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5.3.25

E o "Bem Cassi" terceirizado lá de 2020? Deu em quê?


Apresentação do blog:

Escrevi sobre o plano "Bem Cassi", modelo de terceirização da atividade-fim da Caixa de Assistência (Cassi), faz mais de 4 anos (em 09/12/20). Como está o plano na atualidade? E o projeto? Ao reler o que escrevi em 2020 me parece que as preocupações que apresentei seguem atuais.

William


"Viver é muito perigoso... Querer o bem com demais força, de incerto jeito, pode já estar sendo se querendo o mal, por principiar. Esses homens! Todos puxavam o mundo para si, para o concertar consertado. Mas cada um só vê e entende as coisas dum seu modo." (ROSA, 2001, p. 32/33)


OPINIÃO


A Cassi apresenta projeto que claramente visa terceirizar o que a Caixa de Assistência tem de melhor, a Atenção Primária e a Estratégia de Saúde da Família, desenvolvidas através das CliniCassi, essência do modelo assistencial que possibilitou o menor custo assistencial de participantes vinculados à ESF em graus complexos de necessidades mesmo nas maiores faixas etárias. Ao invés de ampliar o modelo próprio, de baixo investimento e de bom custo-benefício, direção opta por terceirizar a atividade-fim da Cassi, uma triste escolha ideológica


Terceirização é uma praga! O capitalismo parece invencível, mesmo sabendo que a vida é a grande derrotada com a vitória do modo de produção capitalista, cujo foco absoluto é o lucro e a mais-valia dos explorados em benefício de pouquíssimos humanos. Com a hegemonia do capitalismo neoliberal tudo na sociedade humana gira em torno desse sistema de acumulação de tudo nas mãos de poucos. A terceirização faz parte dessa lógica.

Sinceramente, eu não sei como começar esse artigo. Perdi o jeito para tratar de assuntos mais técnicos como fiz ao longo de muitos anos ao falar de saúde e de sistemas de saúde como gestor eleito de uma autogestão dos trabalhadores, enfim, enquanto meu lugar de fala foi como diretor de saúde da Caixa de Assistência dos Funcionários do Banco do Brasil (jun/2014 a mai/2018) escrevi mais de 600 textos a respeito dos temas de interesse dos trabalhadores na área de saúde. Aliás, eu tinha um público preferencial como leitor: os formadores de opinião, lideranças e representantes dos associados da Cassi, trabalhadores da ativa e aposentados do BB.

RESPEITO A OPINIÃO DE QUEM PENSA DIFERENTE

Em primeiro lugar, quero registrar que minha opinião sobre esse processo de terceirização da atividade fim da Cassi é uma opinião respeitosa, feita no plano das ideias. Eu conheço parte dos colegas que estão na gestão de nossa Caixa de Assistência, e respeito a opinião deles. Sou defensor ardoroso da ampliação da ESF para o conjunto dos participantes Cassi, todos sabem disso. 

A questão de minha divergência é quanto à estratégia adotada de terceirizar a essência da Cassi. Vejo com muita preocupação isso, tanto no presente quanto no futuro. A epígrafe inicial, do personagem Riobaldo Tatarana, traz sabedoria e um alerta aos defensores da APS/ESF na Cassi: "Querer o bem com demais força, de incerto jeito, pode já estar sendo se querendo o mal, por principiar".

NÃO SE ABRE À CONCORRÊNCIA O QUE SE TEM DE MAIS PRECIOSO

Certa vez, ainda jovem, quando participava de estudos sobre autoconhecimento, aprendi que os seres humanos seriam julgados nos finais dos tempos ou no dia do julgamento final - dependendo de como cada um vê essas questões metafísicas - os humanos seriam julgados de acordo com o conhecimento que tinham, de acordo com o que fizeram ou que não fizeram quando poderiam ter feito. Os mestres diziam aos estudantes que quanto mais conhecimentos adquiríamos, maior seria o peso do julgamento de nossos erros porque não poderíamos alegar ignorância ("não-saber", no sentido respeitoso) e desconhecimento das coisas. Nesse sentido, ignorância seria uma benção!

Sinto que tenho que registrar minha opinião sobre o projeto de terceirização da atividade-fim da Cassi, o "Bem Cassi", piloto lançado em Curitiba (PR) nesta conjuntura de "novo normal" do mundo sob pandemia de Covid-19 e sob a fase capitalista atual, que muitos intelectuais chamam de necrocapitalismo. Eu não tenho informações detalhadas e "técnicas" a respeito do projeto "Bem Cassi"; a informação que tenho é a propaganda do lançamento dele, que vi hoje em um vídeo de 4 minutos e que li no hotsite do projeto. A Cassi vai ampliar a APS/ESF através de duas empresas terceirizadas. De novo, cito Riobaldo Tatarana do Grande Sertão: Veredas: "Eu quase que nada não sei. Mas desconfio de muita coisa". (ROSA, 2001, p. 31)

MINHA OPINIÃO RESPEITOSA É BASEADA NO CONHECIMENTO ADQUIRIDO POR EXPERIÊNCIA NA GESTÃO DA CASSI

Durante 4 anos, eu tive a oportunidade de conhecer a autogestão dos funcionários do Banco do Brasil, a Cassi. Estudei sua história de quase oito décadas. Quase não dormi por 4 anos, pois tive que intercalar os percalços da escolha das estratégias que adotamos no planejamento do mandato: estudar as questões técnicas do sistema Cassi, participar dos fóruns deliberativos internos (milhares de súmulas, notas e documentos), estar nas bases formando e informando os participantes. Em síntese, seria:

1. Estudar a Cassi (tudo: história, processos, pontos fracos, pontos fortes, desafios, soluções, essência da associação, modelo assistencial, modelo de custeio, responsabilidades de cada um: os associados, o patrocinador, a própria Cassi e seu corpo de profissionais, os "parceiros" no mercado privado que vendem serviços caríssimos e nem sempre adequados etc). 

2. Manter os direitos dos associados: solidariedade no custeio entre participantes jovens e idosos, sãos e adoecidos, de baixa renda e com remuneração/benefícios maiores, da ativa e aposentados (ex-colaboradores segundo o patrão) e com o patrocinador assumindo a parte dele na proporção estatutária 40/60 no custeio do plano para todos (ativos e aposentados), enfim: solidariedade plena para todos poderem estar no Plano de Associados por toda a vida. 2.1. Manter a democracia na associação: pesos iguais na gestão entre patrocinador BB e associados para tomada de decisões; aumentar a participação dos associados através de envolvimento nos conselhos de usuários, sindicatos, associações, conferências de saúde, parcerias entre unidades do BB nos Estados e Unidades Cassi/CliniCassi (PCMSO, ESF, Convênios, canais de solução locais).

3. Informar e formar a base associada com conceitos básicos sobre a Cassi, o que era a Caixa de Assistência, seu modelo assistencial, os direitos em saúde maiores que os de planos de saúde de mercado, e buscar colocar os intervenientes do sistema Cassi no mesmo objetivo: fortalecer a Cassi perante o mercado privado prestador de serviços e consumidor dos recursos da Caixa. Fizemos mais de 600 matérias a respeito, mais de 40 boletins mensais; 53 conferências de saúde que contaram com milhares de associados, 65 reuniões presenciais com os conselhos de usuários e dezenas de visitas às unidades Cassi e CliniCassi e entidades representativas nos Estados.

DIVERGÊNCIA ENTRE CAPITAL E TRABALHO É NORMAL QUANDO SE TRATA DE DEFINIR AS RECEITAS E AS FORMAS DE RATEIOS DA ASSISTÊNCIA MÉDICA DE UMA COLETIVIDADE

Como representantes dos trabalhadores, tivemos que defender a Cassi e os direitos dos associados diuturnamente, ora porque chegavam propostas "técnicas" (e políticas) que de alguma forma eram desfavoráveis aos associados (principalmente querendo onerar mais os associados e dependentes e/ou reduzir os recursos e custos que o patrocinador tinha obrigações de investir), ora porque as propostas eram prejudiciais à essência do que era a Caixa de Assistência - uma autogestão de trabalhadores, baseada na Atenção Integral à Saúde, cujo modelo assistencial se desenvolvia através de unidades próprias de Atenção Primária em Saúde (APS) e Estratégia de Saúde da Família (ESF), com programas de saúde que se adequavam às estratégias do modelo. Junto a esse modelo de Atenção à Saúde dos associados, tínhamos um convênio exitoso de saúde do trabalhador (PCMSO) que atuava na saúde de 100 mil funcionários do Banco do Brasil. Os dois sistemas convergiam na busca de saúde coletiva da comunidade BB em todo o território nacional.

Para defender a Cassi e seu modelo assistencial, tivemos que desfazer uma quantidade absurda de mal-entendidos, desinformações e ignorâncias (não-saberes), lugares comuns e, às vezes, até mentiras (fake news). O próprio patrocinador, através de alguns de seus representantes à época, contribuía para desinformar os participantes da ativa e aposentados (e suas entidades representativas) quando sugeria que o modelo assistencial da Cassi não era eficiente, que as Unidades Cassi e CliniCassi não atendiam seus objetivos, que a estrutura da Cassi era cara e onerosa etc. Inclusive, o patrocinador atuou fortemente na desconstrução dos direitos estatutários dos associados na gestão da associação, dizendo que a autogestão não tinha mecanismos de decisão adequados. Lógico que aqui estamos falando que a "grita" do banco era quando a Cassi não aprovava as propostas mais favoráveis ao patrão/patrocinador e contrárias aos interesses dos associados.

