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5.3.25

E o "Bem Cassi" terceirizado lá de 2020? Deu em quê?


Apresentação do blog:

Escrevi sobre o plano "Bem Cassi", modelo de terceirização da atividade-fim da Caixa de Assistência (Cassi), faz mais de 4 anos (em 09/12/20). Como está o plano na atualidade? E o projeto? Ao reler o que escrevi em 2020 me parece que as preocupações que apresentei seguem atuais.

William


"Viver é muito perigoso... Querer o bem com demais força, de incerto jeito, pode já estar sendo se querendo o mal, por principiar. Esses homens! Todos puxavam o mundo para si, para o concertar consertado. Mas cada um só vê e entende as coisas dum seu modo." (ROSA, 2001, p. 32/33)


OPINIÃO


A Cassi apresenta projeto que claramente visa terceirizar o que a Caixa de Assistência tem de melhor, a Atenção Primária e a Estratégia de Saúde da Família, desenvolvidas através das CliniCassi, essência do modelo assistencial que possibilitou o menor custo assistencial de participantes vinculados à ESF em graus complexos de necessidades mesmo nas maiores faixas etárias. Ao invés de ampliar o modelo próprio, de baixo investimento e de bom custo-benefício, direção opta por terceirizar a atividade-fim da Cassi, uma triste escolha ideológica


Terceirização é uma praga! O capitalismo parece invencível, mesmo sabendo que a vida é a grande derrotada com a vitória do modo de produção capitalista, cujo foco absoluto é o lucro e a mais-valia dos explorados em benefício de pouquíssimos humanos. Com a hegemonia do capitalismo neoliberal tudo na sociedade humana gira em torno desse sistema de acumulação de tudo nas mãos de poucos. A terceirização faz parte dessa lógica.

Sinceramente, eu não sei como começar esse artigo. Perdi o jeito para tratar de assuntos mais técnicos como fiz ao longo de muitos anos ao falar de saúde e de sistemas de saúde como gestor eleito de uma autogestão dos trabalhadores, enfim, enquanto meu lugar de fala foi como diretor de saúde da Caixa de Assistência dos Funcionários do Banco do Brasil (jun/2014 a mai/2018) escrevi mais de 600 textos a respeito dos temas de interesse dos trabalhadores na área de saúde. Aliás, eu tinha um público preferencial como leitor: os formadores de opinião, lideranças e representantes dos associados da Cassi, trabalhadores da ativa e aposentados do BB.

RESPEITO A OPINIÃO DE QUEM PENSA DIFERENTE

Em primeiro lugar, quero registrar que minha opinião sobre esse processo de terceirização da atividade fim da Cassi é uma opinião respeitosa, feita no plano das ideias. Eu conheço parte dos colegas que estão na gestão de nossa Caixa de Assistência, e respeito a opinião deles. Sou defensor ardoroso da ampliação da ESF para o conjunto dos participantes Cassi, todos sabem disso. 

A questão de minha divergência é quanto à estratégia adotada de terceirizar a essência da Cassi. Vejo com muita preocupação isso, tanto no presente quanto no futuro. A epígrafe inicial, do personagem Riobaldo Tatarana, traz sabedoria e um alerta aos defensores da APS/ESF na Cassi: "Querer o bem com demais força, de incerto jeito, pode já estar sendo se querendo o mal, por principiar".

NÃO SE ABRE À CONCORRÊNCIA O QUE SE TEM DE MAIS PRECIOSO

Certa vez, ainda jovem, quando participava de estudos sobre autoconhecimento, aprendi que os seres humanos seriam julgados nos finais dos tempos ou no dia do julgamento final - dependendo de como cada um vê essas questões metafísicas - os humanos seriam julgados de acordo com o conhecimento que tinham, de acordo com o que fizeram ou que não fizeram quando poderiam ter feito. Os mestres diziam aos estudantes que quanto mais conhecimentos adquiríamos, maior seria o peso do julgamento de nossos erros porque não poderíamos alegar ignorância ("não-saber", no sentido respeitoso) e desconhecimento das coisas. Nesse sentido, ignorância seria uma benção!

Sinto que tenho que registrar minha opinião sobre o projeto de terceirização da atividade-fim da Cassi, o "Bem Cassi", piloto lançado em Curitiba (PR) nesta conjuntura de "novo normal" do mundo sob pandemia de Covid-19 e sob a fase capitalista atual, que muitos intelectuais chamam de necrocapitalismo. Eu não tenho informações detalhadas e "técnicas" a respeito do projeto "Bem Cassi"; a informação que tenho é a propaganda do lançamento dele, que vi hoje em um vídeo de 4 minutos e que li no hotsite do projeto. A Cassi vai ampliar a APS/ESF através de duas empresas terceirizadas. De novo, cito Riobaldo Tatarana do Grande Sertão: Veredas: "Eu quase que nada não sei. Mas desconfio de muita coisa". (ROSA, 2001, p. 31)

MINHA OPINIÃO RESPEITOSA É BASEADA NO CONHECIMENTO ADQUIRIDO POR EXPERIÊNCIA NA GESTÃO DA CASSI

Durante 4 anos, eu tive a oportunidade de conhecer a autogestão dos funcionários do Banco do Brasil, a Cassi. Estudei sua história de quase oito décadas. Quase não dormi por 4 anos, pois tive que intercalar os percalços da escolha das estratégias que adotamos no planejamento do mandato: estudar as questões técnicas do sistema Cassi, participar dos fóruns deliberativos internos (milhares de súmulas, notas e documentos), estar nas bases formando e informando os participantes. Em síntese, seria:

1. Estudar a Cassi (tudo: história, processos, pontos fracos, pontos fortes, desafios, soluções, essência da associação, modelo assistencial, modelo de custeio, responsabilidades de cada um: os associados, o patrocinador, a própria Cassi e seu corpo de profissionais, os "parceiros" no mercado privado que vendem serviços caríssimos e nem sempre adequados etc). 

2. Manter os direitos dos associados: solidariedade no custeio entre participantes jovens e idosos, sãos e adoecidos, de baixa renda e com remuneração/benefícios maiores, da ativa e aposentados (ex-colaboradores segundo o patrão) e com o patrocinador assumindo a parte dele na proporção estatutária 40/60 no custeio do plano para todos (ativos e aposentados), enfim: solidariedade plena para todos poderem estar no Plano de Associados por toda a vida. 2.1. Manter a democracia na associação: pesos iguais na gestão entre patrocinador BB e associados para tomada de decisões; aumentar a participação dos associados através de envolvimento nos conselhos de usuários, sindicatos, associações, conferências de saúde, parcerias entre unidades do BB nos Estados e Unidades Cassi/CliniCassi (PCMSO, ESF, Convênios, canais de solução locais).

3. Informar e formar a base associada com conceitos básicos sobre a Cassi, o que era a Caixa de Assistência, seu modelo assistencial, os direitos em saúde maiores que os de planos de saúde de mercado, e buscar colocar os intervenientes do sistema Cassi no mesmo objetivo: fortalecer a Cassi perante o mercado privado prestador de serviços e consumidor dos recursos da Caixa. Fizemos mais de 600 matérias a respeito, mais de 40 boletins mensais; 53 conferências de saúde que contaram com milhares de associados, 65 reuniões presenciais com os conselhos de usuários e dezenas de visitas às unidades Cassi e CliniCassi e entidades representativas nos Estados.

DIVERGÊNCIA ENTRE CAPITAL E TRABALHO É NORMAL QUANDO SE TRATA DE DEFINIR AS RECEITAS E AS FORMAS DE RATEIOS DA ASSISTÊNCIA MÉDICA DE UMA COLETIVIDADE

Como representantes dos trabalhadores, tivemos que defender a Cassi e os direitos dos associados diuturnamente, ora porque chegavam propostas "técnicas" (e políticas) que de alguma forma eram desfavoráveis aos associados (principalmente querendo onerar mais os associados e dependentes e/ou reduzir os recursos e custos que o patrocinador tinha obrigações de investir), ora porque as propostas eram prejudiciais à essência do que era a Caixa de Assistência - uma autogestão de trabalhadores, baseada na Atenção Integral à Saúde, cujo modelo assistencial se desenvolvia através de unidades próprias de Atenção Primária em Saúde (APS) e Estratégia de Saúde da Família (ESF), com programas de saúde que se adequavam às estratégias do modelo. Junto a esse modelo de Atenção à Saúde dos associados, tínhamos um convênio exitoso de saúde do trabalhador (PCMSO) que atuava na saúde de 100 mil funcionários do Banco do Brasil. Os dois sistemas convergiam na busca de saúde coletiva da comunidade BB em todo o território nacional.

Para defender a Cassi e seu modelo assistencial, tivemos que desfazer uma quantidade absurda de mal-entendidos, desinformações e ignorâncias (não-saberes), lugares comuns e, às vezes, até mentiras (fake news). O próprio patrocinador, através de alguns de seus representantes à época, contribuía para desinformar os participantes da ativa e aposentados (e suas entidades representativas) quando sugeria que o modelo assistencial da Cassi não era eficiente, que as Unidades Cassi e CliniCassi não atendiam seus objetivos, que a estrutura da Cassi era cara e onerosa etc. Inclusive, o patrocinador atuou fortemente na desconstrução dos direitos estatutários dos associados na gestão da associação, dizendo que a autogestão não tinha mecanismos de decisão adequados. Lógico que aqui estamos falando que a "grita" do banco era quando a Cassi não aprovava as propostas mais favoráveis ao patrão/patrocinador e contrárias aos interesses dos associados.

