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31.10.24

Diário e reflexões

 

Atividade no BB em 2012. Foto: Lazarri.


Osasco, 31 de outubro de 2024. Quinta-feira.


Opinião (18)


O povo não é nem de direita nem de esquerda

Há um processo de politização do povo pela direita, mas podemos politizar as pessoas também se lutarmos contra o sistema de dominação atual


1. INTRODUÇÃO

Escrevo esta reflexão no momento seguinte ao resultado das eleições municipais do Brasil. O articulista é pessoa com experiência na política: fui dirigente sindical e representei com mandatos eletivos a classe trabalhadora por quase duas décadas. Já fui também líder estudantil, síndico de condomínio, membro de conselhos e gestor eleito de autogestão em saúde.

Ao longo de minha vida alternei visões de mundo diametralmente opostas. Sendo hoje uma pessoa materialista e sem nenhum tipo de fé em explicações místicas da vida humana, já fui católico praticante, uma pessoa movida pela fé cristã. Também frequentei e estudei o espiritismo e o candomblé. Já fiz curso completo de gnose, uma escola de autoconhecimento. Diria que sou, hoje, humanista e anticapitalista.

Já tive os preconceitos comuns da cultura brasileira, preconceitos que perduram há séculos nesta ex-colônia sul-americana. O principal preconceito que tive pela minha ambientação dos anos oitenta adiante, quando me tornei jovem adulto no Brasil, foi o preconceito relativo às diversas formas de amor, orientação sexual e relacionamentos humanos, ignorância que só superei ao ser politizado e educado pelo movimento sindical brasileiro.

Já senti ódio, muito ódio em minha vida, e desde pequeno. Já enfrentei um lawfare, um processo administrativo inventado pelos meus adversários políticos para destruir minha história e minha vida. Acreditem: muitas pessoas podem sucumbir aos processos de destruição e assédio. Ninguém merece ser acusado injustamente de algo que não fez. O lawfare teve seu uso político pretendido e depois do objetivo alcançado foi arquivado por falta de provas e materialidade. Acho que minha saúde nunca mais foi a mesma.

Fiz essa introdução em minha reflexão para situar as leitoras e leitores do texto que não tenham o hábito de ler meus artigos no blog, que talvez não me conheçam há mais tempo. Minha experiência de vida e militância exigem de mim um esforço para compreender as questões das diversas formas de fé das pessoas, os ritos e vícios da política sindical e partidária e as causas e efeitos das ferramentas ideológicas do preconceito, que incluem as novas ferramentas tecnológicas das big techs.

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2. A IMPORTÂNCIA DA SOLIDARIEDADE DE CLASSE

Antes de escrever alguma coisa a respeito do resultado dos processos eleitorais que se encerraram nesta semana - com a prevalência expressiva das candidaturas de direita nas cidades do país -, quero registrar algum comentário a respeito da absolvição pelo Supremo Tribunal Federal do companheiro José Dirceu: fiquei feliz com a absolvição. Que bom que lutadoras e lutadores de nosso lado da classe receberam nossa solidariedade nos momentos mais difíceis de suas vidas! Nossos inimigos de classe não têm solidariedade alguma conosco.

Eu não teria como enumerar as diversas lideranças de nosso lado da classe trabalhadora que foram vítimas de novos métodos de assédio, tortura e eliminação da vida política e, inclusive, da vida biológica por parte dos detentores do poder econômico e político instalado no Brasil há cinco séculos: a casa-grande, para resumir os opressores do povo brasileiro.

Pelos papéis que tiveram nas lutas de libertação do povo brasileiro nas últimas décadas, cito as seguintes lideranças de esquerda que sofreram perseguição política e uso da máquina estatal contra suas vidas e suas liberdades: Luiz Inácio Lula da Silva, Dilma Rousseff, José Genoino, José Dirceu, Luiz Gushiken e João Vaccari Neto, com quem militei no Sindicato dos Bancários. Todos foram vítimas de processos de lawfare para destruir suas vidas e de seus familiares e atingir o Partido dos Trabalhadores e, consequentemente, toda a esquerda brasileira.

O presidente Lula foi vítima de mentiras contra si desde os anos setenta, quando se tornou líder sindical. As mentiras foram escalando até que ele fosse preso sem crime e sem provas por 580 dias para que não disputasse as eleições de 2018. A presidenta Dilma Rousseff foi presa e torturada na juventude por lutar contra a ditadura no país. Após ser eleita com 54,5 milhões de votos em 2014, sofreu um impeachment sem crime e sem provas. Sofri muito durante esses processos que acompanhei como dirigente dos bancários! A dor era de adoecer por ver fazerem o que fizeram com nossas lideranças!

O mesmo sofrimento e impotência contra a injustiça sentimos quando a casa-grande condenou e ou prendeu sem crime e sem provas José Genoino, José Dirceu, Luiz Gushiken e João Vaccari Neto. Genoino e Dirceu, lutadores da mesma geração de Dilma e Lula. Gushiken e Vaccari, líderes da categoria bancária do Novo Sindicalismo brasileiro. Acusar lideranças da classe trabalhadora, destruir suas histórias e expô-las à execração pública a partir dos anos dois mil passou a ser a nova ferramenta de tortura e eliminação de lideranças das lutas populares.

Até hoje, temos visto serem inocentadas lideranças populares vítimas de processos de lawfare, como nos casos famosos "Operação Lava Jato" e "Ação Penal 470" (conhecida como "Mensalão" para achincalhar as vítimas). Gushiken foi absolvido por falta de provas pouco antes de falecer em 2013 e a notícia saiu nos rodapés dos jornalões e revistas que o execraram por anos. O mesmo se deu com Vaccari, preso por condenações revistas por falta de provas. Me lembro de ter me posicionado em defesa de Vaccari no auge dos massacres midiáticos que sofríamos em 2015 (ler artigo aqui).

Fico feliz e aliviado pela notícia da absolvição do companheiro José Dirceu neste momento da história brasileira. Sempre suspeitamos das práticas criminosas daquela gente da tal "República de Curitiba". O tempo foi o senhor da razão. Lendo o livro de memórias de Dirceu, temos orgulho das pessoas que ao longo da vida estiveram do lado certo da história, do lado do povo.

Essas revisões tardias de processos criminais inventados contra pessoas que representam a resistência ao avanço das políticas liberais, privatistas e contrárias aos interesses da classe trabalhadora reforçam uma questão central entre nós de esquerda: a necessidade da solidariedade entre nós nos momentos em que estamos sob ataques de nossos inimigos de classe.

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3. NEM DE DIREITA NEM DE ESQUERDA

Tive a oportunidade de participar de reuniões políticas em bases comunitárias nos últimos dois anos. Naqueles espaços de reflexões populares me lembrei muito dos tempos de representação sindical nos bancários e também dos ambientes familiares de muita pobreza e simplicidade.

Sempre que começam as reuniões nas comunidades, as pessoas que se atrevem a se inscrever para falar vão logo marcando suas posições dizendo que não gostam de política, nem dessa coisa de partido A ou B. Aí sim falam da questão do ônibus, do posto de saúde, das carências em casa, da falta de vaga na escola, segurança no bairro etc.

A questão de se classificar alguém como sendo de esquerda ou de direita e outras classificações comuns na boca da militância orgânica dos movimentos sociais ou de acadêmicos e intelectuais passa longe do dia a dia da ampla maioria das pessoas. O povo em geral não gosta de gente de esquerda "cagando" regras para ele.

Se voltar ao tempo em que fazia a base do sindicato, visitando locais de trabalho da categoria bancária ou participando de reuniões, plenárias e assembleias, poderia dizer a mesma coisa em relação a classificações de trabalhadores como de direita ou de esquerda.

Buscando na memória lembranças dos ambientes onde nasci e cresci, a parentada toda e os amigos e conhecidos na adolescência e na primeira fase de adulto jovem é a mesma coisa. Ninguém que conheci tinha esses papos de ser de direita ou de esquerda. 

É evidente que identificar fenômenos sociológicos e definir as coisas do mundo humano é importante para nós que nos interessamos em compreender e mudar a realidade social não natural. 

A desigualdade social, a injustiça contra as pessoas, o privilégio de poucos em contraposição à miséria da maioria, tudo isso são fenômenos não naturais. E podemos mudar a realidade porque somos seres históricos e fazemos a história diariamente.

As ciências humanas que se debruçam sobre os fenômenos sociológicos são necessárias, repito. O mestre Paulo Freire diz que só se educa gente. Ou seja, é possível educar e politizar as pessoas.

3.1. ALGUMAS LEITURAS INTERESSANTES

Eu, particularmente, gosto dos estudos e das conclusões do professor e sociólogo Jessé Souza a respeito do comportamento das classes dominantes e das classes subalternas. Concordo que as elites são corruptas e manipuladoras do povo. Entendo os motivos para ele definir um segmento do povo como "o pobre de direita".

Por outro lado, também apreciei as definições que ouvi dias atrás do professor e historiador marxista Valério Arcary, em entrevista ao Mauro Lopes, ao dizer que não concorda em se chamar um segmento do povo como "pobres de direita". 

Ele alegou na entrevista que importantes camadas da população estão em condições tão precárias de subsistência diária que elas não podem se dar ao luxo de recusar uma cesta básica, um telhado novo, alguma ajuda de políticos que lhes pedem o voto em troca de algo essencial.

