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22.5.17

Entrevista - Os ganhos e os desafios da atenção à saúde na Cassi


(reprodução de matéria)


Os ganhos e os desafios da atenção à saúde na Cassi

A ampliação do número de participantes cadastrados na Estratégia Saúde da Família (ESF) está entre as prioridades da Cassi, segundo o diretor de Saúde e Rede de Atendimento, William Mendes de Oliveira. Em entrevista ao Jornal Cassi, ele diz que os assistidos vinculados à ESF apresentam uma despesa per capita até 30% menor com o atendimento na rede credenciada, quando comparado aos beneficiários não cadastrados. Os números são resultado de estudo realizado pela Diretoria de Saúde, que analisou participantes por grau de complexidade. William anuncia ainda a criação da rede referenciada e as novidades do Programa de Controle Médico de Saúde Ocupacional (PCMSO) dos funcionários do Banco do Brasil.


Maio/2017


Cassi: Com a aprovação do Memorando de Entendimentos e considerando o contexto atual da Cassi, com a chegada da consultoria, quais as próximas ações da Diretoria de Saúde e Rede de Atendimento?

William: O objetivo é ampliar de forma gradativa o modelo de saúde da Cassi, elevando o número de cadastrados na Estratégia Saúde da Família (ESF), que hoje totaliza 182 mil beneficiários. Estudamos a estrutura própria da Cassi, isto é, as 27 Unidades e as 65 CliniCassi, e sabemos onde é possível um crescimento mais rápido. O objetivo é dotar esses espaços de mais recursos humanos, com equipes nucleares de família e médicos de pronto atendimento. Isso pode nos dar capacidade de gerir melhor o uso da rede credenciada, onde se concentra a despesa assistencial. Realizamos, por ano, nas CliniCassi, mais de 1 milhão de atendimentos, sendo mais de 500 mil consultas. O número de inscritos na ESF vinha em declínio desde 2013. Na metade de 2014, tínhamos cerca de 155 mil cadastrados. Com a mesma estrutura, pedimos um esforço às nossas equipes e demos um salto para 182 mil vidas. Crescemos no que foi possível em relação à capacidade instalada.


Cassi: Qual será o foco do trabalho das CliniCassi neste ano?

William: Nossa intenção é ampliar as equipes nucleares de família. A proposta é focar em algumas Unidades com condições de aumentar o atendimento como, por exemplo, a CliniCassi Maceió. Este serviço próprio é bastante procurado e dispõe de excelente estrutura. Assim também, onde enfrentarmos dificuldade de atendimento primário na rede credenciada, entendo que poderíamos aumentar a dotação do quadro de médicos nas CliniCassi para cobrir essa carência. No ambiente desses serviços, por dispormos de uma estrutura fixa com custos já pagos, temos condições de acolher com mais qualidade e mais humanidade aqueles participantes que nem sempre recebem a devida atenção na rede credenciada.


Cassi: Quais ações deverão ser implementadas em 2017?

William: A Cassi mantém um convênio importante com o Banco, que é o Programa de Controle Médico de Saúde Ocupacional (PCMSO). Por meio dele, são realizados anualmente mais de 100 mil Exames Periódicos de Saúde (EPS), incluindo o check-up dos primeiros gestores. Em 2014, após a gestão do PCMSO passar a ser feita na Cassi por meio da Diretoria de Saúde e Rede de Atendimento, ocorreram avanços importantes no trabalho conjunto com o Banco do Brasil, através da Dipes/Dibem. Praticamente não usávamos a devolutiva dos resultados do EPS nos planejamentos de ações de saúde dos estados, porque levava um ano para a consolidação e a análise dos resultados. Hoje, com as melhorias implantadas, o processo ficou mais rápido e as Unidades Cassi têm resultados parciais à medida que os exames são digitalizados. Em 2016 visitamos as 27 superintendências do Banco e as Gepes reforçando as parcerias de saúde. Combinamos ações voltadas aos 100 mil trabalhadores da ativa do Banco, buscando ampliar o conhecimento sobre a Cassi. Isso para que eles saibam que somos a operadora de saúde dos bancários, que faz Atenção Primária à Saúde (APS), priorizando a promoção da saúde e a prevenção de doenças. Organizamos, no mês de março, uma agenda com abertura formal do EPS/check-up 2017 (Cassi e BB/Dipes/Dibem), já com a devolutiva dos resultados do ano anterior. A tarefa ficou a cargo dos representantes das 27 Unidades Cassi, das Superintendências, Gepes e Sesmt. Conhecemos o mapa da população assistida, os problemas de saúde prevalentes e o potencial de direcionamento para a ESF. Essa parceria pela saúde ocupacional traz boas perspectivas de atuação para o ano de trabalho da Cassi e do Banco do Brasil.


