Blog de William Mendes, ex-dirigente sindical bancário e ex-diretor eleito de saúde da Caixa de Assistência dos Funcionários do Banco do Brasil
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22.7.20
Como anda a saúde da classe trabalhadora?
Reflexão
Falar sobre saúde não é uma coisa simples, principalmente para aqueles que não têm formação ou atuação e experiência na área. A pergunta deste artigo não é uma pergunta neutra. Nem poderia ser, pois quem fala, sempre fala de algum lugar, mesmo aqueles denominados ou autodeclarados "técnicos" e "especialistas". Todos somos humanos e não somos neutros, mesmo quando temos que atuar de forma imparcial por profissão ou representação social como, por exemplo, devem ser os juízes nos órgãos de Justiça.
Como será que anda a saúde da classe trabalhadora? Se especifico "classe trabalhadora" é porque vejo duas condições dadas para as pessoas que vivem em nossa sociedade, dois segmentos em relação ao acesso à saúde: o segmento das pessoas que vendem ou venderam sua força de trabalho para sobreviver e vivem de seu salário ou dos bicos que fazem, do benefício de aposentadoria, ou algum tipo de assistência fornecida pelo Estado ou por alguém (talvez o segmento social que abranja mais de 95% do nosso povo); o outro segmento é o daquelas pessoas que vivem do capital, de renda, de herança, de aluguéis e arrendamentos, da exploração dos outros, da mais-valia retirada daquelas pessoas que vendem sua força de trabalho.
Falar sobre saúde não é uma coisa simples, mas é uma coisa necessária. É possível falar de saúde sendo um técnico ou especialista na área, bem como sendo uma pessoa que acumulou conhecimento e experiência na área. Aliás, a área "saúde" é imensa, e é bem provável que um técnico ou especialista em saúde saiba muito de sua especialidade e não saiba quase nada de outra área da saúde. Exemplo: um médico especialista em coração, em sistema circulatório, pode ainda ser um generalista em saúde integral, por ter tido contato de forma panorâmica com todas as áreas ou feito especialização em Saúde da Família e Comunidade. Mas será que ele, especialista em coração e sistema circulatório, tem conhecimento para falar de gestão de sistemas de saúde? Pode ser que sim e pode ser que não.
Durante nossa vida de representação sindical, aprendemos as noções básicas de diversas áreas de interesse da classe trabalhadora e do mundo do trabalho, até porque negociamos sobre os temas em mesas com patrões e seus especialistas nas áreas negociadas. A categoria bancária se organizou ao longo da história para fazer debates de alto nível com os bancos e governos. Nas negociações temáticas e por banco, se acumula grande experiência e conhecimento. Ser dirigente sindical é uma oportunidade ímpar para se aprender além do que se aprende nas grades curriculares da educação formal. Aprende-se muito como representante de classe.
A jornada de lutas e representação dos bancários me proporcionou um novo saber, após ganhar conhecimento do mundo do trabalho bancário: a oportunidade de ser um gestor de saúde eleito pelos trabalhadores da ativa e aposentados do BB. Foi uma experiência incrível sob diversos pontos de vista. Aprendi bastante sobre sistemas de saúde, sobre direitos em saúde; aprendi sobre a história de lutas por saúde na categoria bancária e na comunidade do Banco do Brasil. E também conhecemos um pouco sobre o Sistema Único de Saúde (SUS). Tive contato direto por quatro anos com os mapas de saúde dos colegas do banco na ativa. Conheci a condição de saúde dos colegas aposentados por gerir o sistema Cassi.
Em linhas gerais, pelo que pude acompanhar durante 4 anos lidando com gestão de saúde, os mapas de saúde do povo brasileiro pedem atenção. Temos um nível alto de doenças crônicas em nossa população. Doenças evitáveis e que mesmo após serem realidade na vida das pessoas, são doenças que poderiam ser tratadas e acompanhadas permitindo boa qualidade de vida aos crônicos. A questão central é que para as pessoas terem melhores condições de saúde é necessário um conjunto de fatores multidimensionais que envolvem, por exemplo, condições de trabalho, de remuneração, de educação e cultura, de moradia, saneamento básico, alimentação, segurança, controle de estresse e pressões no dia a dia etc. As pessoas deveriam ser acompanhadas por sistemas de Atenção Primária e Estratégia de Saúde da Família e Comunidade.