CONSEGUIMOS UNIR A COMUNIDADE BANCO DO BRASIL NA DEFESA DO MODELO ASSISTENCIAL, DA ESTRUTURA PRÓPRIA DE SAÚDE E DOS PROFISSIONAIS DA CASSI. PROVAMOS QUE A ESF REDUZ O CUSTO DO SISTEMA, MESMO COM POPULAÇÃO MAIS IDOSA

Por 4 anos, mesmo sem recursos financeiros e materiais adequados, fomos grandes incentivadores dos profissionais da Cassi, principalmente das áreas de saúde, para que seguissem atuando naquilo que mais tinham perfil para atuar: desenvolver estratégias para ampliar o modelo de saúde APS/ESF, a promoção de saúde e prevenção de doenças, o acompanhamento dos participantes crônicos, a recuperação dos pacientes adoecidos e agravados etc. Basta ver que ampliamos em mais de 20 mil o número de cadastrados na ESF. A Cassi desenvolveu estudos nunca feitos nos planos de saúde que apresentaram resultados das vantagens do modelo de APS/ESF numa população relativamente estável ao longo do tempo no Plano de Associados e nos crônicos do Cassi Família. Colocamos todos os intervenientes na mesma direção para defender o modelo assistencial da Cassi.

Além disso, também desfizemos os mal-entendidos e as bobagens que se falavam da estrutura de saúde da Cassi, Unidades Cassi, CliniCassi, quadro próprio de profissionais do sistema de Atenção Primária/ESF e PCMSO. O custo administrativo da estrutura Cassi era o menor do setor de saúde brasileiro, em relação às empresas similares de autogestão, das medicinas de grupo e das cooperativas médicas. Uma estrutura absolutamente eficiente ao se comparar o custo-benefício. E isso com a Cassi tendo a maior quantidade de idosos do setor no país! Os recursos do sistema Cassi (mais de 90%) são gastos nos prestadores através das internações, e grandes despesas assistenciais com materiais, exames etc. Os recursos são gastos na estrutura de 2º e 3º graus e de apoio na rede privada.

A estrutura de Atenção Primária da Cassi, com quase 150 equipes de família nas 66 CliniCassi e 27 unidades Cassi, e a estrutura de medicina do trabalho (PCMSO) era e é muito barata e deveria ser ampliada ao longo dos anos para poder reduzir o custo assistencial na compra de serviços de saúde na rede prestadora daquilo que não era possível fazer na estrutura primária da Cassi. A direção e os associados poderiam avaliar diversas formas de verticalização ou parcerias para atendimento das demandas de segundo e terceiro graus e estruturas de apoio à saúde. Isso é normal e faz parte das estratégias de gestão.

A autogestão Cassems dos servidores do Estado do Mato Grosso do Sul, por exemplo, é um caso exitoso de verticalização própria de hospitais pequenos e médios nos interiores do Estado, e também laboratórios e clínicas, inclusive de Atenção Primária. Nós propusemos ampliar a estrutura própria da Cassi de Atenção Primária e ampliar os serviços nas CliniCassi, inclusive criando estruturas para especialidades, para dar sequência no atendimento primária da ESF. O investimento era baixíssimo, se comparado com o custo assistencial dos participantes na rede privada em serviços similares. A estrutura própria de saúde da Cassi é eficiente e de baixo custo administrativo. Isso é fato.

A TERCEIRIZAÇÃO É GRANDE RESPONSÁVEL PELA CONCENTRAÇÃO DE RECURSOS A POUCOS E PELA EXCLUSÃO DO ACESSO A DIREITOS POR PARTE DA CLASSE TRABALHADORA 

Tem uma reflexão do historiador Eric Hobsbawm, contida no livro A era dos extremos, que ilustra bem o que estamos vivendo neste momento da história humana em relação à superexploração do trabalho através de terceirização, quarteirização, uberização, privatizações transformando direitos em serviços etc:

"(...) De qualquer modo, o custo do trabalho humano não pode, por nenhum período de tempo, ser reduzido abaixo do custo necessário para manter seres humanos vivos num nível mínimo aceitável como tal em sua sociedade, ou na verdade em qualquer nível. Os seres humanos não foram eficientemente projetados para um sistema capitalista de produção. Quanto mais alta a tecnologia, mais caro o componente humano de produção comparado com o mecânico." (HOBSBAWM, 2006, p. 404)

Já estamos superando até os cabeças de planilha do sistema capitalista, aqueles que planilham tudo para cortar custos diariamente e aumentar os resultados das empresas (tudo é empresa, e tudo visa eficiência operacional "em tese"). Os próprios trabalhadores são destacados para direcionar os clientes/usuários aos novos serviços tecnológicos que irão cortar os postos de trabalho deles mesmos. 

Um exemplo disso no setor de saúde é a panaceia chamada de "telemedicina", que virou uma espécie de "Emplasto Brás Cubas" para curar todos os males da humanidade. Uma coisa seria a telemedicina auxiliar os processos de saúde durante a crise humanitária da pandemia de Covid-19 ou como sequência de um atendimento já com histórico do paciente; outra coisa é substituir o acolhimento presencial das pessoas por "telemedicina" como começa a surgir no mercado dos serviços de saúde.

Nos bancos, os bancários foram obrigados a empurrar os clientes para terminais de autoatendimento, serviços telefônicos e terceirizadas ao lado do banco. Os trabalhadores com direitos trabalhistas coletivos históricos são demitidos e convidados a serem eles mesmos "empresas" e isso deu nos uberizados do mundo. Os donos de tudo ficam mais bilionários e os trabalhadores mais miseráveis e sem nada. Como diz Hobsbawm, os trabalhos dos seres humanos estão ficando mais caros que qualquer processo por máquina e até os centavos gastos com uberizados têm que ser reduzidos... 

A INTENÇÃO PODE SER BOA, MAS TERCEIRIZAÇÃO DA ATIVIDADE-FIM DA CASSI É UMA OPÇÃO RUIM E TALVEZ SEM VOLTA, CASO SE ABRA MÃO DA ESTRUTURA DE SAÚDE DA CAIXA DE ASSISTÊNCIA

Durante 4 anos de mandato fizemos "loonngos" debates com as representações do patrocinador/patrão contestando e refazendo cálculos de planilhas sobre as Unidades Cassi, as CliniCassi (eram eficientes ou não?), o quadro de profissionais da Cassi (eficientes e preparados ou não?); apresentávamos outro ponto de vista e em muitos casos convencemos os colegas com argumentos consistentes como a eficiência da ESF, como o baixo custo administrativo da Cassi, dentre outros. Discordei de todas as propostas nas quais o Banco poderia deixar de custear os aposentados, ou cobrar mais de quem usasse mais o sistema Cassi, quebras de solidariedade, redução de direitos em saúde etc. 

No entanto, a hegemonia do capital e do mercado é uma praga! É sempre assim! Enquanto se veem com maus olhos qualquer investimento em estrutura própria (ou despesa administrativa), que poderia trazer economias importantes de milhares e milhões de reais em despesa assistencial na compra de serviços caros na rede privada, o foco das discussões acaba sendo repetidamente desviado para o custo administrativo e as supostas vantagens em contratar ou fazer fora o que se poderia fazer na própria autogestão. E daí vem a solução mágica do mercado: TERCEIRIZAÇÃO, com os nomes mais perfumados possíveis.

Por 4 anos, ouvi dos mais diversos setores, dirigentes e profissionais da Cassi que tínhamos razão em quase tudo que discutíamos sobre ampliar a APS/ESF e a estrutura de saúde do modelo assistencial Cassi. A questão era a época errada para aquela discussão: não tínhamos recursos na Caixa por causa dos déficits recorrentes e subfinanciamentos do sistema. E agora? A escolha por terceirizar a atividade-fim do modelo assistencial da Cassi é por falta de recursos? Não me parece.

É isso! Para quem está fora dos debates há mais de dois anos, já fiz o registro respeitoso do que penso sobre esse projeto "Bem Cassi" de terceirização da Cassi naquilo que é a essência da autogestão. A tendência lógica desse "modelo" é vermos depois do piloto as planilhas de "eficiência operacional", depois as comparações com a estrutura interna de saúde da Cassi, depois as dificuldades de investimento próprio, depois a opção em expandir a terceirização e reduzir os "custos" da estrutura da "empresa" etc. 

Eu não culpo as representações dos associados por às vezes apoiarem iniciativas que podem não ser tão ideais para os trabalhadores (TERCEIRIZAÇÃO não é boa para os trabalhadores) porque certas áreas de conhecimento precisariam da assessoria técnica e de dirigentes eleitos com visões de mundo próximas ao mundo do trabalho, dirigentes que dialogassem com os sindicatos, associações e conselhos de usuários e que, se necessário, se colocassem contra os interesses do capital, do patrão. É uma questão de lado, e nesse sentido não tenho visto isso acontecer na Cassi. E repito: respeito os colegas que temos lá, conheço muitos deles. 

Aproveito para reafirmar meu grande apreço pelos trabalhadores da Cassi, que além de serem muito dedicados à autogestão, cumprem suas tarefas com muito profissionalismo.

Esta é minha opinião sobre o "Bem Cassi". Finalizo meu registro com mais uma reflexão do personagem Riobaldo Tatarana, contida no Grande Sertão: Veredas: "pão ou pães, é questão de opiniães... O sertão está em toda a parte" (ROSA, 2001, p. 24)

Abraços a tod@s e desejo uma Cassi fortalecida em seu modelo assistencial, sustentável e com uso racional dos recursos, solidária em seu custeio do Plano de Associados, longeva e que seja para o conjunto dos trabalhadores da ativa e aposentados e seus dependentes.

William


Bibliografia:

HOBSBAWM, Eric. Era dos extremos - O breve século XX, 1914-1991. São Paulo: Companhia das Letras, 2006.

ROSA, João Guimarães. Grande Sertão: Veredas. 19ª edição. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2001.