CONSEGUIMOS UNIR A COMUNIDADE BANCO DO BRASIL NA DEFESA DO MODELO ASSISTENCIAL, DA ESTRUTURA PRÓPRIA DE SAÚDE E DOS PROFISSIONAIS DA CASSI. PROVAMOS QUE A ESF REDUZ O CUSTO DO SISTEMA, MESMO COM POPULAÇÃO MAIS IDOSA

Por 4 anos, mesmo sem recursos financeiros e materiais adequados, fomos grandes incentivadores dos profissionais da Cassi, principalmente das áreas de saúde, para que seguissem atuando naquilo que mais tinham perfil para atuar: desenvolver estratégias para ampliar o modelo de saúde APS/ESF, a promoção de saúde e prevenção de doenças, o acompanhamento dos participantes crônicos, a recuperação dos pacientes adoecidos e agravados etc. Basta ver que ampliamos em mais de 20 mil o número de cadastrados na ESF. A Cassi desenvolveu estudos nunca feitos nos planos de saúde que apresentaram resultados das vantagens do modelo de APS/ESF numa população relativamente estável ao longo do tempo no Plano de Associados e nos crônicos do Cassi Família. Colocamos todos os intervenientes na mesma direção para defender o modelo assistencial da Cassi.

Além disso, também desfizemos os mal-entendidos e as bobagens que se falavam da estrutura de saúde da Cassi, Unidades Cassi, CliniCassi, quadro próprio de profissionais do sistema de Atenção Primária/ESF e PCMSO. O custo administrativo da estrutura Cassi era o menor do setor de saúde brasileiro, em relação às empresas similares de autogestão, das medicinas de grupo e das cooperativas médicas. Uma estrutura absolutamente eficiente ao se comparar o custo-benefício. E isso com a Cassi tendo a maior quantidade de idosos do setor no país! Os recursos do sistema Cassi (mais de 90%) são gastos nos prestadores através das internações, e grandes despesas assistenciais com materiais, exames etc. Os recursos são gastos na estrutura de 2º e 3º graus e de apoio na rede privada.

A estrutura de Atenção Primária da Cassi, com quase 150 equipes de família nas 66 CliniCassi e 27 unidades Cassi, e a estrutura de medicina do trabalho (PCMSO) era e é muito barata e deveria ser ampliada ao longo dos anos para poder reduzir o custo assistencial na compra de serviços de saúde na rede prestadora daquilo que não era possível fazer na estrutura primária da Cassi. A direção e os associados poderiam avaliar diversas formas de verticalização ou parcerias para atendimento das demandas de segundo e terceiro graus e estruturas de apoio à saúde. Isso é normal e faz parte das estratégias de gestão.

A autogestão Cassems dos servidores do Estado do Mato Grosso do Sul, por exemplo, é um caso exitoso de verticalização própria de hospitais pequenos e médios nos interiores do Estado, e também laboratórios e clínicas, inclusive de Atenção Primária. Nós propusemos ampliar a estrutura própria da Cassi de Atenção Primária e ampliar os serviços nas CliniCassi, inclusive criando estruturas para especialidades, para dar sequência no atendimento primária da ESF. O investimento era baixíssimo, se comparado com o custo assistencial dos participantes na rede privada em serviços similares. A estrutura própria de saúde da Cassi é eficiente e de baixo custo administrativo. Isso é fato.

A TERCEIRIZAÇÃO É GRANDE RESPONSÁVEL PELA CONCENTRAÇÃO DE RECURSOS A POUCOS E PELA EXCLUSÃO DO ACESSO A DIREITOS POR PARTE DA CLASSE TRABALHADORA 

Tem uma reflexão do historiador Eric Hobsbawm, contida no livro A era dos extremos, que ilustra bem o que estamos vivendo neste momento da história humana em relação à superexploração do trabalho através de terceirização, quarteirização, uberização, privatizações transformando direitos em serviços etc:

"(...) De qualquer modo, o custo do trabalho humano não pode, por nenhum período de tempo, ser reduzido abaixo do custo necessário para manter seres humanos vivos num nível mínimo aceitável como tal em sua sociedade, ou na verdade em qualquer nível. Os seres humanos não foram eficientemente projetados para um sistema capitalista de produção. Quanto mais alta a tecnologia, mais caro o componente humano de produção comparado com o mecânico." (HOBSBAWM, 2006, p. 404)

Já estamos superando até os cabeças de planilha do sistema capitalista, aqueles que planilham tudo para cortar custos diariamente e aumentar os resultados das empresas (tudo é empresa, e tudo visa eficiência operacional "em tese"). Os próprios trabalhadores são destacados para direcionar os clientes/usuários aos novos serviços tecnológicos que irão cortar os postos de trabalho deles mesmos. 

Um exemplo disso no setor de saúde é a panaceia chamada de "telemedicina", que virou uma espécie de "Emplasto Brás Cubas" para curar todos os males da humanidade. Uma coisa seria a telemedicina auxiliar os processos de saúde durante a crise humanitária da pandemia de Covid-19 ou como sequência de um atendimento já com histórico do paciente; outra coisa é substituir o acolhimento presencial das pessoas por "telemedicina" como começa a surgir no mercado dos serviços de saúde.

Nos bancos, os bancários foram obrigados a empurrar os clientes para terminais de autoatendimento, serviços telefônicos e terceirizadas ao lado do banco. Os trabalhadores com direitos trabalhistas coletivos históricos são demitidos e convidados a serem eles mesmos "empresas" e isso deu nos uberizados do mundo. Os donos de tudo ficam mais bilionários e os trabalhadores mais miseráveis e sem nada. Como diz Hobsbawm, os trabalhos dos seres humanos estão ficando mais caros que qualquer processo por máquina e até os centavos gastos com uberizados têm que ser reduzidos... 

A INTENÇÃO PODE SER BOA, MAS TERCEIRIZAÇÃO DA ATIVIDADE-FIM DA CASSI É UMA OPÇÃO RUIM E TALVEZ SEM VOLTA, CASO SE ABRA MÃO DA ESTRUTURA DE SAÚDE DA CAIXA DE ASSISTÊNCIA

Durante 4 anos de mandato fizemos "loonngos" debates com as representações do patrocinador/patrão contestando e refazendo cálculos de planilhas sobre as Unidades Cassi, as CliniCassi (eram eficientes ou não?), o quadro de profissionais da Cassi (eficientes e preparados ou não?); apresentávamos outro ponto de vista e em muitos casos convencemos os colegas com argumentos consistentes como a eficiência da ESF, como o baixo custo administrativo da Cassi, dentre outros. Discordei de todas as propostas nas quais o Banco poderia deixar de custear os aposentados, ou cobrar mais de quem usasse mais o sistema Cassi, quebras de solidariedade, redução de direitos em saúde etc. 

No entanto, a hegemonia do capital e do mercado é uma praga! É sempre assim! Enquanto se veem com maus olhos qualquer investimento em estrutura própria (ou despesa administrativa), que poderia trazer economias importantes de milhares e milhões de reais em despesa assistencial na compra de serviços caros na rede privada, o foco das discussões acaba sendo repetidamente desviado para o custo administrativo e as supostas vantagens em contratar ou fazer fora o que se poderia fazer na própria autogestão. E daí vem a solução mágica do mercado: TERCEIRIZAÇÃO, com os nomes mais perfumados possíveis.

Por 4 anos, ouvi dos mais diversos setores, dirigentes e profissionais da Cassi que tínhamos razão em quase tudo que discutíamos sobre ampliar a APS/ESF e a estrutura de saúde do modelo assistencial Cassi. A questão era a época errada para aquela discussão: não tínhamos recursos na Caixa por causa dos déficits recorrentes e subfinanciamentos do sistema. E agora? A escolha por terceirizar a atividade-fim do modelo assistencial da Cassi é por falta de recursos? Não me parece.

É isso! Para quem está fora dos debates há mais de dois anos, já fiz o registro respeitoso do que penso sobre esse projeto "Bem Cassi" de terceirização da Cassi naquilo que é a essência da autogestão. A tendência lógica desse "modelo" é vermos depois do piloto as planilhas de "eficiência operacional", depois as comparações com a estrutura interna de saúde da Cassi, depois as dificuldades de investimento próprio, depois a opção em expandir a terceirização e reduzir os "custos" da estrutura da "empresa" etc. 

Eu não culpo as representações dos associados por às vezes apoiarem iniciativas que podem não ser tão ideais para os trabalhadores (TERCEIRIZAÇÃO não é boa para os trabalhadores) porque certas áreas de conhecimento precisariam da assessoria técnica e de dirigentes eleitos com visões de mundo próximas ao mundo do trabalho, dirigentes que dialogassem com os sindicatos, associações e conselhos de usuários e que, se necessário, se colocassem contra os interesses do capital, do patrão. É uma questão de lado, e nesse sentido não tenho visto isso acontecer na Cassi. E repito: respeito os colegas que temos lá, conheço muitos deles. 

Aproveito para reafirmar meu grande apreço pelos trabalhadores da Cassi, que além de serem muito dedicados à autogestão, cumprem suas tarefas com muito profissionalismo.

Esta é minha opinião sobre o "Bem Cassi". Finalizo meu registro com mais uma reflexão do personagem Riobaldo Tatarana, contida no Grande Sertão: Veredas: "pão ou pães, é questão de opiniães... O sertão está em toda a parte" (ROSA, 2001, p. 24)

Abraços a tod@s e desejo uma Cassi fortalecida em seu modelo assistencial, sustentável e com uso racional dos recursos, solidária em seu custeio do Plano de Associados, longeva e que seja para o conjunto dos trabalhadores da ativa e aposentados e seus dependentes.

William


Bibliografia:

HOBSBAWM, Eric. Era dos extremos - O breve século XX, 1914-1991. São Paulo: Companhia das Letras, 2006.

ROSA, João Guimarães. Grande Sertão: Veredas. 19ª edição. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2001.


24.1.25

Cassi, BB e reclamações trabalhistas (2)


Ex-diretor eleito da Cassi.


"O óbvio é aquilo que nunca é visto até que alguém o manifeste com simplicidade" (Kahlil Gibran)

Opinião

Soube hoje por um colega aposentado que a justiça não acatou duas ações movidas por entidades sindicais ajuizadas contra a nossa Caixa de Assistência, a Cassi, uma autogestão em saúde, em um processo que considero equivocado, como opinei esta semana em artigo (ler aqui).