Cassi: Como a ESF pode contribuir para um melhor controle dos custos de saúde na Cassi?

William: Por meio do Sistema Operacional Cassi (SOC), passamos os dois últimos anos analisando o comportamento da despesa assistencial da população assistida. Avaliamos a população cadastrada e vinculada à ESF e a não cadastrada, e começamos a fazer comparativos dos gastos realizados na rede credenciada de cada grupo. Para tanto, usamos um método científico e, em linhas gerais, chegamos à conclusão que a diferença de gasto per capita é 30% menor quando comparamos os pacientes com característica de maior volume de utilização na rede (e vinculados à ESF) com aqueles que não recebem assistência da Estratégia.


Cassi: Há indicadores mostrando que a ESF consegue melhorar a qualidade de vida dos participantes acompanhados?

William: Sim, os índices de cuidado na ESF são bem melhores em comparação com alguns dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), especialmente em relação aos pacientes com doenças crônicas que são acompanhados pela Estratégia. Quem está na ESF e adere à proposta de cuidado tem melhor controle de colesterol, de hipertensão, de diabetes, por exemplo. Estamos fazendo acompanhamento para que não cresça o número de crônicos como ocorre no mundo. Se identificarmos essas doenças no início e fizermos acompanhamento dos hábitos de vida de quem tem sobrepeso, obesidade, de quem é sedentário ou está com o estresse no limite, é possível influenciar na mudança de comportamento e evitar o aumento da incidência de pacientes crônicos. Vale lembrar que um crônico não cuidado compromete sua qualidade de vida, além das finanças do plano de saúde, devido às repetidas e demoradas internações hospitalares.


Cassi: Quais as ações da Cassi para a população idosa e para a assistência domiciliar?

William: A Cassi tem uma população acima de 60 anos que continua crescendo e que representou 20% do total de participantes em 2016. Acompanhamos os idosos com programas como o Plena Idade, o Gerenciamento de Crônicos e também o de Atenção Domiciliar (PAD), com foco na desinternação. Há participantes de todas as faixas etárias com internação longa e é possível pensarmos em alternativas de atendimento fora de hospitais. Além de ser mais humano, a despesa é melhor gerenciada do que quando o beneficiário fica dentro de grandes centros hospitalares. A proposta é ampliar o PAD já em 2017, fazendo a gestão nas Unidades Cassi. Se contarmos com equipes para fazer acompanhamento hospitalar, podemos avaliar e fazer a desospitalização, resultando em custo menor e uma melhor forma de cuidar. Há dois tipos de internação domiciliar: um com referência de diagnóstico e proposta de tratamento da Cassi e outro que é fruto de judicialização. Nessa parcela da judicialização são gastos milhões de reais com internação domiciliar para acompanhamento de idoso ou de paciente crônico, por determinação judicial. Se pudermos atuar no que não está judicializado ou até mesmo desfazer a judicialização, conseguiremos resultados importantes tanto na área assistencial quanto nos recursos financeiros gastos.


Cassi: Que outras ações estão previstas, pensando nos demais públicos atendidos?

William: O principal foco é ampliação dos programas já existentes. Há pessoas que perguntam por que existem as CliniCassi. É importante que saibam que esses espaços de atendimento próprios da Cassi dispõem de uma ou mais equipes de ESF, além do pronto atendimento. São organizadores dos serviços na região onde estão instalados, contemplando 1,2 mil pessoas cadastradas em cada equipe nuclear (médico e técnico de enfermagem), que são acompanhadas de acordo com suas condições de saúde. As CliniCassi têm média de 10 atendimentos por médico ao dia e as equipes multidisciplinares atendem de 11 a 14 pacientes diariamente. Assim, a pessoa pode ter como referência as CliniCassi antes de usar a rede credenciada.

