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23.10.23

História dos bancários: um olhar (X)



O Espelho - Revista Nacional dos Funcionários do Banco do Brasil

23 de outubro de 2023


Unidade e organização pela defesa dos nossos direitos

Ao ler as informações contidas na revista O Espelho nº 2, de fevereiro de 1983, me veio à memória muitas lembranças a respeito desse importante veículo de comunicação dos funcionários e funcionárias do maior banco público do país, o Banco do Brasil.

Durante mais de uma década fui um dos responsáveis pela confecção e edição da revista nacional O Espelho, produzida na minha época de militância pela Confederação Nacional dos Bancários (CNB/CUT) e depois pela Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramos Financeiro (Contraf-CUT), na qual fui secretário de imprensa, depois secretário de formação e também coordenei a Comissão de Empresa dos Funcionários do Banco do Brasil (COE BB ou CEBB). 

A responsabilidade pela publicação à época desta edição (número 2) era da Comissão Executiva Nacional dos Funcionários do Banco do Brasil, escolhida no IX Encontro Nacional dos Funcionários do BB, realizado em outubro/82. A informação está na última página do jornal. A Comissão era composta pela Contec e pelos sindicatos de Brasília, Rio de Janeiro e São Paulo.

Esta edição que tenho em casa é uma relíquia, ela é anterior à criação da CNB/CUT (1992), e anterior ao DNB/CUT (1985/86), departamento criado dentro da CUT (1983) para organizar os bancários em nível nacional.

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Reprodução da primeira página

Unidade e organização pela defesa dos nossos direitos

Neste momento, em que o país passa por difíceis situações e no qual se procura de todas as formas desestabilizar as empresas estatais, entre elas o Banco do Brasil, os funcionários do BB - mais do que nunca - devem reforçar sua unidade e organização, a nível nacional, para lutar pela manutenção de seus legítimos direitos, adquiridos ao longo da História.

Aqui está o segundo número d'O ESPELHO/Edição Nacional procurando levar aos colegas de todos os estados, das capitais e interior, o recado animador, com os informes do que já foi encaminhado e do que devemos fazer daqui para frente.


No dia 2 de dezembro de 1982 a Diretoria do BB recebeu em audiência representantes da CONTEC e dos Sindicatos de Brasília e do Rio de Janeiro. Na oportunidade discutiram-se as possibilidades de negociação e do cumprimento das convenções coletivas pelo BB, mediante autorização do CNPS (Conselho Nacional de Política Salarial).

Até agora não obtivemos resposta do Banco. Não sabemos sequer se o seu Conselho diretor aprovou tal consulta ao CNPS, apesar da insistência da Contec e dos Sindicatos. Entretanto, mais do que nunca se firma a necessidade de estabelecermos uma pauta de reivindicações que contente a totalidade dos funcionários do BB, com vista à realização de negociações com o Banco. Com esse objetivo, foi definida a realização do X ENCONTRO NACIONAL DE DIRIGENTES E FUNCIONÁRIOS DO BANCO DO BRASIL, nos dias 19 e 20 de março de 1983 (sábado e domingo), no Rio de Janeiro, na sede do Sindicato dos Bancários.

Na sua Circular nº 83/008, de 4 de fevereiro, a CONTEC dirigiu às Federações, Sindicatos e Associações de Bancários todas as informações necessárias à participação no X Encontro: ele deve ser precedido da realização de Assembleias dos funcionários do BB nos Sindicatos até o dia 10 de março, para aprovar a pauta de reivindicações que será apresentada ao Banco, delegação de poderes para negociação e escolha de delegados ao X Encontro. A CONTEC sugere que os sindicatos componham as suas delegações com um representante de cada Agência do Banco existente em sua base territorial e que compareça, pelo menos, um dos seus dirigentes, mesmo que não seja funcionário do BB.

Os funcionários do BB sempre estiveram à frente nas lutas dos trabalhadores. O momento agora exige de nós um trabalho persistente: todo funcionário está chamado a ajudar o seu Sindicato a convocar amplamente a assembleia preparatória para o X ENCONTRO, fator fundamental para a nossa vitória.

QUAIS SÃO AS NOSSAS REIVINDICAÇÕES

Como sugestões para compor a pauta de reivindicações, a Comissão Executiva dos Funcionários do BB aprovou o seguinte:

Produtividade - a maior conseguida no país;

Anuênio - Cr$ 2.455,00 corrigido pelos INPCs de março e set/83;

Ajuda Alimentação - a) tíquete nas condições de São Paulo, b) restaurante administrado pelos funcionários do banco;

Estabilidade - durante a vigência do acordo;

Quadro de Carreira - criação de uma comissão paritária para estudar o assunto;

Creche - idem, idem;

Conflitos - funcionamento de uma comissão sindical para discuti-los. deverão ser incluídas reivindicações ligadas aos problemas de relações de trabalho, Caixa de Previdência e de Assistência, etc.

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COMENTÁRIO DO BLOG

Eu me tornei trabalhador da categoria bancária em 1988, primeiro no Unibanco, até maio de 1990, e depois no BB, a partir de setembro de 1992. Enquanto fui bancário de base, fui sendo politizado pelo nosso Sindicato na Grande São Paulo. Fui sindicalizado tanto no tempo do Unibanco quanto no BB, alguns meses após tomar posse do cargo de escriturário na agência Rua Clélia. Sou sindicalizado até hoje em nosso Sindicato.

Em 2002 fui eleito diretor do Sindicato dos Bancários de São Paulo, Osasco e região e a partir desse momento passei a estudar a nossa história de lutas para compreender melhor quem eu era enquanto trabalhador bancário e representante de meus colegas.

Sempre que encontrava materiais informativos sobre a categoria e a nossa história eu pegava as mídias para ler. Também fui um leitor atento dos jornais da categoria, tanto a nossa Folha Bancária quanto as revistas e jornais estaduais e ou nacionais.

No início dos anos oitenta, época deste informativo, os trabalhadores brasileiros sofriam horrores sob a ditadura empresarial e militar, que havia começado com o Golpe de 1964 e ainda causava miséria e carestia ao povo. Os salários e acordos coletivos eram regionalizados. 

O movimento sindical que viria a ser conhecido como Novo Sindicalismo começava a se destacar após as greves dos metalúrgicos do ABC e outras greves e enfrentamentos importantes como tivemos na categoria bancária.

Enfim, a história de lutas da classe trabalhadora brasileira e dos bancários é longa e aguerrida. Assim que comecei a estudar a nossa história, compreendi a responsabilidade que teria como dirigente sindical bancário.

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Segunda parte

Nessa página está um texto intitulado "A importância do BB", texto que destaca a história secular do Banco, que alega que a estatal funciona bem e auxilia o governo e o país e que enaltece o quadro de funcionários e a estrutura nacional do Banco

FGTS - A revista traz uma denúncia de que funcionários do Banco estavam sendo obrigados a "optar" pelo regime do FGTS, abrindo mão da estabilidade no emprego.

"A verdade é que o quadro de carreira do Banco do Brasil vem sendo desmantelado. Os novos empregados são obrigados a 'optar' pelo regime do FGTS, abrindo mão de toda a estabilidade. Quase todos os dias há casos de colegas sendo demitidos sem que nenhuma justa causa seja apresentada para a dispensa. Com a chamada 'política salarial', verdadeira salada de casuísmos, regurgitada desde 1965 pelos governos que se sucederam sob o título de 'revolucionários', e com as famosas 'reestruturações' de carreiras aprovadas nos gabinetes do Ministério do Trabalho, sigilosamente, ninguém sabe como, já bem pouco resta da saúde administrativa da estrutura que tornou o Banco do Brasil grande e respeitado."

O jornal denuncia a redução de até 40% dos salários nos últimos dois anos. Com as políticas salariais do regime autoritário, a Comissão Executiva Nacional conclama que todos se envolvam nas lutas:

"É preciso tomar uma posição. Comissionados ou não, chefe ou contínuo, estaremos todos no mesmo barco. Participe do seu sindicato, e contribua para barrarmos as imposições do capital internacional."

COMENTÁRIO DO BLOG: por décadas, participei das lutas da categoria e as pautas do mundo do trabalho sempre tiveram eixos parecidos. Me lembro de organizar os bancários explicando que os comissionados tinham que participar do movimento, ainda mais depois que os bancos inventaram um monte de função comissionada para manipular os trabalhadores ideologicamente como se eles fossem "chefes" e não "trabalhadores". Já no início dos anos dois mil, praticamente todo mundo nas agências tinha algum tipo de "comissão" para o banco dizer que eram funções de confiança. Uma lábia para enganar a categoria.

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BANCÁRIOS PARTICIPAM DA CRIAÇÃO DA CUT EM AGOSTO DE 1983

Esse excerto que cito abaixo é muito legal! A categoria bancária é estimulada a participar ativamente da criação da Central Única dos Trabalhadores (CUT), em Congresso que se realizará em agosto de 1983 (CONCLAT).

