tinham em relação à sua autogestão em saúde.

RELATÓRIO ANUAL CASSI 2020

Enfim, hoje de manhã vi a apresentação do Relatório Anual da Cassi, e algumas lideranças sindicais nos perguntam a respeito de diversas questões destacadas pela direção da nossa autogestão. Eu não me debrucei sobre as dezenas de páginas do relatório, coisa que fiz durante tanto tempo, pois estudei os relatórios e balanços da Cassi do início dos anos noventa até os anos em que estive na gestão, 2018 (quase 30 anos de relatórios). Já li as mensagens da direção, os pareceres da auditoria e dos conselhos e entendo que os dados do relatório são fidedignos como atestam os órgãos responsáveis. 

Durante as 170 agendas de gestão que fiz junto aos associados e suas entidades representativas tinha o hábito de incentivar as pessoas a lerem os relatórios e documentos técnicos e políticos relativos a Caixa de Assistência e aos direitos em saúde. Como disse acima, meu lugar de fala era de um dirigente eleito, era de representante formal que prestava contas e opinava sobre as coisas. Por isso tivemos uma produção gigante de textos e informações: porque era nosso papel (in)formar as lideranças, algo como aprendemos na CUT - um curso de formação de formadores -, eu escrevia para mais de mil formadores de opinião. Acredito que isso foi importante à época, pois colocamos a comunidade BB/Cassi e representações lutando por objetivos comuns.

NOÇÕES

Hoje, não tenho o nível de informações que têm os dirigentes da nossa Caixa de Assistência. Tenho noções das coisas. Tenho impressões sobre os rumos que as coisas estão tomando, tenho opiniões a respeito de algumas coisas relativas à Cassi. E, sobretudo, tenho uma gratidão enorme pela comunidade à qual pertenço - a categoria bancária e o movimento sindical e a comunidade BB -, o que sou como pessoa é o resultado do aprendizado e da vivência com a categoria bancária e com a luta dos trabalhadores.

Se avaliar que tenho alguma contribuição a fazer sobre questões relativas à Cassi, vou postar aqui no blog para os dirigentes sindicais e lideranças que tiverem interesse na nossa opinião e impressão sobre alguns temas. Muito me preocupa a terceirização total do modelo assistencial da Cassi, isso será muito prejudicial para a sequência da existência da Caixa de Assistência que criamos. Já disse nas postagens recentes que eu não tenho nada contra os colegas que administram a nossa autogestão neste momento. Tenho divergências importantes às opções ideológicas que estão sendo tomadas em relação ao presente e futuro da "empresa" como a direção atual diz.

Já escrevi bastante para o início de conversa sobre minhas impressões e opiniões a respeito da autogestão Cassi. A Estratégia Saúde da Família (ESF), a estrutura própria de saúde da Cassi (CliniCassi, equipes de saúde, programas de saúde) e os direitos dos bancários da ativa e aposentados em pertencer ao Plano de Associados da Cassi estão sob sério risco, sério mesmo. 

A Cassi 2021 que se apresenta neste momento e para o futuro é outra, não uma Caixa de Assistência de todos os Funcionários (inclusive aposentados) do Banco do Brasil.

Abraços,

William