29.5.24

Cassi, nossa Caixa de Assistência (2)



29/05/24. Quarta-feira

Opinião


Nossa Caixa de Assistência (2)

A comunidade de trabalhadores da ativa e aposentados do Banco do Brasil criou oitenta anos atrás uma Caixa de Assistência que se mostrou fundamental na vida daquela parcela da população brasileira. Nossos colegas do banco tiveram uma visão de vanguarda e ao longo do tempo foram se especializando em solidariedade, cooperativismo e participação na vida social do país.

Quando olhamos hoje os dados demográficos da população assistida pela nossa Caixa de Assistência e pela nossa Caixa de Previdência vemos o quanto fomos favorecidos pela escolha correta da solidariedade e cooperativismo. Vivemos mais que nossas irmãs e irmãos brasileiros, que por sinal têm algum acesso a atendimentos de saúde por causa do Sistema Único de Saúde (SUS). Não fosse isso, as coisas seriam mais difíceis para todos.

São assistidas pela autogestão 184.461 pessoas com mais de 59 anos de idade, ou seja, 31,34% dos 588.541 participantes dos planos da Cassi. Tínhamos em dezembro de 2023, 163 centenárias e centenários, a maioria mulheres, lógico, 142. É importante lembrar a todos vocês que ao termos a Cassi funcionando e cuidando dessa população idosa, estamos aliviando as demandas no sistema público, o SUS, já sobrecarregado e subfinanciado.

Uma coisa eu aprendi como membro da comunidade de pessoas do maior banco público do país: a solidariedade e o associativismo são fundamentais para todos nós. Os bancários e bancárias foram vanguarda na criação de associações e sindicatos de trabalhadores brasileiros. Então, viva o movimento sindical e as entidades representativas dos trabalhadores!

Os estudos que realizamos na população Cassi ao longo de nosso trabalho de gestão do modelo assistencial Estratégia de Saúde da Família (ESF) demonstraram o quanto os participantes vinculados ao modelo foram beneficiados por serem cuidados por nossas equipes de família das CliniCassi e pelos programas aos quais estavam inseridos. Com isso, os recursos da Cassi foram melhor utilizados pelos segmentos cuidados por nós.

Seria uma excelente estratégia de sustentabilidade para a nossa Caixa de Assistência se continuássemos perseguindo o objetivo de cadastrar e acompanhar a saúde do conjunto dos participantes do sistema Cassi na ESF, o modelo de APS que havíamos definido e provado a eficiência dele.

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Sobre os planos de saúde da Cassi

Estava vendo os números do primeiro bimestre de 2024 dos planos de saúde da Cassi e me chamou a atenção o resultado do Cassi Vida do período (Visão Cassi).

As contraprestações efetivas foram de 10.022 mil e os eventos líquidos indenizáveis de 10.925 mil, sendo o resultado operacional deficitário em quase um milhão de reais (-903 mil) e o resultado líquido -2.839 mil.

O plano é muito novo, foi lançado há menos de dois anos. Ter receitas brutas de 10 milhões e resultado deficitário de quase 3 milhões com tão pouco tempo é algo preocupante ao analisarmos o movimento de um plano de saúde ao longo do tempo. Se está assim no começo, como será quando estiver maduro?

Quem acompanha a minha opinião sobre esses diversos planos "de mercado" que a nossa Caixa de Assistência vem lançando sabe o quanto sou contrário a isso. 

Aliás, como disse no texto anterior, planos como esses Cassi Vida e Cassi Essencial só fazem vampirizar (tirar de um e ir para outro) o plano melhor para nossos familiares, o Cassi Família II, que tem melhores coberturas, não tem franquia e coparticipação.

Insisto nisso como alguém que conhece a Cassi. O melhor seria fortalecer o Cassi Família e para isso poderíamos fazer campanhas para adesão com um adendo específico no qual os usuários poderiam obter descontos que reduziriam as mensalidades para aderentes ao modelo de Atenção Primária e Estratégia de Saúde da Família (ESF).

É minha opinião.

William Mendes


Post Scriptum: o texto anterior desta série pode ser lido aqui.


22.8.23

Cassi (III)



Opinião

Reflexões de um associado da Caixa de Assistência dos Funcionários do Banco do Brasil


Os planos de saúde Cassi Família sofreram reajuste neste mês de agosto de 14,25%. Para mim que decidi investir na saúde de minha família assim que tive recursos financeiros para isso percebo que o montante investido apostando numa perspectiva de maiores chances de conseguir um atendimento médico está cada dia mais pesado no orçamento familiar. 

Falei "perspectiva" de atendimento porque investir altos valores num plano de saúde não é certeza de conseguir um atendimento médico e a solução em saúde na hora em que o participante do sistema Cassi mais precise, participante ou "cliente", já que a direção da Cassi insiste em chamá-la de "empresa" (de mercado, por suposto).

Minha mãe de 76 anos já teve que se virar com seus chás por não conseguir resolver seus problemas imediatos de saúde porque ela, que nem sabe mexer direito em celular, teve que tentar um atendimento por "telemedicina" e acabou não dando certo.

É sempre importante fazermos algumas reflexões sobre as coisas na sociedade humana, enquanto ainda existem seres humanos com capacidade de parar e pensar a respeito das informações ininterruptas que recebemos sobre tudo e todos a cada instante da vida plugada nas diversas formas de mídias que nos capturaram para todo o sempre. Sem reflexão, a inundação de informações (verdadeiras e falsas) não é nada.

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A CASSI NA QUAL APOSTEI A SAÚDE DA FAMÍLIA

Em 2014, incluí no sistema de saúde Cassi meus pais e sobrinhos. Já participava do sistema minha esposa e filho.

Como gestor do modelo de saúde da Cassi entre junho de 2014 e maio de 2018, e como antigo negociador da confederação dos bancários com a direção do Banco do Brasil até maio de 2014, fui de certa forma desafiado a provar que a Cassi valia a pena, ou seja, provar que o modelo de saúde era viável e sustentável. Um dos antigos diretores do banco vivia cobrando isso nas negociações com o movimento sindical.

Eleito e atuando como diretor de saúde, tive como uma das prioridades do mandato desenvolver formas e estudos que comprovassem que o modelo de Estratégia de Saúde da Família (ESF) valia todo investimento que se fizesse para fortalecê-lo e ampliá-lo. A ESF foi o modelo de Atenção Primária em Saúde (APS) definido pela Cassi após anos de experimentos de modelos de APS. A ESF se mostrou a mais adequada às características da Caixa de Assistência.

Cada profissional que trabalhou em nossas equipes sabe que eu estudei junto com eles maneiras de resolver lacunas de informações que impediam de termos os números para comprovar o quanto a ESF era eficaz não só em relação a resultados em saúde como também em economia de recursos do sistema em relação à parte da população assistida que já estava vinculada ao modelo de saúde ESF e CliniCassi (são indissociáveis a CliniCassi e as equipes de família).

Com muita firmeza de propósito e por acreditar tanto na resolutividade do modelo de Estratégia de Saúde da Família quanto na capacidade dos profissionais da Cassi conseguimos desenvolver modelos e estudos que comprovaram que os grupos de participantes Cassi vinculados ao modelo ESF quando comparados aos grupos de participantes ainda não-vinculados à ESF tinham resultados extraordinários em relação às despesas assistenciais, e isso nas mais diversas faixas etárias e por graus de complexidade. 

Demonstramos a eficiência do modelo ESF por quase 3 anos de mandato. Nem a empresa contratada pelo patrocinador BB durante as negociações de custeio conseguiu questionar a eficiência da ESF. Naquele momento, a ESF se tornou inquestionável entre todos os segmentos envolvidos no sistema Cassi.

NOVOS GESTORES DEIXARAM DE FOCAR NA AMPLIAÇÃO DA ESF

E então vieram recursos novos ao sistema Cassi, ao Plano de Associados. Nós passamos a pagar mais! 

Novas gestões eleitas pelos associados e indicadas por Temer e Bolsonaro passaram a administrar a Cassi após 2018. A aposta no mercado passou a ser a promessa de sustentabilidade do sistema Cassi.

E de forma surpreendente o modelo ESF foi sumindo de cena, não se falou mais em Estratégia de Saúde da Família. Inventaram uma nova marca, uma palavra velha usada de forma nova: "APS"... "telemedicina"...

Tudo que era para ser ampliado - porque havia sido testado e aprovado - passou a ser terceirizado, contratado fora no "mercado". Entrou recurso novo, terceirizaram quase tudo, e os déficits voltaram...

Alterações dramáticas nas unidades Cassi nos Estados. Fecharam as CliniCassi no DF. E pensar que nós ampliamos em 50% a ESF no DF durante nosso mandato... E agora a lógica é "faz uma telemedicina aí..."

Francamente! Eu fico pensando em Saramago e o Ensaio sobre a cegueira...

A Cassi tem dezenas de milhares de participantes com mais de 59 anos de idade. Cada equipe de família em cada cidade onde havia uma CliniCassi cuidava de algumas centenas de crônicos agravados, a maioria idosos, e nossos estudos demonstraram que as despesas assistenciais desses grupos vinculados tinham comportamento melhor que grupos jovens não vinculados.

Eu me pergunto como devem estar as coisas hoje na Cassi. Quando penso nessa enormidade de população idosa e ou crônica que poderia ser monitorada de forma eficiente pelas equipes ESF para só demandar os hospitais empresas sedentos de lucro e com diversas intervenções médicas a oferecer se a Cassi entendesse que era necessário...

CliniCassi Uberlândia, MG, antes de 2018.

Durante o mandato como diretor de saúde da Cassi, conheci pessoalmente 43 CliniCassi das 66 que existiam no sistema. Muitas delas visitei com recursos próprios, porque fazia meu trabalho com paixão, com gosto no que fazia para toda a comunidade BB.