Através de estudos que fizemos no sistema de saúde dos bancários do BB, pudemos comprovar o quanto a condição de saúde é favorecida quando as pessoas têm acompanhamento por um sistema de prevenção e monitoramento como é o caso da APS/ESF e programas de saúde ao longo do tempo. As despesas assistenciais em grupos cuidados são bem menores que as despesas assistenciais em grupos não cuidados de forma permanente.
Nível de estresse e sofrimento após a pandemia de Covid-19 pode piorar as condições de saúde e as doenças crônicas dos colegas da ativa e aposentados
Por conhecer um pouco da condição de saúde do povo brasileiro e conhecer um pouco mais da condição de saúde das pessoas na comunidade Banco do Brasil, fico me perguntando como deve estar a condição de saúde dos colegas após o advento da pandemia do novo coronavírus (Covid-19) neste momento de nossas vidas. É provável que todo ser humano esteja passando por algum nível de estresse emocional neste momento, independente de suas visões de mundo. E é provável que os níveis de estresse vão aumentando e se tornando causadores de maiores sofrimentos à medida que o colega esteja na ativa e tenha que se arriscar a estar nos locais de trabalho, e se deslocar para o trabalho, e voltar para casa com risco de contaminação de sua família etc.
O mesmo nível de estresse e sofrimento pode estar ocorrendo com os colegas dos grupos de risco, com mais idade, com comorbidades, que tenham que se manter em isolamento por tantos meses como já vivenciamos neste semestre de pandemia. E as colegas bancárias que criam sozinhas seus filhos? E os colegas bancários que estão sem plano de saúde, então? E os colegas bancários que não estão mais conseguindo pagar a mensalidade do plano de saúde (que ainda pagam coparticipações abusivas) e já excluíram dependentes do plano? E os trabalhadores desempregados? E os milhões de pessoas sem condição alguma de cidadania? Enfim, são tempos de grande estresse emocional e níveis de sofrimento.
Por ter espírito de pertencimento à classe trabalhadora e à categoria bancária, a gente se solidariza com todo esse sofrimento coletivo e com o sofrimento de cada pessoa, porque cada pessoa é única e cada vida importa. É provável que a gente escreva mais sobre esse tema saúde porque tudo pode ser diferente, tudo pode mudar e a vida das pessoas pode ser melhor e mais saudável. Nós já experimentamos tempos melhores e mais felizes para a classe trabalhadora brasileira. As oportunidades traziam realizações pessoais e coletivas. Os tempos estão difíceis, mas com unidade, consciência e mais envolvimento das pessoas, podemos resgatar a felicidade e os direitos da cidadania.
Abraços a todas e todos da classe trabalhadora.
William Mendes
Post Scriptum:
Hoje pela manhã, fiquei muito triste ao saber do falecimento do companheiro Fábio França, companheiro de trabalho e lutas em prol da classe trabalhadora. Pelo que pude apurar através das mensagens, Fábio teve um AVC e não resistiu. Estivemos juntos ano passado, quando gravamos no Sindicato dos Bancários de São Paulo, Osasco e região um vídeo falando sobre os 30 anos dos congressos dos funcionários do Banco do Brasil. Fábio era jovem, atuava na área da educação, e deixará saudades a tod@s que conviviam com ele. Meus sinceros sentimentos à família e amig@s. Fábio, presente!
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William Mendes
20.7.20
Campanha Nacional dos Bancários (III)
(Reprodução de matéria)
Bancários realizam assembleias para aprovarem minuta de reivindicações
Sindicatos divulgarão link para votação por meio eletrônico, que se inicia a partir das 18h desta segunda-feira e segue até 22h de terça
Sindicatos de bancários de todo o país realizam assembleias nesta segunda e terça-feira (20 e 21) para aprovarem a minuta de reivindicações da categoria, aprovada na 22ª Conferência Nacional no sábado (18). A votação se inicia às 18h desta segunda-feira (20) e segue terça, às 22h.
Em decorrência da pandemia causada pelo novo coronavírus, as assembleias serão virtuais.
A maioria dos sindicatos do país optou por realizar suas assembleias pelo sistema eletrônico de votação disponibilizado pela Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro (Contraf-CUT), mas, o ideal é que, para votar, os bancários e as bancárias acessem os sites de seus sindicatos e busquem informações sobre a assembleia e o link para a votação.
Após a aprovação pelas assembleias, a minuta será apresentada à Federação Nacional dos Bancos (Fenaban) na quinta-feira (23), às 14h30.