A estrutura pesada de tecnologia e de hospital (pronto atendimento, emergência, cirurgias complexas e atendimento a vítimas de acidentes graves) sempre será necessária. Mas num modelo como o da Caixa de Assistência, cerca de 70% a 80% das demandas podem ser resolvidas pela Atenção Primária, isto é, no ambiente das CliniCassi. Então, para que usar quase R$ 1,5 bilhão na rede credenciada, só de exames e consultas, se pudermos gastar, por exemplo, R$ 1 bilhão? A Atenção Primária para os 400 mil participantes do Plano de Associados e para os 290 mil do Cassi Família seria o ideal. O fato é que o Cassi Família ainda tem a solução do reajuste atuarial por sinistralidade. O Plano de Associados, além de não ter essa possibilidade, apresenta receita fixa e estatutária. Por isso a solução para equalização das contas e sustentabilidade também passa pela Atenção Primária e acompanhamento dos crônicos.

Como novidade, teremos dois pilotos de rede referenciada em 2017. Em grandes linhas, o médico da CliniCassi indica, quando necessário, consultas e exames a serem realizados com especialistas dentro da rede credenciada. Com os resultados em mãos, o participante volta à Cassi, que passa a coordenar o cuidado com a ajuda dos profissionais de dentro e de fora das CliniCassi (Rede Referenciada), encontrando orientação séria e comprometida para solução de seus problemas de saúde. A governança da Cassi já autorizou o piloto para o referenciamento e, no momento, estamos escolhendo as áreas onde faremos essa nova lógica assistencial.



Fonte: site da Cassi

14.8.15

Sustentabilidade da Cassi – Perguntas frequentes dos associados e seus representantes


Estamos no 2º semestre de 2015 e iniciamos o ano debatendo a sustentabilidade de nossa Caixa de Assistência dos Funcionários do Banco do Brasil, uma entidade de saúde no modelo de autogestão compartilhada entre os associados - funcionários da ativa, aposentados e pensionistas - e o próprio BB.

A Cassi fechou o exercício de 2014 com déficit no Plano de Associados e após as movimentações dos dirigentes eleitos pelo patrocinador Corpo Social, buscando apoio do conjunto das entidades representativas do funcionalismo, foram abertas mesas de negociação com o patrocinador Banco do Brasil desde maio deste ano.

Os representantes do Corpo Social defendem aprofundar o modelo assistencial definido para a Caixa de Assistência desde a reforma estatutária de 1996. O modelo tem como missão fazer promoção de saúde e prevenção de doenças, cura e reabilitação, através da Atenção Integral à Saúde. 


Para essa missão da entidade Cassi, foram definidos modelo assistencial e receita específica (7,5% da folha de pagamento do funcionalismo da ativa e aposentados), com a criação de estrutura própria da Cassi com profissionais da área de saúde, administrativa e negocial e unidades CliniCassi para serem o primeiro acesso ao sistema de serviços de saúde e para organizar as necessidades de redes referenciadas de especialidades e redes credenciadas, incluindo pronto atendimento e emergências.

Neste momento de debates sobre as possíveis soluções para a busca do equilíbrio das contas da Cassi, as entidades representativas e os Conselhos de Usuários têm participado ativamente da mobilização dos associados e da busca por soluções.

Seguem abaixo algumas perguntas que recebi recentemente de Conselhos de Usuários e minha opinião sobre elas, sendo que os dados que cito estão disponíveis no Relatório Anual 2014.


1. Quanto o BB repassou para a Cassi em 2014?

Em 2014, a parte do Patrocinador Banco do Brasil no valor das contraprestações do Plano de Associados equivaleu a 919 milhões: 60% do total de 1,53 bilhão, que equivale aos 7,5% da receita anual. (Página 26)


2. Em 2013, quanto a Cassi recebeu relativo ao BET?

Segundo o Relatório Anual 2014, página 26, em 2013 a Cassi recebeu R$ 111 milhões relativos ao Benefício Especial Temporário (BET), pago pela Previ aos associados do Plano 1. Já em 2014, a Cassi recebeu R$ 9 milhões.


3. As contas da Cassi teriam equilíbrio, caso a contribuição tivesse incremento de mais 1,5%? E as reservas, como ficariam?

Aumentar as receitas do Plano de Associados através do aumento das contribuições, seja de que patrocinador for – BB e associados, somente associados, somente o BB – em mais 1,5%, passando a receita da Cassi de 7,5% da folha de pagamento (ativa e aposentados) para 9%, equivaleria a obter uma receita nova anual da ordem de uns R$ 300 milhões.