As CliniCassi, todas elas, eram viáveis por vários fatores, dentre eles, porque tinham custo fixo baixíssimo e porque a capacidade de evitar grandes despesas assistenciais na rede capitalista credenciada era enorme, enorme. 

As equipes ESF com menos participantes com graus de complexidade alta tinham umas 200 pessoas. Algumas tinham 600 pessoas com graus de complexidade que mereciam acompanhamento. Tira-se o monitoramento de meia dúzia de participantes agravados e a despesa na rede será o custo de diversas CliniCassi... Um hospital privado gera fácil um custo de 200 mil, 300 mil em um participante de plano de saúde.

A Cassi na qual apostei a saúde de minha família era aquela do modelo ESF que descrevi acima. Francamente, com essa tal panaceia de telemedicina e o lema "se vira aí na telemedicina", eu imagino como estão se virando milhares de idosos e doentes crônicos Brasil afora que não têm alguém pra ajudá-los ou que não conseguem correr até o hospital credenciado de sua cidade... 

Chega por hoje. A opinião é livre quando não fere a lei. Escrevi um pouco do que penso a respeito de nossa autogestão em saúde.

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SIGO APOSTANDO NA SOLIDARIEDADE DE CLASSE E NA FORÇA DO COLETIVO

Sou um cidadão da comunidade Banco do Brasil. Ao longo de décadas trabalhei no banco público e contribuí com as diversas associações e entidades criadas por nós da categoria bancária. Defensor das lutas coletivas, sou sindicalizado e filiado a entidades associativas da comunidade BB.

Sou associado a nossas Caixas de Previdência e Assistência - Previ e Cassi - e minha única fonte de sustento é o meu benefício de aposentadoria antecipada da Previ. Diferente de parte da comunidade, não sou "empresário" nem mantenho nenhuma atividade profissional. Todas as despesas familiares subiram mais que os reajustes nos últimos 4 anos.

Sigo contribuindo com a Previdência Social (INSS), talvez até o fim da vida, pois o prazo sempre aumenta antes do gozo da aposentadoria. No meu caso, o valor do benefício se um dia me aposentar será pequeno, meu sustento e da família é meu benefício do fundo de pensão.

Além de contribuir mensalmente para a Previ e Cassi, sou filiado a AABB, Anabb, Apabb, Afabb SP e ao Sindicato dos Bancários de S. Paulo, Osasco e região. Acho importante ser associado e fortalecer nossas entidades organizativas e recreativas.

Só com as associações e mensalidades que citei acima, mais o desconto do imposto de renda e os planos de saúde da família, todos da Cassi, retorna ao sistema e ao Estado 65% de meu benefício de previdência complementar. 

Sigo torcendo pelo fortalecimento de nossas empresas públicas, pelos nossos sistemas públicos de previdência e saúde, e pelas nossas caixas de previdência e assistência. E quero ver fortalecidas as entidades organizativas dos trabalhadores.

Sempre que reflito sobre a vida e sobre o país no qual vivemos, tenho claro que segmentos organizados como o nosso da categoria bancária e de funcionários de empresas públicas são segmentos que devem ser solidários com os demais segmentos sociais, porque temos privilégios que a maioria não tem, mesmo tendo sido conquistados na luta.

É isso! Toda força às lutas das classes trabalhadoras!

William


Post Scriptum: o texto anterior sobre a Cassi pode ser lido aqui.

Post Scriptum II: ao rever um vídeo que fiz em 2021 sobre a terceirização na Cassi, então hegemonizada na gestão por ideias ultraliberais de Bolsonaro, Guedes e os eleitos da época, disse que aquela estratégia de gestão não resolveria a questão da sustentabilidade econômico-financeira da autogestão em saúde. O vídeo pode ser visto aqui.



8.1.23

Memórias (XXXV)



Ao olhar para trás e ver minha vida de trabalho e dedicação aos mandatos eletivos que representei, avalio que valeu a referência em figuras como o presidente Lula, que tanto admiro


Osasco, 8 de janeiro de 2023. Domingo. (15h12)


As imagens históricas da posse do presidente Lula no dia 1º de janeiro me trouxeram lembranças de muita coisa em minha vida. Me lembrei de minha entrada na política como militante sindical bancário, me lembrei do período no qual tive mandatos eletivos e me lembrei do Brasil que havíamos construído nos dois primeiros decênios do século.

Aquele mar de gente em Brasília me trouxe a lembrança da posse de Lula no dia 1º de janeiro de 2003, duas décadas antes. Foi lindo demais aquele dia e foi inesquecível. Me lembrei da posse de Dilma Rousseff no dia 1º de janeiro de 2011. Que dia simbólico e inesquecível também: a primeira presidenta do país. O Brasil tinha se tornado o país com o povo mais feliz do mundo durante aqueles anos de governos do Partido dos Trabalhadores. As oportunidades eram para todos e todas.

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REPRESENTAÇÃO POLÍTICA - ANOS DE MUITO TRABALHO

O ano de 2002 foi o ano no qual minha vida mudou radicalmente, virei dirigente eleito da categoria bancária. Antes, eu já era próximo da direção do Sindicato porque era o contato da entidade nos locais de trabalho, tanto no Banco do Brasil, onde já trabalhava há dez anos, quanto no Unibanco, onde trabalhei por dois anos e conhecia as lideranças do Sindicato da Regional Osasco. 

Anos depois, o ano de 2018 viria a mudar radicalmente minha vida de novo. Deixei de ser dirigente da categoria em junho e minha saída foi da pior maneira possível, sem festas, sem despedidas e perseguido pela direção da empresa num processo de lawfare que durou até que eu me desligasse do banco no ano seguinte. Tive que manter um silêncio de morte, um cancelamento forçado.

Ao ver jornalistas e cientistas políticos avaliarem que o presidente Lula trabalhou nos primeiros dias de seu 3º mandato em 2023 mais do que o inominável miliciano havia trabalhado em meses de mandato na presidência do país, também me lembrei de alguns momentos de minha vida nos mandatos eletivos que exerci no movimento dos trabalhadores entre 2002 e 2018. Trabalhei pra caramba! Trabalhei como o presidente Lula sempre trabalhou! Não à toa, Lula sempre foi uma referência para mim.

Durante os mandatos eletivos de secretário de formação da Confederação (2009-15) e coordenação da Comissão de Empresa dos Funcionários do Banco do Brasil (2012-14) - duas funções complexas -, eu trabalhava cerca de 90 horas por semana, de duas a três jornadas de trabalho da categoria que eu representava. O que nos move nas funções políticas é o compromisso ético que assumimos com as pessoas que nos confiaram seus votos. É raro nos preocuparmos com a nossa saúde e com a vida pessoal e familiar. Somos máquinas atuando 24 horas por dia nas causas às quais nos engajamos.

Em 2014, quando achava que seria impossível trabalhar mais do que eu trabalhava como coordenador das negociações nacionais do Banco do Brasil e como secretário de formação da categoria fazendo cursos Brasil afora - com apoio da equipe do Dieese -, algumas lideranças do movimento sindical me convidaram para outro desafio de representação: ser diretor de uma autogestão em saúde disponibilizando meu nome para concorrer às eleições da Cassi, Caixa de Assistência dos Funcionários do BB.

É necessário registrar que nunca pleiteei cargo ou função alguma no movimento dos trabalhadores. Nunca! Como diria minha mãe, nunca fui oferecido, nunca fui de me convidar para isso ou aquilo. Não é meu perfil. E respeito quem é candidato(a) a tudo. Eu não sou assim. Por outro lado, sempre fui muito solícito e tive dificuldades para negar quando me escolhiam para ocupar posições de liderança e gestão, às vezes até sofria com a missão, mas cumpria com empenho a tarefa dada pelo movimento. Foi assim que me vi representante do movimento estudantil, membro do Conselho de Usuários da Cassi SP, síndico do meu condomínio... e na vida sindical fui diretor do Sindicato, da Comissão de Empresa, da Confederação... e da Cassi.

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CASSI

Ao ler registros do período que vivi na direção da autogestão em saúde, vejo que ainda foi possível trabalhar mais do que havia trabalhado na década anterior para o movimento sindical e para a categoria bancária. Uma loucura! 

Ao compreender o desafio que pesava sobre meus ombros naquele momento, vi que teria que desenvolver uma estratégia de gestão que conciliasse estudar como nunca estudei na vida, atuar na base mais do que já atuava para educar o público do sistema- uma base nacional -, e ser o mais criativo possível na solução de problemas diários de uma instituição fadada a não existir por ser antagônica ao modus operandi do setor de saúde no qual atua, o mercado capitalista que visa lucro com a doença das pessoas, ou seja, quanto pior as pessoas estiverem, melhor para os donos do capital da "indústria da saúde".

Muito trabalho. Assim foi feito por mim, por nós da equipe de trabalho. Tanto estudei centenas e centenas de súmulas, atas, documentos técnicos da área de saúde e gestão de saúde, comportamento do mercado etc que em pouco tempo discutia de igual para igual com qualquer pessoa daquela área de conhecimento e dei dezenas de palestras de gestão de saúde. Os funcionários da autogestão me diziam que eu não os envergonhava ao falar de gestão em saúde, ao falar da Caixa de Assistência e o que ela perseguia enquanto modelo e objetivos históricos.

Ao mesmo tempo em que estudei a autogestão, mantive a rotina que tinha quando era sindicalista, rotina de estar ao lado da base social que representava, os trabalhadores da ativa e aposentados do Banco do Brasil e suas entidades representativas. Por 4 anos estive nas bases sociais informando e formando a opinião dos associados e participantes sobre a Cassi. Foi assim que tiramos da pauta a proposta patronal e liberal de quebra da solidariedade no modelo de custeio.