A questão pode ser entendida lendo-se a matéria informativa da nossa confederação, citada abaixo. Na matéria eu sublinhei algumas linhas do texto para reforçar a minha leitura a respeito do equívoco da situação.

Não vou repetir o que já argumentei no texto que fiz sobre a questão, mas insisto no fato de estarem acionando na justiça a vítima e não o responsável pelo fato gerador da dívida em discussão.

Como a própria matéria da confederação afirma, o empregador Banco do Brasil tinha um convênio com a autogestão em saúde para recolher de seus funcionários contribuições estatutárias relativas a verbas trabalhistas e ele, o empregador, não cumpriu o que era sua obrigação de fazer.

Como é possível que, anos depois, o empregador reconheça que não fez o que deveria ter feito e decida recolher à Cassi só uma parte do valor devido à autogestão em saúde?

Se o empregador e a Cassi (convenentes) chegaram aos valores das indenizações trabalhistas (fato gerador das contribuições) é razoável avaliar que o valor total deveria ter sido recolhido pelo responsável pelo recolhimento, o banco, como determina o convênio entre as partes não cumprido à época pelo empregador.

Se a Cassi, vítima na situação de conflito entre empregador e funcionários e ex-funcionários, não recebeu o que deveria ter recebido por força de convênio, e se as entidades representativas tivessem que ajuizar alguma ação sobre os valores não recolhidos, a ação deveria ser em desfavor de quem não cumpriu a obrigação contratual de fazer, o banco.

Acionar na justiça a vítima desta situação seria o mesmo que acionar na justiça os funcionários e ex-funcionários por terem auferido uma suposta "vantagem" na questão, o que consideraria uma leitura equivocada também. O convênio estabelecia que o empregador recolhesse as contribuições. Ponto!

Se o empregador em uma reclamação de verbas trabalhistas tem por força de contrato ou convênio a obrigação de recolher as contribuições estatutárias da Cassi e não o faz, não tem sentido acionar na justiça a autogestão em saúde por não ter recebido o que o empregador deveria ter recolhido.

Suponhamos que em um acerto de verbas trabalhistas o empregador e o reclamante acertem o litígio em 20 mil reais, relativos a um período no qual a contribuição da Cassi fosse 4,5% do BB e 3% do funcionário. Por obrigação de fazer, o empregador deveria pagar ao reclamante 19.400 reais. O empregador deveria recolher para a Cassi 1.500 reais (900 + 600).

O empregador não fez o que estabelecia o convênio entre ele e a Cassi. Anos depois, ele reconhecesse que não fez o que deveria fazer e recolhe só uma parte do valor (?), e depois a autogestão é que está se indispondo com os associados. Isso não está certo!

Qual a lógica de tentar imputar responsabilidade à Cassi e sua direção por algo que eles estão apenas cumprindo os estatutos, regulamentos e normais aos quais estão obrigados a fazer?

Meus amigos e companheiros que me perdoem, mas estou registrando minha opinião honesta e respeito quem viu de forma distinta a situação.

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SUGESTÃO PARA DEBATE

Para finalizar, repito o que acho que seria razoável para solucionar o problema, considerando a boa vontade entre as partes envolvidas na questão.

Como os valores que deveriam ter sido recolhidos na totalidade são sabidos, pois a base de cálculo foi acordada entre os convenentes, o responsável pelo recolhimento não recolhido, o empregador Banco do Brasil, poderia recolher à conveniada o que deve por força de convênio e abriria uma linha de crédito aos funcionários e ex-funcionários (um PAS) para facilitar o pagamento da contribuição não recolhida à época.
 
É a minha leitura sobre essa situação conflituosa entre Banco do Brasil e seus funcionários, envolvendo a Caixa de Assistência.

William Mendes
Ex-diretor eleito da Cassi
Ex-coordenador da CEBB da Contraf-CUT

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(reprodução de matéria)

Contraf-CUT nega nova proposta da Cassi de pagamento das cobranças feitas aos funcionários do BB

13 de janeiro de 2025

Contraf-CUT orienta NÃO adesão de proposta de cobrança da Cassi

Durante a reunião realizada na sexta-feira (10), a Caixa de Assistência dos Funcionários do Banco do Brasil (Cassi) apresentou uma nova proposta para alterar a forma de pagamento das cobranças feitas aos funcionários do Banco do Brasil associados à entidade. Essas cobranças referem-se a valores não recolhidos pelo banco durante o período de julho de 2010 a setembro de 2023, relativos a ações trabalhistas e acordos firmados nas Comissões de Conciliação Voluntária ou nas Comissões de Conciliação Prévia (CCV/CCP). Apesar da alteração na proposta, a Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro (Contraf-CUT) lamenta que a proposta não tenha sido substancialmente modificada, mantendo a orientação de NÃO adesão por parte dos trabalhadores.

O secretário-geral da Contraf-CUT, Gustavo Tabatinga Jr., afirmou que a reunião foi infrutífera. “Nenhuma das ponderações trazidas pela Contraf foi acatada, e a Cassi insiste em não discutir o conteúdo da proposta, não permite que os bancários contestem os valores e não abre mão da atualização monetária e dos juros aplicados”, declarou.

O Banco do Brasil, na época, não fez os descontos necessários nem recolheu a sua parte nas contribuições para a Cassi, o que levou à atual cobrança, que tem gerado grande preocupação entre os bancários. Embora a Cassi tenha se mostrado disposta a alterar a forma de pagamento, a Contraf-CUT critica a falta de mudanças significativas e insiste que os trabalhadores não aceitem os termos propostos. “Lamentamos a Cassi não querer suspender essa cobrança e iniciar uma negociação de uma nova proposta, de forma coletiva, permitindo que os colegas pontuem suas dificuldades e apontem seus questionamentos”, afirmou o secretário-geral.

A entidade de autogestão insiste na sua proposta inicial, trazendo apenas pequenos ajustes na forma de parcelamento, mas penalizando os colegas com atualização monetária e juros no parcelamento. “Somos contra esses acréscimos, uma vez que não foram os bancários que deram causa a esse débito”, completa Tabatinga.

Para entender:

Em 2010, o BB e a Cassi firmaram um convênio de colaboração no qual o banco se comprometia a “calcular e cobrar a contribuição pessoal e patronal de associados que receberem indenizações advindas de causas trabalhistas”. Entre 2010 e 2023, embora tenha tido o compromisso, o BB não realizou as cobranças. Em janeiro de 2024, o banco concordou em pagar sua parte dos recolhimentos não efetivados entre 2010 e 2023. Tal pagamento ocorreu no mês de agosto de 2024.

No início de dezembro, a Cassi, unilateralmente, decidiu pela cobrança, e divulgou a medida sem negociação com o movimento sindical e sem consulta prévia aos associados.

Em 13/12/2024, a Contraf-CUT enviou ofício à Cassi solicitando a imediata suspensão das cobranças e abertura de mesa de negociação para tratar do assunto.

Em 17/12/2024, houve a primeira reunião com a CASSI, que negou ao movimento sindical a suspensão, mantendo a cobrança até 31/12/2024.

Em 23/12/2024, em nova reunião, a Cassi continuou negando a suspensão das cobranças, negou alterar a proposta e apenas adiou o prazo para a adesão da cobrança do dia 31/12 para 24/01/2025. A Contraf-CUT continuou insistindo suspensão da medida, para negociar uma proposta coerente aos associados e associadas.

No último dia 10/01/2025, em mais uma oportunidade, a Cassi apresentou alterações no modo de parcelamento da cobrança, sem de fato alterar o conteúdo principal da cobrança que tanto a Contraf-CUT questionava, como os acréscimos de correção e juros no parcelamento. Apesar de adiar o prazo final para abril, criou um mecanismo para pressionar o bancário e bancária a fazer o quanto antes a adesão, pois haverá redução no percentual do desconto a vista, conforme a data de pagamento; permitiu o aumento do prazo de pagamento para 72 meses, todavia com cobrança de juros. Permitiu ainda o parcelamento em 12 meses sem juros. Diante da rigidez da Cassi, Contraf-CUT continuou rejeitando a proposta e solicitando a suspensão da cobrança.

“Não há condições de negociação quando os bancários e as bancárias têm uma ‘espada no seu pescoço’, a Cassi continua criando mecanismo de pressão para receber de imediato e ameaçando os bancários de inadimplência e encargos moratórios a partir de 31 de janeiro, caso não indiquem a aceitação da proposta da Cassi. Isso é um desrespeito com os trabalhadores que são os donos da Cassi”, avaliou Tabatinga.

A Contraf-CUT irá formalizar ao Banco do Brasil pedido de abertura de mesa de negociação em busca de uma solução, assim como iniciará ação judicial contra a Cassi para viabilizar a imediata suspensão da cobrança. A Contraf-CUT continua orientando a todos e todas a NÃO realizarem a adesão, assim como orienta a quem já realizou que procure a Cassi para cancelar a adesão.


Fonte: Contraf-CUT

21.1.25

Cassi, BB e reclamações trabalhistas



Opinião

A Caixa de Assistência dos Funcionários do Banco do Brasil, autogestão em saúde, foi envolvida numa questão que deveria ser resolvida entre o BB e seus funcionários e ex-funcionários. É um equívoco processar a Cassi!


Tenho visto nas últimas semanas algumas notícias sobre a questão dos valores não recolhidos de ações trabalhistas e conciliações voluntárias acertadas entre o empregador Banco do Brasil e seus funcionários e ex-funcionários ao longo dos anos.

Não havia sentido necessidade de dar minha opinião sobre a questão. Fui dirigente nacional dos bancários do Banco do Brasil e fui gestor eleito de nossa Caixa de Assistência. Desde o início, me pareceu que as coisas poderiam ter outras leituras na solução. Mas não opinei a respeito. 