Esse valor também é calculado observando o Relatório Anual 2014. A receita de Contraprestações do Plano de Associados é de R$ 1.532.670 e é relativa a 7,5% da folha da ativa e aposentados. Se a contribuição aumentar para 9%, o incremento será de cerca de R$ 300 milhões.

Essa medida traria equilíbrio ao Plano de Associados? A nova receita de R$ 300 milhões por ano, seria suficiente, por exemplo, para que em 2014 não houvesse déficit no Plano de Associados, pois o resultado daquele exercício foi deficitário em 177 milhões. A nova receita traria boa perspectiva para o Plano dos funcionários no exercício em andamento, 2015, porque a previsão orçamentária – ceteris paribus - projetava um novo déficit no ano que poderia variar entre 200 e 250 milhões de reais.

Com essa nova receita de contraprestações, o Plano de Associados teria suas reservas matemáticas preservadas e até repostas em parte (novamente, ceteris paribus).


Aumentar o custeio somente dá perenidade ao sistema?

Mas a questão é se isso resolve e dá sustentabilidade e perenidade para a Cassi. Na opinião deste diretor eleito, é necessário resolver tanto a questão financeira mais imediata do consumo das reservas matemáticas pelo fato das despesas assistenciais serem maiores que as receitas do Plano (contraprestações), quanto é fundamental avançar no modelo assistencial de promoção de saúde, prevenção de doenças, cura e reabilitação através de um Sistema Integrado de Saúde, que é mais adequado para o adoecimento contemporâneo das populações e usa de forma mais racional os recursos sempre limitados do Plano de Associados com receitas fixas.

As propostas contidas nas iniciativas estratégicas apresentadas pelos representantes do Corpo Social na gestão da Cassi no final de 2014 trazem medidas tanto para aprofundar a eficiência na gestão da entidade nas áreas de regulação e gestão de prestadores quanto em estender para o conjunto dos associados o modelo de Atenção Integral à Saúde, através das CliniCassi e da Estratégia Saúde da Família.


Patrocinador BB deve fazer aportes extraordinários à Cassi

Entendemos que para a solução imediata do consumo de reservas do Plano de Associados, o patrocinador Banco do Brasil, deve fazer aportes extraordinários de R$ 300 milhões, um para 2015 e outro para 2016, gerando o equilíbrio nas contas enquanto as medidas estruturantes são implantadas.

É isso.

William Mendes
Diretor de Saúde e Rede de Atendimento

SUS - Público e Universal (parte II)


(Matéria da Imprensa)


Cai a proposta de cobrar no SUS. Se levada adiante, haveria um SUS para os que podem pagar e outro, dos indigentes, denuncia Ana Costa

Publicado em 12 de agosto de 2015 às 15:05


Por: Conceição Lemes

Nessa segunda-feira 10, o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), encaminhou ao Planalto a chamada Agenda Brasil.

São 28 medidas para enfrentar e superar a atual crise econômica. Entre elas, “avaliar possibilidade de cobrança diferenciada de procedimentos do SUS por faixa de renda. Considerar as faixas de renda do IRPF [Imposto de Renda de Pessoa Física]”.

“Essa proposta do Renan submete o direito à saúde ao capital e ao mercado”, denuncia a médica Ana Maria Costa, em entrevista exclusiva ao Viomundo. “Se levada adiante, é o fim do SUS.”

Ana Maria Costa é presidente do Centro de Estudos em Saúde (Cebes), professora da Escola Superior de Ciências da Saúde-ESCS/DF e coordenadora geral da Alames (Associação Latino-americana de Medicina Social).


Confira a íntegra da nossa entrevista (veja o PS do Viomundo, ao final).

Viomundo — Passava pela cabeça da senhora que, entre as medidas para reverter a atual crise econômica do País, fosse proposto o pagamento da assistência no SUS?

Ana Costa — A pauta liberal está sobre a mesa e a crise é cenário para seu protagonismo, tal como estamos assistindo. O ajuste econômico proposto pelo ministro da Fazenda, Joaquim Levy, e assumido pelo governo federal, evidencia isso.