Quando o patrão e patrocinador percebeu que a base social estava mais coesa na defesa dos modelos assistencial e de custeio de nossa entidade e menos exposta às manipulações ideológicas e liberais, passei a sofrer boicotes internos que me impediam de avançar o modelo de saúde e o contato com a base. Segui fazendo o que tinha que ser feito, usando meus próprios recursos ou das entidades sindicais que nos ajudavam.

De maneira muito combativa, transparente e dedicada aos princípios aos quais nos baseamos chegamos ao final do mandato de diretor de saúde em 2018 mantendo todos os direitos dos associados da Cassi e com o modelo de Estratégia de Saúde da Família (ESF) e estruturas próprias de atendimento (CliniCassi) consolidados e reconhecidos como eficazes por toda a comunidade do sistema Cassi: associados, participantes, entidades representativas e patrocinador.

Como incomodei demais os adversários e o mundo jurídico e político já vinham atuando com novas ferramentas de guerra ideológica contra pessoas físicas e jurídicas - lawfare -, processos baseados em mentiras (fake news), terminei o mandato sofrendo um assédio moral violentíssimo e que depois seria arquivado por falta de provas. O objetivo desses processos é destruir as pessoas e impedir que elas possam seguir na vida política, nem que seja por um período determinado.

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3º GOVERNO LULA

A eleição do presidente Lula foi um acontecimento que ficará registrado para sempre na história do Brasil e do mundo. Vencer a máquina corrupta e fascista do bolsonarismo nas eleições foi algo épico, inacreditável! A máfia que estava instalada na estrutura do Estado brasileiro não contava com a derrota por causa da quantidade incalculável de fraudes incluídas no processo eleitoral por parte deles, bolsonaristas.

Vencemos! Para surpresa dos adversários, vencemos! Os 50,9% do resultado final das eleições equivale a algo como 60 a 70% de votos válidos numa eleição limpa, num processo normal de um país com democracia plena em vigor. Os 49,1% deles é algo inflado em mais de 15%. Vencemos tudo isso que montaram para se manterem no poder político!

Governar os 4 anos do mandato será uma nova etapa da guerra. E será muito difícil para todo mundo, para o nosso lado da frente ampla e para o lado que apoia o regime que havia tomado o Estado nacional por fraudes seguidas a começar pela operação mequetrefe lesa-pátria Lava Jato, pelo golpe de Estado em 2016, pela trágica prisão de Lula e que culminou com a eleição daquele ser inominável em 2018 e a pior bancada do Congresso em sua história. 

Digo que o período será difícil também pra eles - apoiadores do bolsonarismo - porque há uma massa de gente comum capturada, manipulada e doente, precisando de ajuda médica para se libertar da máquina fascista de manipulação.

Para nós do campo da esquerda, progressista e que defende a democracia com tudo que ela significa como, por exemplo, o respeito aos diferentes, será um período muito difícil! Muito! Pessoas que conhecem a política como eu conheço, sendo alguém que conviveu por mais de duas décadas ao lado daqueles e daquelas que chegaram ao poder, imagino o quanto será complexo tentar exercer o direito básico à opinião própria e a divergência das ideias no campo da esquerda... será difícil, ou talvez impossível!

Pessoas como eu e algumas outras figuras do movimento sindical e partidário dificilmente teriam espaço na composição de governo no atual cenário e conjuntura nacional que citei acima. Mesmo tendo uma história, tendo conhecimento em áreas do movimento como poucos militantes. 

Imagino que o governo será composto por duas metades: a da frente ampla, onde Lula não veta nem pessoas com históricos complicados, e a do lado do governo, com algumas pessoas que definem quem vai servir o governo em cargos com a promessa de obediência absoluta ao que mandarem, absoluta.

Enfim, de minha parte, desejo muito que o governo dê certo, que sobreviva aos 4 anos, que entregue algumas das promessas centrais de campanha, e que evite erros básicos dos mandatos anteriores, os dois de Lula e o único de Dilma (porque ela não pode governar após a reeleição).

Militantes que têm um pouco de opinião própria e que não se adaptam ao fazer política obedecendo pessoas cegamente estarão aqui nas bases torcendo pelo governo, criticando e cobrando também (como disse Lula) e, consequentemente, sofrendo pelo governo e talvez até dando a vida pelo governo na hora da guerra que pode acontecer a qualquer momento. 

William Mendes


Post Scriptum (às 20h16):

Comentário em face da destruição dos prédios dos três poderes da república na tarde de hoje. 

O Palácio do Planalto, o Congresso Nacional e o STF foram invadidos e destruídos hoje pelos terroristas bolsonaristas, conduzidos até lá pelas forças policiais e de segurança de Brasília. Mais uma vez, atos golpistas e terroristas previstos aconteceram e nada foi feito. Tudo anunciado e programado pelas redes sociais. Qualquer investigador em início de carreira saberia que a merda iria acontecer e como seria, quem financia, quem vai participar etc.

Dias atrás, conversando com um contato que tem informações sobre a transição e a distribuição de cargos e nomeações do novo governo, fiquei indignado ao saber que algumas lideranças históricas nossas, com competência comprovada na gestão de instituições estatais e coligadas, foram vetadas por parte das pessoas que estão com o poder da caneta no governo. Eu já imaginava que isso fosse acontecer. Isso é mais antigo que andar pra frente.

A destruição de hoje e a forma como a coisa se deu deixa claro para quem entende de política: o NOSSO governo é conciliador, é da natureza dos governos Lula ser assim, e por causa disso temos um "ministro da defesa" conivente com as milícias nas portas dos quartéis (sem veto), por causa disso temos uma "ministra" envolvida com as milícias cariocas (sem veto), por causa disso que só tem trânsito na transição quem fala amém a tudo dentro de nosso campo da esquerda.

Sigo na torcida por nosso governo, mas uma coisa a história já nos ensinou: não se concilia com o nazifascismo, com o terrorismo, com o autoritarismo. Enquanto o nosso lado só nomeia gente que fala amém pra tudo, o outro lado arregaça tudo na base da violência. Não dá para dar as costas aos fascistas, eles matam na "crocodilagem", por trás. Fascistas são covardes, mas são maus.

Que saco! Estou tão indignado quanto qualquer pessoa decente está ao ver tudo o que aconteceu hoje à tarde no Brasil.


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28.7.22

Memórias (XXIX)


Outubro de 2016, indo ao
19º Congresso da Unidas.


A saúde vai mal quando não temos instituições públicas e privadas focadas na formação de cidadãos com consciência política, educação em saúde e uma ética humanista


Opinião

As postagens de memórias neste blog que utilizei para prestar contas dos mandatos eletivos que exerci ao longo de quase duas décadas de vida pública são postagens que mesclam sentimentos diversos e até antagônicos como, por exemplo, gratidão, dor, alegria, tristeza, raiva, resignação; às vezes esperanças, às vezes.

O conhecimento que adquirimos ao longo de nossa existência é algo essencial para o que somos: seres humanos da espécie homo sapiens. O que nos diferencia do restante dos seres vivos no planeta Terra é a cultura, o saber acumulado, a capacidade de criação, a história, a razão e a consciência, ou seja, são os atributos humanos oriundos de nosso cérebro constituído por 86 bilhões de neurônios, como nos ensina o neurocientista Miguel Nicolelis.

Ao longo de minha vida de representação da classe trabalhadora fui adquirindo conhecimentos novos através das mais diversas formas de educação e cultura: a vivência na militância política é uma excelente escola de vida; os estudos formais e os específicos das áreas nas quais atuava também; os conhecimentos gerais que almejo conhecer para me tornar uma pessoa melhor e mais preparada para contribuir para a sociedade humana ainda me movem pelos caminhos a se abrirem, já que o poeta diz não haver caminhos.

A última representação que exerci foi na área de saúde, fui gestor de uma autogestão com um potencial incrível de realizações na área de saúde dos trabalhadores e na questão de realizar experiências exitosas em sistemas de saúde que poderiam ser referência para as sociedades humanas em relação a modelos fechados de atenção primária e medicina de família e comunidade e inclusive referência para sistemas integrados de saúde nos mais diversos graus de complexidade. A autogestão poderia ser... mas não é mais uma referência, na minha opinião, e avalio que a autogestão dos bancários do Banco do Brasil terá muitas dificuldades de seguir existindo nas próximas décadas.

PARA ONDE ESTAMOS INDO EM RELAÇÃO À SAÚDE HUMANA?

Quando digo que a saúde vai mal por falta de instituições públicas e privadas focadas na formação de cidadãos com consciência política, educação em saúde e uma ética humanista quero dizer com isso que pode existir esperança num amanhã melhor caso haja investimento em formação e educação: basta mudarmos a partir de hoje, pois nossos cérebros humanos são flexíveis e mudam assim que são estimulados para isso; por outro lado, há enormes perspectivas de piora no quadro da saúde humana caso as coisas continuem como estão neste exato momento em que escrevo esse texto de memórias.

Ao olhar a saúde no Brasil - olhar com o conhecimento que adquirimos ao vivenciarmos a experiência de gestão de sistemas de saúde - ao olhar os sistemas públicos e privados e as pessoas que deles dependem, a gente se segura para não chorar e não cair numa depressão profunda. O quadro é desesperador! Faço uma comparação com uma savana ou selva na natureza. Estamos sós como presas numa savana repleta de predadores vorazes; não estamos sequer reunidos em manadas de presas que se protegem umas às outras em meio aos ferozes predadores. Que cenário ruim pra nós, presas a serem predadas! Não temos quem nos proteja neste momento da história.