"Os trabalhos da comissão de Política Sindical, aprovados pela plenária, basearam-se nas conclusões da I Conferência Nacional da Classe Trabalhadora realizada em Praia Grande, em 1981. Entre as teses aprovadas, destaca-se o princípio de unicidade sindical, ou seja, um só sindicato representando uma só categoria: a necessidade de liberdade e autonomia sindical, para que os trabalhadores tenham o direito de se organizarem independentemente do Estado, tendo que prestar contas somente aos seus representados. Foi colocada a necessidade de os bancários de todo o país participarem do Congresso Nacional das Classes Trabalhadoras (CONCLAT) em agosto de 1983, do qual sairá, certamente, a Central Única dos Trabalhadores (CUT), um órgão que se propõe a encaminhar unitariamente reivindicações comuns dos assalariados."


Ainda na página três do jornal, lê-se a informação de que ocorreu em 28/01/83 o Encontro Nacional dos funcionários do BB, aproveitando a VII Convenção Nacional dos bancários. A reinvindicação de cumprimento das convenções coletivas constava do documento final. 

Tive a felicidade de ver durante minha época de militância a realização de uma luta antiga: o cumprimento por parte dos bancos públicos da convenção nacional da categoria. Em 2006 o BB passou a cumprir a CCT da categoria e depois a Caixa Federal também.

Na última página, o jornal dá notícias sobre o andamento de ações na justiça em relação ao cumprimento do Dissídio Coletivo de 1974.

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COMENTÁRIO FINAL

É isso! Finalizo a postagem de história dos bancários de hoje. A militância do Banco do Brasil participou ativamente da história das conquistas da classe trabalhadora brasileira, da criação da CUT, e nós sempre fomos vanguarda do movimento sindical.

A revista O Espelho fez parte de minha vida de trabalhador do BB. Durante décadas me informei por esse veículo de informação. 

E mais: durante minha vida de sindicalista, distribuí O Espelho de mão em mão nos locais de trabalho das bases onde atuei.

Abraços a todas e todos!

William


Post Scriptum: para ler o texto anterior desta série é só clicar aqui.


28.8.23

Memórias (XXXIX)



28 de agosto - Dia das bancárias e bancários e aniversário da Central Única das trabalhadoras e trabalhadores

Osasco, 28 de agosto de 2023.


Após muita reflexão, e muito sofrimento, decidi reconhecer que não me queriam mais na maior corrente política da Central Única dos Trabalhadores (CUT), a Articulação Sindical. Fui militante político por décadas e deixei minhas contribuições na história da categoria bancária, da Central e dessa corrente política. Entendi que um militante de esquerda precisa ter um mínimo de amor-próprio até para seguir nas lutas. Luto...

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DIA DOS BANCÁRIOS E ANIVERSÁRIO DA CUT

O dia 28 de agosto é uma data histórica para nós por diversos motivos, dois deles muito ligados a nós que dedicamos a nossa vida à construção dos direitos da classe trabalhadora e de um país mais justo e solidário. A data é referência para os bancários por marcar uma de nossas maiores greves da história e a data é efeméride da criação da Central Única dos Trabalhadores, que hoje completa 40 anos de lutas e conquistas.

A CUT foi finalmente fundada em 1983, após longas discussões entre as forças políticas que se organizavam no final dos anos setenta e início dos anos oitenta. Surgiam no período novas forças sindicais que seriam denominadas de Novo Sindicalismo durante e após as Conferências da Classe Trabalhadora, as Conclat. Tínhamos nos metalúrgicos a figura de Lula e tínhamos grandes lideranças de outras categorias profissionais. Como é um texto de memórias não vou ficar citando nomes porque faltariam nomes importantes.

Entre 1985 e 1987 surge a maior tendência política dentro da CUT, a Articulação Sindical. O contexto no qual as forças políticas construíam a Central permitiu e estimulou a convivência fraterna de diversos grupos dentro da CUT. O respeito às diversas formas de pensamento também vinha sendo exercitado dentro do Partido dos Trabalhadores (PT), criado em 1980. As "tendências" eram uma solução para congregar ideias e visões diferentes antes de se decidir no consenso ou no voto as posições finais do Partido ou da Central.

MILITÂNCIA BANCÁRIA

Entrei na categoria bancária 5 anos após a criação da CUT, comecei a trabalhar no Unibanco em 1988, no Centro Administrativo da Raposo Tavares (CAU). Lá, conheci as lideranças do Sindicato dos Bancários de São Paulo, Osasco e região e além de me sindicalizar e fortalecer o nosso sindicato e as lutas, fui convencido pelo pessoal a organizar internamente os colegas para uma greve que ocorreria no período. Deu certo, cheguei de madrugada naqueles dias e paramos a agência bancária dentro do CAU. Pelo que me lembro, a greve no CAU do Unibanco foi boa naquele ano. Depois de um tempo, fui transferido de departamento, sofri um pouco de assédio e acabei sendo demitido em maio de 1990. 

Cito o funcionário do Sindicato e companheiro Marcos Martins como dirigente político que me inspirou para sempre a ser um representante de classe que independente do mandato eletivo que estivesse exercendo jamais deixaria de estar nas bases sociais, ao lado dos trabalhadores e daqueles que representa. Marcos Martins exerceu todos os seus mandatos sempre presente nas bases. Modéstia à parte, fiz isso, exerci 16 anos de mandatos sempre atento a ouvir as bases, fossem mandatos locais ou nacionais. Fiz o esforço ético de estar sempre nas bases que representava.

Voltei à categoria bancária pouco tempo depois da demissão do Unibanco em 1990. Em 1991 prestei o concurso público do Banco do Brasil, comecei a fazer faculdade de Ciências Contábeis, virei estagiário do BB na agência Ceagesp já no início do ano de 1992 e apesar do concurso ter sido cancelado por fraude, e eu havia passado, fiz de novo e passei de novo. Tomei posse de meu cargo de escriturário na agência Rua Clélia em setembro de 1992. Já no início de 1993, me sindicalizei de novo ao Sindicato e até hoje pago em dia minhas mensalidades ao nosso Sindicato que completou 100 anos de existência.

ARTICULAÇÃO SINDICAL

Minha primeira década de bancário do Banco do Brasil foi a década de grandes ataques aos direitos sociais no banco e risco de privatização do maior banco público do país. As correntes políticas na categoria bancária faziam o que era possível para organizar os trabalhadores e a sociedade para resistir aos ataques de Fernando Collor e FHC. Fui aprendendo política no local de trabalho. Nenhuma escola ensina política como a luta organizada no mundo do trabalho. Afirmo isso como quem fez duas graduações e quase concluiu uma terceira. E também fiz muito movimento estudantil como, por exemplo, a famosa greve de mais de 100 dias da FFLCH/USP em 2002.

O Sindicato organizava os locais de trabalho (OLT) criando uma rede de militância por regiões e por concentrações de bancos. Nós que enfrentávamos os gestores e os assediadores éramos disputados pelas forças políticas, toda hora tinha alguém nos convidando para reuniões organizativas. Fui a diversas reuniões políticas que depois entendi que eram de partidos e grupos sindicais diversos: PT, PSTU, PCdoB, PCO, Convergência Socialista, FES, Articulação Sindical, CSD etc. A CUT era composta por uma enormidade de tendências internas, se não me engano eram umas 17 forças políticas dentro da CUT nos anos oitenta.

Enfim, como eu não me sentia à vontade em reuniões nas quais a militância mais falava mal da direção do Sindicato e do Sindicato do que dos patrões e governo, acabei ficando nas reuniões dos representantes do Sindicato e quando entendi, eu era um militante da Articulação Sindical da CUT no Sindicato dos Bancários de São Paulo, Osasco e região. Foi assim a minha primeira década de funcionário do BB. 

Minha referência de trabalho sindical e representação de base, de pessoa que ouvia e debatia com a militância, foi a companheira Deise Lessa, do BB. Como eu era um militante de opinião "forte", a Deise sofreu comigo (risos). Me lembro dos debates sobre as reformas dos estatutos da Cassi (1996) e da Previ (1997/98). Foram necessárias diversas reuniões políticas com a Deise e outros companheiros para que eu compreendesse bem as questões e passasse a defender as propostas da corrente política do Sindicato.

Em 2000 eu quase entrei na direção do Sindicato, mas não deu certo. Em abril de 2002, acabei compondo a chapa cutista vencedora das eleições do Sindicato e virei dirigente sindical. Fui liberado do local de trabalho para me dedicar exclusivamente ao mandato sindical em 5 de agosto de 2002. Após quase 10 anos de atendimento ao público no caixa do BB virei dirigente sindical e, infelizmente, por uma estratégia da direção do banco, desde o 1º dia tive uma redução salarial de cerca de 1/3 porque passei a receber salário de escriturário e não de caixa executivo...