Aí, penso na análise do professor Alysson Mascaro, jurista e filósofo do direito marxista, que em entrevista ao jornalista Leonardo Attuch, após o primeiro turno das eleições, disse que a direita e a extrema-direita politizaram o povo, que agora teria uma consciência de direita. Já a esquerda fica defendendo o sistema capitalista, a ordem estabelecida e fazendo coraçãozinho. 

Por fim, cito a tese "Os sentidos do lulismo" do professor e cientista político André Singer como um estudo que fez muito sentido para mim. De maneira geral, gostei das reflexões dele sobre as características do povo brasileiro e o comportamento dos diversos estamentos sociais ao longo das eleições para presidente entre 1989 e 2010. Fiz uma leitura do livro com postagens comentadas. (ler aqui)

Entendi que o que menos pesou no voto das pessoas foram questões como "esquerda" ou "direita" em relação aos candidatos Collor e Lula, FHC e Lula, Lula e Serra, Lula e Alckmin, Dilma e Serra. Os eleitores decidiram de forma muito prática seus votos em relação ao que era melhor para eles e da forma como viam o mundo, incluindo crenças, medos, cultura, preconceitos etc.

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4. QUAL A MINHA OPINIÃO SOBRE O CENÁRIO E SOBRE O FUTURO?

Vivemos um momento histórico com ferramentas tecnológicas que não existiam em outras fases da história humana. O ser humano é um animal movido a paixões e sentimentos, uma espécie que organizou o mundo a partir das abstrações criadas pela mente humana. 

O livro "O verdadeiro criador de tudo", do professor neurocientista Miguel Nicolelis, nos explica isso. A comunicação virtual e as redes sociais dominadas por algumas corporações, as big techs, sincronizam milhões de seres humanos em frações de segundos. 

Num mundo plataformizado e baseado na economia da atenção, viramos commodities e não mais seres livres. O professor e sociólogo Sérgio Amadeu, da UFABC, fala bem sobre o tema.

Quando as ideias que nos movem são inoculadas em nossa mente de forma sistêmica e intencional para ditar nosso comportamento como se dá hoje, questiono se ainda temos "livre-arbítrio".

O sistema capitalista está por trás da organização e movimentação da sociedade humana global. Não vou discorrer sobre isso. Seria exaustivo neste artigo que precisa terminar. Conto com o conhecimento que as leitoras e leitores desta reflexão já possuem.

Como identificação de fenômeno social, concordo com os professores Jessé Souza e Alysson Mascaro. A direita tem sido exitosa em estabelecer suas ideias no cotidiano das pessoas em todos os segmentos da sociedade, inclusive entre as classes subalternas e exploradas. Eu entendo que ser proprietária dos meios de produção e de criação de ideias tem peso central na prevalência das ideias de direita no mundo.

No entanto, tendo a concordar com as impressões dos professores Valério Arcary e André Singer em relação ao comportamento prático que as classes sociais têm na hora de se posicionarem em eleições ou na sobrevivência diária. As pessoas se movem à direita, centro ou esquerda de acordo com seus interesses imediatos e não por adesão ou militância a tais conceitos teóricos.

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ELEIÇÕES MUNICIPAIS BRASILEIRAS: baseado no que estou argumentando, fica fácil compreender o resultado das eleições em 2024, com o domínio amplo dos partidos de direita disfarçados sob a alcunha de "Centrão" em milhares de cidades do país. O dinheiro das emendas do orçamento público irrigando as candidaturas contra nós da esquerda mais os preconceitos e mentiras prevalentes nos meios digitais das plataformas somados aos tradicionais meios da imprensa de direita são bases efetivas da vitória da direita nas urnas. Reconheço, também, a incapacidade atual da esquerda de compreender e representar as necessidades e anseios da classe trabalhadora. Estamos distantes das bases. 

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É verdade que o domínio totalitário dos meios de produção por parte da classe dominante tem pesado para que o mundo experimente essa ascensão das ideias de direita, inclusive sobre as classes vítimas da crise do capital. Somos seres movidos pelas paixões e sentimentos: uma abstração divulgada de forma massiva em segundos pelas redes sincroniza milhões de pessoas - sentimentos como o ódio -, por exemplo. E o ódio cega as pessoas e impede o império da razão.

Na guerra de conquista das ideias, os donos dos meios estão vencendo, mas entendo que nós podemos enfrentar o avanço da direita e extrema-direita, que representam os privilegiados do mundo, nos posicionando a favor da mudança e a mudança está em questionar o sistema vigente - o capitalismo - e exigir outra forma de organização da sociedade humana.

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Contestar o capitalismo e a captura dos recursos públicos em prejuízo do povo e em privilégio de poucos é algo básico para uma liderança ou organização de esquerda.

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5. PARTIDOS, SINDICATOS E ASSOCIAÇÕES

Não acredito em mudanças substantivas e perenes na sociedade humana sem organizações sociais por trás dessas mudanças. Movimentos populares episódicos - uma ocupação, uma greve, uma mobilização por questão A ou B -, por mais que sejam bonitos de se ver, não têm acúmulos crescentes com capacidade de alterar a realidade geral. Eu pensava isso em relação aos Fóruns Sociais Mundiais quando não aceitavam partidos, sindicatos e governos.

É minha opinião que nós temos que ter partidos políticos, sindicatos e associações que liderem movimentos de massas para questionar e forçar as mudanças necessárias para disputar os rumos de uma comunidade humana. 

Temos que ter atuação constante e não só em períodos eleitorais. Ampliar nossa força nos parlamentos deve ser consequência de trabalhos realizados na base o ano todo e com coordenação local e nacional. Temos que mudar essa lógica personalista de nomes e mandatos prevalecerem sobre projetos e coletivos locais, temáticos e programáticos de esquerda, lutas de classe.

Para isso, as lideranças populares precisam exigir as mudanças necessárias das velhas burocracias encasteladas em partidos, sindicatos e associações que são estratégicos para a classe trabalhadora, mas que têm deixado insatisfeitas as bases sociais por completa ausência nas bases.

Tenho visto surgirem novas lideranças nos partidos de esquerda e nos movimentos organizados. Temos que fortalecer e apoiar essa juventude que está dando as caras. 

Se permitirmos que as ideias da burocracia partidária e sindical prevaleçam - ideias de conciliações improdutivas com adversários e inimigos na atualidade e parcerias ruins com nossos algozes -, não mudaremos a realidade na qual as ideias de direita e extrema-direita estão prevalecendo nas camadas populares que, repito, não são nem de esquerda nem de direita.

Nossos partidos de esquerda, sindicatos e organizações populares podem fazer a diferença, mas para isso é necessário que mudem e ouçam as bases e as novas lideranças que estão chegando para fazer história. Que Brasil e mundo queremos em 2035 e 2050? Para pensar 2026 temos que pensar o que queremos para o mundo.

William Mendes


Post Scriptum: o texto anterior desta série sobre eleições municipais brasileiras, que termina com este texto de avaliação do processo, pode ser lido aqui.


1.9.22

História dos bancários: um olhar (III)



História do Banco do Brasil - Afonso Arinos

O texto do professor Afonso Arinos de Melo Franco, com colaboração do professor Herculano Gomes Mathias é um dos materiais antigos que tenho em minha biblioteca de estudos sindicais, meu centro de documentação da história da categoria bancária (Cedoc do William rsrs).

O texto veio a público em 1988, encomendado pela diretoria do Banco do Brasil em comemoração aos 180 anos da história de nosso banco público mais antigo. Eu ganhei a edição de um dos gerentes com os quais trabalhei nos anos noventa, quando estava na agência Rua Clélia, dependência fechada após o golpe de 2016, neste duro momento de esvaziamento do papel do BB.

Apesar do formato de revista desse texto, ele é praticamente um livro contendo 14 capítulos. Estou lendo o material e o conteúdo tem muita coisa que me desagrada por ser muito baseado naquela história oficial que nos passaram a vida toda. Basta ver as imagens que ilustram os textos para se ter uma ideia dos lugares-comuns. Mas vamos nos lembrar que o material é de 1988 e o mundo daquele momento era um e o de hoje é outro.

As histórias do Brasil e dos povos e do mundo passaram a ter olhares mais diversos nas últimas décadas e isso foi muito importante para refletirmos sobre o caminhar da humanidade ao longo do tempo. As versões oficiais dos donos do poder passaram a conviver com outros olhares e outras interpretações da história. Imaginem no nosso caso como isso foi impactante...

Enfim, já li 4 capítulos e alguns dados são interessantes porque os autores se basearam em documentos de época e a versão de Afonso Arinos e daquela diretoria sobre a história do Banco do Brasil tem seu valor, assim como outras histórias do banco e dos trabalhadores também têm os seus valores.

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CRIAÇÃO DO BANCO DO BRASIL EM 1808

No capítulo I vemos no texto aquelas versões clássicas de história do Brasil: A expansão territorial; Fundação do Rio de Janeiro; Os bandeirantes; Os tratados de Madri e Santo Ildefonso; Os ciclos econômicos - o Pau-Brasil e o açúcar; o ouro e os diamantes; As limitações impostas por Lisboa.

No capítulo II veremos a parte que conta sobre a criação do BB assim que a corte portuguesa chegou ao Brasil e precisou de uma instituição pública para lidar com as questões financeiras do Estado, no caso a Corte.

Os subtítulos do capítulo: A Corte no Brasil; A abertura dos portos; Importação e Exportação; Fundação do primeiro Banco do Brasil; Primeiros passos da econômica brasileira como nação quase independente; D. Pedro assume a regência do Brasil.