A tentativa de amortecer o golpe político pressiona o governo a adotar medidas antipopulares que só interessam aos atores golpistas. Isso se refere tanto ao pagamento de assistência no SUS como às demais propostas no pacote de propostas do Senado Federal, todas elas lesivas aos direitos sociais, distantes dos interesses do povo e favoráveis ao agronegócio, ao mercado e ao capital.

Na verdade, já não sabemos mais o que esperar. O certo — e isto deve ser denunciado e alertado ao governo federal — é que o direito à saúde está sendo dilapidado continuamente. Isso, a curto prazo, terá consequências gravíssimas na sociedade e na economia.


Viomundo — Que consequências?

Ana Costa — Nossa condição demográfica e epidemiológica exige melhorias e ampliação do SUS e não o seu desmonte. Traduzindo. Com o envelhecimento progressivo da população, o povo brasileiro, cada vez mais, precisará do SUS para cuidar das condições crônicas de saúde, que, inclusive, não interessam ao mercado privado de saúde.

E as coisas não andam bem. De um lado, por meio de subsídios, renúncia fiscal e autorização para a ação do capital estrangeiro, o país expande a mercantilização da saúde e a financeirização do setor. Do outro, o conjunto de medidas adotadas no último ano agrava ainda mais o persistente subfinanciamento do SUS e compromete a sua sobrevivência.

Enquanto isso, propostas como a taxação das grandes fortunas — adotada pelos países capitalistas centrais! — não ganham espaço político. Nem passam por aqui, onde os donos do capital não querem perder nem serem solidários com a sociedade. A voracidade acumulativa dessa parcela da sociedade é compatível com a barbárie em termos civilizatórios.

O pagamento à assistência no SUS representa a segmentação dentro do sistema público de saúde, que foi criado para ser universal e integral.


Viomundo – Segmentação significaria ter um SUS de primeira, segunda e terceira classes…

Ana Costa – O SUS foi concebido sob os valores coletivos de solidariedade e igualdade, próprios do modelo de proteção social criado pela Constituição de 88. Valendo-se do financiamento de cada cidadão, por meio de impostos, de acordo com sua capacidade contributiva, todos têm o direito de usar igualmente o sistema, conforme suas necessidades de saúde e nunca mediante o critério de sua capacidade de pagar.

Segmentar é deixar de ser inteiro, único, ser partido, fraturado. Um SUS para os que pagam e outro, para os que não podem pagar. Um SUS diferente do outro, naturalmente. Insisto: esse caminho cria vícios e privilégios na rede de serviços e nos modos de atender e ser atendido… Rompe com os princípios da universalidade e integralidade sob os quais o SUS foi concebido.

São perdas de direitos.O Brasil perde muito de um sistema que tem melhorado a saúde no país, apesar de todas as suas dificuldades.


Viomundo – A dupla porta nos serviços públicos de saúde começou no Estado de São Paulo e hoje lamentavelmente está disseminada pelo País. Ou seja, eles atendem o público e o privado, seja por meio dos planos de saúde, seja particular, mesmo. A proposta do Renan significa a dupla porta dentro dos serviços que atendem os próprios pacientes do SUS?

Ana Costa – Lamentavelmente, sim… A dupla porta é uma estratégia perversa e movida pela introdução de uma ética privada no processo de atenção e de cuidado à saúde. Ela decompõe o caráter da relevância publica que a saúde assume na Constituição de 1988.

A dupla porta opera exatamente assim: uma, de baixa qualidade, mais precária, para os que não podem pagar. E outra, melhor – com mais segurança, tecnologia e qualidade – aos que pagam. O que fica ainda mais patente é que as forças, que querem ampliar o mercado da saúde, se omitem quanto ao debate consequente sobre o financiamento adequado do SUS.

Se já é crítica a situação da segmentação setorial na saúde hoje presente na perversa condição de convivência entre setor público e privado, essa proposta do pacote do Renan institui o pagamento no SUS “aos que podem pagar”. Logo, piora ainda mais a vida da população.


Viomundo – Em termos práticos, o “piora ainda mais” vai representar o quê?

Ana Costa — Piora ainda mais, porque segmenta o SUS. Separa um SUS com melhores serviços e maior segurança e garantias aos que podem pagar e outro, aos indigentes, não pagantes. Esses vícios nos serviços e no sistema são a pá de cal no projeto constitucional para a saúde.