Durante 16 anos de mandatos eletivos, nunca deixaria de visitar com regularidade o meu local de trabalho para ouvir os colegas - a agência Vila Iara em Osasco - e fazer os debates políticos em questão. Vi colegas chegarem e partirem para outras dependências, vi diversos gestores passarem pela agência e nunca deixei de visitar o que considerava o meu local de trabalho. Até hoje, tenho contato com amigos da dependência, alguns na ativa, outros aposentados.

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DIRIGENTE POLÍTICO DA CATEGORIA BANCÁRIA

A categoria bancária e a classe trabalhadora brasileira viveram grandes momentos em sua história de lutas e conquistas nos anos dois mil. Fico feliz por ter feito parte dessas lutas.

Como dirigente sindical bancário a partir do ano de 2002 eu fui me desenvolvendo e me politizando a partir das lutas que idealizamos e realizamos durante os mandatos presidenciais de governos progressistas e mais favoráveis à classe trabalhadora e aos movimentos populares.

A campanha para a eleição de Lula em 2002 já foi uma tremenda escola política. Depois vieram as campanhas salariais da categoria e pertencer a um dos maiores sindicatos do país me fez entender que eu não poderia perder tempo em relação à formação e passei a estudar a nossa história e entender quem eu era desde o início do mandato.

Muita coisa já escrevi nessas memórias que postei aqui no blog, não sei se essa será a última postagem, afinal de contas já são 39 capítulos de lembranças e histórias dessa trajetória de militância política na categoria bancária sendo um dirigente da Articulação Sindical da CUT.

Em linhas gerais, e olhando rapidamente para trás, sei que tive uma participação importante em várias conquistas desse período porque ser dirigente de um sindicato grande faz diferença nessas questões. Algumas estratégias políticas de campanha salarial foram gestadas em nosso sindicato e outros dos maiores do país. 

CAMPANHA UNIFICADA E AUMENTO REAL

Posso citar como exemplos de estratégias exitosas a campanha unificada entre bancos públicos e privados na categoria bancária e a estratégia de reivindicar aumentos reais de salários e não focar só na reivindicação de "perdas". Fui um agente importante desses debates entre a companheirada dos bancos públicos do país. Nossa corrente Articulação Sindical praticamente defendeu sozinha essas estratégias no início e com muita argumentação fomos convencendo os demais setores do movimento.

Estratégias de organização do movimento também foram foco de grandes debates durante todos os anos de governos do Partido dos Trabalhadores e sem dúvida deixei a minha contribuição ao debate, sempre falando como uma liderança da Articulação Sindical. Essas decisões se dão nos congressos e sempre fiz defesas das teses da corrente em debates acalorados e muito ricos.

Guardarei sempre na memória a minha participação em dezenas de assembleias lotadas na Quadra dos Bancários e outros espaços durante as campanhas de renovação de direitos nas datas-bases da categoria. Fui um dos inscritos em falas finais de assembleias do BB para aceitar ou rejeitar propostas de acordo coletivo entre 2003 e 2013 na base de São Paulo, Osasco e região.

Além de ter sido membro da Executiva do Sindicato, fui representante de São Paulo na Comissão de Empresa já nos primeiros anos de mandato. Depois acabei sendo coordenador nacional da CEBB (ou COE BB). A tabela da Carreira de Mérito (2010) tem participação minha na idealização alternativa a lutar por "perdas" no PCS antigo do BB (anterior a 1996). Como havíamos perdido os interstícios de 12 e 16%, pensei formas alternativas de premiar antiguidade no banco. Deu certo à época.

MANDATOS NA CONTRAF-CUT

Fui secretário de imprensa e depois de formação de nossa Confederação desde o seu primeiro congresso em 2006. Essas oportunidades me permitiram crescer muito como pessoa e como dirigente porque mergulhei nos estudos de comunicação e imprensa e depois na formação política e histórica da classe trabalhadora. 

Fomos responsáveis juntamente com a direção e os funcionários por dar visibilidade à nova marca "Contraf-CUT" em substituição à antiga "CNB-CUT". E com parcerias com o Dieese, federações e sindicatos fizemos memoráveis cursos de formação entre 2009 e 2015. Foram centenas de participantes de todas as regiões do país.

MANDATO NA CAIXA DE ASSISTÊNCIA DO BB (CASSI)

Minha última contribuição em mandatos eletivos foi na diretoria de saúde da Cassi. Tínhamos alguns objetivos ao iniciar o mandato e durante a gestão fomos estudando e compreendendo melhor o que significava a Caixa de Assistência para os associados e participantes e para o segmento de autogestão em saúde dos trabalhadores.

Além das questões afetas à área que fui responsável, a do modelo de saúde, a Cassi tinha uma questão geral a resolver com o banco patrocinador e os associados: o custeio do Plano de Associados.

As áreas da Cassi sob minha responsabilidade direta foram prioridade absoluta: o modelo de Estratégia de Saúde da Família (ESF) e a estrutura própria de saúde - Unidades e CliniCassi - foram fortalecidos, bem como a ampliação da participação social e compreensão do que era a Cassi.

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A HISTÓRIA DA LUTA DE CLASSES É COLETIVA

Foram mais de três décadas trabalhando como bancário, servindo às brasileiras e brasileiros que precisam de serviços bancários e do sistema financeiro, e representando os colegas em espaços de construção coletiva de direitos. 

A história da luta de classes é e provavelmente sempre será coletiva, construída a diversas mãos. Que bom que seja assim. Sozinhos não somos nada.

Após uma vida dedicada às lutas da categoria bancária, acabei tendo um final de vida laboral de forma isolada e sem despedidas em 2019. Já vivíamos anos difíceis no Brasil, com um golpe de Estado em andamento, tempos de Temer e Bolsonaro.

Diferente daqueles finais felizes, com festas de despedidas e plaquinhas de agradecimento, meu último ano de trabalho no BB foi tenso, já que eu havia sido dirigente dos trabalhadores e estava sem mandato algum. Felizmente eu tinha muitos dias de abonos e licenças acumulados e me afastei até me desligar e exercer meu direito de ser beneficiário de nossa previdência complementar.

Como militante da classe trabalhadora, mesmo retirado do dia a dia da vida bancária, seguirei estudando e compartilhando experiências, memórias e conhecimento através de meus textos e da participação eventual nos movimentos sociais.

Parabéns às bancárias e bancários e vida longa à Central Única dos Trabalhadores! 

William Mendes


Post Scriptum: fiz dezenas de artigos ou capítulos de memórias aqui no blog, estão todos disponíveis, o anterior a este pode ser lido aqui.


18.6.23

Memórias (XXXVIII)


Na mesa de assembleia com grandes lideranças:
Deli, Vaccari, Marcolino e Sasseron. Foto: Pepe.


Evocações

A leitura do livro Evocación, de Aleida March, me levou aos prantos. Aleida é uma mulher revolucionária, foi combatente na Revolução Cubana e companheira de Ernesto Che Guevara. A leitura de suas recordações e resgates de momentos vividos ao lado de Che me fez refletir sobre muita coisa e também me fez recordar o passado de lutas.

Em suas recordações, ela vai nos contando sua infância e adolescência, vivida em meio às dificuldades materiais e sob a violência que o povo sofria por parte do governo de Fulgencio Batista, ditador que assumiu o poder após o golpe de Estado de 1952. Ela encontrou a si mesma ao ler aos 20 anos de idade A história me absolverá, alegação de defesa de Fidel Castro no julgamento dos jovens revolucionários que atacaram o quartel de Moncada, em 26 de julho de 1953. 

Aleida disse: "sentí que en ese documento se expresaban todos mis ideales y la ruta a seguir para conquistar la plena dignidad patria."

Ao longo do livro o leitor passa a conhecer um Che Guevara que não se conhece lendo a farta biografia positiva e negativa que existe sobre ele. É diferente de outras biografias ler Aleida March compartilhando conosco a sua vida comum com Che, seu comandante, depois seu chefe, depois seu marido e pai de seus quatro filhos. Seu amante, seu amigo, seu professor e seu inspirador. Seu eterno apaixonado. 

Ao ler sobre o momento no qual Che se despede de Aleida e dos filhos em 1965, deixando fitas gravadas com declamações dos poemas que mais gostavam, para partir para a guerrilha de libertação do povo no Congo, foi impossível não chorar como ela diz que chorou...

Che acreditava na construção de um "homem novo", um novo ser humano, um ser humano educado, com cultura, com um forte espírito criador e focado na busca de uma sociedade mais justa e igualitária. Era muito forte em sua concepção e prática revolucionária a questão da ética e do caráter que as pessoas deveriam ter tanto nas questões pessoais e coletivas quanto nas relações sociais.

Com a leitura das evocações de Aleida March, foi inevitável reviver minhas próprias evocações dos tempos de lutas...

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NA REPRESENTAÇÃO DE CLASSE, PROCUREI FAZER NA PRÁTICA O QUE DEFENDÍAMOS NO CAMPO DAS IDEIAS DA ESQUERDA

Figuras humanas como a do médico revolucionário Ernesto Che Guevara sempre inspiraram o campo político da esquerda. No nosso caso brasileiro, a figura do metalúrgico humanista Luiz Inácio Lula da Silva nos inspira há décadas, sendo Lula um grande homem da prática como exemplo de vida e representação política.