Índice
Depois do debate sobre as propostas, os delegados aprovaram a reivindicação de reajuste de inflação mais 5% de aumento real nos salários e todas as cláusulas econômicas.
Home office
A 22ª Conferência também aprovou a inclusão na minuta de uma cláusula para regular o trabalho home office, que não pode ser imposto pelo banco, para estabelecer, entre outras coisas, que os custos do teletrabalho sejam arcados pelos empregadores, assim como o fornecimento dos equipamentos de trabalho e ergonômicos. A cláusula também proíbe que sejam retirados direitos dos trabalhadores que cumprirem suas funções em suas casas, à exceção do vale-transporte/combustível, que deve ser fornecido com valor proporcional aos dias de comparecimento do trabalhador no banco, definindo que estes tenham de realizar suas atividades no próprio local de trabalho, pelo menos, uma vez por semana.
Metas abusivas
A Conferência também aprovou uma proposta para que seja feita uma atualização da cláusula que trata sobre o estabelecimento e a cobrança de metas pelos bancos.
Uma vez que um dos eixos da campanha será a luta pela saúde e melhores condições de trabalho para a categoria.
Demais cláusulas
As demais cláusulas hoje presentes na CCT foram mantidas na minuta de reivindicações.
Outros eixos
A campanha terá como prioridade a manutenção dos empregos e dos direitos, a defesa dos bancos públicos e o reajuste do valor da Participação nos Lucros e/ou Resultados (PLR) pelo mesmo índice da campanha.
Fonte: Contraf-CUT
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7.11.11
Berzoini critica Projeto de Lei que desregulamenta relação de trabalho
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PL de Mabel pode tornar terceirização ainda mais impactante no mercado de trabalho |
O deputado federal Ricardo Berzoini (PT-SP) pronunciou-se em sessão ordinária da Câmara contra a precarização do trabalho e o Projeto de Lei (PL) 4.330/2004, de autoria do deputado e empresário Sandro Mabel (PR-GO). Segundo o parlamentar petista, esse PL estabelece um marco legal que amplia a terceirização, desorganizando e desregulamentando a relação capital e trabalho.
A proposta de Mabel, que permite inclusive a terceirização pelas empresas de suas atividades-fim, aguarda parecer da Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania (CCJC) da Câmara, da qual Berzoini é integrante.
“Sabemos que por definição a relação capital e trabalho é uma relação desigual, e como tal deve ser tratada, com a perspectiva de que o Estado deve proteger os direitos e a livre organização dos trabalhadores. E o projeto do deputado Sandro Mabel peca no sentido de desregulamentar essa relação e criar uma figura (terceirização) que já existe, mas que pode se tornar muito mais impactante no mercado de trabalho”, afirmou Berzoini.
O parlamentar, que já foi presidente do Sindicato, ressaltou que por trás de um discurso neoliberal de flexibilização e modernização das relações de trabalho está a ganância pelo lucro cada vez maior, com a diminuição dos custos com mão de obra, e a intenção de enfraquecer sindicatos e a capacidade de organização dos trabalhadores.
Berzoini lembrou que no Brasil, onde o neoliberalismo começou a despontar nas décadas de 80 e 90, o discurso de modernização das gestões era na verdade “uma busca insaciável de reduzir custos de trabalho e, de uma maneira mais disfarçada do que explícita, estabelecer a desorganização da estrutura sindical.”
E continuou: “Para o bem da economia nacional, para o bem de uma estrutura sindical democrática e representativa, é fundamental que em qualquer regulamentação da terceirização se tenha princípios de proteção ao trabalhador e de proteção à organização sindical”. E para isso, afirmou, “temos que buscar um equilíbrio, estabelecendo a distinção entre atividade fim e meio, diferenciando o que é especialização e o que, na verdade, é locação de mão de obra.”
O deputado finalizou parabenizando a iniciativa da CUT (Central Única dos Trabalhadores) e da CTB (Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil) que, em declaração conjunta, estabeleceram princípios para limitar o processo de terceirização e a precarização do emprego no país. “A iniciativa da CUT e da CTB chama a atenção para a necessidade de uma regulamentação que tenha uma visão moderna no sentido de proteger os trabalhadores e seus direitos e proteger a legítima organização sindical dos trabalhadores”, disse.
Leia matéria completa.