Ao olhar pessoas e empresas dos sistemas de saúde ao nosso redor - hospitais, clínicas, profissionais diversos, planos de saúde, fornecedores de materiais e medicamentos, reguladores e demais envolvidos no setor - alternamos aqueles sentimentos que disse acima: poderíamos estar muito bem, felizes e esperançosos, mas infelizmente estamos muito mal, muito aquém do que poderíamos estar, caso houvesse interesse dos donos do poder político e econômico em orientar, educar e formar pessoas conscientes, inclusive para a necessária convivência sustentável com o setor de saúde.

Chegamos a um momento fantástico do conhecimento humano nas áreas de intervenções cirúrgicas, medicamentos, materiais do setor, saberes para se evitar os adoecimentos. No entanto, talvez tenhamos chegado também ao momento mais dramático da história humana em relação à falta de ética e de visão humanista neste mundo dominado pelos valores ideológicos do capitalismo. Não valemos mais nada como seres humanos. No mercado de saúde, somos meios para que capitalistas ganhem dinheiro com a mercadoria saúde. E assim, o potencial incrível que teríamos para as pessoas viverem melhor se transformou numa savana onde nossos corpos, nossa saúde, são meios (presas) para se ganharem dinheiro às custas até de nossas vidas.

Cirurgias invasivas e dolorosas às vezes desnecessárias, medicamentos questionáveis, próteses e materiais de altíssimo custo e marca exigidos pelos profissionais de saúde (os doutores, os deuses) que poderiam ser substituídos por outros de mesmo efeito e eficácia, publicidades e propagandas agressivas manipulando pessoas (presas) para a realização de procedimentos que poderiam ser adiados ou evitados... sem instituições públicas e privadas que nos protejam nessa selva de predadores estamos vulneráveis, muito vulneráveis. Afinal de contas não temos o saber dessa área, a palavra final dos especialistas é como sentenças de vida ou morte para nós leigos dos saberes de saúde. E assim estamos neste momento da história humana e brasileira.

E A AUTOGESTÃO EM SAÚDE DA COMUNIDADE DOS TRABALHADORES DO BANCO DO BRASIL?

Vi nesta semana uma matéria da confederação dos bancários da CUT (Contraf) apontando preocupações com novos déficits da Caixa de Assistência dos Funcionários do Banco do Brasil. Os associados entraram com novos recursos através de reforma estatutária em 2019 para que a entidade tivesse equilíbrio econômico-financeiro e promovesse o avanço do modelo testado e aprovado de Atenção Integral à Saúde, que na Cassi se dava através da Estratégia de Saúde da Família (ESF), uma forma de Atenção Primária à Saúde (APS), desenvolvida na associação desde a reforma estatutária de 1996 cujas bases eram uma estrutura própria de saúde (as unidades CliniCassi) e equipes próprias de profissionais e programas de saúde adequados a cada participante do sistema. 

A estrutura própria de saúde da autogestão Cassi atuaria para mapear, orientar e acompanhar ao longo da vida toda a população assistida pelo Plano de Associados, cerca de 400 mil pessoas, tanto durante a fase laboral dos associados e seus dependentes quanto após essa fase, durante o gozo da aposentadoria. Infelizmente, os gestores eleitos e indicados após a reforma estatutária de 2019 (com exceção da parte da gestão que chegou agora em 2022) decidiram por conta própria se desfazerem do modelo testado e aprovado por décadas e passaram a orientar a associação para uma lógica terceirizada de modelos do mercado de saúde, onde a saúde das pessoas não é o foco, nunca foi, o foco é o lucro com a mercadoria "saúde".

Vi também nesta semana a campanha da direção da Cassi para a indicação de parentes para a venda de planos de saúde - os planos para familiares de associados. Entrei no site da Cassi, olhei, olhei, e concluí que as coisas vão mal e as perspectivas não são boas para nós associados da Caixa de Assistência. 

OPINIÃO - Ao olhar os números atuais da Cassi e os participantes de seus "planos de saúde" vi o quanto continuo acreditando nos conhecimentos que adquiri durante a gestão da associação. Focar todos os esforços da autogestão nesses planos de mercado é um tremendo equívoco e gasto de energia por parte da direção da Cassi. Não se fala em outra coisa na "empresa" Cassi que não seja o plano "Cassi Essencial" e mesmo assim até agora não chegaram sequer a 4 mil planos vendidos... Isso é um absurdo! Falei isso durante anos! A direção deveria estar centrada na ESF para os 378 mil participantes do Plano de Associados que tendem a permanecer no sistema por décadas. Nós mostramos os resultados da ESF em participantes vinculados ao modelo. Os custos com a compra de serviços de saúde no mercado dessa população vinculada à ESF são até 40% menores. Esqueceram tudo isso... ou fazem de conta que não sabiam.

A CASSI NÃO É PLANO DE SAÚDE... É CAIXA DE ASSISTÊNCIA, E OS PARTICIPANTES DEVERIAM SER ORIENTADOS SOBRE ISSO

PONTOS FORTES - Quais são os pontos fortes da Cassi, os potenciais de realização dos objetivos centrais da Caixa de Assistência: cuidar da saúde dos seus associados e dependentes? Num resumão geral, posso dizer que o melhor potencial da Cassi é o Plano de Associados com os seus 378 mil participantes, conhecidos, monitorados e orientados ao longo das próximas décadas através das equipes de família e dos programas de saúde das unidades CliniCassi existentes e a serem criadas. Provamos com estudos que os vinculados ao modelo tinham um custo assistencial bem menor ao usar os recursos na rede prestadora do mercado, mesmo nas faixas etárias maiores! 

Se quisessem, os donos do poder político no sistema Cassi - a direção do patrocinador e a direção da associação, juntamente com as entidades representativas - teriam uma capacidade considerável de educação e orientação em saúde e no uso do sistema Cassi em relação ao modelo ESF e no uso da rede de prestadores quando necessário.

PONTOS FRACOS - Quais são os pontos fracos da Cassi e as apostas que tendem a dar errado e prejudicar o sistema de saúde da autogestão? O maior equívoco é querer disputar mercado com os planos de mercado! Acordem! Nem se a Cassi quisesse poderia competir em igualdade com o mercado porque a Cassi é uma autogestão e a legislação jamais vai permitir a ela as flexibilidades que os planos de saúde do mercado têm! Será que é tão difícil entender isso? Desfazer as estruturas próprias de gestão e atendimento de saúde de atenção primária e ESF é outra coisa bizarra! A estrutura própria da Cassi - Central de atendimento, de unidades regionais Cassi e CliniCassi - é muito barata pelo que realiza (o menor custo adm. do mercado de saúde: 6,1% de (d)eficiência operacional para abril/2022 - Visão Cassi). Cada equipe nuclear de família que cuida de algumas centenas de participantes gera uma economia exponencial no uso dos recursos na rede prestadora. Nossos vinculados deixam de ser "presas" nessa savana de geração de procedimentos para enriquecer capitalistas do mercado privado.

Durante os quatro anos nos quais estivemos na direção da associação, como diretor eleito de saúde, tomamos conhecimento do que era a Cassi, para que havia sido criada, quais os objetivos em saúde que as gerações anteriores a nós tinham definido como norte da autogestão e procuramos seguir aquilo que era a essência da associação: cuidar da saúde de seus associados e dependentes através de um modelo preventivo e sustentável. A Cassi nunca foi nem deveria querer ser uma empresa de saúde de planos de mercado. Nunca!

Não vou ficar de blá-blá-blá repetindo o que demonstramos por 4 anos em centenas de textos e apresentações e com dados reais. A Cassi recebeu recursos novos para avançar no modelo que nós havíamos comprovado a eficácia: APS/ESF/CliniCassi. Mudaram tudo! A direção acha que a Cassi vai concorrer com o mercado privado de planos de saúde... francamente, até um jovem estudante da área (politizado, claro!) saberia que isso não vai dar certo. O foco da sustentabilidade da Caixa de Assistência deveria ser seus participantes do Plano de Associados e o modelo preventivo e mais eficaz da ESF.

Que canseira ver a repetição daquilo que não dá certo! É minha opinião, e ela não é de leigo sobre a autogestão em saúde de nossa comunidade do Banco do Brasil. É opinião política e técnica, de alguém que estudou muito a nossa Caixa de Assistência.

Enquanto a Cassi segue se desfazendo, quem de nós tem confiança plena nos tais terceirizados dos atendimentos por tela (telemedicina, que deveria ser atendimento complementar, não ferramenta principal) que não nos conhecem nem conhecem o nosso histórico de saúde como as equipes de profissionais dos modelos de medicina de família e comunidade conhecem (as equipes ESF no caso da Cassi)? Difícil...

William

Ex-diretor eleito da Cassi


Post Scriptum:

- Fiz um vídeo em julho de 2019 no qual falo de estratégias de negociação com o patrocinador e falo do modelo de saúde da Cassi diferenciando despesas adm. e despesas assistenciais e abordo o equívoco de reduzir a estrutura própria da autogestão. Fizeram isso nos últimos 3 anos. Ver aqui o vídeo.

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10.4.22

Memórias (XXI)



O papel de educação em saúde que a Cassi tinha através do modelo de Estratégia de Saúde da Família (ESF) e das CliniCassi


Uma reflexão a partir do que aprendi com os profissionais de saúde da Cassi me fez abrir nesta manhã de domingo uma nova caixa de comprimidos para controle de pressão alta e tomar o comprimido que não tomei nos últimos dois dias. O modelo assistencial da Caixa de Assistência (a ESF) atuava para que o próprio participante do sistema fosse protagonista de seu destino no que diz respeito à saúde e à vida. Esse é um dos focos da medicina de família e comunidade, modelo exitoso onde é implantado: educação em saúde e participação ativa do usuário.