"A desordem na administração financeira era completa, quando a Corte se estabeleceu no Rio de Janeiro.

(...) Naquele tempo as pessoas de recursos recusavam os bilhetes do Real Erário, pois sabiam que o mesmo estava falido. Essa situação perigosa, que já durava desde antes da vinda da Corte, é que levou alguns administradores e estudiosos a pensar na fundação de um Banco de Estado, que viesse atenuar as dificuldades financeiras com as quais se debatia o governo português, tanto em Lisboa como no Rio de Janeiro. O banco cogitado era mais um instrumento de auxílio das finanças públicas do que uma instituição destinada ao progresso da economia particular, quer dizer, da economia do País como um todo e não do governo, como um grupo." (p. 9)

E o autor Afonso Arinos segue em 1988 falando do papel do banco público desde sua criação em 12/10/1808 como um instrumento de Estado.

"Desde os primeiros planos, sempre houve a intenção de fazer do Banco do Brasil um instrumento auxiliar da administração pública, missão que ele, com o progresso do País e as novas normas da administração financeira, continuou sempre realizando e que tem sido a vida dos seus 180 anos.

É datado de 12 de outubro de 1808 o alvará (lei) que criou o Banco do Brasil. Esse documento começa reconhecendo que o Real Erário não tinha condições para realizar os fundos de que depende a manutenção da monarquia. Por isso criava-se, no Rio de Janeiro, um banco público que 'facilite os meios e os recursos de que as rendas reais e as públicas necessitarem para ocorrer às despesas do Estado'." (p. 10)

Fecho as citações dessa parte com uma que tem muita relação com o momento que vivemos no Brasil após o golpe de Estado em 2016, que diz que o BB vai bem ou mal de acordo com o momento político e econômico do país.

"Então, como hoje, como sempre, o Banco do Brasil destinava-se a atender às necessidades do planejamento financeiro do governo e, também, realizar transações com particulares, firmas ou pessoas. As grandes dificuldades que o Banco do Brasil atravessou na sua vida refletiram, sempre, crises internas da nacionalidade. Seus sucessos e fracassos foram o espelho dos momentos de progresso ou recesso nacional..." (p. 10)

BANCO DO BRASIL VIVEU GRANDE MOMENTO NOS GOVERNOS DO PT

Durante os 3 governos do Partido dos Trabalhadores (2003-2014), o BB e demais bancos públicos tiveram papel central de apoio às políticas públicas de Estado para o desenvolvimento do país e de seu povo. Basta citar o papel anticíclico dos bancos públicos na crise mundial de 2008/09 - crise do subprime. BB, Caixa Federal e BNDES financiaram a economia e os setores produtivos do país e o Brasil lidou bem com a crise mundial. Basta ver que o desemprego em 2014 era menos de 5% mesmo com a crise mundial e o desemprego altíssimo no restante dos países centrais e periféricos.

É isso.

À medida que for lendo esse material, vou comentando alguma coisa por aqui. Em 1829, o primeiro BB seria encerrado por lei também... mas essa parte fica para depois.

William Mendes


Post Scriptum: o texto seguinte pode ser lido clicando aqui. Para ler o texto anterior, clique aqui.


17.4.22

Memórias (XXIV)



Eleições e democracia


Osasco, 17 de abril de 2022. Domingo.

Neste registro de memórias, vou dissertar um pouco sobre eleições e democracia. Eu entendo que as sociedades humanas estão vivendo um momento de transição daquilo que conhecemos como democracia para alguma outra coisa que não sei como será definida mais adiante. 

Além de se retirar eleitos do poder por golpes civil-militares e jurídico-parlamentares e processos de lawfare com os donos do poder por trás dos processos antidemocráticos, temos agora ferramentas tecnológicas que alteram o comportamento humano em massa e interferem no resultado de eleições que vão acontecer ainda.

As novas tecnologias desenvolvidas pelos seres humanos nas últimas décadas acabaram por inviabilizar as formas tradicionais de representação popular nos espaços de poder. Com o advento das redes sociais e os sistemas de algoritmos, associados aos disparos em massa de fake news e desinformação de forma pessoal (só no aparelho do manipulado) e para milhões de pessoas (ao custo de muito dinheiro), não se pode mais definir alguns resultados eleitorais como democráticos.

Avalio que é esse o cenário de fim das democracias que estamos vivendo desde o início da década passada no mundo (o golpe de Estado na Ucrânia em 2014 é um exemplo) e no Brasil, com o golpe contra a presidenta Dilma Rousseff em 2016, impeachment sem crime de responsabilidade e depois a prisão do candidato que venceria as eleições em 2018 - Lula da Silva -, permitindo com isso a chegada ao poder da extrema-direita, de forma irregular e antidemocrática, devido às inúmeras interferências no processo em desfavor de um candidato e em favor do outro.

ELEIÇÕES CORPORATIVAS EM ENTIDADES DE TRABALHADORES

É nesse cenário atual de risco às democracias que estamos vivendo nessas semanas as eleições na Cassi e na Previ, caixas de assistência e previdência dos funcionários do Banco do Brasil. 

No mês passado, tivemos as eleições na Cassi e felizmente a chapa liderada pelo companheiro Fernando Amaral, apoiada pelas entidades sindicais, venceu com ampla margem de diferença em relação à segunda colocada, a chapa considerada como chapa da direita, a chapa dos empresários, a chapa apoiada pelos grupos patronais. Fiquei muito feliz de ter visto a massa de associados trabalhadores e aposentados votarem na chapa composta pelos colegas que tinham o apoio dos legítimos representantes dos interesses do mundo do trabalho.

Nesta segunda-feira 18 começam as eleições na Previ e novamente temos um cenário parecido com o das eleições na Cassi, uma chapa apoiada pelas entidades sindicais, a Chapa 3 liderada pelos companheiros Márcio de Souza e Paula Goto, e outras chapas de grupos de direita, empresariais, cujos interesses não são os da classe trabalhadora, não são mesmo. 

Mais uma vez, espero que a massa dos associados trabalhadores e aposentados vote massivamente na Chapa 3, que representa os interesses do mundo do trabalho e dos trabalhadores bancários. Não podemos nos enganar pela imensidão de fake news e desinformações que circularam pelas redes sociais e e-mails nos últimos dias.

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Quando olho para trás em relação a crer ou não crer na efetividade da democracia, avalio que o período no qual mais acreditei nas mudanças sociais em favor do povo e da classe trabalhadora através da democracia representativa foi até 2016, até que um bando de homens corruptos efetivou o golpe de Estado que tirou da presidência Dilma Rousseff em 2016. A direita tirou da presidência a candidata que eu e mais 54,5 milhões de eleitores votamos em 2014, e impediram o mandato presidencial sem nenhuma justificativa formal, só porque a casa-grande cansou de tentar voltar ao poder via voto.

De lá para cá, eu fui avaliando a situação da democracia com o avanço das manipulações possíveis aos processos eleitorais através dos sistemas que dominaram o mundo atual, as redes sociais e os algoritmos que alteram o comportamento de milhões de pessoas. Fora os processos antidemocráticos que já conhecíamos como lawfare e golpes tradicionais, mas com alcances menores que esses resultantes das novas tecnologias.

Me lembro de meu primeiro voto em 1988, eu tinha acabado de tirar meu título de eleitor e pude votar pela primeira vez na candidata que efetivamente representava os interesses do mundo do trabalho e da classe trabalhadora, Luiza Erundina, candidata a prefeita de São Paulo pelo Partido dos Trabalhadores. 

Nunca me esqueço de um dos efeitos em minha vida de trabalhador após as mudanças efetuadas por Erundina. Eu era trabalhador braçal, descarregava caminhões com caixas de palmito e depois passava o dia entregando o produto em restaurantes paulistanos. Para chegar ao depósito onde trabalhava, eu nunca conseguia entrar nos ônibus lotados e a solução era ir pendurado nas portas e janelas dos ônibus. Muita gente caía e ou morria por causa disso. Após Erundina virar nossa prefeita, as mudanças nos transportes públicos me permitiram tomar ônibus como gente, entrar, pagar e às vezes até me sentar durante a viagem. Nunca esqueci essa mudança na minha vida de trabalhador.

A partir desse meu primeiro voto, passei a vida toda de eleitor trabalhador votando no Partido dos Trabalhadores. Não era politizado, mas tinha claro que trabalhador votava em trabalhador. E a maioria dos candidatos e dos partidos era de representações das elites e da casa-grande. Esse monte de partidos de direita, conservadores, liberais blá-blá-blá nunca representou os nossos interesses, de trabalhadores braçais, de bancários, de professores, metalúrgicos, motoristas de ônibus, comerciários, empregadas domésticas etc. Trabalhador(a) vota em trabalhador(a). Passei a vida adulta tendo isso claro.

Depois me politizei virando bancário sindicalizado e até dirigente sindical e representante dos colegas de minha categoria profissional. A eleição de Lula em 2002, após perder várias eleições - 1989, 1994 e 1998 - nos permitiu ver as maiores mudanças em favor da classe trabalhadora e do povo brasileiro que o Brasil já experimentara em seus 5 séculos como colônia, império e república, ou melhor, república nada... uma colônia disfarçada do século 19 adiante, pois a casa-grande brasileira odeia o Brasil e o povo brasileiro e nunca considerou o país de forma soberana, a não ser como colônia de exploração. 

Enfim, vou parar por aqui esta memória. Já dissertei um pouco sobre o que penso atualmente a respeito de eleições e democracia no estágio atual do mundo.