Ao longo das evocações de Aleida March, relembrando posturas éticas e princípios inquebrantáveis no líder revolucionário Che Guevara, tive também as minhas recordações dos tempos de lutas sindicais e representação eletiva da classe trabalhadora. As evocações me trouxeram uma leveza que ninguém poderá me tirar, porque a ética foi a minha prática no dia a dia da luta empreendida entre capital e trabalho.

No movimento sindical, minha escola de formação política foi o Sindicato dos Bancários e depois a tendência política na qual militei por décadas. No dia a dia sindical, a minha formação foi sendo construída diariamente a partir das visitas às bases sociais e nas reuniões políticas e formativas do coletivo de banco ao qual eu pertencia, o do Banco do Brasil. 

Como dizíamos, tínhamos dois ouvidos e uma boca, então era importante ouvir a base e não só fazer pregação sem ouvir o outro lado. Fiz isso a vida toda. Sempre que estudamos um grande líder do nosso campo político - o democrático -, vemos que essa prática é central: ouvir as pessoas.

Dei sorte de vivenciar o momento áureo do sindicalismo bancário e cutista brasileiro. A divergência de opiniões e ideias era a prática e ninguém era excluído ou desconsiderado (hoje dizem "cancelado") por ter opinião própria, estávamos abertos a mudar de ideia e, por haver tolerância e paciência, todos saíam fortalecidos e unidos com os debates e as decisões construídas por consenso progressivo.

Com o passar do tempo na condição de dirigente eleito, fui assumindo novas tarefas no movimento e ao passar a coordenar e liderar temas importantes ou setores estratégicos, me esforcei para pôr em prática tudo o que havia aprendido no dia a dia da formação política advinda da relação com a base, com o coletivo de banco, com o conjunto da direção do Sindicato e com as demais forças políticas que atuavam no movimento e que eram "oposição" à corrente política que eu representava. E também exerci a ética e prática sindical na relação com o patronal, o capital.

Ao longo do livro de recordações de Aleida March, ela nos conta passagens nas quais Che não aceitava absolutamente nenhuma ação que pudesse parecer privilégio, não admitia nenhum excesso de gasto pessoal com o recurso que era coletivo, era de uma disciplina incrível nas ações e práticas que exercia em nome da revolução e da causa pela qual lutava, a leitura e o estudo permanentes eram uma questão de princípio, educação e formação para construir-se o homem novo para uma nova sociedade.

De certa forma essas foram as mesmas concepções e práticas sindicais que embasaram a minha formação política de esquerda, através do movimento que ganhou o nome de Novo Sindicalismo a partir do final dos anos setenta, com a luta de metalúrgicos, bancários, professores e outras categorias contra a carestia, pela volta da democracia e por um Brasil mais justo e igualitário. Os anos oitenta foram o momento áureo dessas lutas: a criação do Partido dos Trabalhadores, a Conclat e depois a CUT, o MST, as Diretas Já, a Constituinte e a Constituição Cidadã de 1988 deram as bases ideológicas ao movimento sindical ao qual me integrei no final dos anos oitenta e ao longo das décadas seguintes.

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EVOCAÇÕES SINDICAIS (2003-2018)

A formação da minha ética política se deu nos primeiros anos do movimento sindical. E seguiu ano após ano, nas lutas constantes e dilemas vividos nas funções que desempenhei como dirigente da classe trabalhadora.

Diria até que minha ética de trabalhador de categoria organizada sindicalmente e nacionalmente se deu assim que entrei na categoria bancária em 1988, e com embates reais entre capital e trabalho. No entanto, a ética como liderança se deu após 2003.

TER OPINIÃO DIFERENTE NÃO É SER INIMIGO DA DIREÇÃO DO SINDICATO - Ainda como trabalhador de base nos anos noventa, me lembro, por exemplo, de quando o nosso sindicato entrou com ação judicial contra o governo federal para que os trabalhadores bancários da base pudessem abater todas as despesas com educação. Falei com a direção sindical que isso iria dar merda...

Eu já era formado em Ciências Contábeis e entendi que isso tinha um risco enorme de dar errado e a liminar ser cassada porque os bancários vivem no mesmo mundo do restante da classe trabalhadora. Por que só nós teríamos esse direito, esse privilégio?

Não deu outra... liminar cassada e teve trabalhador que precisou vender carro para pagar o fisco. Os bancários ficaram bravos pra caramba com o sindicato. Eu avisei onde trabalhava que era uma fria utilizar essa liminar. A intenção do sindicato até era legítima, mas estava na cara que esse atalho para se fazer justiça tributária não era o mais adequado. 

A FORMAÇÃO POLÍTICA COMO DIRIGENTE SINDICAL

Me lembro das assembleias decisivas dos bancários do Banco do Brasil naquele primeiro ano sob o governo do presidente Lula (2003). 

Era uma segunda-feira quando veio a proposta final do governo para ser apreciada em assembleia à noite na Quadra dos Bancários. 

Eu havia dito ao nosso coordenador da comissão de negociação que seria difícil a aprovação da proposta arrancada na mesa de negociação porque os trabalhadores esperavam ao menos uma proposta idêntica ao índice que a categoria havia conseguido na mesa da Fenaban. 

Isonomia e campanha unificada eram eixos congressuais nossos, mesmos direitos entre todos os bancários, de bancos privados e públicos em geral. 

Defendemos a aprovação da proposta negociada em mesa - isso é uma ética de mesa de negociação entre capital e trabalho. Os bancários rejeitaram a proposta e construímos uma forte greve entre a terça e a quinta-feira. 

A direção do Sindicato foi impecável em nossa ética sindical, os trabalhadores decidiram e nós encaminhamos uma greve muito forte. 

Na quinta-feira, iríamos apreciar nova proposta negociada com o governo e patrão sob uma correlação de forças melhor - a greve forte - e agora com o índice cheio da categoria (12,6%), e com diversas conquistas novas: um acordo de PLR que não havia nos bancos públicos, isonomia nos tíquetes e auxílio-creche que eram menores no BB, um aumento grande na cesta-alimentação, 5 dias de abonos para funcionários pós-1998, a volta do direito de eleger delegados sindicais com estabilidade, e abono dos dias de greve. Uma proposta vitoriosa mediante a greve daqueles 3 dias.

A assembleia à noite foi tensa, quadra lotada. 

Na passeata que fizemos durante a tarde, parte da militância me disse que queria aceitar a proposta e encerrar a greve vitoriosa. Outra parte queria rejeitar a proposta e queria muito mais, talvez a revolução (rsrs). 

Na reunião da direção nos bastidores da assembleia, decidimos que eu faria uma das defesas da proposta, eu já tinha muita inserção na base social. 

Foi difícil aquela fala com a massa de trabalhadores, gente querida gritando e ofendendo, queriam continuar a greve. 

Aprovamos a proposta e a categoria saiu vitoriosa daquela campanha. 

Eu me sentei atrás do palco e chorei. Foi tenso demais. Iniciei ali uma relação de liderança com a categoria baseada em muita honestidade e ética sindical. Eu fiz a coisa certa naquele momento.

A militância que ficou brava na hora depois me procurou e nos deu razão. Foi uma campanha vitoriosa.

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A LIBERDADE DE OPINIÃO FOI CENTRAL NA MINHA FORMAÇÃO POLÍTICA

Depois dessa primeira assembleia decisiva em 2003, fiz nas assembleias em São Paulo as defesas das propostas finais das negociações entre a direção do Banco do Brasil e nós das confederações de bancários da CUT (CNB e Contraf) entre os anos de 2004 e 2013, foram 11 anos de muitos debates com a massa de trabalhadores bancários de nossa categoria.

Cada ano, uma história. A campanha de 2004 e a greve de 30 dias. A campanha de 2005 (e essa tem uma história antes mesmo de começar)... e assim sucessivamente até a última campanha que atuei no sindicato e na confederação em 2013. Em 2014 fui eleito para a direção da Caixa de Assistência dos Funcionários do BB (Cassi) e no congresso daquele ano deixei a coordenação do movimento no banco.

Estabeleci uma relação ética com os trabalhadores e com as lideranças de todas as forças políticas que atuavam na categoria bancária. Essa ética na postura e na defesa daquilo que acreditava marcou momentos políticos interessantes em nossas vidas de direção sindical nos anos dois mil.

Cheguei a fazer falas em congressos de bancários dividindo tempo com pessoas da oposição contra a minha própria corrente política porque eu entendia que a proposta em questão era um absurdo completo, contrária aos princípios que norteavam as nossas bandeiras políticas da CUT. 

É claro que houve um consenso em nosso grupo de que a corrente estava dividida naquele tema e foi aberta essa possibilidade de defesa a favor e contra a proposta em questão - algo que o pessoal conhecia com o apelido de "cláusula Zé Lourenço". Nunca fui porraloca como dirigente. Minha atuação naquele momento foi consentida pelo grupo político ao qual eu pertencia. No final, a proposta "Zé Lourenço" foi rejeitada com votação apertada após contagem de crachás.