Fonte: FB Seeb SP
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14.10.10
Agora é ir para a base como bancário do BB e falar da importância de eleger Dilma Rousseff
Banco do Brasil, Caixa Econômica Federal, BNB, BASA e Petrobras são empresas públicas e importantes hoje porque os trabalhadores e seus sindicatos resistiram muito para não serem privatizadas pelos tucanos.
Na verdade, os tucanos não tiveram tempo de terminar o serviço sujo de entregar esse patrimônio aos amigos como fizeram com as dezenas de empresas públicas privatizadas.
A geração de trabalhadores desta década nos bancos públicos não tem ideia do que sofremos nos anos 90 e não queremos aquilo nunca mais!
William Mendes, funcionário do BB desde 1992.
William Mendes, funcionário do BB desde 1992.
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William Mendes
19.10.09
Terça, 27 de outubro (2o dia do Curso de Formação Sindicato, Sociedade e Sistema Financeiro)
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Textos de Huberman, Rubem Alves e o filme Germinal. |
PROGRAMAÇÃO 2º dia, terça-feira.
- os dois períodos, manhã e tarde, abordam a temática "trabalho e produção de riqueza".
Foram utilizados alguns textos e músicas. À noite, o filme para reflexão foi "Eles não usam black-tie" que ajudará nos trabalhos do dia seguinte.
MATERIAIS
5) Músicas: O cio da terra e Vai trabalhar vagabundo - Chico Buarque de Hollanda
6) Verbete: O trabalho
7) Texto: Bela solução - César Benjamin
8) Texto: Trabalhadores de todos os países, uni-vos! - Leo Huberman
9) Texto: Não há salário que pague a degradação - Rubem Alves
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Material nº 5
O cio da terra
Composição: Milton Nascimento e Chico Buarque
Debulhar o trigo
Recolher cada bago do trigo
Forjar no trigo o milagre do pão
E se fartar de pão
Decepar a cana
Recolher a garapa da cana
Roubar da cana a doçura do mel
Se lambuzar de mel
Afagar a terra
Conhecer os desejos da terra
Cio da terra, a propícia estação
E fecundar o chão
------
Vai trabalhar vagabundo
Composição: Chico Buarque
Vai trabalhar, vagabundo
Vai trabalhar, criatura
Deus permite a todo mundo
Uma loucura
Passa o domingo em família
Segunda-feira beleza
Embarca com alegria
Na correnteza
Prepara o teu documento
Carimba o teu coração
Não perde nem um momento
Perde a razão
Pode esquecer a mulata
Pode esquecer o bilhar
Pode apertar a gravata
Vai te enforcar
Vai te entregar
Vai te estragar
Vai trabalhar
Vê se não dorme no ponto
Reúne as economias
Perde os três contos no conto
Da loteria
Passa o domingo no mangue
Segunda-feira vazia
Ganha no banco de sangue
Pra mais um dia
Cuidado com o viaduto
Cuidado com o avião
Não perde mais um minuto
Perde a questão
Tenta pensar no futuro
No escuro tenta pensar
Vai renovar teu seguro
Vai caducar
Vai te entregar
Vai te estragar
Vai trabalhar
Passa o domingo sozinho
Segunda-feira a desgraça
Sem pai nem mãe, sem vizinho
Em plena praça
Vai terminar moribundo
Com um pouco de paciência
No fim da fila do fundo
Da previdência
Parte tranquilo, ó irmão
Descansa na paz de Deus
Deixaste casa e pensão
Só para os teus
A criançada chorando
Tua mulher vai suar
Pra botar outro malandro
No teu lugar
Vai te entregar
Vai te estragar
Vai te enforcar
Vai caducar
Vai trabalhar
Vai trabalhar
Vai trabalhar
Vai trabalhar, criatura
Deus permite a todo mundo
Uma loucura
Passa o domingo em família
Segunda-feira beleza
Embarca com alegria
Na correnteza
Prepara o teu documento
Carimba o teu coração
Não perde nem um momento
Perde a razão
Pode esquecer a mulata
Pode esquecer o bilhar
Pode apertar a gravata
Vai te enforcar
Vai te entregar
Vai te estragar
Vai trabalhar
Vê se não dorme no ponto
Reúne as economias
Perde os três contos no conto
Da loteria
Passa o domingo no mangue
Segunda-feira vazia
Ganha no banco de sangue
Pra mais um dia
Cuidado com o viaduto
Cuidado com o avião
Não perde mais um minuto
Perde a questão
Tenta pensar no futuro
No escuro tenta pensar
Vai renovar teu seguro
Vai caducar
Vai te entregar
Vai te estragar
Vai trabalhar
Passa o domingo sozinho
Segunda-feira a desgraça
Sem pai nem mãe, sem vizinho
Em plena praça
Vai terminar moribundo
Com um pouco de paciência
No fim da fila do fundo
Da previdência
Parte tranquilo, ó irmão
Descansa na paz de Deus
Deixaste casa e pensão
Só para os teus
A criançada chorando
Tua mulher vai suar
Pra botar outro malandro
No teu lugar
Vai te entregar
Vai te estragar
Vai te enforcar
Vai caducar
Vai trabalhar
Vai trabalhar
Vai trabalhar
(aqui abrimos uma reflexão entre os participantes sobre os sentidos das duas músicas. Como cada uma descreve o trabalho? O trabalho é bom ou ruim, ou as duas coisas?