Essa proposta do Renan deixa claro de qual lado estão os seus proponentes, que seguramente não é o dos interesses públicos e coletivos.


Viomundo — Essa proposta significa o fim do SUS, como estabelecido na Constituição de 1988?

Ana Costa – Objetivamente, sim. Ao longo das quase três décadas de implantação do SUS têm ocorrido muitos problemas e sabotagem à sua consolidação. Entretanto, uma multidão de gestores, conselheiros, trabalhadores, usuários e movimentos sociais tem impedido mais retrocessos.

O pagamento não apenas exclui, mas cria segmentos de classe de usuários do SUS. Isso gera, como você bem já observou antes, tipos diferentes de atendimentos diferentes… Atendimento de primeira categoria, de segunda…

Pagar o SUS é medida que ainda impulsiona o setor de planos de saúde por, pelo menos, duas vias.

Primeiro, o usuário do SUS perguntará: por que usar e pagar o SUS se na sua avaliação seria melhor pagar um plano?

Segundo, seria a situação que comentamos acima: o do uso do SUS como solução de atendimento aos casos que não dão lucro aos planos privados de saúde. Por exemplo, os idosos com problemas crônicos de saúde.


Viomundo – Doutora, curiosamente, na agenda do Renan não há nenhuma proposta para fazer com que os planos de saúde ressarçam ao SUS pelos atendimentos nos serviços públicos.

Ana Costa – Bingo! Embora o governo diga que quer cobrar devidamente os serviços que o SUS presta a clientes de planos de saúde, esse processo tem sido muito lento e custoso. Por isso, o ressarcimento dos planos de saúde aos cofres públicos ainda é irrisório…

Além disso, o governo ainda perdoa dívidas das operadoras de planos de saúde. Os eleitos com apoio das empresas de seguro privado de saúde têm sido bastante corretos no cumprimento dos compromissos assumidos perante elas. Não se sentem nenhum pouco culpados ao preterir os interesses públicos.

É esquecimento da agenda do Renan não haver nenhuma proposta para fazer com que os planos de saúde ressarçam ao SUS pelos atendimentos nos serviços públicos? Ou vale a lógica de proteger o capital, no caso os donos das empresas de planos de saúde?

O setor privado dos planos cresce sempre acima da economia do país e as operadoras ainda reclamam dos lucros. Até quando o setor não vai ser devidamente regulado? O governo federal precisa decidir também e estabelecer até quando e quanto deve crescer o mercado de planos privados de saúde. Já está enorme, com quase 60 milhões de pessoas.


Viomundo — A partir de agora o que fará o Cebes em relação a essa proposta indecente, que mais uma vez privilegia o capital, os mais ricos, e ferra os mais pobres?

Ana Costa -- Estamos mobilizando forças, ampliando alianças, discutindo e apostando na mobilização da sociedade e no bom senso do governo Dilma para ele não entrar para a história como o governo que retrocedeu os direitos sociais e trabalhistas ao período pré-Constituição 1988, a Constituição cidadã.

As instituições e a legislação conquistadas não podem servir apenas para estruturar o sistema de saúde, mas também para proteger o direito à saúde de qualquer ameaça.

Assim, aproveito esta entrevista, para conclamar gestores do SUS, Ministro e secretários de Saúde, Conselhos de Saúde, profissionais de saúde, trabalhadores, usuários e movimentos sociais a se manifestarem contra o pagamento da assistência no SUS.

É hora de defendermos o SUS e, ao mesmo tempo, avançarmos na solução de seus crônicos problemas, particularmente os relativos ao financiamento estável, portanto vinculado e suficiente.


PS do Viomundo: Após ter recebido muitas críticas, inclusive de setores do próprio governo, a proposta do senador Renan Calheiros (PMDB-AL) de cobrar pelo uso de serviços do SUS foi retirada da lista de medidas da Agenda Brasil, na noite desta quarta-feira, 12 de agosto. Ontem, terça-feira, o ministro da Saúde, Arthur Chioro, já havia afirmado que ela não era viável.

Fonte: Vi o mundo

13.4.15

'É preciso ir além do possível', diz Carlos Cordeiro ao fazer balanço da Contraf



Comentário do Blog:

"nenhuma luta é em vão" - com essa frase da entrevista do Carlão, nosso grande companheiro de lutas, sintetizo o quanto aprendi na convivência por 9 anos com essa figura humana e combativa em meus 3 mandatos na Contraf-CUT que se encerram nesta terça 14/4/15.