E nem por isso, ter opinião divergente de parte de minha corrente, deixei de ser uma liderança nacional, coordenador de nossas bancadas e negociações etc. Havia uma ética no movimento sindical que permitia a opinião divergente e o debate de ideias sem a pessoa ser demonizada e cancelada por isso. Todos ganhavam com a construção do consenso progressivo, a Política e a Democracia eram fortalecidas.

Essa política saudável de debate de ideias e construção de consensos foi sumindo do seio de nossa democracia sindical e partidária na última década. Avalio que isso não é bom para o movimento dos trabalhadores. Isso não fortalece a unidade e o pertencimento às causas que defendemos.

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NA COMUNICAÇÃO E NA FORMAÇÃO POLÍTICA O CORPO FALA, A PRESENÇA NO AMBIENTE É CENTRAL (ONTEM E HOJE)

A leitura das evocações de Aleida March, companheira de Che Guevara, me trouxe várias lembranças ao longo dos quatro dias de leitura. Várias. Tem uma passagem no livro onde ela fala do incomodo do Che quando algum companheir@ deixava de participar dos eventos presencialmente.

"Es en esta época en que el Che comienza a asistir a las recepciones de gobierno, porque entendía que era un compromiso ineludible y una escuela de formación para los nuevos cuadros de la Revolución. En realidad se molestaba muchísimo cuando algún compañero no asistía, al considerarlo como parte de sus funciones. Como siempre, iba vestido con su uniforme verde olivo, que ya en la noche había sufrido el rigor de la faena de todo el día: reuniones, actos, en fin, las tareas cotidianas." (ALEIDA March, Evocación, p. 102)

Aproveito a passagem acima para refletir em uma postagem de Memórias no blog sobre essa questão da "escuela de formación" quando se trata da participação presencial em eventos formais da política. 

Tenho observado que algumas das direções sindicais e partidárias deixaram de fazer encontros e assembleias presenciais quando o assunto pode gerar algum enfrentamento político. 

Entendo todas as alegações que as direções apresentam para só fazerem assembleias e eleições virtuais, mas acho uma perda de oportunidade não aproveitar esses eventos políticos para educar e formar a classe trabalhadora que se quer organizar e representar.

Em uma assembleia ou congresso de trabalhadores, tudo ensina, tudo educa. Até as movimentações dos grupos políticos pelos cantos, definindo as posições e as defesas, demonstram aos participantes a pujança da política e do debate de ideias. Demonstra inclusive que as pessoas com ideias diferentes não são inimigas, só têm ideias diferentes... a política deve ser civilizada, ela é para se evitar a violência e a guerra.

Quando eu coordenava as negociações nacionais do Banco do Brasil e os congressos e assembleias, sempre pedia para a nossa militância fazer falas e defesas que fossem didáticas ao falar para o plenário. Não era necessário ficar só nas provocações com os outros grupos. A fala deveria ser formativa. Quem atuou comigo vai se lembrar disso.

Ao fazer uma defesa sobre a campanha unificada, ou sobre o porquê de ser melhor reivindicar ganho real ao invés de perdas desde Cabral, ou por quê salário fixo é melhor que remuneração variável, eu pedia que o dirigente desse o histórico do tema para centenas de participantes que iriam votar a seguir. A política deve educar o trabalhador e a trabalhadora.

Outra questão muito importante é a própria postura das mesas que coordenam congressos e assembleias, os ritos democráticos, se não existir eventos presenciais toda essa construção democrática desaparece. Ela sempre foi meio consuetudinária, ritos construídos entre nós trabalhadores e não registrados em papéis. E funcionavam!

Outro dia, fui a uma assembleia presencial do meu condomínio e ao ver a desorganização e a falta de tato para coisas básicas, precisei pedir o microfone e dar algumas orientações sobre apresentação de propostas, processos de defesas, questão de ordem, que não se fala ou debate durante período de votação etc. As pessoas perderam a noção de quase tudo.

Enfim, como vamos convencer a classe trabalhadora a ir para as ruas defender ideias abstratas como democracia, direitos trabalhistas e previdenciários, meio ambiente etc se não exercitarmos a participação presencial em uma assembleia ou congresso de trabalhadores para decidir a vida imediata deles como o emprego, o salário etc? É o mínimo para se preparar uma pessoa a participar de algo como ir para as ruas lutar contra um golpe militar ou golpe fascista chamá-la para ir a uma assembleia umas duas vezes ao ano!

FAZER OU NÃO FAZER ASSEMBLEIA PARA COMEÇAR UMA CAMPANHA SALARIAL?

Fecho esta Memória com uma evocação lá de 2005, quando eu estava em meu primeiro mandato eletivo como dirigente da classe trabalhadora.

Íamos começar os processos democráticos de organização das bases de trabalhadores bancários. As assembleias de base são os fóruns onde tudo começa. É assim há séculos... não é exagero. Essa prática democrática das assembleias vem de muito longe...

Na assembleia é onde as forças políticas se apresentam, onde se definem eixos de campanha e quem vai representar e liderar a categoria nos fóruns decisórios de uma campanha salarial. Já falei acima sobre os ritos democráticos numa assembleia presencial.

Em um certo momento interno em nosso sindicato, a direção procurou todas as forças políticas que atuavam na categoria em nossa base e em nome da unidade desenhou-se uma distribuição da delegação que participaria dos fóruns estaduais e no fórum nacional que definiria a pauta de reivindicações daquele ano.

Assim que eu entendi direito a proposta, questionei o método definido naquele fórum interno porque não haveria assembleia de base. Aleguei que definir as delegações assim, por distribuição de forças políticas sem a assembleia da categoria era uma opção que deseducaria a base e nós mesmos, dirigentes cutistas.

Aberta a polêmica, todas as pessoas da direção envolvidas naquela fase de decisões foram ouvidas e como não houve consenso progressivo porque eu não concordei, a reunião foi suspensa e remarcada para que cada participante fizesse suas consultas e se organizasse para a definição do método dias depois.

Bom, felizmente, fui feliz no meu questionamento democrático. Após idas e vindas, prevaleceu a decisão de se fazer assembleia de base para definir as questões centrais e as delegações para as etapas seguintes da campanha salarial daquele ano de 2005.

Foi algo muito parecido com aquele clássico filme "Doze homens e uma sentença". Nossa democracia interna baseada na paciência e na construção de política ouvindo a divergência, o consenso progressivo, evitou que iniciássemos em 2005 na maior base bancária do país, uma campanha sem assembleia inicial.

Tenho uma leitura do momento atual de que se isso acontecesse hoje, eu não seria ouvido, a opinião divergente sequer teria sido ouvida e a proposta inicial seria automática... campanha salarial sem assembleia de base...

Juro pra vocês que isso aconteceu em 2005. Foi um aprendizado para todos nós da direção do Sindicato. Fizemos uma ótima campanha salarial naquele ano.

William


Post Scriptum: para ler o texto de Memorias XXXVII anterior, é só clicar aqui. O capítulo seguinte pode ser lido aqui.


9.2.23

Memórias (XXXVI)


Eu, Miguel, Vagner, Carlão e Plínio,
parte da direção da Contraf-CUT 2006.

Fazíamos planejamento estratégico e tínhamos ao menos noção de onde queríamos chegar e quais as etapas que tínhamos que cumprir...

Osasco, 09 de fevereiro de 2023. Quinta-feira.


De vez em quando, acabo pegando essa folha de papel virtual em branco e registro algumas lembranças e sentimentos do período no qual ajudei a construir uma das maiores estruturas sindicais da classe trabalhadora brasileira: a Contraf-CUT, sucessora da CNB/CUT, sucessora do DNB/CUT, uma estratégia ousada dos bancários organizados dentro da Central Única dos Trabalhadores, criada em 1983, após a Conclat.

Ao separar mais um volume de papéis para expurgo, me deparei com o Relatório de Planejamento para o ano de 2007 da direção da Contraf-CUT. A confederação havia sido criada no início do ano de 2006 e o 1º congresso havia sido realizado em abril, se não me falha a memória. Tive o privilégio de ser indicado no congresso para compor a direção da entidade, atuaria na área de comunicação.

O planejamento foi realizado em Itapecerica da Serra (SP), entre os dias 13 e 15 de dezembro de 2006, e contou com a presença de 20 dirigentes e com assessorias, inclusive do Dieese, que coordenou os trabalhos do planejamento.


Veja abaixo o enunciado do projeto da Contraf-CUT que definimos para os doze meses do ano de 2007:

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"A Contraf-CUT irá organizar, representar, de fato e de direito e contratar para todos os trabalhadores e trabalhadoras do ramo financeiro articulada com as federações e principalmente sindicatos"

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A prática de planejar a organização da luta da classe trabalhadora me deu uma formação essencial para ser o dirigente que acabei sendo por 16 anos de mandatos eletivos. 