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Material nº 6
Verbete: O trabalho
TRABALHO: do latim tripalium, tripálio, designado instrumento de tortura composto de três estacas, ao qual era submetido o condenado, quando não empalado numa delas e ali deixado até morrer. Empalar é espetar pelo ânus, suplício comum na Antiguidade, para o qual a crucificação romana foi um avanço. A etimologia latina formou-se a partir do prefixo tri, três, e palus, estaca, poste, mourão. O étimo serviu de base à vinculação de trabalho e sofrimento, coerente com a condenação dos três personagens envolvidos no pecado original, que receberam penas diferenciadas: a serpente, a de rastejar sobre a terra durante toda a sua existência; a mulher, a de se sentir atraída pelo marido, ele dominá-la e ela sofrer nos partos; o homem, ganhar o pão com o suor do rosto até que voltasse à terra de onde foi tirado. Como se vê, Jeová foi mesmo durão. Nem férias, nem licença-prêmio, nem auxílio-maternidade e muito menos possibilidade de recurso a outros tribunais
(...) A ideia do trabalho como sofrimento, porém, não estava presente na etimologia latina, vez que o verbo trabalhar era laborare; e trabalho, labor. No italiano predominou este sentido, de que são amostras as palavras lavorare e lavoro. No francês travail, ao contrário, a vertente é a mesma do português.
(...) O Dia do Trabalho é comemorado em quase todos os países industrializados. A data remonta a um episódio trágico, ocorrido em Chicago, entre os dias primeiro e quatro de maio de 1886, quando a polícia matou diversos operários que protestavam por melhores condições de trabalho. Oito anarquistas foram presos e condenados à morte, um dos quais se suicidou e quatro foram enforcados. Três, porém, foram absolvidos. A consciência americana e a opinião pública não suportariam celebrar o trabalho em data tão sinistra. Nos EUA, o Dia do Trabalho é, desde 1894, comemorado na primeira segunda-feira de setembro (...)
(Extraído de SILVA, Dionísio da. A vida íntima das palavras: origens e curiosidades da língua portuguesa. São Paulo: Arx, 2002)
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Verbete: O trabalho
TRABALHO: do latim tripalium, tripálio, designado instrumento de tortura composto de três estacas, ao qual era submetido o condenado, quando não empalado numa delas e ali deixado até morrer. Empalar é espetar pelo ânus, suplício comum na Antiguidade, para o qual a crucificação romana foi um avanço. A etimologia latina formou-se a partir do prefixo tri, três, e palus, estaca, poste, mourão. O étimo serviu de base à vinculação de trabalho e sofrimento, coerente com a condenação dos três personagens envolvidos no pecado original, que receberam penas diferenciadas: a serpente, a de rastejar sobre a terra durante toda a sua existência; a mulher, a de se sentir atraída pelo marido, ele dominá-la e ela sofrer nos partos; o homem, ganhar o pão com o suor do rosto até que voltasse à terra de onde foi tirado. Como se vê, Jeová foi mesmo durão. Nem férias, nem licença-prêmio, nem auxílio-maternidade e muito menos possibilidade de recurso a outros tribunais
(...) A ideia do trabalho como sofrimento, porém, não estava presente na etimologia latina, vez que o verbo trabalhar era laborare; e trabalho, labor. No italiano predominou este sentido, de que são amostras as palavras lavorare e lavoro. No francês travail, ao contrário, a vertente é a mesma do português.