De novo, desejo que meus colegas da ativa e aposentados do Banco do Brasil tenham juízo e votem na Chapa 3 nas eleições da Previ, a chapa que representa nossos interesses do mundo do trabalho.

William


Para ler o texto anterior, Memórias (XXIII), clique aqui. O texto seguinte pode ser lido aqui.

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Post Scriptum:

PREVI

As eleições na Previ terminaram ontem, sexta-feira 29, e a Chapa 3 Previ para os Associados venceu a eleição com larga vantagem em relação às demais chapas de direita e grupos que representam os interesses do capital, do "mercado" (o 1% de rentistas) e dos corruptos de colarinho branco. Fico feliz pela decisão massiva de mais da metade dos associad@s da Previ. Segue abaixo a notícia do resultado, com adaptações na matéria da Previ:

Chapa 3 vence as Eleições Previ 2022

29/04/2022

A votação para definir quem são os dirigentes eleitos nos próximos quatro anos terminou nesta sexta-feira, 29/4, às 18h. A vencedora foi a Chapa 3 – PREVI PARA OS ASSOCIADOS. Foram computados ainda 86.446 abstenções, 3.508 votos em branco e 5.554 nulos. O número total de eleitores votantes foi de 108.221 (cento e oito mil, duzentos e vinte e um votos). Confira o Resultado Final consolidado por estado (tirei o link, veja no site da Previ)

Veja abaixo o total de votos recebidos pelas quatro chapas concorrentes:

Chapa                                                               Votos         %

Chapa 3: Previ para os Associados                 54.423    50,29
Chapa 4: Mais União na Previ                         20.344    18,80
Chapa 1: Previ Plural Apartidária                   17.728    16,38
Chapa 2: Pense – O Futuro é Agora                  6.664      6,16

Entre os dias 18 e 29 de abril os associados puderam votar para definir os representantes para as diretorias de Administração e de Planejamento, além de um membro titular e um suplente para os Conselhos Deliberativo e Fiscal, e dois membros titulares e dois suplentes para os Conselhos Consultivos do Plano 1 e do Previ Futuro. Os mandatos são de quatro anos e vão de 1/6/2022 até 31/5/2026.

O resultado das Eleições Previ 2022 será homologado pela Comissão Eleitoral após a conclusão das verificações que são realizadas pela auditoria externa e pela auditoria da Previ.

Confira os membros da chapa vencedora:

Nome                                      Cargo  

Márcio de Souza                    Diretor de Administração
Paula Regina Goto                 Diretora de Planejamento
Antonio Sergio Riede            Conselheiro Deliberativo Titular
Luciana A. B. Bagno              Conselheira Deliberativa Suplente
Getulio Mendes Maciel          Conselheiro Fiscal Titular
Wagner F. L. Bernardes        Conselheiro Fiscal Suplente
Carlos Guilherme Haeser      Conselho Consultivo do P.B. 1 Titular
Eleucipio Vera Barreto          Conselho Consultivo do P.B. 1 Suplente
José Carlos Vasconcelos       Conselho Consultivo do P.B. 1 Titular
Francisco dos Santos Filho   Conselho Consultivo do P.B. 1 Suplente
André Luiz Alves                   Conselho Cons. P.B. PREVI Futuro Titular
Elisa de Figueiredo Ferreira Conselho Cons. P.B. PREVI Futuro Suplente
Carlos Eduardo B. Marques  Conselho Cons. P.B. PREVI Futuro Titular
Cleiton dos Santos Silva       Conselho Cons. P.B. PREVI Futuro Suplente

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Post Scriptum II:

CASSI

Aproveito o registro para incluir o resultado final das eleições na Cassi deste ano, ocorridas em março, que também tiveram como chapas vencedoras as chapas construídas e apoiadas pelo movimento sindical. A Cassi estava com uma direção 100% favorável ao patrão antes dessas eleições. Agora teremos ao menos uma minoria para denunciar a destruição em andamento em nossa Caixa de Assistência, que vem sofrendo perdas irreparáveis como o desfazimento do modelo assistencial (ESF), sua estrutura própria de CliniCassi e de seu quadro de profissionais. 

A matéria do site da Cassi é esta abaixo. A Cassi está tão esquisita que fui procurar o resultado das eleições por chapa e o tal hotsite que criaram diz que não está mais disponível o resultado final... acreditem se quiserem! Custei encontrar os votos das outras chapas. Fui encontrar os dados em uma matéria da Contraf-CUT.


Chapas 6 e 77 vencem as Eleições CASSI 2022

Publicado na Cassi em: 28/03/2022

Com 39.923 votos, a Chapa 6 foi a vencedora das Eleições CASSI 2022 para a Diretoria de Risco Populacional, Saúde e Rede de Atendimento e os membros dos Conselhos Deliberativo. A Chapa 77 ganhou a eleição para o Conselho Fiscal com 39.090 votos registrados. A apuração foi realizada após as 18h desta segunda-feira, dia 28/3/2022.

Foram registrados 8.149 votos em branco e 12.681 votos nulos na soma das duas votações.

Com o resultado, foram eleitos os seguintes candidatos:


Diretoria de Risco Populacional, Saúde e Rede de Atendimento
Fernando Amaral Baptista Filho


Conselho Deliberativo
Titular: Cristiana Silva Rocha Garbinatto
Suplente: Cláudio Alberto Fernandes do Nascimento
Titular: Alberto Alves Júnior
Suplente: Gilmar José dos Santos

Conselho Fiscal
Titular: Fernanda Lopes de Oliveira
Suplente: Diusa Alves de Almeida

Todos os eleitos tomam posse no dia 1º de junho e têm à frente um mandato de quatro anos de duração.

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Publicação da Contraf-CUT em 28/3/22:

Chapas 6 e 77 vencem eleição da Cassi

28 de março de 2022 - 18:56

Eleitos assumem cargos em junho e seguem até maio de 2026

As chapas 6 e 77, Unidos por uma Cassi Solidária, que tiveram o apoio da Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro (Contraf-CUT), federações, sindicatos e da maioria das entidades associativas do país, foram as mais votadas nas eleições da Caixa de Assistência dos Funcionários do Banco do Brasil (Cassi) e vão assumir a diretoria de Risco Populacional, Saúde e Rede de Atendimento, além dos conselhos Deliberativo e Fiscal a partir de junho de 2022 até maio de 2026.

Do total de votantes, 56,38% votaram na Diretoria e Conselho Deliberativo e 53,24% votaram no Conselho Fiscal.

Veja abaixo os dados da votação:

Diretoria e Conselho Deliberativo:

Unidos por uma CASSI Solidária             39.923 votos (eleita)
Mais União na CASSI                                20.048 votos
CASSI: Entre que a casa é sua                 16.112 votos
CASSI Independente                                  3.187 votos


Conselho Fiscal:

Unidos por uma CASSI Solidária             30.090 votos (eleita)
Mais União na CASSI                                19.035 votos
CASSI: Entre que a casa é sua                 13.200 votos
CASSI Independente                                  3.200 votos

Obs.: Esses são os dados prévios, assim que sair a totalização oficial, alteramos aqui com a votação exata!

Mais informações em nosso site e redes sociais.


15.5.16

Gestores da saúde denunciam desmonte do SUS e do Mais Médicos



Comentário do blog

Registro aqui carta aberta dos gestores da saúde pública brasileira que alertam para o que está por vir na área da saúde com o estado de exceção que o Brasil passou a viver desde o Golpe de Estado aplicado ao Governo Dilma Rousseff (PT), finalizado na última quarta 11/5/16.

Como gestor de saúde em entidade de autogestão, gestor eleito por associados, é meu dever informar o quanto as perspectivas neste importante setor da dimensão humana, SAÚDE, serão mais difíceis e menos favoráveis ao segmento dos trabalhadores, menos favoráveis à manutenção de direitos históricos conquistados na área da saúde.

A grande massa trabalhadora tanto é vítima dos efeitos da falta de recursos na saúde pública, quanto é manipulada pelos grandes players e donos de negócios privados na saúde, que ganham muito, mas muito mesmo às custas da doença das pessoas.

O segmento golpista que assumiu o Estado brasileiro após o golpe é financiado e parceiro do grande capital oriundo do setor de saúde privada.

Nossa jornada como gestores de autogestão pela manutenção de direitos em saúde será dura. Nosso setor abrange cerca de 5,5 milhões de usuários entre os 50 milhões que têm planos de saúde. Nossos participantes já são exceção entre os 200 milhões de brasileiros, pois 150 milhões só têm ao Sistema Único de Saúde como alternativa para qualquer atendimento.

Seguirei firme em meus compromissos e comportamento em defesa da entidade de saúde dos trabalhadores pela qual atuo e em nome dos associados que confiaram seus votos em nossas propostas e projetos. Serei muito racional nos duros debates para encontrar soluções efetivas para a Cassi e para os associados, e não compartilharei de nenhuma proposta panfletária, demagógica e sem aplicação efetiva para solucionar os problemas da Cassi e do setor saúde. 

Leiam a nota abaixo para entenderem o que vinha sendo feito na área da saúde pública brasileira ao longo dos governos de Lula e Dilma, mesmo com recursos sempre insuficientes e num país continental, e que agora corre perigo de retrocesso, pondo em risco não só o atendimento básico aos 150 milhões que não têm plano de saúde, como pondo em risco setores como o nosso também, as autogestões, que não visam lucro e que se auto-patrocinam, atendendo a mais de 5 milhões de usuários. Mas a Cassi e as autogestões não são ilhas e dependem da estrutura e do sistema de saúde em geral para funcionarem. Alerto para tempos duros ou mais duros do que aqueles que já enfrentamos no cotidiano de um setor em crise.