Foram 9 anos de grandes conquistas e avanços para os trabalhadores do Ramo Financeiro, hegemonizado pela categoria bancária. Posso dizer que minha vida ficou marcada para sempre com tudo o que aprendi nessa caminhada como representante dos bancários e como secretário de imprensa, depois de formação e como coordenador da Comissão de Empresa dos Funcionários do Banco do Brasil.

Por fim, outra frase que marca a trajetória nossa nas lutas é a de ir além do possível, não perdermos a Utopia. E aí, cito aqui, com muita tristeza pela perda, uma frase que marca muito o grande escritor uruguaio Eduardo Galeano, falecido hoje: 

"A utopia está lá no horizonte. Me aproximo dois passos, ela se afasta dois passos. Caminho dez passos e o horizonte corre dez passos. Por mais que eu caminhe, jamais alcançarei. Para que serve a utopia? Serve para isso: para que eu não deixe de caminhar." 

Valeu Carlão, valeu tod@s companheir@s da Contraf e das entidades sindicais, obrigado pela convivência nessa escola de lutas.

William Mendes




Presidente da Contraf-CUT (2009/15), Carlos Cordeiro.

A atual diretoria da Contraf-CUT encerra o seu mandato de três anos na próxima terça-feira (14). Carlos Cordeiro, funcionário do Itaú, deixará a presidência após duas gestões à frente da Confederação. No dia seguinte, assumirá a direção eleita no 4º Congresso, realizado de 20 a 22 de março em São Paulo, que será comandada pelo também bancário do Itaú e atual secretário de finanças da entidade, Roberto Von Der Osten. 

Em entrevista concedida nesta sexta-feira (10) à imprensa da Contraf-CUT, Cordeiro fez um pequeno balanço do período de seis anos como presidente e apontou os principais desafios dos bancários e da classe trabalhadora para o novo mandato que se inicia. "É preciso ir além do possível", destaca. Ele permanecerá na diretoria executiva da entidade.


Confira a entrevista:

Que balanço você faz da gestão que está se encerrando?

Acho que obtivemos avanços importantes em várias dimensões. Junto com as federações e sindicatos, inclusive filiadas a outras centrais, consolidamos a estratégia de campanha nacional unificada em bancos públicos e privados. Quando assumi o primeiro mandato, em 2009, ainda havia resistências a essa estratégia por conta de uma avaliação equivocada de que seria possível obter acordos melhores com os bancos públicos do que com a mesa única na Fenaban. Hoje nem as forças que estão fora do Comando Nacional apostam mais nessa tese.

Conseguimos também aprofundar a unidade nacional da categoria, possibilitada por uma ampliação e democratização dos fóruns nacionais de discussão e deliberação da categoria, estimulando as crescentes mobilizações e greves nacionais, que permitiram à categoria bancária as importantes conquistas econômicas, sociais e políticas da última década. Foram aumentos reais de salários nos últimos 11 anos seguidos, melhorias contínuas da PLR e avanços significativos no combate ao assédio moral, na preservação da saúde do trabalhador, na igualdade de oportunidades e na segurança bancária.

Construímos um modelo de Contraf descentralizada, democrática, participativa e protagonista, e apostamos na comunicação e no processo de formação sindical, que contribuiu para a especialização de muitos dirigentes e assessores e o surgimento de novas lideranças em várias áreas. 

Ampliamos ainda mais a nossa atuação nas Américas e no mundo, lado a lado com a UNI Global Union, fortalecendo parcerias, lutas conjuntas, solidariedade e as redes sindicais dos bancos internacionais. E assinamos os primeiros acordos marco globais com o Banco do Brasil e o Itaú.

Tudo isso é resultado da ousadia, da unidade e da capacidade de mobilização dos bancários, a única categoria que conquistou uma Convenção Coletiva de Trabalho nacional no país e por isso continua sendo uma referência para o conjunto da classe trabalhadora brasileira.

Dentro dessas lutas e conquistas, qual ou quais você considera as mais marcantes? 