Mesmo sem ter acesso aos documentos todos que balizam as discussões entre as partes, algumas noções desses tipos de contratos, convênios e obrigações trabalhistas me fazem achar que não é a Cassi que deveria cobrar os valores que o empregador não cobrou de seus funcionários e ex-funcionários.

Eu tenho a Cassi como um dos maiores patrimônios do funcionalismo do Banco do Brasil desde sua criação há 80 anos e após pertencer aos quadros de direção da nossa autogestão, mais defensor dela me tornei. 

Para vocês terem uma ideia do que fiz durante o nosso mandato na Cassi (2014/2018), visitei diversos sindicatos e associações para demover representações dos associados de cobrar da nossa autogestão o que não era de responsabilidade dela resolver, muitas vezes problemas do mercado de saúde e até do patrocinador BB. 

Ao ver o movimento sindical anunciar que vai entrar na justiça contra a Cassi, decidi registrar minha opinião. Acho um equívoco a forma como as coisas foram encaminhadas em relação ao empregador Banco do Brasil e patrocinador do Plano de Associados.

A leitura que tenho do problema é uma questão básica de se cobrar as obrigações de quem se deve cobrar. Vou expor a seguir em linguagem simples, bancária, o que penso:

1. O Banco do Brasil contrata funcionários e por força de leis, contratos, convenções e convênios tem obrigações legais a cumprir como recolhedor de impostos, tributos, mensalidades estatutárias das caixas de previdência e assistência (Previ e Cassi), além, é claro, dos direitos trabalhistas e de convenção e acordo coletivo.

2. O empregador por qualquer motivo não cumpre alguma dessas responsabilidades legais e contratuais.

3. Os funcionários e ex-funcionários acionam o empregador nas CCPs ou na justiça.

4. O empregador e funcionário ou ex-funcionário chegam ao final do litígio na justiça ou no âmbito conciliatório.

5. O empregador tem contrato ou convênio com as caixas de previdência e assistência com obrigação de recolher o que os estatutos daquelas caixas rezam sobre verbas trabalhistas.

6. O empregador, por qualquer motivo, não cumpre com sua obrigação legal e contratual de recolher os montantes de sua responsabilidade dos funcionários e ex-funcionários.

7. Anos depois, descobre-se que o empregador não cumpriu com suas obrigações legais e contratuais.

8. O empregador reconhece que não cumpriu com suas obrigações e decide pagar o que deveria ter sido recolhido desde o dia que deixou de cumprir suas obrigações legais e contratuais.

9. O empregador resolve recolher só parte do que deveria ter sido recolhido e repassado para as caixas de assistência e ou previdência, conforme rezam contratos e convênios com o empregador.

10. Por não ter feito o que era sua obrigação legal e contratual de fazer, recolher valores relativos a verbas trabalhistas em ações judiciais ou CCPs, a vítima de não ter recebido o que lhe era devido, a Cassi, assume o ônus de ela cobrar e se indispor com milhares de funcionários e ex-funcionários do empregador BB.

11. Tendo assumido o ônus de fazer o que era obrigação legal e contratual do empregador BB fazer, a Cassi define regras e maneiras de cobrar os valores não recolhidos e repassados por quem deveria ter feito isso.

12. A Cassi faz, inclusive, um grande esforço administrativo e negocial para amenizar os efeitos e transtornos aos seus associados para cobrar parcelado o que o responsável pela cobrança e recolhimento não o fez no tempo e prazo devidos. 

13. Entidade de representação dos funcionários e ex-funcionários associados da Cassi avalia entrar com ação judicial contra a Caixa de Assistência, que deixou de receber do empregador e patrocinador do Plano de Associados o que ele deveria ter recolhido e transferido a ela por força de contrato/convênio.

Francamente, me parece que a Cassi, mais uma vez, é vítima e não a vilã nessa questão de valores estatutários devidos a ela e não recolhidos por quem deveria recolhê-los por força de contrato e convênio.

Isso aconteceu, por exemplo, quando o empregador e patrocinador parou de recolher os 4,5% previstos no Estatuto da época, 1997/1998, para novos funcionários admitidos daquele período adiante. O empregador recolhia 3% e só nas negociações uma década depois, em 2007, a questão foi regularizada por parte do empregador patrocinador do plano.

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CONCLUSÃO 

Tenho a impressão que o empregador e patrocinador Banco do Brasil teve boa vontade e comportamento correto neste caso recente ao reconhecer e se dispor a pagar, anos após os fatos, uma parte do que ele deveria ter pago ao longo do tempo, a parte dele dos valores pagos a funcionários e ex-funcionários em ações judiciais e CCPs.

Só que a obrigação contratual ou por convênio que obrigava o empregador a recolher a sua parte é a mesma que o obrigava a recolher a parte dos funcionários e ex-funcionários no momento da quitação de sua dívida trabalhista.

Então, seria de bom tom e o correto, na minha opinião, que o empregador patrocinador recolhesse o que ele deveria ter feito e não o fez, pagar ou adiantar à Cassi os valores não recolhidos à época e, ele, responsável pelo recolhimento, cobrar dos milhares de funcionários e ex-funcionários, associados da Cassi, os valores devidos por eles à Caixa de Assistência.

O banco poderia se utilizar do antigo programa PAS para resolver a questão, facilitando o pagamento pelos funcionários e ex-funcionários.

A Cassi precisa receber os valores estatutários corretamente, não há dúvida quanto a isso, e nem há dúvidas sobre a obrigação dos funcionários e ex-funcionários de quitarem os valores que o empregador deveria ter recolhido e repassado à Cassi e não o fez.

Repito, é uma leitura que estou fazendo da situação sem ter visto documento algum, mas sei que os contratos e convênios funcionam mais ou menos assim em nossas entidades do funcionalismo.

William Mendes


17.5.24

Cassi, nossa Caixa de Assistência (1)



17/05/24. Sexta-feira.

Opinião


Nossa Caixa de Assistência

A Cassi é a Caixa de Assistência dos Funcionários do Banco do Brasil, uma autogestão em saúde gerida de forma compartilhada entre os seus associados e o patrocinador BB. A associação foi criada em 1944 e neste ano completou oitenta anos de existência. 

Atualmente, a Cassi é uma operadora de saúde na modalidade de autogestão, atua no setor de saúde suplementar brasileiro, tem estatuto próprio, e se submete à legislação do país. O setor onde atua é fiscalizado em parte pela Agência Nacional de Saúde Suplementar, a ANS. Digo em parte porque a Cassi compra serviços de saúde em um mercado que não é controlado pela ANS, o que é ruim para as autogestões em saúde.

Esse cenário onde a Cassi opera não foi sempre assim: nossa Caixa de Assistência foi criada por trabalhadores do BB muito antes de boa parte das instituições do Estado nacional. Pertencemos a uma comunidade de vanguarda no mundo do trabalho, cuja cooperação sempre esteve presente em nosso cotidiano. Associativismo e solidariedade fazem parte da história dos funcionários do maior banco público do país.

Sou associado de nossa Caixa de Assistência há mais de trinta anos e tive a oportunidade e a missão de ter sido um dos administradores eleitos pelos associados e associadas na história de nossa autogestão. Foi um período de muito aprendizado e de muita luta por direitos em saúde porque a realidade dos direitos dos associados da Cassi vem sendo construída desde janeiro de 1944. Contei parte da história de nossa associação ao longo do mandato que exerci em nome dos associados.

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Relatório 2023 (dados retirados do site da Cassi)

Hoje, saiu o resultado da consulta ao corpo social em relação ao Relatório 2023. Participaram do processo de prestação de contas 55.200 participantes, de um total de 160.239 associados, pouco mais de 34% do total do público com direito a voto em nossa Caixa de Assistência. A maioria aprovou o relatório: 31.894 pessoas. Achei preocupante a quantidade de pessoas que não aprovaram o relatório: 23.306 pessoas ou 42,2% dos manifestantes (total de votos contrários 4.606, brancos 8.436 e nulos 10.264). 

Desde minha saída da gestão de nossa Caixa de Assistência, acompanho de longe os avanços e retrocessos em relação aos direitos dos associados e em relação à própria operadora do ponto de vista das formalidades do setor onde a Cassi opera. Avalio que os associados vivenciaram momentos difíceis e de retrocessos em relação aos nossos direitos durante os governos de Temer e Bolsonaro (2016-2022). É importante lembrarmos que o governo federal é acionista majoritário do BB e indica a metade da gestão da Cassi. 

O Relatório 2023 expressa a realidade da operadora e o que foi feito em nossa Caixa de Assistência no ano passado, incluindo, é lógico, o que foi feito nos últimos anos (consequências das gestões anteriores). O Relatório foi aprovado pelos conselhos fiscal e deliberativo e por auditoria independente. A direção fez apresentações do Relatório para os associados e suas representações.

Eu ainda não terminei a leitura completa do Relatório. Segui o voto de nossas representações eleitas e de nossas entidades representativas do funcionalismo. 

Algumas questões me chamaram a atenção. Lógico que a minha leitura do Relatório não é uma leitura de leigo, é uma leitura de quem geriu a nossa Caixa de Assistência por muitos anos e de quem tem opinião em relação às decisões tomadas pela direção da Cassi.

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Duas observações iniciais sobre o Relatório 2023

No geral, percebi um esforço do nosso governo Lula (sou eleitor de Lula) e da composição da direção da Cassi em 2023 em resolver o problema do déficit preocupante que se realizaria no exercício, de aproximadamente 448 milhões de reais (p. 7), caso não avançasse o acerto das dívidas do patrocinador relativas às reclamações trabalhistas. Lógico que a preocupação segue em relação aos valores recorrentes de receitas operacionais e despesas assistenciais.

Vejo com preocupação a questão dos planos de saúde para familiares dos associados. Desde que era gestor, tenho senões a essa estratégia de criação de um monte de planos hipoteticamente mais baratos (direitos menores para nossos familiares). O que parece ser um avanço no Cassi Essencial e Cassi Vida, ampliarem a carteira em 8.500 e 6.802 planos vendidos (+15.302) nada mais é, na minha opinião, que a saída de 15.790 participantes do Cassi Família I e II. Não é avanço algum no "público-alvo" como costumam dizer. Só estamos enfraquecendo o principal plano para familiares. 