Estamos firmes na defesa dos nossos associados e da nossa Caixa de Assistência dos funcionários do Banco do Brasil.

William Mendes
Diretor de Saúde e Rede de Atendimento (eleito)



(Matéria do site Vi o Mundo, 13/5/16)

Gestores da Saúde denunciam desmonte do SUS e do Mais Médicos



Carta Aberta de Dirigentes do Ministério da Saúde à População Brasileira

Nós, diversos dirigentes em vários níveis e secretarias do Ministério da Saúde, participantes do Movimento Sanitário Brasileiro, de Coletivos Saúde e Democracia, defensores do SUS e identificados com os valores e lutas da esquerda, declaramos que não reconhecemos legitimidade e nem legalidade no governo temporário e golpista.

Não reconhecemos legitimidade porque seus representantes, ideias e propostas não derivam do voto popular, não foram eleitos nas urnas. Antes o contrário, as políticas que querem implantar, que respondem a interesses privados e particulares dos grupos integrantes do “Consórcio Golpista”, foram rejeitadas nas eleições diretas e democráticas de 2002 e vêm sistematicamente sendo derrotadas nas urnas como aconteceu em 2006, 2010 e há menos de 2 anos em 2014.

Não reconhecemos legitimidade e nem legalidade porque o modo que tentam impor à população um projeto que ela não quer e rejeita no voto é por meio de um impeachment ilegal, um golpe, que cassa o voto popular e tem como principal objetivo colocar nas costas da imensa maioria do povo, principalmente a parcela mais pobre, a conta da crise econômica pela qual passa o mundo e o Brasil, garantindo a salvaguarda dos interesses, renda e riqueza da parcela mais rica da população, sócia do golpe.

Um consórcio golpista, economicamente neoliberal, politicamente autoritário, patrimonialista e clientelista, ideologicamente conservador e intolerante e que, embora assuma hipocritamente o discurso de combate a corrupção, é constituído por pessoas e grupos que há mais de 30 anos chantageiam os governos da vez, praticam e se sustentam da corrupção e têm ocupado o Estado desde então para satisfazer os interesses privados que representam.

Não aceitamos em nenhuma hipótese participar de um governo ilegítimo, ilegal e com um projeto antipopular, neoliberal, excludente e da direita mais atrasada e conservadora.

Nos últimos anos enfrentamos muitos desafios, avançamos muito em diversas dimensões e também, é claro, deixamos de avançar em outras: muito há ainda para ser feito.

Participamos da construção de diversas políticas que consideramos conquistas do SUS e da sociedade e que, por elevarem o patamar de atenção à saúde e qualidade de vida da população, por investir e valorizar os trabalhadores de saúde e por promover e fortalecer a participação popular, deverão ser defendidas a todo custo:

– o fortalecimento da Atenção Básica com o maior aumento do financiamento de sua história, a qualificação quase universal da infraestrutura com mais de 26 mil obras em UBS e os programas e ações que promoveram um salto em sua qualidade como o PMAQ, o Telessaúde, eSUS e implantação do Cartão SUS;

– o avanço na cobertura e qualidade da Estratégia de Saúde da Família, com novos tipos de equipes multiprofissionais e inédita ampliação das mesmas e com o Programa Mais Médicos, que no presente tem levado saúde com qualidade e dignidade a mais de 65 milhões de pessoas, em mais de 4 mil municípios, comunidades assentadas, acampadas, quilombolas e ribeirinhas e todos distritos indígenas, e que deu saltos importantes rumo à suficiência, democratização e qualidade da formação dos médicos, voltada para as reais necessidades de saúde da população brasileira, com destaque para o estabelecimento da Medicina de Família e Comunidade como especialidade base e essencial para o país;

– a sequência de avanços no “Brasil Sorridente” garantindo da atenção básica à especializada na saúde bucal, passando pelas unidades móveis em acampamentos, assentamentos e comunidades quilombolas;

– o fortalecimento da promoção da saúde, o enfrentamento das doenças crônico-degenerativas e da obesidade, a criação do Programa “Academia da Saúde”, a implantação de políticas de regulação sobre elementos nocivos à saúde produzidos pela indústria de alimentos e do tabaco, e também o lançamento de uma nova Política de Alimentação e Nutrição para o SUS;

– a ampliação do acesso oportuno a uma assistência farmacêutica de qualidade com expansão e diversificação da farmácia básica e implantação do “Saúde não tem preço”, garantindo medicamentos gratuitos aos cidadãos, além da ampliação da Rede “Aqui tem Farmácia Popular”;

– a afirmação e avanço de uma politica de saúde mental na qual se cuida em liberdade e respeitando os direitos humanos, que passa pelo “Caminhos do Cuidado” e Consultórios na Rua até a grande expansão dos CAPS 24 horas;

– a expansão dos serviços de urgência como a Unidades de Pronto Atendimento (UPA) e o SAMU, e a criação mais recente de novos serviços e modos de cuidado como as equipes de Atenção Domiciliar do “Melhor em Casa”;

– o investimento no trabalhador, por meio do desenvolvimento da política de educação permanente e da formação no SUS, com processos educacionais diversificados para trabalhadores em nível elementar, médio, técnico e superior, com modalidades que vão de residência e mestrados profissionais para as várias profissões até a educação permanente em serviço.

– a valorização dos trabalhadores com ações de democratização das relações de trabalho; mesas de negociação; programas de desprecarização de vínculos; Programa de Valorização dos Agentes Comunitários de Saúde e de Combate às Endemias; e com a entrada do Brasil no que aqui passou a ser chamado de “Agenda do Trabalho Descente no SUS”, investindo na qualidade do trabalho, apostando na participação e combatendo todas as formas de preconceito, racismo, machismo, homofobia, discriminação e intolerância;

– o fortalecimento da participação popular e do controle social, desde o respeito aos fóruns permanentes de diálogo e decisão até as diversas Conferências nos três entes, passando pelos processos de participação, presenciais e virtuais que reforçam o real, como o SUSConecta;

– o respeito democrático e republicano nos espaços e com os entes da relação interfederativa do SUS.

Entendemos que neste momento histórico — como o foi nos anos 70 na luta do movimento sanitário contra a ditadura, pela democratização e pelo direito à saúde que resultou na proposição e criação do SUS — a luta pela saúde deve também ser a luta por democracia que se traduz em: reestabelecimento do Estado Democrático de Direito; devolução da soberania ao voto popular; e intensificação da democracia, tanto do ponto de vista da participação e controle popular sobre os eleitos e suas ações, quanto de extensão e aprofundamento da democracia às dimensões econômicas, sociais, cognitivas e culturais, para além, apenas, da política formal.

Assim como nos anos 70 quando a luta de muitos construiu o SUS, temos a responsabilidade de agora continuarmos em luta para consolidarmos as conquistas de nosso povo com o SUS num momento em que o governo golpista já anuncia que usará o argumento da crise para retirar direitos, segmentar o acesso ao SUS, desmontar programas, privatizar serviços, desvincular receitas e reduzir o financiamento, rompendo até os princípios da universalidade e gratuidade.

Em tempos de crise a direção correta deve ser a de aumentar a proteção ao cidadão, que estará mais vulnerável. Dotar o Estado com capacidade de ser mais equânime e justo, não retrocedendo ou desprotegendo a população mais vulnerável. Os movimentos, organizações e cidadãos não podem aceitar retrocessos: nenhum passo atrás! Toda resistência sem trégua a cada serviço, programa, política e direito que se queira subtrair do povo.

Por tudo isso, para nós, é impossível seguir no Ministério da Saúde. Mergulharemos na luta pela democracia; contra retrocessos nas conquistas sociais e nas políticas públicas; e pelo avanço do SUS como sistema gratuito, universal, equânime e integral, direito do povo brasileiro.

Estas bandeiras nos animam e terão que ser construídas em todos os espaços potenciais de resistência e oposição ao pretendido projeto neoliberal e de desmonte do SUS: nas lutas dos movimentos sociais, nas diversas organizações populares, nas Universidades, nos partidos e gestões progressistas.

Sempre na busca por uma sociedade mais justa e pelo Estado necessário à redução das profundas desigualdades do nosso país.

Em respeito ao nosso compromisso histórico e inquebrantável com o SUS, com o Estado brasileiro e principalmente, com o povo de nosso país, garantimos todos os recursos, informações e condições para a continuidade dos Programas que são executados.

Além disso, reforçamos a importância do compromisso dos trabalhadores do Ministério da Saúde com o SUS e com o povo, estes que sempre nos orgulharam na defesa do Direito à Saúde. Continuarão a lutar pelo avanço do SUS e seguirão legitimados pela população brasileira que usa e defende a saúde pública, gratuita e de qualidade.

Temos orgulho de termos participado do Governo da Presidenta Dilma.

Temos orgulho e convicção de nos posicionarmos ao lado do povo, da soberania do voto popular, do SUS, contra a corrupção e o consórcio de corruptos e corruptores, pela Democracia, pelas conquistas sociais e sempre em luta por uma sociedade mais justa, democrática, que respeite as diferenças e as transforme em potência, generosa, fecunda e mais feliz, sempre comprometida com o desenvolvimento de nossa gente.