Os coletivos políticos e sindicais acabaram definindo minha caminhada política nesse período. Estive na Executiva do Sindicato, na representação da Comissão de Empresa dos Funcionários do BB (CEBB ou COE) e depois fui coordenador, estive na secretaria de imprensa e depois formação da confederação e estive da direção da Caixa de Assistência em saúde do BB, a Cassi. 

Desde que fui eleito para o 1º mandato de representação em 2002, no Sindicato dos Bancários de São Paulo, Osasco e região, fui me politizando e me tornando um dirigente que sabia o que era, o que deveria fazer e aonde queria chegar em cada momento sindical que vivi. A prática das reuniões políticas com a base, com a direção e os planejamentos me davam uma segurança em relação ao que fazer.

No sindicato, fazíamos planejamento da diretoria. No coletivo de banco (Coletivo BB) ao qual pertencia, fazíamos planejamento para o mandato, para o ano, para as regiões do sindicato, para cada dirigente e fazíamos reuniões periódicas para avaliar o trabalho de cada um, para alinhar estratégias e táticas e nos ajudarmos mutuamente. 

Repito: desde que virei dirigente sindical, eu sabia o que deveria fazer enquanto representante dos trabalhadores em um sindicato combativo e importante como a entidade na qual militei como bancário de base e como dirigente por muitos anos: três décadas na categoria.

CASSI

Depois de mais de uma década de planejamentos, objetivos, estratégias e táticas vivenciados no dia a dia da organização do movimento sindical bancário e da CUT, cheguei eleito a maior e mais antiga autogestão em saúde do país, a Caixa de Assistência dos Funcionários do BB.

A autogestão Cassi é uma das organizações da classe trabalhadora mais interessantes que eu já conheci. Ao começar os trabalhos na associação, fui obrigado a estudá-la profundamente em pouquíssimo tempo e o que nos deu condição de gerir a Diretoria de Saúde e Rede de Atendimento da Cassi ao longo do mandato de 4 anos foi o planejamento que fizemos logo nos primeiros 3 meses de gestão. Eu tinha metas e tarefas para cada ano do mandato e cumpri religiosamente cada etapa.

A Caixa de Assistência passava por uma de suas crises econômico-financeiras, algo que se repete desde a sua criação em 1944 por causa das características intrínsecas a ela e externas em relação ao mercado no qual atua. Felizmente, atravessamos os 4 anos de mandato sem que os associados perdessem direito algum em saúde e ainda fortalecemos o modelo assistencial da Cassi, a Estratégia de Saúde da Família (ESF).

Posso afirmar categoricamente neste registro de memória que se não fossem os estudos que realizamos, a equipe de profissionais que tínhamos, o apoio de entidades representativas e o trabalho permanente de esclarecimento às bases sociais ao longo do mandato, não teríamos conseguido manter os direitos dos associados e o modelo assistencial e, no plano de custeio, não teríamos conseguido manter a solidariedade, que só foi retirada após nossa saída da gestão.

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ORGANIZAÇÃO E PLANEJAMENTO NA ESQUERDA É ESSENCIAL

O planejamento estratégico por parte das organizações sociais é algo essencial para dar um norte, um senso de objetividade aos militantes da classe trabalhadora. Para perseguirmos nossas utopias com um mínimo de organização.

Sem objetivos, estratégias e táticas definidos, sem distribuição de tarefas, e sem formação e politização dos grupos, sem comunicação adequada, as pessoas podem até trabalhar (militar) até o limite de suas forças, mas talvez não consigam ver o resultado de seus trabalhos.

E se o planejamento for feito somente pelas cúpulas (os tais "capas"), sem ouvir e envolver o conjunto das direções sindicais, políticas e militâncias, a tendência é a não realização dos objetivos coletivos e não se chegar a lugar algum. Sem dar pertencimento a quem milita no movimento não se vai muito longe.

Eu desejo muito que as organizações sindicais e as partidárias de esquerda estejam preparadas ou se preparando para o duro embate que temos com nossos adversários, que agora são mais que isso, talvez inimigos. Vejam o exemplo da extrema-direita que nos quer mortos e eliminados da face da Terra.

Olhando para trás, analisando a história da categoria bancária que vivemos juntos, sou testemunha que a classe trabalhadora pode mudar a realidade social e avançar em conquistas coletivas em todas as dimensões sociais, mesmo quando os adversários - patronato - são os donos do capital, os banqueiros e capitalistas.

Deixo meu fraterno abraço e desejo de conquistas e realizações às militâncias e às direções das entidades de luta da classe trabalhadora.

William Mendes


Para ler o texto anterior de Memórias (XXXV) é só clicar aqui. O texto seguinte pode ser lido aqui.


7.6.15

Artigo: 30 anos de organização dos bancários na CUT





Por: Jacy Afonso (6/06/15)


"Nesse momento de comemoração, há que se perguntar: o sindicalismo fundante das representações das trabalhadoras e dos trabalhadores bancários permanece nas instituições?"


O movimento sindical bancário sempre se caracterizou pelo protagonismo de sua atuação. Os desafios que assumiu no decorrer de sua história apontaram para formas de organização novas, possibilitando estabelecer reivindicações importantes e, em consequência, conquistas fundamentais não somente para a categoria, mas também para toda a classe trabalhadora.

O golpe militar de 1964 estilhaçou a independência sindical e as entidades passaram a ser coordenadas por interventores, asseclas da ditadura e verdadeiros pelegos da burocracia sindical.

Com os sindicatos de bancários não foi diferente. Aqueles que deveriam ser representantes dos trabalhadores esqueceram seus compromissos. Porém, mesmo com o cerceamento da organização e a perseguição aos sindicalistas, algumas lideranças como Olívio Dutra, bancário do Rio Grande do Sul, e Lula, metalúrgico do ABC, compreenderam que os sindicatos oficiais não deveriam ser encarados apenas como espaços de peleguismo. Eles poderiam ser transformados e servir à luta dos trabalhadores.

Com essa perspectiva, houve a reorganização sindical e a retomada dos movimentos de trabalhadores. E assim como na implantação da ditadura militar, novamente em 1979 Lula e Olívio Dutra viveram um processo intervencionista nos sindicatos e tiveram seus mandatos cassados.

Mas, resistir era preciso. E, especialmente a partir de 1978, o movimento dos bancários deu início à organização de oposições para tomarem democraticamente os sindicatos e os transformarem em instrumento da luta por melhores condições de trabalho e de vida, e pela democratização do país. E assim se iniciou uma luta épica para recuperar parte do muito que havia sido subtraído pela ditadura militar.

O chamado Novo Sindicalismo busca a unidade e a retomada da organização da categoria bancária que queria mais do que uma estrutura corporativista.

A partir de 1979, novas lideranças bancárias assumiram entidades sindicais importantes. Citamos Natividade, no Ceará, Horácio Paiva, no Rio Grande do Norte, Milton Montini, no Rio Grande do Sul, Ivan Pinheiro, no Rio de Janeiro, Augusto Campos, em São Paulo, Augusto Carvalho, em Brasília, Osvaldo Laranjeira, na Bahia. Estes líderes participaram da primeira CONCLAT, em agosto de 1981, e parcela deles fizeram parte da Comissão Nacional Pró-CUT, que tinha a determinação de criar uma nova forma de estrutura sindical, independente, democrática e classista. A única confederação que participou desse fato histórico foi a Contag.

As divergências de estratégias de ação das representações sindicais provocaram a ruptura em 1983 e nasceu, então, a CUT.

A fundação de nossa Central contou com o apoio integral das diretorias de dois sindicatos de bancários: o de Porto Alegre e o de São Paulo. Nesse momento, a Unidade Sindical, corrente dos sindicalistas filiados ao PCB, se alia com as confederações oficiais e funda a CGT. Entre elas está a Contec, que praticamente só assinava os acordos negociados pelas entidades que efetivamente organizavam a categoria e cuja direção era escolhida por um colegiado composto por presidentes de 9 federações.

O final da ditadura militar possibilitou a reorganização sindical e, com ela, a ascensão do movimento. A participação na Campanha pelas Diretas Já fortalece a CUT, contrária ao colégio eleitoral e fazendo oposição à Nova República - Governo Tancredo/Sarney.

Os dirigentes sindicais, unidos em torno de causas comuns, se sentem robustecidos e encorajados. A fundação do Sindicato dos Bancários de Ipatinga, no Vale do Aço, em Minas Gerais, um importante polo sindical no Brasil, foi significativa. Assim como o processo de tomada dos sindicatos pelegos, que se inicia com a eleição de uma diretoria CUTista para o Sindicato de Londrina – PR. Em abril de 1985, um mês após a posse do Sarney, um êxito eleitoral, no Sindicato dos Bancários do Rio de Janeiro, contra Ivan Pinheiro, o principal dirigente da Unidade Sindical, propiciou uma espécie de efeito dominó pelo Brasil.