Entendo que poderíamos fortalecer o CF II, que é melhor, com descontos por adesão espontânea ao modelo de Atenção Primária e Estratégia de Saúde da Família (ESF). Seria melhor para todos: Cassi e o modelo assistencial, familiares e patrocinador. Os planos familiares não foram pensados para oferecer direitos menores para nossos entes queridos. Isso é um equívoco! Imaginem se tem cabimento um colega do banco com o filho ou neto com um plano de saúde com coberturas menores e redes piores...

Enfim, desejamos perenidade para nossa Caixa de Assistência e sustentabilidade com manutenção e ampliação de direitos em saúde para o conjunto das trabalhadoras e trabalhadores da ativa e aposentados(as) e demais assistidos(as) da comunidade Banco do Brasil.

Parabéns à direção pelo trabalho que vem realizando e parabéns a todos nós associados por essa conquista extraordinária que é a Caixa de Assistência.

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Nossa solidariedade ao povo do RS

Por fim, presto aqui a nossa solidariedade ao povo irmão do Rio Grande do Sul. O Estado sempre foi uma base referência no que diz respeito à Cassi, nosso modelo assistencial de Estratégia de Saúde da Família (ESF) e sempre contamos com uma participação muito ativa do voluntariado nos conselhos de usuários. 

Aprendi muito com os colegas e amigos do RS. Temos uma população de mais de 31.500 participantes da Cassi no Estado. Esperamos que nossas irmãs e irmãos se recuperem e retomem a vida o mais breve possível. Contem conosco da comunidade Banco do Brasil e com todo o povo brasileiro!

William Mendes


Post Scriptum: o texto seguinte desta série pode ser lido aqui.


22.7.21

Cassi 2021 - Impressões e opiniões (V)

Olá, prezad@s colegas da comunidade BB e companheir@s das entidades representativas!

A matéria da Contraf-CUT reproduzida abaixo traz alertas e preocupações relevantes em relação ao presente e futuro de nossa autogestão Cassi, principalmente em relação ao Plano de Associados, a verdadeira essência de nossa associação, pois o Plano é uma Caixa de Assistência, é um fundo mútuo, intergeracional e solidário criado há 77 anos pelos funcionários do Banco do Brasil e, sem novas entradas e oxigenação nos perfis dos assistidos, tende a se inviabilizar.

PLANO DE ASSOCIADOS EM RISCO

Desde que passei a conhecer profundamente a nossa Caixa de Assistência, tenho a opinião de que a perenidade da nossa autogestão depende do equilíbrio e sustentabilidade do Plano de Associados - dos trabalhadores da ativa e aposentados e dependentes -, plano que manteve uma média de 400 mil vidas assistidas desde a reforma estatutária de 1996, e que cresceu durante os governos progressistas do PT, chegando a 418.335 vidas em 2014 e que passou a encolher desde o golpe de Estado em 2016, chegando em 2020 a 388.673 associados.

Pior do que os números em si são as perspectivas que se desenham para o futuro do Plano de Associados e, consequentemente, para a existência da autogestão Cassi, que jamais será uma "empresa" de planos de saúde competidora com o mercado privado, jamais! Só para termos uma ideia, o Plano de Associados reduziu mais 6 mil vidas e chegou a 382.723 associados nos primeiros meses de 2021. 

Pergunto: percebem o quanto é preocupante qualquer movimento ou decisão administrativa do patrocinador BB ou da direção da Cassi que possa fazer com que não haja novas entradas no Plano de Associados nos próximos anos?

PLANO CASSI FAMÍLIA II EM RISCO

E o Cassi Família II, o plano de saúde com regras de mercado disponibilizado aos familiares até determinados graus de parentesco com os trabalhadores do BB, de acordo com regras determinadas pela ANS? O CF II é o plano ativo que temos na Cassi desde 1999. Uma parte de nós da comunidade BB tem um ou mais familiares no plano CF II. O recém-lançado Plano Essencial e outros que a diretoria promete lançar ameaçam severamente a sustentabilidade do CF II e isso é muito sério! 

Está na cara que os planos de saúde da Cassi estão concorrendo um com o outro e não com os planos de empresas concorrentes! Isso também é muito sério! São 234 mil participantes do Cassi Família II em risco porque o Cassi Essencial pode inviabilizar o custeio e a estabilidade do CF II e muitos de nós NÃO queremos migrar e passar a pagar coparticipação e franquia, isso é uma fria! É muito pior pagar essas taxas extras que um pouco mais na mensalidade do CF II. A não ser que a pessoa tenha plano de saúde com intenção de nunca usar, o que não faz sentido.

Ou alguém acha que a autogestão dos trabalhadores do BB, a Cassi, com o seu tamanho no mercado de saúde, vai concorrer com as grandes do setor: Bradesco, Unimed, Amil, Hapvida? Não temos condições de concorrer com players que dominam nichos e segmentos do mercado que têm patrimônio gigante, têm estrutura própria de serviços de saúde de uma ponta a outra, desde consultórios, clínicas de imagem, fornecimento de insumos e hospitais de todo tipo e têm influência nos espaços políticos que criam as condições de seus sistemas avançarem no mercado de saúde privado. 

Vejam abaixo um exemplo de um concorrente do Cassi Essencial em diversas regiões, estados e cidades do Brasil: 100 bilhões de patrimônio de Hapvida e Notre Dame Intermédica contra uns 5 ou 6 bilhões da nossa querida Cassi...

Carta Capital, nº1165, 14/7/21, p. 43

DECISÃO ARRISCADA E EQUIVOCADA DA DIREÇÃO DA CASSI, NA MINHA OPINIÃO

Eu imagino que nossos colegas que estão nos espaços de decisão e gestão da Cassi e do Banco do Brasil querem o melhor para a nossa Caixa de Assistência. Mas eles estão equivocados em relação a algumas decisões recentes como, por exemplo, lançar planos de saúde do tipo Cassi Essencial. Falo isso com todo o respeito. Esse não deveria ser o foco da nossa associação. A Cassi deveria focar naquilo que já demonstrou excelência ao longo de décadas de experimentação e resultados na gestão de saúde de uma população estável no tempo, perene, passível de acompanhamento, cuidados e uso melhor de recursos limitados.  Esses são os pontos fortes da Cassi.

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O ESSENCIAL NA CASSI É O PLANO DE ASSOCIADOS E O MODELO ASSISTENCIAL DE ATENÇÃO PRIMÁRIA ESF/CLINICASSI/PROGRAMAS DE SAÚDE 

O Plano de Associados pode ser sustentável por décadas se tiver uma população cuidada pelo modelo assistencial Estratégia de Saúde da Família (ESF), através das unidades de saúde CliniCassi, com equipes de família próprias e com programas de saúde específicos de acordo com os diversos graus de complexidade que os perfis dos cadastrados nas equipes de família tenham. Nós mostramos os estudos desse sistema entre 2015 e 2018 e os resultados foram surpreendentes para a Cassi e para a saúde dos cadastrados vinculados ao modelo. A Cassi já poderia ter ampliado em dezenas de milhares os cadastrados na ESF se tivesse focado nisso após a entrada de recursos novos. Os números seguem os mesmos que ampliamos e deixamos entre 2014 e 2018. ESSE É O CAMINHO: AMPLIAR A ESF!

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Estamos à disposição para conversar, trocar experiências e refletir sobre essas questões. Não podemos tomar decisões erradas neste momento da história porque hoje não seria possível criar uma nova Caixa de Assistência - a Cassi. Não seria possível porque as regras e lobbys do mercado privado inviabilizam que se criem sistemas solidários como o Plano de Associados da Cassi.

Pensem nisso, colegas.

Abraços a todas e todos.

William


(Reprodução de matéria de 9/7/21 da Contraf-CUT)

Cassi Essencial é Cavalo de Troia e põe em risco toda a Cassi

Adesão de novos funcionários ao Cassi Essencial, como querem os diretores, põe em risco sustentabilidade do maior plano de autogestão do país


Enfraquecimento da Cassi, redução do número de credenciados, falta de transparência e mais atenção aos interesses do banco do que aos interesses dos funcionários do Banco do Brasil. Estes são alguns dos resultados da implantação do novo plano de saúde criado pelos diretores da Caixa de Assistência dos funcionários do Banco do Brasil, chamado de “Cassi Essencial”. O alerta é das entidades sindicais e representativas dos trabalhadores do BB.

O plano foi criado por diretores e conselheiros eleitos e indicados pelo banco na Cassi. Parece que todos se subordinam aos interesses do banco e se esquecem de defender os interesses dos associados.

O Cassi Essencial foi criado sob o argumento de atrair os participantes que cancelaram o Plano Cassi Família e desejam um plano mais barato. Mas não é isso que fica evidente ao analisar o novo produto. O plano foi criado não apenas para atrair ex-funcionários e parentes por consanguinidade e afinidade dos funcionários do Banco do Brasil. Os funcionários do BB e da Cassi, aposentados e pensionistas e funcionários oriundos dos bancos incorporados também poderão aderir ao novo plano.

Canibalização e descumprimento do estatuto

Os sindicatos e entidades que representam os funcionários do banco denunciam que, por se tratar de um plano de mercado, o trabalhador que aderir ao Cassi Essencial não contará com o patrocínio do banco e com as contribuições patronais. Portanto, se mais funcionários forem atraídos para o novo produto, haverá redução do número de participantes nos planos de Associados e Cassi Família, colocando em risco todo o sistema de solidariedade da Cassi.