(...) O Dia do Trabalho é comemorado em quase todos os países industrializados. A data remonta a um episódio trágico, ocorrido em Chicago, entre os dias primeiro e quatro de maio de 1886, quando a polícia matou diversos operários que protestavam por melhores condições de trabalho. Oito anarquistas foram presos e condenados à morte, um dos quais se suicidou e quatro foram enforcados. Três, porém, foram absolvidos. A consciência americana e a opinião pública não suportariam celebrar o trabalho em data tão sinistra. Nos EUA, o Dia do Trabalho é, desde 1894, comemorado na primeira segunda-feira de setembro (...)
(Extraído de SILVA, Dionísio da. A vida íntima das palavras: origens e curiosidades da língua portuguesa. São Paulo: Arx, 2002)
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Material nº 7
Bela solução - César Benjamin
Pelo menos três escolas, em economia, abordaram teoricamente a questão.
Para os neoclássicos, os fatores de produção (entre eles o trabalho) são usados até o ponto em que o seu custo iguala a sua produtividade marginal (ou seja, a produtividade da última unidade aproveitada). Se há desemprego, então o custo do trabalho está maior que a sua produtividade marginal. É preciso ajustar as duas variáveis. Como a produtividade é relativamente rígida no curto prazo, o ajuste se faz pela redução dos salários. Se pressões políticas ou sindicais impedirem esse movimento, o mercado de trabalho funcionará de forma imperfeita, com desemprego.
Keynes introduz outra abordagem. Demonstra que, no capitalismo, o pleno emprego dos recursos tende a gerar mais bens do que a quantidade que se consegue vender. Os empresários param de produzir (e de contratar) quando a oferta iguala a demanda, pois a partir daí cessa a possibilidade de lucro. Como esse ponto de intercessão é atingido antes do uso de todos os recursos disponíveis, o equilíbrio entre oferta e demanda de bens se estabelece antes de se chegar ao pleno emprego. Por isso, Keynes defende políticas para estimular a demanda e, coerentemente, afirma que a redução dos salários só agrava o problema.
A terceira abordagem é de Karl Marx. Para aumentar a produção de valor, ele diz, o capital precisa comandar parcelas crescentes da capacidade de trabalho da sociedade. Desprovidas de alternativas próprias de sobrevivência, as pessoas devem ingressar nas atividades produtivas controladas pelo capital em troca de um salário. Nessas atividades, porém, o progresso técnico incessante expele cada vez mais gente. Assim, agem juntas duas tendências que têm efeitos contraditórios: uma incorpora trabalhadores à esfera capitalista da atividade econômica, a outra lança trabalhadores na rua. A maioria da população passa a ser assalariada, mas parte dela se torna excedente, em um movimento contínuo. Marx considerou esse "exército industrial de reserva" como um componente estrutural da nova sociedade. Pois, graças a ele, o recrutamento de força de trabalho, necessário nos ciclos expansivos, não fica limitado pela taxa de crescimento vegetativo da população, que é declinante.
Diferentes abordagens, diferentes propostas.
A primeira afirma que os mercados se autorregulam e, deixados por sua própria conta, tendem a um ponto de equilíbrio em que a alocação dos recursos, inclusive do trabalho, tende a tornar-se plena.
A segunda aponta que o equilíbrio entre oferta e demanda de bens, de um lado, e o pleno emprego, de outro, em geral não coincidem, o que exige políticas voltadas para incrementar a demanda.
A terceira diz que, ao atrair e repelir força de trabalho na esfera produtiva, o capitalismo produz uma população excedente que, embora excluída, é funcional para a dinâmica do sistema.
Marx teria considerado frágil a terapia keynesiana para o desemprego, pois contra ela continuariam a operar o que chamou de "leis de tendência". Sua solução implicava combinar progresso técnico com diminuição planejada da jornada de trabalho, remetendo a existência humana, cada vez mais, para o mundo da cultura. O homem, dizia, deve aos poucos deixar de fazer o que as máquinas e a natureza podem fazer, para no limite dedicar-se ao que só ele pode fazer, como estudar matemática e compor sinfonias. Bela solução.
CESAR BENJAMIN, 53, editor da Editora Contraponto e doutor honoris causa da Universidade Bicentenária de Aragua (Venezuela), é autor de "Bom Combate" (Contraponto, 2006). Escreve aos sábados, a cada 15 dias, nesta coluna.