Temos orgulho, convicção e prazer de, nestes termos, lutarmos por Saúde e Democracia, adiante e sempre!

Hêider Pinto, Secretário de Gestão do Trabalho e da Educação na Saúde do Ministério da Saúde (SGTES), pasta responsável pelo Mais Médicos

Eduardo Costa, Secretário de Ciência e Tecnologia e Insumos Estratégicos (pasta responsável pelo Farmácia Popular, Saúde não tem Preço, etc)

Felipe Proenço, Diretor do Departamento de Planejamento Regulação do Provimento dos Profissionais de Saúde (DEPREPS)

Erika Silveira, Coordenadora do DEPREPS

Aristides Neto, Coordenador do DEPREPS

Alexandre Medeiros, Diretor do Departamento de Gestão da Educação na Saúde (DEGES)

Robson Pitanga, Coordenador do Departamento de Gestão e Regulação do Trabalho na Saúde (DEGERTS)

Diego Alonso, Coordenador de Gestão e Projetos do Departamento de Atenção Básica

Washington Abreu de Jesus, Diretor do Departamento de Articulação Interfederativa

José Miguel Nascimento, Diretor do Departamento de Assistência Farmacêutica (DAF)

Luiz Henrique Costa, Coordenador-Geral de Assistência Farmacêutica e Medicamentos Estratégicos

18.8.15

Mais Médicos aumenta número de consultas e diminui internações


COMENTÁRIOS DO BLOG:

A matéria faz parte de um conjunto de matérias que tem saído nos veículos de comunicação abordando os resultados obtidos após dois anos do Programa Mais Médicos.

Nesta da Carta Maior, observamos o quanto é importante a questão da acessibilidade e da Atenção Básica. Aumentaram o número de consultas e reduziram-se os números de internações, uma das contas mais caras dos sistemas de saúde.

Onde tem Estratégia Saúde da Família, tem redução no uso de emergências. 

Enfim, não é possível fazer gestão em saúde, sem considerar modelos antes de discutir custeio.

O mesmo se dá na Caixa de Assistência. O Plano de Associados foi definido com uma receita fixa de 7,5% da remuneração de seus associados para custear um modelo de saúde com estrutura própria e focada na Atenção Integral à Saúde, com unidades de atendimento (CliniCassi) constituídas com equipes multidisciplinares (ESF) e com a finalidade de definir a Rede Referenciada de especialistas. O uso dos recursos é mais racional e a lógica é centrada na promoção de saúde, prevenção de doenças, recuperação e reabilitação dos participantes.

Desde que cheguei eleito à Diretoria de Saúde e Rede de Atendimento (junho/2014) tenho defendido o modelo - já votado e definido pelo Corpo Social e Banco do Brasil e não totalmente implantado - como solução de sustentabilidade do Plano de Associados. O mundo avançado sabe que o modelo é o melhor e agora até o mercado privado volta sua atenção ao modelo integrado porque o fragmentado, de gasto indiscriminado, não vem se sustentando mais.

A matéria mostra que onde o Programa Mais Médicos está funcionando em conjunto com o Programa Saúde da Família, as internações caíram 8,9%.

A título de exemplo, uma redução dessas nas internações da Cassi em 2014, fazendo promoção de saúde, equivaleria a uma economia da ordem de 131 milhões de reais.

Relatório Anual Cassi 2014, Nota 21, página 56:

Plano de Associados = R$ 802.236
Dependentes Ind.     = R$   30.767
Cassi Família             = R$ 645.556

Total 2014 = R$ 1.478.559 x 8,9% de redução = R$ 131.591.751  

Vou seguir firme naquilo que entendo ser o correto para a saúde da Cassi e dos Associados.

William Mendes
Diretor de Saúde e Rede de Atendimento 
(Matéria da Imprensa)


Entre os 14 mil entrevistados que se beneficiaram do Mais Médicos em 2014, 55% deram nota 10 ao Programa Mais Médicos, e a média geral foi 9.


Carta Maior - 14/08/15


O Mais Médicos está conseguindo melhorar o acesso à Saúde nos municípios que aderiram ao programa. De acordo com dados da Rede Observatório do Programa Mais Médicos, nos municípios onde os médicos da iniciativa atuam, o número de consultas aumentou 33%, enquanto nos demais municípios o crescimento foi de 15%.

A Rede é formada por 14 instituições, incluindo 11 universidades federais, e fez a análise sobre os dados do período de janeiro de 2013 a janeiro de 2015 com pesquisadores observadores nas cinco regiões do País. Outro aspecto do impacto do programa na saúde da população foi a redução no número de internações e comprova o que era entendimento do Ministério de que a Atenção Básica é capaz de resolver 80% dos problemas de saúde da população sem necessidade de encaminhamento a hospitais.

Para o secretário de Gestão do Trabalho e da Educação na Saúde, Hêider Pinto, é uma surpresa ter resultados na Saúde com apenas dois anos do programa. “Dois anos é pouco tempo e já temos resultados tão positivos. A tendência é que os dados sejam ainda mais importantes no futuro”, analisa.

Nos municípios do programa, entre 2013 e 2014, o número de internações caiu 4% a mais que nas demais cidades. Esse índice chegou a 8,9% nas cidades em que o Saúde da Família, com a participação de profissionais do Mais Médicos, cobre mais de 36% da população do município. A expectativa é que em 2015 mais de 91 mil brasileiros deixem de ser internados.

Hêider lembra que durante o levantamento, os pesquisadores encontraram situações em os médicos do programa faziam procedimentos que não eram comuns serem feitos em postos de saúde, como sutura e retirada de unha. “Em outros locais, foi verificada queda de internações porque a atenção básica conseguiu resolver o problema de saúde e casos em que os médicos conseguiram identificar problemas graves que precisam de tratamento hospitalar, mas não eram encaminhados por falta de profissional para diagnosticar o problema”, exemplifica.


Atenção básica

A pesquisa mostrou também que o Mais Médicos aumentou a cobertura da Atenção Básica. Atualmente, a estratégia Saúde da Família chega hoje a 134 milhões de pessoas. A estratégia é formada por equipes multiprofissionais que atendem nos postos de saúde, mas também visitam as casas das famílias atendidas. “De fato a Atenção Básica e a estratégia Saúde da Família tinha parado de crescer e com o Mais Médicos conseguiu voltar a se expandir. A cobertura da atenção básica no Brasil estava estável e não crescia justamente porque faltava médicos para compor as equipes”, lembra Hêider.

A secretária de Saúde do Município de Trindade (GO), Gercilene Ferreira, testemunhou a mudança trazida pelo Mais Médicos e o impacto que traz para a saúde da população. Ao todo, o município agora tem 30 equipes de Saúde da Família, formada por multiprofissionais e 12 delas não contavam com um médico. Outras tinham médicos com carga horária reduzida (20 ou 30 horas semanais), e ainda permaneciam por alguns meses e iam embora. “Nós não conseguíamos atingir o objetivo da estratégia de criar um vínculo com a comunidade”, lembra.

Ela conta que, em 18 anos de serviço público, via o que geralmente ocorria nos municípios brasileiros, onde os prefeitos ofereciam salários altos, faziam concessões de horário, tudo para conseguir um médico. “Nosso município (Trindade) é próximo à capital Goiânia e mesmo assim tínhamos um déficit de 12 médicos”, conta. O município de Trindade tem 120 mil habitantes e ainda uma população 140 mil flutuante por causa do turismo religioso.


Trindade

A secretária Gercilene Ferreira lembra um exemplo de como a Atenção Básica pode diminuir o fluxo para os prontos-socorros. Foi durante o período chuvoso, quando houve aumento no número de casos de dengue. “Nós fazíamos nos postos de saúde o atendimento desses casos com hidratação, por exemplo, e não precisava mandar o paciente para a emergência”, conta.

O programa garantiu 16 médicos e o reconhecimento da comunidade. “Esse programa veio para ficar e a gente precisa dessa continuidade. As coisas que dão certo precisam ficar”, reforça.

Um dos médicos que atende esta comunidade é o gaúcho Luis Adriano Raiter formado em Madri, onde trabalhava e vivia com a mulher (também médica do Mais Médicos) e os filhos. Ele atende uma média de 400 pacientes mensalmente no consultório e faz visitas semanais. Nestes dois anos viu situações que o emocionaram, como de mães gestantes com último trimestre de gravidez sem nunca ter feito um pré-natal. “Tive uma paciente gestante que descobriu aos sete meses de gestação que estava com diabetes gestacional”, lamenta. A diabetes gestacional oferece risco de vida para mãe e para o bebê. “Queremos ficar no programa, completar os três anos e renovar por mais três”, conta.


Avaliação da UFMG

Estudo da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e Instituto de Pesquisas Sociais, Políticas e Econômicas (Ipespe), encomendado pelo Ministério da Saúde, aponta que a melhoria dos serviços também foi sentida pela própria população e pelos gestores locais. Entre os 14 mil entrevistados em 2014, 55% deram nota 10 ao Programa Mais Médicos, e a média geral foi 9. Além disso, 85% disseram que a qualidade do atendimento médico está melhor ou muito melhor, 87% apontaram que a atenção do profissional durante a consulta melhorou e 82% afirmaram que as consultas passaram a resolver melhor os problemas de saúde. Os gestores deram nota 8,4 para a assistência à saúde em seus municípios e 91% acharam que os serviços melhoraram.