Em outras palavras, os diretores da Cassi criaram um produto para ajudar o banco e enfraquecer a Cassi. Uma autofagia explícita. O Cassi Essencial ajudará o banco, que poderá forçar funcionários a migrar para este plano e, assim, poderá fugir do patrocínio e reduzirá suas despesas com a saúde dos funcionários. A migração de participantes do Cassi Família para o novo plano poderá inviabilizar o Cassi Família, encarecendo suas mensalidades – pela relação contratual, a Cassi deve manter os planos ativos enquanto houver participantes.

“A adesão de funcionários [ao Cassi Essencial] desconfigura o Plano Associados, que é um plano solidário, onde os entrantes ajudam a custear os mais velhos e o banco é obrigado a custear parte das despesas. Já o Cassi Essencial, na prática, é um plano de mercado”, explica o coordenador da Comissão de Empresa dos Funcionários do Banco do Brasil (CEBB), João Fukunaga.

Fukunaga destaca que a direção da Cassi contraria o estatuto da entidade, que estabelece:

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“Art. 6º. São associados da CASSI, nos termos e condições previstas neste Estatuto e no Regulamento do Plano de Associados: I. Os funcionários do Banco do Brasil S.A. de qualquer categoria, inscritos no Plano de Associados.
§ 1º – O ingresso no Plano de Associados da CASSI será feito mediante solicitação do funcionário, a qualquer tempo, a partir da data de início do vínculo empregatício com o Banco do Brasil S.A.”
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“O que os diretores da Cassi estão propondo com o plano Cassi Essencial é irregular, desobedece ao estatuto da entidade. Além disso, configura crime de responsabilidade com o futuro da Cassi, uma vez que deixaria de ter novos entrantes”, pondera Fukunaga.

Menos credenciados, mais coparticipação

A rede de credenciados do Cassi Essencial, principalmente nos grandes centros, é bem menor que a rede dos demais planos, criando dificuldades para o atendimento aos participantes. O valor pago em coparticipação em exames, consultas e procedimentos neste plano também é maior que nos outros, e pode não compensar a redução das contribuições mensais.

Outra questão levantada pelas entidades sindicais é a falta de transparência, isso porque os diretores da Cassi não divulgaram um comparativo de preços entre os planos Cassi Família e Cassi Essencial, comprometendo a possibilidade de qualquer interessado verificar a relação custo x benefício mais vantajosa para ele.

Redação: Lilian Milena/Contraf-CUT

19.7.21

Cassi 2021 - Impressões e opiniões (IV)

Olá, prezados colegas da comunidade BB e lideranças dos trabalhadores!

No dia 2 de julho, tive a oportunidade de participar da reunião entre a Contraf-CUT e suas representações e a direção da Cassi. Naquele dia, o novo presidente da entidade, Castro Júnior, se apresentou e falou de projetos para a Cassi. Também participaram Ana Cristina, Carlos Flesch e Luiz Satoru, colegas da direção, e alguns funcionários da Cassi, pessoas com as quais trabalhamos na gestão. Foi uma reunião muito respeitosa e prevaleceu a troca de informações e ideias.

O presidente abordou alguns objetivos da atual direção, eixos ou pilares para a Cassi neste momento de sua história. Incluir a Cassi na era digital de forma profunda e acelerada, a redução de custos da "empresa", novas formas de receitas e produtos e a questão do atendimento aos participantes e clientes. As representações dos trabalhadores falaram seus pontos de vista e preocupações, cobrando diversas informações sobre demandas dos bancários e mudanças em andamento, sugerindo estudos e avanços em direitos dos associados -a Estratégia de Saúde da Família (ESF) foi um dos itens. As outras diretorias também se expressaram.

Repito aqui algumas questões que apresentei para os participantes da reunião, tanto para as representações dos associados quanto para a direção da nossa associação Cassi, uma autogestão em saúde.

Comentei que a utilização de novas tecnologias é algo positivo, ferramentas virtuais podem contribuir para os procedimentos e operações na área na qual a Cassi atua: saúde. 

Tenho muitas reservas e senões em relação a "novos produtos" quando falamos da Caixa de Assistência dos Funcionários do Banco do Brasil porque a razão de ser da Cassi são os trabalhadores da ativa e aposentados e seus dependentes. O "essencial" na Cassi é o Plano de Associados e sua perenidade e não as questões laterais, à margem do essencial na autogestão.

Como contribuição, expressei minha preocupação com os projetos de redução de custos administrativos da autogestão. A Cassi já tem o menor índice do mercado (5,5%) e isso é muito ruim porque a Caixa de Assistência está se desfazendo da sua estrutura própria de gestão em saúde. 

As mudanças na Unidade Cassi DF são um exemplo dessas "reduções de custo" questionáveis. Nós havíamos ampliado em 50% o cadastramento da ESF na capital aproveitando as duas unidades CliniCassi, uma na Asa Norte e outra na Asa Sul. Apresentei meu receio de que a direção faça isso nas demais unidades regionais da Cassi. 

Outro exemplo complicado é o caso de Curitiba, onde a direção optou por terceirizar a base do modelo assistencial - A ESF e CliniCassi com equipes de família próprias. Essa aposta em "parceiros" no mercado é um risco absurdo para a nossa autogestão (Projeto Bem Cassi feito com duas empresas privadas). "Parceiros" vão e vem ao sabor das ondas (ondas ou tsunamis, porque o objetivo desses parceiros-empresários é o lucro, enquanto a relação dos funcionários assalariados da Cassi com os pacientes é outra). 

É uma lógica muito diferente investir em estruturas próprias de Atenção Primária e ESF e acompanhamento dos cadastrados com profissionais da própria Cassi. Nós explicamos o quanto é barato investir em CliniCassi e equipes de família. O custo-benefício é exponencialmente melhor ao mantermos crônicos tratados e monitorados e prevenir doenças em populações cadastradas na ESF. Nossos estudos mostravam cadastrados vinculados ao modelo assistencial com despesas 20 a 40% menores em todas as faixas etárias e graus de complexidade.

Por fim, expliquei ao presidente da Cassi, Castro Júnior, o quanto seria importante aproveitar esse momento em que a Cassi tem mais receita operacional devido às novas contribuições permanentes dos associados e as novas receitas por parte do patrocinador para reequipar e ampliar as regionais da Cassi em relação a novos procedimentos e mais equipes de família nas CliniCassi. A ESF não deveria ter sido colocada em segundo plano nesse período pós recursos novos. Os números de cadastrados já poderiam ter sido ampliados e isso não ocorreu nos últimos anos. 

AMPLIAÇÃO DA ESF (2014-2018) - Nós pegamos a Cassi com cerca de 160 mil cadastrados, ampliamos para 182 mil e 3 anos após nossa saída e com a entrada de recursos novos, A ESF não foi ampliada (vejam o Relatório Anual 2020).

Enfim, vou ler as matérias das entidades representativas e volto a escrever minhas impressões e opiniões sobre os últimos acontecimentos. Me parece que as representações dos associados estão apontando em suas matérias os mesmos riscos que avisei que ocorreriam em relação aos novos planos de mercado da Cassi - riscos ao Plano de Associados e prejuízos de longo prazo para os bancários da ativa e aposentados. 

Também tivemos novidades em relação à CGPAR, aquelas normas absurdas do governo Temer que interferiram de forma muito questionável nos planos de saúde das autogestões dos trabalhadores das estatais, empresas públicas e de economia mista. 

Um fraterno abraço a todas e todos.

William

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(Reprodução de matéria de 5/7/21 da Contraf-CUT)

Trabalhadores cobram informações do novo presidente da Cassi

Informações sobre o uso da tecnologia para “aproximação dos associados” e novo plano de mercado Cassi Essencial estiveram em pauta

As entidades de representação dos associados à Caixa de Assistência dos funcionários do Banco do Brasil se reuniram com a diretoria e o novo presidente da entidade, Castro Júnior, na sexta-feira (2). A reunião foi realizada a pedido da Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro (Contraf-CUT).

A princípio, a reunião tinha o objetivo de ressaltar a importância e restabelecer a mesa de negociações entre as partes para garantir a manutenção da Cassi e a melhoria de seus serviços. Mas, um comunicado publicado no site da Caixa de Assistência dos Funcionários do Banco do Brasil (Cassi) na terça-feira (29) mudou o enfoque da reunião.

“Depois do comunicado tivemos que fazer uma série de questionamentos para saber se há interesse em colocar a tecnologia e a redução do custo em detrimento da qualidade do atendimento e da Estratégia Saúde da Família (ESF), explicou a secretária de juventude e representante da Contraf-CUT nas negociações com a Cassi e o Banco do Brasil, Fernanda Lopes.

No comunicado, o novo presidente da Cassi afirma que sua gestão fará uso de meios tecnológicos para estar mais próxima dos associados.

Segundo o coordenador da Comissão de Empresa dos Funcionários do Banco do Brasil (CEBB), João Fukunaga, a primeira e principal mensagem que o texto passa é que será aplicada tecnologia no atendimento. “A Cassi, nestes tempos de pandemia e de gestão de tecnólogos bancários, está maravilhada com esse discurso, que pode iludir alguns bancários. Mas, é preciso ter muito cuidado para não cairmos nesta tentação. Temos que ficar atentos para que a Cassi não se desvirtue e passe a ser como um plano de saúde qualquer, que apenas corre atrás da redução dos custos e abandone o atendimento humanizado e sua função de caixa de assistência aos associados”, alertou.

Cassi Essencial

Além de tratar sobre os pontos referentes a uso da tecnologia mencionados no comunicado, a representação dos trabalhadores solicitou informações sobre o novo plano de mercado disponibilizado, o Cassi Essencial.

A Cassi ficou de responder aos questionamentos da representação dos trabalhadores na próxima reunião, ainda sem data definida.

Fonte: Contraf-CUT


18.3.21

Cassi - Desmonte do modelo assistencial é bom?