Para consolidar melhor a organização bancária nacional, em 6 de junho de 1985, feriado de Corpus Christi, foi fundado o Departamento Nacional dos Bancários -DNB/CUT, inaugurando 30 anos de atuação bancária no interior da Central Única dos Trabalhadores. Participaram deste momento os Sindicatos de Bancários de São Paulo, Rio de Janeiro, Londrina, Ipatinga e Porto Alegre. Atualmente são mais de 100 sindicatos de Bancários na CUT, representando mais de 80% da categoria no país.

O DNB/CUT nasceu em defesa da liberdade e autonomia sindicais e da participação das bases das entidades. A partir desse momento, sob a liderança de Luiz Gushiken, então presidente do Sindicato dos Bancários de São Paulo, e Gilmar Carneiro, da Executiva Nacional da CUT, as representações dos trabalhadores bancários passaram a articular ações estruturantes da Central Única dos Trabalhadores e construíram uma forte unidade contra os banqueiros. Essa atuação resultou na estruturação da Campanha Salarial Nacional dos bancários em 1985, que culminou na primeira greve nacional após o golpe militar, retomando os históricos movimentos paredistas realizados antes dos anos de chumbo. O momento também foi importante porque sem abrir mão da unidade de ação com a Contec/CGT, tivemos a capacidade de manter a marca classista do DNB/CUT.

O primeiro Contrato Coletivo Nacional da categoria bancária foi assinado com a Fenaban, representante dos bancos privados, em 1992. Este foi o ano de fundação da Confederação Nacional dos Bancários – CNB/CUT. E somente em 2004, após a eleição de Lula para a Presidência da República foi possível a assinatura de um Contrato Coletivo Nacional com os bancos públicos.

Em 2006, para representar todos os trabalhadores do ramo financeiro, foi criada a Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro da CUT – Contraf/CUT, que incluiu as diversas categorias envolvidas em atividades do sistema financeiro, como securitários, funcionários de bolsas de valores, de cooperativas de crédito, financeiras, lotéricas, e que ficam à margem da Convenção Coletiva Nacional dos Bancários.

Nesses anos de história importantes características marcaram profundamente a organização sindical bancária: a compreensão de classe superando a visão de categoria, o entendimento da nacionalidade em detrimento do estreito conceito bairrista e corporativista e a perspectiva do coletivo sobrepondo interesses individuais. No momento de comemoração dos 30 anos em que passamos há que se perguntar: O sindicalismo fundante das representações das trabalhadoras e dos trabalhadores bancários permanece nas nossas instituições?

Há dúvidas. A rigidez de princípios pela qual nos pautamos tem sido desprezada. Pelo conforto propiciado pelas estruturas sindicais se abriu mão do compromisso e da responsabilidade de olhar adiante e construir estratégias sincronizadas com um passado de luta e conquista e um futuro que exige mais luta para mais conquistas.

Esta é uma oportunidade de reflexão sobre os princípios e a motivação que nos levaram a criar uma organização da categoria bancária. Com o pé na história e os olhos dirigidos para o futuro, a análise necessária é a dos nossos fundamentos e como eles se concretizam em nossas representações institucionais. Elas atendem aos profundos e legítimos interesses da categoria bancária e da classe trabalhadora? Continuam comprometidas com a construção de um país democrático, respeitoso dos direitos e que oferece condições de vida digna para todas e todos? Sabemos do caminho andado? Ele nos baliza com os princípios éticos já construídos?

Ver adiante faz sentido em retrospectiva. Retomar e recriar, revisitar e projetar o futuro são objetos imprescindíveis para seguirmos adiante e fazer acontecer. O fortalecimento e o avanço necessários para a organização sindical bancária exigem pés fincados na base, no piso das instituições financeiras, nas reivindicações e nos direitos das trabalhadoras e trabalhadores bancários. Assumimos esses desafios ou seremos deixados para trás.


Fonte: Brasil 247

28.8.12

Dia do bancário! Dia da CUT! Dia de luta!

William e companheira Fabi falam do DIA DO BANCÁRIO!

Olá bancári@s e cutistas,

Cheguei há pouco da rua e da negociação com os banqueiros. Vou madrugar amanhã e preciso dormir um pouco, mas vamos registrar aqui a importante data.

A companheira Fabi Proscholdt fez no Facebook um rápido resgate histórico da data:

Dia do bancário

Foi em 28 de agosto de 1951 que começou uma das mais longas e vitoriosas campanhas salariais da categoria. Os bancários reivindicavam um reajuste de 40%, salário mínimo profissional e adicional por tempo de serviço. A contraproposta dos patrões, de 20% de aumento, foi considerada insuficiente e os bancários decidiram entrar em greve. Foram 69 dias de paralisação, até que, em 5 de novembro, a Justiça concedesse um reajuste de 31%, pondo fim à paralisação.

Os grevistas enfrentaram forte repressão, mas os banqueiros, que ameaçavam retirar direitos como salário profissional e adicional por tempo de serviço, ficaram surpresos com a capacidade de organização e mobilização da categoria.

E tivemos outros ganhos:

Dieese – A greve de 1951 trouxe outras repercussões importantes, como a criação do Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos), quatro anos mais tarde. As sementes do hoje respeitado instituto foram lançadas a partir do questionamento dos índices oficiais de custo de vida do governo, que por pressão dos bancários tiveram de ser refeitos naquele ano e pularam inexplicavelmente de 15,4% para 30,7%. O Dieese surgiu com o objetivo de municiar os trabalhadores com dados estatísticos confiáveis.

CUT – Outro acontecimento histórico lembrado no dia 28 de agosto é o aniversário da CUT (Central Única dos Trabalhadores), fundada durante o 1º Congresso Nacional da Classe Trabalhadora (Conclat), em 1983. Numa época em que o Brasil ainda vivia sob o jugo da ditadura militar, o plano aprovado pelos cerca de 5 mil trabalhadores reunidos em São Bernardo do Campo previa lutas pelo fim da lei de segurança nacional e por eleições diretas para presidente.

Mais um pouco de história:

A greve de 1951 foi a primeira contra o Decreto 9.070 da ditadura do Estado Novo, que proibia greves e amordaçava o movimento sindical dos trabalhadores. Foi um movimento pela liberdade sindical, em favor da democracia, contra os "atestados de ideologia" exigidos pelo Ministério do Trabalho dos candidatos a cargos sindicais, pela participação dos sindicatos na fiscalização das condições de trabalho e emprego, pela eleição de representantes dos bancários para a direção dos antigos Institutos de Aposentadorias e Pensões (o atual INSS) e pela participação dos sindicatos na fiscalização e elaboração das leis trabalhistas.

A data começou a ser comemorada já no ano seguinte, em 1952, por decisão do IV Congresso Nacional dos Bancários, realizado em Curitiba. Em 1957, a Assembleia Legislativa oficializou a data no Estado de São Paulo e, em 1959, o Congresso Nacional estendeu a data para todo o Brasil ao aprovar projeto do deputado federal bancário Salvador Romano Lossaco.

Não existem conquistas sem luta!!!!

E não lutamos só por melhores condições de trabalho, valorização, saúde e remuneração. Por consequência, lutamos também por uma sociedade mais justa, digna e humana. E a luta não pára...


Fonte: blog Categoria Bancária e Fabi Proscholdt

15.7.12

1ª Conclat 1981 - Lula relembra 30 anos depois


Post Scriptum (22/7/19):

Os vídeos desta postagem com os comentários de Lula foram retirados da internet. Deixei algumas citações dele na postagem. Para aqueles que não viram o vídeo com imagens originais da 1ª Conclat, realizada na Praia Grande, vejam aqui o vídeo que encontrei do programa DOC.CUT.



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Postagem original de 15/7/12

O vídeo e os comentários do presidente Lula são uma verdadeira aula de política e sindicalismo classista, combativo e democrático. Esta é a primeira parte do vídeo.

(vídeo retirado)

Na segunda parte, há uma mensagem muito forte na entrevista do presidente Lula sobre o que é ser um sindicalista cutista e o que é a característica que sempre norteou o fazer sindical da CUT.

O sindicato existe para contratar direitos para a categoria representada. Para isso, é necessário que o sindicato queira negociar e fazer acordo. É premissa para um sindicato.

"o papel de um dirigente sindical é conquistar as coisas pros trabalhadores que ele representa e ele só vai conquistar se houver acordo, se houver negociação. Não pode ser um dirigente sindical que se recusa a negociar..." (LULA)

Outra mensagem fundamental é sobre a pauta de reivindicações: "você não pode fazer uma pauta, sabe, que você não consegue conquistar. Tem que fazer alguma coisa próxima do que você pode conquistar. Senão você vira um dirigente sindical principista... isso vale por um ano, vale por dois, vale por três, mas chega um momento em que as pessoas caem na real" (LULA)

(vídeo retirado)

COMENTÁRIO PARA A COMPANHEIRADA DA ARTICULAÇÃO SINDICAL

Lembrem-se dessas premissas que destaquei acima: nossas propostas são baseadas nas condições reais de se conquistar e entregar aos trabalhadores o que construímos. Nós não ficamos "marcando posição" sem possibilidade real de conquista através da luta e das condições objetivas refletidas na pauta.