A infraestrutura na Atenção Básica também mostrou avanços significativos: 91% dos municípios do Brasil receberam repasse de recursos do Ministério da Saúde para construir novas UBS e qualificar a rede de unidades existentes por meio de obras de reforma e ampliação. Do total de 38 mil UBS avaliadas pelo Programa Nacional de Melhoria do Acesso e da Qualidade da Atenção Básica (PMAQ), ou seja, mais de 90% do total de unidades do Brasil, 71% passaram ou estão passando por obras de qualificação, sendo 77% com financiamento do Governo Federal.


Fonte: Carta Maior / Portal Brasil, com informações do Ministério da Saúde.

14.8.15

SUS - Público e Universal (parte II)


(Matéria da Imprensa)


Cai a proposta de cobrar no SUS. Se levada adiante, haveria um SUS para os que podem pagar e outro, dos indigentes, denuncia Ana Costa

Publicado em 12 de agosto de 2015 às 15:05


Por: Conceição Lemes

Nessa segunda-feira 10, o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), encaminhou ao Planalto a chamada Agenda Brasil.

São 28 medidas para enfrentar e superar a atual crise econômica. Entre elas, “avaliar possibilidade de cobrança diferenciada de procedimentos do SUS por faixa de renda. Considerar as faixas de renda do IRPF [Imposto de Renda de Pessoa Física]”.

“Essa proposta do Renan submete o direito à saúde ao capital e ao mercado”, denuncia a médica Ana Maria Costa, em entrevista exclusiva ao Viomundo. “Se levada adiante, é o fim do SUS.”

Ana Maria Costa é presidente do Centro de Estudos em Saúde (Cebes), professora da Escola Superior de Ciências da Saúde-ESCS/DF e coordenadora geral da Alames (Associação Latino-americana de Medicina Social).


Confira a íntegra da nossa entrevista (veja o PS do Viomundo, ao final).

Viomundo — Passava pela cabeça da senhora que, entre as medidas para reverter a atual crise econômica do País, fosse proposto o pagamento da assistência no SUS?

Ana Costa — A pauta liberal está sobre a mesa e a crise é cenário para seu protagonismo, tal como estamos assistindo. O ajuste econômico proposto pelo ministro da Fazenda, Joaquim Levy, e assumido pelo governo federal, evidencia isso.

A tentativa de amortecer o golpe político pressiona o governo a adotar medidas antipopulares que só interessam aos atores golpistas. Isso se refere tanto ao pagamento de assistência no SUS como às demais propostas no pacote de propostas do Senado Federal, todas elas lesivas aos direitos sociais, distantes dos interesses do povo e favoráveis ao agronegócio, ao mercado e ao capital.

Na verdade, já não sabemos mais o que esperar. O certo — e isto deve ser denunciado e alertado ao governo federal — é que o direito à saúde está sendo dilapidado continuamente. Isso, a curto prazo, terá consequências gravíssimas na sociedade e na economia.


Viomundo — Que consequências?

Ana Costa — Nossa condição demográfica e epidemiológica exige melhorias e ampliação do SUS e não o seu desmonte. Traduzindo. Com o envelhecimento progressivo da população, o povo brasileiro, cada vez mais, precisará do SUS para cuidar das condições crônicas de saúde, que, inclusive, não interessam ao mercado privado de saúde.

E as coisas não andam bem. De um lado, por meio de subsídios, renúncia fiscal e autorização para a ação do capital estrangeiro, o país expande a mercantilização da saúde e a financeirização do setor. Do outro, o conjunto de medidas adotadas no último ano agrava ainda mais o persistente subfinanciamento do SUS e compromete a sua sobrevivência.

Enquanto isso, propostas como a taxação das grandes fortunas — adotada pelos países capitalistas centrais! — não ganham espaço político. Nem passam por aqui, onde os donos do capital não querem perder nem serem solidários com a sociedade. A voracidade acumulativa dessa parcela da sociedade é compatível com a barbárie em termos civilizatórios.

O pagamento à assistência no SUS representa a segmentação dentro do sistema público de saúde, que foi criado para ser universal e integral.


Viomundo – Segmentação significaria ter um SUS de primeira, segunda e terceira classes…

Ana Costa – O SUS foi concebido sob os valores coletivos de solidariedade e igualdade, próprios do modelo de proteção social criado pela Constituição de 88. Valendo-se do financiamento de cada cidadão, por meio de impostos, de acordo com sua capacidade contributiva, todos têm o direito de usar igualmente o sistema, conforme suas necessidades de saúde e nunca mediante o critério de sua capacidade de pagar.

Segmentar é deixar de ser inteiro, único, ser partido, fraturado. Um SUS para os que pagam e outro, para os que não podem pagar. Um SUS diferente do outro, naturalmente. Insisto: esse caminho cria vícios e privilégios na rede de serviços e nos modos de atender e ser atendido… Rompe com os princípios da universalidade e integralidade sob os quais o SUS foi concebido.

São perdas de direitos.O Brasil perde muito de um sistema que tem melhorado a saúde no país, apesar de todas as suas dificuldades.


Viomundo – A dupla porta nos serviços públicos de saúde começou no Estado de São Paulo e hoje lamentavelmente está disseminada pelo País. Ou seja, eles atendem o público e o privado, seja por meio dos planos de saúde, seja particular, mesmo. A proposta do Renan significa a dupla porta dentro dos serviços que atendem os próprios pacientes do SUS?

Ana Costa – Lamentavelmente, sim… A dupla porta é uma estratégia perversa e movida pela introdução de uma ética privada no processo de atenção e de cuidado à saúde. Ela decompõe o caráter da relevância publica que a saúde assume na Constituição de 1988.

A dupla porta opera exatamente assim: uma, de baixa qualidade, mais precária, para os que não podem pagar. E outra, melhor – com mais segurança, tecnologia e qualidade – aos que pagam. O que fica ainda mais patente é que as forças, que querem ampliar o mercado da saúde, se omitem quanto ao debate consequente sobre o financiamento adequado do SUS.

Se já é crítica a situação da segmentação setorial na saúde hoje presente na perversa condição de convivência entre setor público e privado, essa proposta do pacote do Renan institui o pagamento no SUS “aos que podem pagar”. Logo, piora ainda mais a vida da população.


Viomundo – Em termos práticos, o “piora ainda mais” vai representar o quê?

Ana Costa — Piora ainda mais, porque segmenta o SUS. Separa um SUS com melhores serviços e maior segurança e garantias aos que podem pagar e outro, aos indigentes, não pagantes. Esses vícios nos serviços e no sistema são a pá de cal no projeto constitucional para a saúde.

Essa proposta do Renan deixa claro de qual lado estão os seus proponentes, que seguramente não é o dos interesses públicos e coletivos.


Viomundo — Essa proposta significa o fim do SUS, como estabelecido na Constituição de 1988?

Ana Costa – Objetivamente, sim. Ao longo das quase três décadas de implantação do SUS têm ocorrido muitos problemas e sabotagem à sua consolidação. Entretanto, uma multidão de gestores, conselheiros, trabalhadores, usuários e movimentos sociais tem impedido mais retrocessos.

O pagamento não apenas exclui, mas cria segmentos de classe de usuários do SUS. Isso gera, como você bem já observou antes, tipos diferentes de atendimentos diferentes… Atendimento de primeira categoria, de segunda…

Pagar o SUS é medida que ainda impulsiona o setor de planos de saúde por, pelo menos, duas vias.

Primeiro, o usuário do SUS perguntará: por que usar e pagar o SUS se na sua avaliação seria melhor pagar um plano?

Segundo, seria a situação que comentamos acima: o do uso do SUS como solução de atendimento aos casos que não dão lucro aos planos privados de saúde. Por exemplo, os idosos com problemas crônicos de saúde.


Viomundo – Doutora, curiosamente, na agenda do Renan não há nenhuma proposta para fazer com que os planos de saúde ressarçam ao SUS pelos atendimentos nos serviços públicos.

Ana Costa – Bingo! Embora o governo diga que quer cobrar devidamente os serviços que o SUS presta a clientes de planos de saúde, esse processo tem sido muito lento e custoso. Por isso, o ressarcimento dos planos de saúde aos cofres públicos ainda é irrisório…

Além disso, o governo ainda perdoa dívidas das operadoras de planos de saúde. Os eleitos com apoio das empresas de seguro privado de saúde têm sido bastante corretos no cumprimento dos compromissos assumidos perante elas. Não se sentem nenhum pouco culpados ao preterir os interesses públicos.

É esquecimento da agenda do Renan não haver nenhuma proposta para fazer com que os planos de saúde ressarçam ao SUS pelos atendimentos nos serviços públicos? Ou vale a lógica de proteger o capital, no caso os donos das empresas de planos de saúde?

O setor privado dos planos cresce sempre acima da economia do país e as operadoras ainda reclamam dos lucros. Até quando o setor não vai ser devidamente regulado? O governo federal precisa decidir também e estabelecer até quando e quanto deve crescer o mercado de planos privados de saúde. Já está enorme, com quase 60 milhões de pessoas.


Viomundo — A partir de agora o que fará o Cebes em relação a essa proposta indecente, que mais uma vez privilegia o capital, os mais ricos, e ferra os mais pobres?

Ana Costa -- Estamos mobilizando forças, ampliando alianças, discutindo e apostando na mobilização da sociedade e no bom senso do governo Dilma para ele não entrar para a história como o governo que retrocedeu os direitos sociais e trabalhistas ao período pré-Constituição 1988, a Constituição cidadã.

As instituições e a legislação conquistadas não podem servir apenas para estruturar o sistema de saúde, mas também para proteger o direito à saúde de qualquer ameaça.