(Extraído do jornal Folha de S. Paulo, de 24/01/2009)
Marx teria considerado frágil a terapia keynesiana para o desemprego, pois contra ela continuariam a operar o que chamou de "leis de tendência". Sua solução implicava combinar progresso técnico com diminuição planejada da jornada de trabalho, remetendo a existência humana, cada vez mais, para o mundo da cultura. O homem, dizia, deve aos poucos deixar de fazer o que as máquinas e a natureza podem fazer, para no limite dedicar-se ao que só ele pode fazer, como estudar matemática e compor sinfonias. Bela solução.
CESAR BENJAMIN, 53, editor da Editora Contraponto e doutor honoris causa da Universidade Bicentenária de Aragua (Venezuela), é autor de "Bom Combate" (Contraponto, 2006). Escreve aos sábados, a cada 15 dias, nesta coluna.
(Extraído do jornal Folha de S. Paulo, de 24/01/2009)
Os outros textos também abordaram o tema "trabalho". Tivemos excelentes debates após cada leitura.
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COMENTÁRIO BREVE
Sobre os textos de Leo Huberman e o de Rubem Alves, fechando o tema "Trabalho e produção de riqueza".
Na noite anterior, o filme "Germinal" é um soco no estômago! A forma como se apresenta a realidade do mundo do trabalho do século XIX, descrito através do mais puro naturalismo pelo escritor Émile Zola, e muito bem traduzido pelo diretor Claude Berri, em 1993, vai se encaixar em todas as discussões sobre o trabalho e a produção de riqueza pelos homens.
Começamos na terça-feira, 2º dia do curso, com as músicas "Cio da Terra" e "Vai trabalhar vagabundo". Ao longo do dia de debates e reflexões, após ler o verbete sobre "O Trabalho" traduzido como algo ruim, que traz sofrimento, e em seguida vendo César Benjamin e sua "Bela solução" para a questão da produção de riquezas e de coisas humanas, chegamos aos textos de Huberman e Alves.
Huberman aborda Karl Marx, seus estudos e a grande visão que nenhum outro estudioso havia tido ainda sobre a mais-valia, talvez o americano Abraham Lincoln tenha chegado perto em seus conceitos. Cito abaixo uma síntese das conclusões de Marx:
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"A teoria da mais-valia de Marx resolve o mistério de como o trabalho é explorado na sociedade capitalista. Vamos resumir todo o processo em frases curtas:
- O sistema capitalista se ocupa da produção de artigos para a venda, ou de mercadorias.
- O valor de uma mercadoria é determinado pelo tempo de trabalho socialmente necessário encerrado na sua produção.
- O trabalhador não possui os meios de produção (terra, ferramentas, fábricas etc).
- Para viver, ele tem de vender a única mercadoria de que é dono, sua força de trabalho.
- O valor de sua força de trabalho, como o de qualquer mercadoria, é o total necessário à sua reprodução - no caso, a soma necessária para mantê-lo vivo.
- Os salários que lhe são pagos, portanto, serão iguais apenas ao que é necessário à sua manutenção.
- Mas esse total que recebe, o trabalhador pode produzir em parte de um dia de trabalho.
- Isso significa que apenas parte do tempo estará trabalhando para si.
- O resto do tempo, estará trabalhado para o patrão.
- A diferença entre o que o trabalhador recebe de salário e o valor da mercadoria que produz, é a mais-valia.
- A mais-valia fica com o empregador - o dono dos meios de produção.
- É a fonte do lucro, juro, renda - as rendas das classes que são donas.
- A mais-valia é a medida da exploração do trabalho no sistema capitalista".
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Huberman nos lembra que Marx não foi nenhum futurólogo, ele analisou processos ao longo da história humana, principalmente sob a ótica da produção material, e nos deixa grandes ensinamentos em sua obra. Vejam uma abaixo, citada por Huberman:
"Não é a consciência dos homens que determina sua existência, mas sim o contrário, é sua existência que determina sua consciência".
Por fim, uma das mensagens a nós é que a transição do feudalismo ao capitalismo foi um processo, conduzido pela classe burguesa, que era a nova força produtiva da época.
"As novas forças produtivas devem estar presentes, e com elas uma classe revolucionária cuja função é compreender e dirigir".
Quem se habilita?
-----------------------------
AGENDA
Volta de Minas Gerais para São Paulo na parte da tarde para compromissos na Contraf-CUT.
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