William Mendes


8.7.12

11º Congresso da CUT começa nesta segunda e define plano de lutas




A CUT realizará na próxima semana o 11º Congresso Nacional (Concut). Entre os dias 9 e 13 de julho, no Transamérica Expo Center, em São Paulo, cerca de 2.500 dirigentes sindicais de todo o país vão debater e definir as estratégias e ações do próximo período, além de eleger a nova diretoria da entidade para o triênio 2012/2015.

O 11º Concut será um dos maiores congressos realizados pela Central nestes 28 anos de existência e contará com número expressivo de participantes, que terão a responsabilidade de elaborar propostas sobre o modelo de país que os trabalhadores desejam para as próximas décadas.

O seminário Internacional "Os Desafios dos Trabalhadores e Trabalhadoras no Enfrentamento da Crise" dará início ao 11º Concut e contará com a participação do professor Vladimir Safatle, além de sindicalistas internacionais.

A solenidade de abertura, prevista para a noite da segunda-feira 9, contará com a presença do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Maior central

A CUT é hoje a maior central sindical do Brasil e da América Latina, além da 5ª maior do mundo, com 3.438 entidades filiadas - entre sindicatos, federações e confederações -, 7.464.846 trabalhadores associados e 22.034.145 trabalhadores na base de todos os ramos de atividade econômica do país.

Segundo levantamento feito pelo Ministério do Trabalho, a CUT representa, oficialmente, 46,6% dos trabalhadores associados a sindicatos filiados às centrais sindicais. Isso porque existem muitos sindicatos que ainda não são reconhecidos pelo MT. A segunda colocada tem 13% de representatividade.

Além disso, a CUT está organizada nos 26 estados e no Distrito Federal, por intermédio das CUT's Estaduais. No caso da CUT São Paulo, existe ainda mais 17 subsedes espalhadas por todo o estado.

História

A CUT foi fundada em 28 de agosto de 1983, na cidade de São Bernardo do Campo, em São Paulo, durante o 1º Congresso Nacional da Classe Trabalhadora (Conclat). Mais de cinco mil trabalhadores ocupavam o galpão da extinta companhia cinematográfica Vera Cruz, marcando um capítulo importante da história.

Consolidava-se, naquele momento, a organização da classe trabalhadora na luta pela construção de uma sociedade livre, justa e igualitária, reflexo do momento de efervescência vivido pelos militantes em meio à luta pelo fim da ditadura.

A CUT nascia com o objetivo de solidificar um sindicalismo organizado a partir do local de trabalho, desde o sindicato de base até o conjunto da classe, como instrumento de organização e luta dos trabalhadores na sociedade. Daí a necessidade de romper e combater a estrutura sindical oficial e, com isso, avançar para democratizar as relações de trabalho.

Estes princípios norteiam até hoje a atuação e a luta da Central, que terá como tema neste 11º Concut o tema "Liberdade e Autonomia Sindical: Democratizar as Relações de Trabalho para Garantir e Ampliar Direitos".

Seminário Internacional

"Os Desafios dos Trabalhadores e Trabalhadoras no enfrentamento da crise"

10h - Abertura

- Artur Henrique - Presidente da CUT

- João Antonio Felício - Secretário de Relações Internacionais

- Hassan Yusuff - Presidente da CSA (Central Sindical das Américas),

10h30 - Mesa: Liberdade e Autonomia: fortalecendo a organização sindical

Debatedores:

- Michael Sommer: Presidente da CSI-ITUC (Central Sindical Internacional)

- Cathy Feingold - Diretora do Departº de Relações Internacionais da AFL-CIO

- Rafael Freire - Sec. de Política Econômica e Desenv. Sustentável - CSA

- Carmem Benitez - ACTRAV/OIT

- Artur Henrique da Silva Santos - Presidente da CUT

Mediadora: Rosane Silva - Secretária da Mulher Trabalhadora da CUT

14h - Mesa: "As várias faces da crise"

Debatedores:

- Vladimir Safatle - Filósofo, professor Doutor da USP

- Victor Baez - Secretário Geral da CSA

- Roland Schneider - Assessor Político Senior da Trade Union Advisory Committee (TUAC), Organisation for Economic Co-operation and Development (OECD) in Paris.

Mediador: João Antonio Felício - Secretário de Relações Internacionais da CUT


Fonte: Contraf-CUT com Seeb São Paulo e CUT

2.5.12

Contraf-CUT acompanha novo curso de formação sindical em São Paulo

Participantes com os ex-presidentes
Augusto Campos e Gilmar Carneiro.

A Contraf-CUT está acompanhando o curso Sindicato, Sociedade e Sistema Financeiro, direcionado à formação de dirigentes sindicais e assessores, aplicado pelo Sindicato dos Bancários de São Paulo, Osasco e região. O primeiro módulo aconteceu na semana de 23 a 27 de abril. O segundo ocorre no período de 7 e 11 de maio. 

"Este mandato do Sindicato, presidido pela companheira Juvandia Moreira, tem promovido muita formação para preparar a entidade para os desafios da atualidade por um mundo do trabalho melhor no sistema financeiro", avalia William Mendes, secretário de Formação da Contraf-CUT, que acompanhou o curso. 

O módulo teve como foco os fundamentos políticos da sociedade atual e do sistema financeiro e o papel histórico do movimento sindical frente a essa realidade. O curso é baseado na grade de três módulos construído pela Contraf-CUT em parceria com o Dieese e tem algumas novidades incluídas pela diretoria do Sindicato.

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O primeiro dia foi dedicado à discussão sobre as características da sociedade brasileira, os atores que participam das instituições de poder e qual a correlação de forças que existe nesta disputa pelo espaço social.

A discussão no segundo dia concentrou-se no tema Trabalho. "Iniciamos o dia comentando o filme da noite anterior, Germinal, baseado na obra de Émile Zola. Debatemos várias questões relativas ao mundo do trabalho e dos trabalhadores", conta William. E ainda foram debatidas a teoria neoclássica sobre salário e emprego, a visão keynesiana e a visão marxista, focando a mais-valia, a mais-valia absoluta e relativa. 

No terceiro dia, o debate foi em torno da questão "O que é sindicato e qual o seu papel?" Segundo William, "começamos o dia discutindo o filme Eles não usam black tie. Fizemos um panorama histórico no Brasil desde o final do século 19 e primeiras décadas do século 20, período que abrange a chamada República Velha. Vimos o movimento grevista da época e os movimentos incluindo a greve geral de 1917. Vimos ainda o filme Nossos Bravos, de 1988", explica o dirigente da Contraf-CUT.

Durante os dois últimos dias, os bancários debateram as Origens do Sindicalismo no Brasil. "De forma geral, vimos os vários períodos do movimento sindical ao longo de mais de um século de República. Estudamos a origem da República até os anos 30, vimos o período da era Vargas de 1930 a 1945, depois o intervalo democrático de 1946 a 1964. Passamos ainda pelo período da ditadura militar (1964 a 1985) e o período da redemocratização. Além disso, pudemos entender os vários planos econômicos e os reflexos para a classe trabalhadora", resume William.

História viva

William registra ainda a participação de Augusto Campos e Gilmar Carneiro, ex-presidentes do Sindicato. "São duas das nossas maiores referências na construção do novo sindicalismo bancário, a partir dos anos 70. Eles foram responsáveis por organizar e aglutinar as oposições bancárias na época da ditadura militar. Foram partícipes da construção da Central Única dos Trabalhadores, do Partido dos Trabalhadores e também da luta pela volta da democracia com a participação da classe trabalhadora", salienta William.

"Nós criamos a CUT para construir a liberdade e autonomia sindical e para sermos contrários à estrutura sindical deixada na era Vargas, com sindicatos atrelados ao Estado e dependentes do imposto sindical", ressalta o dirigente da Contraf-CUT.

Retomada do curso pela Contraf-CUT no segundo semestre

O próximo curso de formação Sindicato, Sociedade e Sistema Financeiro, promovido pela Contraf-CUT em parceria com o Dieese, será realizado no segundo semestre de 2012, entre outubro e dezembro. 

Serão 30 vagas para atender às demandas de todas as entidades filiadas que queiram investir na formação de suas diretorias. O curso será realizado em São Paulo. 

"Após percorrermos todas as regiões do País com esse curso nos últimos três anos, agora ele passará a ocorrer com regularidade na capital paulista, para que sindicatos e federações sempre possam enviar novos dirigentes. Pedimos para que as entidades já se preparem para inscrever os seus candidatos logo após a campanha nacional deste ano", orienta o diretor da Contraf-CUT.

Além disso, sindicatos e federações que queiram oportunizar o curso para os seus dirigentes também poderão fazê-lo. Basta entrar em contato com a Contraf-CUT. "Queremos contribuir para qualificar cada vez mais a atuação dos representantes sindicais, a fim de fortalecer a luta e construir uma vida melhor", conclui William.

Fonte: Contraf-CUT