Assim, aproveito esta entrevista, para conclamar gestores do SUS, Ministro e secretários de Saúde, Conselhos de Saúde, profissionais de saúde, trabalhadores, usuários e movimentos sociais a se manifestarem contra o pagamento da assistência no SUS.

É hora de defendermos o SUS e, ao mesmo tempo, avançarmos na solução de seus crônicos problemas, particularmente os relativos ao financiamento estável, portanto vinculado e suficiente.


PS do Viomundo: Após ter recebido muitas críticas, inclusive de setores do próprio governo, a proposta do senador Renan Calheiros (PMDB-AL) de cobrar pelo uso de serviços do SUS foi retirada da lista de medidas da Agenda Brasil, na noite desta quarta-feira, 12 de agosto. Ontem, terça-feira, o ministro da Saúde, Arthur Chioro, já havia afirmado que ela não era viável.

Fonte: Vi o mundo

13.8.15

Em dois anos, cubanos ganham preferência a médicos brasileiros


COMENTÁRIO DO BLOG: 

A matéria está muito boa. Peço atenção para alguns depoimentos dados pelos médicos cubanos comparando o sistema brasileiro e o de Cuba. Aqui tem tecnologia e grande aparato de máquinas, mas não há acesso a eles para todos através da rede pública, ou para quem não tem dinheiro ou plano de saúde. Lá todos têm acesso, mas não há dinheiro em Cuba para tantos aparelhos como aqui. Acessibilidade é fundamental.

Outra coisa, anamnese e exame físico aos pacientes: é a questão do olhar da medicina feita para humanos e focada nos humanos e não somente na questão vista como negócio, ganhar dinheiro com a doença dos humanos ou criação de desejos (e não necessidades em saúde). Uma boa avaliação do paciente é fundamental para os passos seguintes.

Queremos aprofundar na Cassi o modelo que funciona melhor na maior parte do mundo, com atenção primária e uso mais racional dos recursos e das tecnologias. É assim em grandes países do capitalismo como Canadá e Inglaterra, bem como em países com menos condições financeiras como em Cuba.

William Mendes
Diretor de Saúde e Rede de Atendimento



(Matéria da imprensa)

Em dois anos, cubanos ganham preferência a médicos brasileiros


Carlos Madeiro

Do UOL, em Craíbas e Girau do Ponciano (AL), 11/08/15


No consultório da médica cubana Alba Marina Hernandez, na pequena Craíbas, no semiárido de Alagoas, o paciente que chega para ser atendido percebe logo uma diferença: a cadeira reservada a ele está ao lado da doutora e não separada por uma mesa. "Quero a cadeira perto de mim porque é melhor, eu quero tocar na pessoa, olhar no olho, de perto. O paciente sente mais confiança. A medicina é humana, é importante ter essa relação mais próxima", afirma.

O atendimento mais próximo é uma das marcas implantadas pelos médicos cubanos. Há dois anos no Brasil, eles ganharam carisma e a confiança de grande parte da população. Segundo uma pesquisa recente feita pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), que entrevistou 14 mil pessoas em 700 municípios do país entre novembro e dezembro de 2014, os médicos do Mais Médicos (sendo que os cubanos são 11.429 dos 14.462 médicos do programa) receberam, em média, a nota 9 pelo atendimento. 55% dos entrevistados deram nota máxima ao programa. Outros 77% garantiram que tiveram boa comunicação com os médicos e 87% elogiaram a atenção e qualidade do atendimento ao paciente.

O mesmo cenário é visto em Girau do Ponciano, também no semiárido de Alagoas. O município foi um dos primeiros a receber os médicos cubanos do programa Mais Médicos, em setembro de 2013.

No posto de saúde onde a médica Madelyn Guerra Sanchez trabalha, a procura é maior que de outras unidades da cidade. "As pessoas vêm à procura do atendimento dela, não querem mais os brasileiros. Os brasileiros sempre saem mais cedo, faltam ao trabalho. Ela, não. Examina sempre, atende com mais proximidade. É diferente", conta Celiane Ferreira Gomes, técnica de enfermagem da unidade.

Inicialmente, Sanchez foi enviada a Traipu, também em Alagoas, mas teve problemas e acabou deixando a cidade para ir até Girau do Ponciano, onde "se encontrou" no Brasil. "Quando cheguei lá [em Traipu], muitos me disseram que nunca receberam visita de um médico, muitos tinham problemas acumulados. Aos poucos as pessoas foram nos procurando e fomos resolvendo. Aqui também está sendo muito exitoso", disse.

A médica conta que deixou Cuba quando seu filho tinha um ano e oito meses. Em novembro, ela deve deixar o país em definitivo para voltar a cuidar do filho. Diz que terá boas lembranças do Brasil, mas se recorda das dificuldades que passou logo ao chegar.

"Tentaram nos desacreditar pela língua, mas não conseguiram. Sabíamos que a língua no começo seria um desafio, principalmente com os idosos. Mas contamos com o apoio muito grande da equipe de saúde e hoje conseguimos nos comunicar. Acho que vencemos, e somos um médico a mais aqui", afirma.

Para a médica Idalis Rivero, que atua na comunidade rural de Folha Miúda, em Craíbas, a vinda ao Brasil é tratada como missão. Ela deixou a filha de 14 anos e o marido professor em Cuba. "Claro que a escolha de vir tem o lado financeiro, mas mais que isso: lá, desde cedo, somos ensinados a ajudar as pessoas. Vim por isso", diz.

"Nunca tivemos dúvidas de que iríamos fazer um trabalho bem feito. A medicina é a mesma em todo lugar, e na América os problemas são parecidos. Em vez de tantos questionamentos à nossa capacidade, a sociedade médica daqui deveria se preocupar em fazer valer o código de ética, de ajudar mais as pessoas. Aqui se pensa demais em dinheiro", afirma o médico Angel Luis Martinez. O médico divide com o primo Alexeis Farinas a missão de atender à população do distrito de Canafístula do Cipriano - pertencente a Girau do Ponciano e onde moram 6 mil pessoas.

Alexeis analisa que a saúde pública brasileira tem diferenças marcantes do sistema cubano. "Falta acessibilidade. Aqui se tem excelentes equipamentos, que Cuba, por ser pobre, não tem. Mas de que adianta ter se as pessoas não têm acesso sempre ao médico? Aqui a acessibilidade à saúde é muito difícil para quem não tem dinheiro. Lá, não é assim: todos têm acesso rápido e gratuito", revela.


Pacientes e gestores elogiam

Segundo o Ministério da Saúde, 11.429 médicos cubanos atuam hoje no país. Desde que começaram a chegar, 56 desistiram e retornaram. O tempo de permanência previsto para esses profissionais no país é de três anos.

Durante a visita a cinco pontos de trabalho dos cubanos, no semiárido alagoano, todos os pacientes ouvidos elogiaram muito os serviços. "O trabalho dela é ótimo. Antes sofríamos bastante com a falta de médicos, que iam embora cedo, não atendiam bem. Ela dá mais atenção, e todo mundo gosta", conta Poliana Menezes da Silva, 27.

A gestante Karleane Alécio Santos, 35, está fazendo o pré-natal com a médica Madelyn Sanchez. "Ela é muito boa, entendo tudo que ela fala, é muito atenciosa. Não tenho do que reclamar", diz.


CFM discorda

Na avaliação do presidente do Conselho Federal de Medicina (CFM), Carlos Vital, faltou planejamento para que a chegada dos médicos estrangeiros trouxesse maior assistência à população de áreas de difícil fixação de profissionais. "Houve uma diminuição das consultas médicas em 25% dos municípios cadastrados e uma distribuição sem prioridade às áreas de pouca ou nenhuma assistência", disse.

Segundo Vital, uma auditoria do TCU (Tribunal de Contas da União) apontou que os cubanos passaram a ocupar o lugar dos brasileiros. "Em 49% dos primeiros locais atendidos pelo Programa, com a chegada dos bolsistas, houve a dispensa de médicos anteriormente contratados. Por isso, em torno de um ano, tais localidades tinham menos profissionais cadastrados na rede pública", afirmou.

Outro questionamento do CFM é quanto à qualidade do serviço prestado pelos profissionais. "As referências de maior gravidade surgiram quando 17,7% dos 'supervisionados' admitiram que a falta de conhecimento dos protocolos clínicos conturbou os diagnósticos e terapêuticas e quando 50,3% desses profissionais revelaram ter entrado em contato com o supervisor para dirimir dúvidas sobre o atendimento", avalia.

O CFM alegou ainda que 10% dos supervisores acompanhavam mais de dez participantes e outros 10% tinham carga de atividades acima de 81 horas semanais. O Conselho denunciou também que 95 profissionais foram inclusos após serem reprovadas por não atingirem nota mínima de língua portuguesa e de saúde.

"Em síntese, as conclusões do Tribunal, aliadas às recentes denúncias da imprensa de que o Governo brasileiro teria manipulado o Programa em sua concepção para beneficiar Cuba, determinam a urgente necessidade de revisão dessa estratégia", conclui.

Vital ainda refuta à tese de que os médicos brasileiros se negam a trabalhar em áreas remotas. "Os médicos brasileiros estão dispostos e interessados em ocupar as áreas de baixa cobertura assistencial, "Está provado que – quando há estímulo - o médico brasileiro está pronto e disposto a atuar em todas as localidades, sem distinção", concluiu.



Fonte: UOL