Ao terminar a caixa de remédio anterior, pensei em esperar para voltar a tomar os comprimidos de controle de pressão alta somente quando pudesse agendar uma consulta à Cassi, isso se daria após fazer os exames de rotina que pedi para fazer depois de dois anos sem controle algum por causa da pandemia mundial de Covid-19. Estou falando de exames básicos de sangue, urina etc. Como quase todos nós somos relapsos quando se trata da própria saúde, já faz um certo tempo que estou enrolando para fazer os exames de rotina. Vai saber quando é que vou efetivamente passar com a equipe de família com os exames realizados.

Milhões de pessoas no Brasil e no mundo morrem ou sofrem sequelas de infartos e AVC em consequência de não controlarem as principais doenças crônicas que acometem uma quantidade enorme de gente nas mais diversas idades. As doenças crônicas são silenciosas e a grande maioria das pessoas não sabe que é doente crônica. Uma questão básica de atenção primária na medicina de família e comunidade é acompanhar e monitorar casos de pressão alta, diabetes e níveis de colesterol de pessoas cadastradas em equipes de família.

Eu pertenço a um sistema de saúde privado - a Caixa de Assistência dos Funcionários do Banco do Brasil, uma autogestão em saúde - que desenvolveu um modelo assistencial desde o final dos anos noventa baseado na Estratégia de Saúde da Família (ESF), uma das formas de Atenção Primária em sistemas de saúde. Como participante cadastrado na ESF, tive a oportunidade de ser orientado sobre saúde após 2014. 

Enfim, não vou começar o blá blá blá sobre o modelo assistencial da Cassi na atualidade e sobre a destruição dele a partir de 2018 com a eleição de pessoas de um tal grupo de liberais autodenominado Grupo Mais. Esse não é o foco desta postagem de memórias. Aqueles colegas eleitos em 2018 e 2020 se uniram a outros indicados pelo patrocinador para desfazer o modelo próprio de saúde (ESF/CliniCassi) e terceirizar o cuidado de nossas vidas para os capitalistas do mercado de saúde. 

Retomando minha reflexão sobre voltar a tomar o comprimido de controle de pressão alta nesta manhã de domingo, ela se deu por causa dos ensinamentos que adquiri a partir de 2014 ao ser um participante cadastrado em uma equipe de família no modelo ESF da Cassi, e ter tido as orientações preventivas basilares sobre causas e consequências em relação às doenças crônicas e seus agravamentos caso as cronicidades não sejam controladas e monitoradas. 

Não é preciso ser da área da saúde para ser orientado como ser humano que alterações na pressão arterial, colesterol alterado ou diabetes podem ocasionar sérios riscos a órgãos internos como cérebro, rins, fígado, olhos, veias e artérias, coração, pulmão etc. Sistemas circulatório, respiratório, endócrino e nervoso podem sofrer danos irreparáveis sem o controle da pressão e dos níveis de colesterol. 

Nos primeiros dois dias sem tomar o remédio minha pressão arterial seguiu boa: 12x8. No entanto, nesta manhã vi que ela já havia se alterado para 13,5x10. Refleti então que não tomar o comprimido e me expor a um ataque cardíaco ou a um AVC seria uma coisa estúpida, burra. Eu não tenho medo de morrer, mas não gostaria de ser um sequelado de um infarto ou AVC se isso puder ser evitado. Além disso, como ser social seria estupidez me expor a um risco desnecessário sendo que quase todos nós temos pessoas em nossas relações que sofreriam com nossa ausência, tanto de forma psicológica quanto financeira.

Acho que paro essas memórias por aqui. Ter sido gestor do modelo de saúde da Cassi entre 2014 e 2018 me deu conhecimentos que me impedem de ser tão irresponsável com minha saúde como era antes. É lógico que sigo sendo um cidadão que vive inserido numa cultura inversa ao modelo que a Cassi perseguia, preventivo e que monitorava a população cadastrada ao longo de toda a vida. Ou seja, sem um trabalho ativo das equipes de saúde da ESF, minha tendência é a da maioria, só procurar o sistema quando estiver com algum problema de saúde, por dor, por incômodo, por "necessidade".

O modelo do mercado, ao qual a direção da Cassi optou por seguir, tem essa lógica de gerar procedimentos médicos e necessidades de eventos (ocupar leitos e vender serviços): se sentir alguma dor, se estiver doente, se quiser fazer algo que viu nas propagandas, faça uma teleconsulta, procure um profissional de saúde, um hospital ou clínica blá blá blá. Isso é uma tragédia para as pessoas e para os sistemas de saúde, por mais que elas não entendam isso! Quando os usuários fizerem suas demandas, a saúde deles já era...

O mercado, a indústria de procedimentos médicos, materiais e medicamentos agradecem aos gestores que optam pelo modelo curativo e não o preventivo. O lucro do mercado de saúde é com as nossas doenças agravadas, com o nosso "salvamento" ou assistência talvez longa até nossa morte. 

E o lucro do mercado de saúde também é com as nossas demandas por causas externas como a violência pregada pelo regime fascista no poder e os acidentes diversos que demandam leitos e atendimentos caríssimos. A Cassi optou por desfazer suas estruturas próprias e baratas de equipes de família, unidades de atenção primária CliniCassi e optou por apostar nos capitalistas do mercado de saúde.

Que os deuses diversos e a sorte nos protejam. 

William


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28.2.22

Memórias (XIX)


Conversando com associados da Cassi MS (out/2016).

Cassi e Cassems, exemplos de autogestão em saúde


Opinião

Nesta semana que passou conversei com um colega aposentado do Banco do Brasil a respeito de nossa Caixa de Assistência e da Caixa de Assistência dos Servidores do Estado do Mato Grosso do Sul. Ele está desenvolvendo um trabalho acadêmico que aborda questões sobre essas instituições de trabalhadores e como tive a oportunidade de ser gestor de nossa autogestão o colega avaliou que eu poderia compartilhar com ele algumas impressões e experiências que tive como gestor de saúde. Tivemos uma boa conversa.

Tenho boas lembranças a respeito dessas autogestões. As histórias dessas duas caixas de assistência à saúde são belíssimas, são exemplos de realização coletiva a partir do desejo do bem comum, são instituições que têm em sua raiz o desejo de solidariedade de classe. 

CASSEMS

Da Cassems tenho informações essenciais, públicas, li o livro comemorativo dos 15 anos de existência da autogestão e estive em contato com a instituição durante o mandato eletivo que exerci de diretor de saúde da Cassi (2014/18). Tenho uma leitura geral sobre a Cassems em relação à estratégia que os associados adotaram para a Caixa de Assistência (operadora) se estabelecer no agressivo mercado de saúde privado brasileiro. 

A palavra é essa mesma - "agressivo mercado" - porque ao se conhecer por dentro a forma como opera essa "indústria" fica claro o quanto pesa a questão do lucro e retorno financeiro nos objetivos dos vendedores de serviços de saúde. É uma grande indústria capitalista essa da saúde/doença como mercadoria.

Aliás, para vocês conhecerem a pujança da Cassems eu sugiro que vocês naveguem pelo site da autogestão. É de encher os olhos, lá vocês vão ver informações sobre os 10 (dez) hospitais próprios dos servidores do Estado. Conheço a história da aquisição e funcionamento de cada um deles porque li a respeito no livro comemorativo. 

Os servidores sul-mato-grossenses enfrentam os abusos cometidos pelo mercado privado de saúde (valores abusivos nos preços da rede credenciada) de igual para igual ao terem estruturas próprias de saúde em todos os níveis. 

CASSEMS: GESTÃO DO CUSTO SEM DEIXAR DE TER O SERVIÇO - Outra vantagem dessa estrutura verticalizada da Cassems é a gestão do custo da saúde. Uma coisa é comprar tudo fora como faz a Cassi, outra coisa é conhecer por dentro as operações dessa "indústria" que movimenta bilhões de reais por ano. Tendo estrutura própria, como faz o mercado privado que visa lucro, a Cassems pode direcionar boa parte de sua demanda por saúde para sua própria rede, ficando alguma coisa para ser feita em credenciados dos empresários-médicos do mercado.

Para vocês terem uma ideia, a Cassi chega a pagar mais de 1/2 bilhão de reais ao ano somente para 1 (um) prestador de serviços. Por não gerirmos estruturas de saúde de 2º e 3º graus, estruturas de procedimentos de alto custo, ficamos nas mãos dos médicos-capitalistas, cooperativas médicas por área profissional, médicos-empresários que faturam mais quanto mais procedimentos fazem em nossos participantes do sistema Cassi (fee for service), dentre outras desvantagens que o mercado oferece, como criar desejos que não são necessidades das pessoas e usar materiais que custam várias vezes mais que outros de mesma qualidade. 

CASSI OPTA POR FICAR NA DEPENDÊNCIA DO MERCADO PARA TUDO - A Cassi do Brasil pós-golpe não quer ter estruturas próprias de saúde (por opção da direção porque tem recursos para isso). A direção da Cassi está se desfazendo até da estrutura baratíssima de atenção primária e medicina de família, e assim a forma para "gerir custos" acaba sendo reduzir a rede prestadora e tirar os fornecedores do mercado de saúde que cobram mais caro. Vejam o exemplo da rede do novo plano que a direção atual lançou no "mercado". Um plano chamado Cassi Essencial com menos direitos, coberturas, rede, e com coparticipação e taxa de internação. 

(Cassi Essencial: o usuário acha que vai economizar em relação ao plano Cassi Família II, acha..., e vai perceber na hora que precisar que a coisa não é bem assim...)

A Cassems se estabeleceu de forma sólida em duas décadas de existência e hoje avança promovendo saúde e cuidando de uma população de quase 200 mil beneficiários. Eu continuo com a opinião que o modelo de verticalização da Cassems deveria ser estudado e implantado na autogestão da comunidade Banco do Brasil.