Opinião:

Deixo abaixo do registro da minha opinião uma nota da Associação Brasileira de Médicas e Médicos pela Democracia (seção Paraná) denunciando o desmonte do modelo de Atenção Básica em Curitiba. A nota foi divulgada pelo site Vi o Mundo no dia 15 de março. O desmonte da estrutura de atenção primária e medicina de família em Curitiba é um exemplo do que pode ocorrer com a Cassi dos funcionários do Banco do Brasil. Por sinal, a direção da Cassi está com piloto de terceirização do modelo assistencial justamente em Curitiba (o "Bem Cassi").

Registro mais uma vez a minha preocupação e posição contrária aos projetos de terceirização total do modelo de Atenção Integral à Saúde da Cassi, modelo definido desde a reforma estatutária de 1996 após experiências que definiram que a Caixa de Assistência teria uma estrutura própria de Atenção Primária à Saúde (APS), através da Estratégia de Saúde da Família (ESF) e das CliniCassi. Quando terminamos a gestão na diretoria de saúde (em maio de 2018) a Cassi tinha cerca de 150 equipes de família, 182 mil cadastrados no modelo e 66 unidades de atendimento em saúde CliniCassi.

QUAL SERÁ O PERFIL DOS USUÁRIOS DE SISTEMAS DE SAÚDE NO PRÓXIMO PERÍODO?

Não é preciso ter bola de cristal nem fazer exercício de futurologia para perceber as tendências das condições de saúde do povo brasileiro e dos participantes do sistema Cassi do Banco do Brasil neste momento de crises diversas, sanitária, política, econômica, social, humanitária. Teremos uma multidão de gente com problemas psicológicos e doenças crônicas das mais variadas.

Por conhecer o perfil dos participantes do sistema Cassi, os 700 mil assistidos à época em que estivemos na gestão do modelo de saúde (2014-2018), e por ver minimamente o que está acontecendo no Brasil após o golpe de Estado em 2016 e sob os governos Temer e Bolsonaro, não é difícil fazer inferências sobre o que vem por aí.

As pessoas terão mais problemas de saúde crônicos do que já tinham. A população Cassi já era mais específica que a população que tem algum tipo de plano de saúde do mercado, que filtra a entrada e expulsa pessoas para ter lucro nas operações. Já tinha população com faixas etárias maiores, tinha um grande contingente de crônicos, tinha uma população considerável de pessoas com algum tipo de deficiência etc. Agora teremos os sequelados da Covid-19 para acolher e cuidar nas próximas décadas.

Vocês acham que a terceirização do modelo próprio da Cassi vai ser boa para a população de assistidos da Caixa de Assistência? Me desculpem, mas fico impressionado com a pessoa minimamente consciente e informada sobre esses sistemas que achar que desfazer a estrutura própria da Cassi vai ser bom para nós, participantes do modelo.

CASSI PRECISA AMPLIAR A ESTRUTURA PRÓPRIA APS/ESF/CLINICASSI

Quem tem algum tipo de conhecimento não pode deixar de externar opinião a respeito dele e é por isso que preciso me posicionar sobre o andamento das coisas na Caixa de Assistência dos Funcionários do Banco do Brasil, uma autogestão em saúde, com quase oito décadas de existência e cujos objetivos não são compatíveis com modelo algum do mercado privado de saúde. É impossível ter como base o mercado porque essa "indústria" visa lucro com a doença das pessoas e isso é antagônico com os objetivos da Caixa de Assistência que criamos, uma associação de trabalhadores da empresa pública Banco do Brasil, autogestão em saúde com espírito cooperativista e solidário.

A autogestão Cassi investiu duas décadas na construção de um sistema de saúde próprio (ESTRUTURA PRÓPRIA, BARATA E EFICIENTE) de atenção primária e medicina de família que foi responsável por cuidar de uma população assistida com características muito peculiares e totalmente diferentes dos interesses capitalistas dos planos e empresas de saúde do mercado. A população da Cassi é mais idosa que a média do mercado, é crônica como o povo brasileiro, e vive mais que a média dos planos de mercado. Por isso, o mercado filtra todos os segmentos que não quer atender - exclui idosos, crônicos e pobres -, "clientes" que dão prejuízo. A Cassi passou duas décadas aperfeiçoando um sistema que dá resultados mesmo atendendo a perfis que não interessam ao mercado - FIZEMOS ESTUDOS E PROVAMOS ISSO NA GESTÃO 2014-2018 - e agora querem terceirizar e desfazer esse sistema.

Volto a repetir: após ampliarem a terceirização da Atenção Primária (APS) e a ESF, a Cassi vai desfazer sua estrutura de saúde construída por nós durante longo tempo e perderemos o acesso à saúde com um custo solidário na comunidade Banco do Brasil. Os aposentados, pensionistas, as pessoas com comorbidades, a grande maioria que ganha menos no sistema Cassi (uns 70% de ativos e aposentados) não conseguirão ficar no Plano de Associados e já nem teremos o SUS - Sistema Único de Saúde - para nos socorrer como acontecia no passado e como acontece nas diversas regiões do interior dos estados onde não há rede privada de saúde. A CASSI HOJE TEM RECURSOS E DEVERIA AMPLIAR SUA ESTRUTURA PRÓPRIA DE APS/ESF/CLINICASSI.

Fico impressionado ao ver o silêncio das entidades representativas em relação a isso. Mas sigo registrando minha preocupação com o desmonte do modelo de saúde exitoso que construímos na Cassi.

Repito o que já disse também. A pandemia mundial de Covid-19 pode até ser uma desculpa para que não se faça nada a respeito do tema - projetos de terceirização do modelo assistencial da Cassi -, o desmonte das empresas públicas como o BB também pode ser outra desculpa, mas as lideranças da comunidade Banco do Brasil poderiam também aproveitar toda a crise e chamar reuniões, debates, envolver dezenas de entidades representativas em temas como saúde e previdência porque são temas que poderiam agregar diferentes segmentos políticos e ideológicos. Mas não vendo ilusões, não seria do dia para a noite o engajamento nos temas, é necessário criar pertencimento e isso não existe no momento, na minha opinião.Feito mais um registro sobre o risco de desmonte da Cassi. Volto a dizer que não tenho nada contra as pessoas que estão na gestão desse processo, não é pessoal, é uma questão de visão de mundo, de ideologia, o que está acontecendo é ruim para o conjunto das pessoas que dependeriam da Cassi nas próximas décadas de vida. Não acho que a Cassi deve ser uma empresa para os poucos que poderão pagar, acho que A CASSI DEVERIA SER PARA TODOS E TODAS.

William Mendes

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ABMMD – Associação Brasileira de Médicas e Médicos pela Democracia -PR

Nota contra o fim da Atenção Básica de Curitiba

O município de Curitiba já foi modelo de atenção básica para o Brasil, com suas unidades de saúde, acesso ampliado, agentes comunitários indo de casa em casa de cada cidadão, desenvolvendo ações de promoção e prevenção.

O município também tem importância por influenciar modelos de gestão de cidades da região metropolitana e de todo Paraná.

Por isto, fazemos este alerta, a fim de informar a setores da sociedade sobre os graves fatos em curso no Sistema de Saúde da cidade.

Já não é de agora que a gestão atual executa fechamento de Unidades de Pronto Atendimento (UPA) [1], redução do número de equipes de saúde que atuam na atenção básica e mudanças nos processos de trabalho de várias equipes que deixaram de atuar no formato da Saúde da Família antes mesmo da pandemia.

De acordo com dados oficiais do Ministério da Saúde [2 e 3], o município tinha em março de 2016, 227 equipes de saúde da família e 919 agentes comunitários de saúde (ACS), para em março de 2020 (mês do início da epidemia no Estado) termos 182 equipes e 388 ACS, uma redução de 20% e 58% respectivamente.

Trilhando o mesmo caminho e ao mesmo tempo paradoxalmente, a gestão atual enfraquece ainda mais a Atenção Básica da cidade com o fechamento recente de tantas Unidades Básicas de Saúde (UBS).

Fechamento a princípio anunciado como transitório, por poucas semanas, o que já seria grave, mas preocupa ainda mais dado o andamento da pandemia e o ocorrido em 2020, quando dezenas de UBS permaneceram fechadas por muitos meses.

Além disso, transformou várias unidades em “postinhos de vacinação”, o que nos faz retroceder aos anos 70, e descaracterizou o funcionamento de todas as demais.

Segundo a Secretaria Municipal de Saúde [4], das 111 unidades de saúde que existem, 53 estão completamente fechadas, restando hoje apenas 42 a realizar atendimentos simples do tipo queixa-conduta, 10 que realizam somente vacinação e atendimentos básicos às gestantes e crianças, e ainda 6 que estão atuando somente como postos de vacinação contra Covid-19.

É estarrecedor que este desastre sem precedentes do SUS curitibano seja anunciado pelas equipes de marketing como grande feito da administração municipal.

Na prática, o acesso à saúde para a população caiu em mais da metade em 5 anos.

E quem consegue acessar uma UBS deixou de conseguir, na maioria das vezes, ser atendido pelos profissionais das equipes com quem já tinha vínculo de confiança construído ao longo do tempo, justo quem teria melhor condições de lhe amparar com cuidados adequados em momento de crise.

As mudanças impostas à Atenção Básica impactarão de maneira profundamente negativa na saúde da população, uma vez que a paralisação dos atendimentos das condições crônicas e de diversas outras linhas de cuidado se manifestará de forma desastrosa, resultando em agravamento destes problemas e gerando ainda mais mortes evitáveis [5].

Neste momento de pandemia, onde as pessoas mais precisam de acesso, vemos tantas portas se fecharem, vemos os serviços de saúde reduzirem sua capilaridade e proximidade da população o que agrava ainda mais o efeito desproporcional da pandemia sobre os grupos socialmente mais vulneráveis [6].

Ação que vai na contramão do que muitos outros municípios brasileiros vêm fazendo, optando por fortalecer a atenção básica, o teleatendimento por parte de profissionais e equipes já vinculados e dedicados para cada comunidade, a testagem e a identificação precoce de casos, além de educação em saúde culturalmente adequadas e em contato direto com as lideranças e organizações do território de cada Unidade Básica de Saúde [7].

Nessa perspectiva, a Associação Brasileira de Médicos e Médicas para Democracia – Núcleo Paraná, reafirmando seus compromissos éticos com o SUS, vem conclamar os representantes legislativos e conselheiros municipais a pressionar a Prefeitura Municipal de Curitiba a realizar contratações emergenciais para saúde de maneira mais abrangente e contundente do que tem sido feito até agora.

De modo que seja possível garantir a reabertura de todas as Unidades de Saúde tão necessárias à nossa população e que foram fechadas neste período.

Referências

[1] RPC Curitiba. UPA que ficava no Hospital de Clínicas de Curitiba é fechada. 02/05/2017. [https://g1.globo.com/pr/parana/noticia/upa-que-ficava-no-hospital-de-clinicas-
-de-curitiba-e-fechada.ghtml]. Acesso em 13/03/2021.

[2] Brasil, Ministério da Saúde. E-Gestor AB. Cobertura da Atenção Básica. [https://eges- torab.saude.gov.br/paginas/acessoPublico/relatorios/relHistoricoCoberturaAB.xhtml]. Acesso em 13/03/2021.

[3] Brasil, Ministério da Saúde. E-Gestor AB. Cobertura de ACS. [https://egestorab.sau- de.gov.br/paginas/acessoPublico/relatorios/relHistoricoCoberturaACS.xhtml]. Acesso em 13/03/2021.

[4] Curitiba, Prefeitura Municipal. [https://www.facebook.com/515514761825666/post- s/4055783744465399/?app=fbl]. Acesso em 13/03/2021.

[5] Mendes, E.V. O Lado Oculto de uma Pandemia: A Terceira Onda da Covid-19 ou o Paciente Invisível.

[6] SARTI, Thiago Dias et al. Qual o papel da Atenção Primária à Saúde diante da pandemia provocada pela COVID-19?. Epidemiol. Serv. Saúde, Brasília, v. 29, n. 2, e2020166, 2020
[http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S2237-96222020000200903]. Acesso em 13/03/2021.

[7] COVID-19 e Atenção Primária: as experiências nos territórios (Rede PROFSAÚDE) / organizado por Carla Pacheco Teixeira [et al.]. -Rio de Janeiro: ANAIS/SESSÕES TEMÁTICAS / PROFSAÚDE, 2020.

18.12.20

Terceirizar a Cassi é decisão de alto risco



Opinião:

Tempos incertos, amanhãs indefinidos. Apesar da pandemia que alterou o cotidiano do mundo, realidade causada por um vírus - o novo coronavírus -, volto a registrar minhas preocupações em relação a algo anterior à pandemia: a crise do capitalismo e a sempre presente necessidade de lucro de seus agentes, a crise permanente do mercado de saúde que visa lucro com a doença e a decisão dos atuais gestores da Cassi e do patrocinador Banco do Brasil de terceirizar a atividade-fim da autogestão Cassi, cuja essência do seu sistema é um modelo assistencial próprio de Atenção Primária e Medicina de Família e programas de saúde com monitoramento populacional, sistema organizado a partir de unidades próprias de saúde, as CliniCassi.

Inicio o artigo repetindo o que já disse nos outros textos de opinião e preocupação com os destinos da Caixa de Assistência dos Funcionários do Banco do Brasil: respeito a opinião dos responsáveis pelo projeto "Bem Cassi" - dirigentes e funcionários -, mas vejo essa terceirização da essência da associação como uma decisão de alto risco para o futuro da autogestão e da atenção à saúde do conjunto dos trabalhadores que dela dependem. A Cassi é ainda uma das maiores e mais antigas autogestões em saúde do país, criada pelos trabalhadores do banco público em 1944 e ela é anterior a tudo quanto é modismo, tendência e referência do "mercado" de saúde brasileiro, anterior ao Sistema Único de Saúde e às leis e legislação existentes hoje e que favorecem claramente o mercado ao invés dos sistemas cooperativados de saúde que não visam lucro e seus beneficiários.

Quando chegamos eleitos à gestão da Cassi, em junho de 2014, passamos rapidamente a estudar e conhecer o que era o sistema de saúde brasileiro e mundial, os modelos e formas de organização do atendimento à saúde de grupos populacionais, públicos e privados, estruturas e agentes dentro dos sistemas, legislações, modelos preventivos e modelos curativos, estruturas primárias, secundárias, terciárias etc. Acreditem: conhecer o mercado de saúde exige estômago forte e firmeza de propósito porque tem muita coisa errada no "mercado". Nós fizemos os estudos e desenvolvemos nossas estratégias de defesa da Cassi e dos associados com o nosso olhar do mundo do trabalho, o nosso olhar nas decisões tinha o lado dos trabalhadores, no curto, médio e longo prazos.

MERCADO ATUA ONDE DÁ MAIS LUCRO

Logo que chegamos, uma notícia de grande relevância no mercado de saúde paulista se destacava naqueles primeiros meses de trabalho nosso como gestores da Cassi. Um grande e tradicional hospital na capital paulistana anunciava nos jornais que estava fechando sua maternidade após 35 anos de existência. As justificativas eram aquelas que a gente conhece do sistema capitalista no setor: taxa de ocupação dos leitos inferior ao esperado, retorno baixo dos investimentos, blá blá blá. O impressionante nas matérias que li é que não havia constrangimento algum em dizer que a maternidade iria dar lugar a uma área que estava dando muito retorno (lucro): câncer! O hospital iria investir em tratamento de câncer! 

Pois é! Mercado é mercado. Mercado segue tendências. Tendências mudam de uma hora para outra. Business, negócios. Stakeholders, parceiros, agentes do mercado. A linguagem da indústria da saúde é imensa, não vou me alongar. Só lembro aos meus colegas que têm representação dos trabalhadores, as entidades associativas, sindicatos e conselhos de usuários, que essa coisa de seguir ou se balizar pelo mercado para definir os rumos da autogestão Cassi é uma escolha de alto risco e de difícil retorno. 

No momento, e por causa da crise anterior, a Atenção Primária/Medicina de Família é uma tendência interessante para o mercado. Por isso que estão surgindo empresas, parceiros, pessoas interessadas em prestar serviços de APS/MFC (Medicina de Família e Comunidade). Dura quanto tempo essa tendência? Nos últimos anos, vimos até médic@s de família da Cassi saírem da associação para abrirem seus próprios consultórios e oferecerem o mesmo serviço para os usuários e empresas locais. De novo: tendência de mercado é tendência de mercado. Quanto dura? A Cassi é para durar décadas. Não é uma empresa episódica, de momento. como são inclusive os planos de saúde privados.

Ao longo do período de trabalho à frente da diretoria de saúde da Cassi vimos muitas coisas acontecerem no mercado, no sistema público, na legislação do setor, vimos diversas reorganizações dos vendedores de serviços de saúde (médicos, "cooperativas" e empresas), vimos as guerras jurídicas, vimos a quebradeira de grandes do setor como a Unimed Paulistana e hospitais. Vimos governos serem derrubados por golpe, o SUS sendo atacado e os direitos trabalhistas sendo perdidos e vimos os governos golpistas atuando para favorecer o mercado privado e dificultando a vida das autogestões e de seus participantes, que tiveram que dobrar, triplicar seus gastos com saúde enquanto o patronato diminuiu suas obrigações.

Também aproveitamos o período para apostar no modelo assistencial da Caixa de Assistência, modelo organizado de forma inversa ao do mercado à época. A base e a riqueza da Cassi são suas estruturas próprias de saúde primária, as CliniCassi e as Unidades Cassi nos Estados. Ampliar essa estrutura é essencial, e é barato! Esclarecemos as dúvidas e até as posturas de má-fé que se tinham em relação à importância e eficiência das unidades próprias de atendimento a saúde da Cassi. Provamos que o custo administrativo das unidades era muito baixo perto do efeito de cuidar da população local, sendo parte dela crônica. Uma equipe de família é um investimento muito pequeno em comparação à despesa assistencial evitada na rede privada local, tanto para atendimentos mais simples quanto para questões mais complexas.

A Cassi desenvolveu estudos que mostraram a eficiência da ESF/CliniCassi com estrutura própria (estudos feitos entre 2015/2018). Enquanto isso, os agentes do mercado de saúde afundavam, se reorganizavam porque os custos estavam quebrando o setor, tanto dos hospitais quanto dos planos de saúde, porque o modelo irracional de serviços por procura, emergencial e curativo, é impagável. Modelos próprios como o da Caixa de Assistência mostraram que fazer prevenção, promoção, acompanhar pacientes crônicos ao longo do tempo por equipes multidisciplinares e programas de saúde eram a melhor estratégia e os custos com saúde eram menores inclusive para as faixas etárias maiores, que o mercado não quer nem ouvir falar.

Eu volto a perguntar aos meus colegas dos sindicatos, das associações e dos conselhos de usuários se eles realmente acham que a terceirização da atividade-fim da Cassi, através do piloto do "Bem Cassi" em Curitiba e depois no Brasil inteiro parece ser a melhor forma de investir os novos recursos que os associados confiaram ao Plano de Associados da autogestão? Quando foram feitos os estudos e os debates profundos a respeito dessa decisão administrativa daqueles que estão no poder no momento? A escolha é uma das opções disponíveis e não compete a mim questionar a direção, ela tem sua ideologia.

Eu acharia prudente que as representações dos trabalhadores da ativa e aposentados da comunidade Banco do Brasil, uma comunidade com um grupo populacional que tem 400 mil vidas abrigadas no Plano de Associados, refletissem a respeito dessa terceirização da essência da Caixa de Assistência neste momento da história da autogestão. 

É isso! Preocupações... Se cuidem porque a pandemia vai longe no país dos governantes aliados ao vírus mortal.

William


Post Scriptum

Se tiverem interesse, leiam aqui o artigo anterior. Dentro dele tem o link para o primeiro a respeito da questão.