CASSI

A Caixa de Assistência dos Funcionários do Banco do Brasil foi criada em 1944 por colegas do banco e ao longo de décadas de existência foi incluindo novos participantes e avançando em direitos após lutas históricas do movimento sindical e associativo do quadro de trabalhadores desse banco público bicentenário.

Não vou aqui descrever a história da Cassi (fiz isso ao longo de centenas de postagens quando fui gestor eleito). 

O importante é destacar que nas primeiras 5 décadas de existência (de 1944 a 1995) a Caixa de Assistência foi uma mera pagadora de serviços de saúde do mercado empresarial privado. Ela praticamente ressarcia as despesas de seus associados. Modelos assim tendem a ter sérios problemas de déficit porque a inflação médica e as novas tecnologias e demandas de saúde sempre vão impactar no valor da compra de serviços em relação à capacidade do plano de saúde em arrecadar recursos para fazer frente às despesas assistenciais - nem sempre necessárias ou adequadas à saúde dos assistidos.

A reforma estatutária de 1996 mudou a essência da Caixa de Assistência, que passou a fazer - ou deveria - a gestão da saúde de uma determinada população ao longo do tempo e definiu um modelo assistencial para cumprir esse objetivo de Atenção Integral à Saúde. O modelo escolhido foi um dos mais exitosos no mundo quando se avalia modelos assistenciais e sistemas de saúde: um modelo baseado na medicina de família e comunidade (MFC), muito adequado para o perfil da população de associados e familiares que o sistema Cassi continha. 

Entre 1996 e 2001 foram feitos pilotos sobre o melhor modelo assistencial para se atingir o objetivo de Atenção Integral à Saúde, objetivo estatutário do sistema Cassi cuja essência e base é o Plano de Associados (e não planos de mercado x ou y). 

A Cassi e os patrocinadores definiram que a instituição (operadora) passaria a cuidar de sua população assistida através de um modelo de medicina de família, a Estratégia de Saúde da Família (ESF), uma das formas de se fazer Atenção Primária em Saúde (APS). A base do modelo definido e aprovado pela Cassi era ter uma estrutura PRÓPRIA de CliniCassi com equipes de família PRÓPRIAS e programas de saúde adequados aos diversos grupos de risco e populacionais identificados e acompanhados pelas CliniCassi, que seriam coordenadas por unidades regionais, em todas as capitais do país.

O que interessa registrar nesta postagem de Memórias é que a experiência de gestão e os estudos dedicados à Cassi e à gestão de modelos de saúde me permitiu ter claro algumas questões a respeito do tema. Uma coisa é o custeio e outra é o modelo assistencial, por exemplo. Uma é como se arrecada os recursos da Caixa de Assistência, outra é como se utiliza os recursos arrecadados. 

Como disse acima, a Caixa de Assistência sempre teve problemas de déficits em suas décadas de história e alguns motivos são claros como, por exemplo, os custos elevados e crescentes dos serviços comprados e a dificuldade de aumentar receitas para fazer frente às despesas assistenciais, em sua imensa maioria de procedimentos curativos e não preventivos.

CASSI COMPROVA EFICIÊNCIA DO MODELO APS/ESF/CLINICASSI - Estudos realizados na diretoria de saúde durante o nosso mandato comprovaram a eficiência do modelo de Estratégia Saúde da Família a partir da estrutura própria de atenção primária e gestão local do modelo, as CliniCassi com equipes de família e as unidades regionais da Cassi nos Estados e DF.

Nossas equipes técnicas desenvolveram metodologia própria inédita no mercado para demonstrar que populações cadastradas e vinculadas por um determinado tempo no sistema ESF/CliniCassi tinham custos assistenciais menores, menos internações, menos idas ao pronto socorro/atendimento, de acordo com determinados graus de complexidade e isso mesmo nas faixas etárias maiores. 

Chegamos a demonstrar estudos onde o crescimento de despesas assistenciais de faixas etárias de 60 e 70 anos de populações cadastradas e vinculadas à ESF era menor que o crescimento de despesas assistenciais de não cadastrados nas primeiras faixas etárias, de 30 e 40 anos. 

Demonstramos que mesmo dentro da curva A, grupo com os participantes de maior custo em um plano de saúde, as despesas assistenciais eram quase 15% menores nos vinculados à ESF em relação a não cadastrados. Estou falando de um grupo cujas despesas assistenciais chegam a um bilhão de reais, conforme o ano avaliado.

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Enfim, essas postagens cansam tanto quem escreve quanto os raros leitores que leem. A Cassi fez uma reforma estatutária para melhorar a questão do custeio em 2019 e teria tudo para avançar no modelo próprio de APS/ESF/CliniCassi e se tornar menos dependente do mercado como faz a Cassems. 

Mas... a direção que passou a comandar a autogestão fez o inverso, passou a apostar todas as fichas no mercado privado, desfazendo algo que havia sido comprovado que era o que de melhor tinha na Cassi, seu modelo assistencial solidário, próprio e autônomo e que nos levaria a sermos menos dependentes do mercado consumidor de recursos dos planos.

Fim dessas Memórias e reflexões sobre autogestões em saúde, instituições associativas de trabalhadores.

William


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18.11.21

Memórias (VII)


Eu, Deli e Vitor Benda no final de 2006,
num debate de comunicação na Carta Maior.

Os meses iniciais de 2007 tiveram Cassi na pauta de luta d@s trabalhador@s do BB


Os primeiros dias do mês de abril de 2007 foram de muito trabalho na secretaria de imprensa da Contraf-CUT. Eu tinha parte de minha agenda sindical dedicada a estudar questões do mundo do trabalho para representar bem a categoria profissional na qual atuava como dirigente eleito.

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COMUNICAÇÃO E IMPRENSA - Durante os 3 anos em que atuei como secretário de imprensa me envolvi em diversas agendas de comunicação, tanto na estrutura sindical quanto nas áreas de mídia independente e alternativa (como na foto que ilustra essa postagem), fora do eixo da mídia comercial e hegemônica. 

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BANCO DO BRASIL E HISTÓRIA DE LUTAS - Como liderança sindical oriunda da corporação de trabalhadores do BB, eu estudava muito tudo que tivesse relação com a história de nossa organização. Os duzentos anos do banco público, as origens e fortalecimento de nossas caixas de assistência e previdência - Cassi e Previ -, a força do cooperativismo e associativismo de nossa comunidade bicentenária etc. Para poder falar sobre nós, era necessário estudar e muito a nossa história.

O registro de minha agenda sindical do dia 4/04/07 (ver aqui) é um exemplo do que fiz durante anos a fio: estudar a nossa história e me empoderar das lutas empreendidas pelo coletivo de trabalhadores para poder estimular o espírito de pertencimento de cada bancária e bancário que eu representava. Como disse em outra postagem, eu conversava com bancários do BB no dia da posse deles e já associava boa parte deles ao Sindicato. E nunca deixei de ir à base conversar com os colegas, mesmo quando estava atuando em estruturas de 3º grau (confederação).

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PARTE DA DIREÇÃO DA CASSI TENTOU PASSAR A PERNA NOS SINDICATOS E NOS ASSOCIADOS ANTES DA VOTAÇÃO DA REFORMA ESTATUTÁRIA DE 2007

Muitas vezes os trabalhadores não têm noção do quanto o movimento sindical é fundamental para proteger os direitos e as entidades de classe como, por exemplo, a Caixa de Assistência do BB (Cassi). 

O patronato e os capitalistas têm ampla vantagem em termos de poder persuasivo de comunicação porque detêm as estruturas e o capital (dinheiro) e com isso conseguem manipular e enganar o povo trabalhador. Isso foi assim no passado e segue sendo assim no presente, infelizmente - a ideologia dominante é a ideologia da classe dominante!

Em 2007, após quase 2 anos de negociações entre nós e o patrão/governo para reequilibrar as finanças da Cassi e ampliar o modelo de Atenção Integral à Saúde, via Estratégia de Saúde da Família (ESF) com a estrutura própria de unidades de atendimento CliniCassi em todas as capitais e regiões metropolitanas, alguns membros da direção tentaram retirar direitos dos associados no texto do Estatuto a ser votado. Tentaram, por exemplo, cassar o direito de os associados apreciarem e votarem os relatórios anuais e os atos de gestão da direção da associação.

A Contraf-CUT foi pra cima da direção da Cassi e do Banco e após as medidas tomadas pelo movimento sindical os direitos foram restabelecidos e assim os bancários puderam ser consultados sobre as alterações estatutárias que trariam mais recursos para a Caixa de Assistência. Ver aqui a cobrança da Contraf-CUT sobre a Cassi.

Vendo a agenda sindical do mês todo (aqui), há registros de solução de alguns problemas apontados pela confederação e de apoio do movimento sindical à reforma estatutária, que foi aprovada por maioria na segunda quinzena de abril, mas a participação ficou abaixo do quórum mínimo (ver aqui). Haveria outra votação em maio.

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COMENTÁRIO FINAL

Estamos no final do ano de 2021. O mundo enfrenta uma crise mundial por causa da pandemia de Covid-19 e pela destruição gerada pelo modo de produção capitalista. Nosso querido país, o Brasil, sofreu um golpe de Estado em 2016 e ano a ano a vida do povo brasileiro foi sendo destruída, direitos trabalhistas, previdenciários, direitos sociais nos foram roubados como, por exemplo, educação e saúde. O patrimônio público e natural está sendo destruído. A democracia foi ferida de morte. Temos milicianos e diversos tipos de canalhas no poder e nas instituições da vida nacional. O cenário é um dos piores de nossa história de classe trabalhadora.

Ver os meus registros nos blogs é relembrar que já tivemos agendas de lutas trabalhistas em cenários mais favoráveis. Isso é história coletiva e pessoal. A história não acabou. Podemos retomar a felicidade. E vamos fazer isso. A luta continua!

Essas foram as memórias de hoje.

William


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