Sem dúvida nenhuma, a batalha para derrotar o PL 4330 da terceirização pra mim o maior ataque do capital aos trabalhadores, evidenciando a luta de classes. Não tenho dúvida de que a mobilização da Contraf, junto com as federações, os sindicatos e as centrais sindicais em 2013, foi fundamental para que hoje pudéssemos estar resistindo pra impedir qualquer tipo de retrocesso às grandes conquistas que a classe trabalhadora obteve ao longo de muitas décadas, inclusive passando pela ditadura. Tivemos a clareza de que, naquele momento, como dirigentes sindicais assumimos a nossa responsabilidade em um momento crucial da história.

Mas essa luta não pode ter sido em vão, já que o PL 4330 corre agora de novo um sério risco de ser aprovado?

Nenhuma luta é em vão. Temos orgulho da batalha contra o PL 4330 que fizemos há dois anos e graças a ela temos hoje a esperança de aumentar a mobilização e identificar os parlamentares favoráveis ao projeto e denunciá-los à sociedade, pressionando-os em suas bases eleitorais, aproveitando esse momento em que a sociedade está mobilizada, para impedir atrocidades contra os direitos dos trabalhadores. Não tenho dúvidas de que, com a nossa ousadia e capacidade de mobilização, sairemos mais uma vez vitoriosos dessa batalha.

Mas essa batalha não está sendo travada em um momento muito desfavorável aos trabalhadores, diante dessa grande ofensiva das forças conservadoras no país?

Escolhemos ser dirigentes sindicais, não escolhemos a conjuntura. Temos que assumir nossa responsabilidade e mobilizar os trabalhadores. Como dirigentes, não podemos terceirizar nossa responsabilidade. É nosso papel organizar e mobilizar os trabalhadores e ir além do possível, convencendo cada trabalhador e trabalhadora a ir às ruas conosco defender nossos direitos, para mais uma vez sairmos vitoriosos dos ataques patronais, dos bancos e da grande mídia. 

A sociedade exige que a gente seja representante de fato e de direito, o que significa não abrir mão de nossos valores e nossos princípios em defesa da classe trabalhadora, da solidariedade de classe, e que a nossa prática seja diretamente vinculada com esses nossos valores, em especial a defesa da democracia. E só pode defender a democracia para o país e na sociedade quem a defende e a pratica também dentro de casa.

Como foi feita essa caminhada na Contraf?

Quero agradecer a todos os que fizeram parte dessa caminhada, a todos os assessores e funcionários da Contraf, das federações e dos sindicatos, e a todos os nossos dirigentes sindicais comprometidos com o nosso projeto em defesa dos trabalhadores, especialmente aos bancários e às bancárias que estiveram todo esse período lutando conosco pela ampliação de direitos e por uma sociedade mais justa, igualitária e fraterna.

E que mensagem você deixaria para a categoria?

Que os trabalhadores e as trabalhadoras não se deixem pautar por todo esse ódio que está hoje disseminado em muitos setores da sociedade, ódio que divide e fragiliza a classe trabalhadora. Queremos que os bancários e as bancárias continuem na teimosia da luta, pela busca de um mundo diferente e solidário. Não existirá vitória sem unidade da classe trabalhadora. 


Fonte: Contraf-CUT

27.3.15

Entrevista sobre a Cassi: O BB precisa se responsabilizar


Comentário do Blog:

Segue abaixo a entrevista que fizemos nesta semana para o Sindicato dos Bancários de Vitória da Conquista. Nela, fazemos um resumo do que está em discussão sobre a questão do déficit do Plano de Associados e as propostas dos representantes do Corpo Social para a solução e o fortalecimento da Cassi e da saúde de seus associados e familiares.

William Mendes
Diretor de Saúde e Rede de Atendimento


O BB precisa se responsabilizar

(publicado em 25/3/15)







O diretor nacional da Cassi, William Mendes, fala sobre a situação financeira do plano e da postura adotada pelo BB diante do problema. Confira.


- Qual a postura da Cassi diante da negociação proposta pelo Banco do Brasil, uma vez que o BB quer repassar a conta para os bancários, se eximindo da responsabilidade financeira diante da crise enfrentada pelo plano de saúde?


Vamos explicar passo a passo para os leitores bancários e associados da Cassi em que momento estamos na questão da busca de solução para o déficit do Plano de Associados da Entidade.


A Cassi é uma Caixa de Assistência dos Funcionários do Banco do Brasil. É uma entidade de saúde dos trabalhadores e não visa lucro. É gerida no modelo de autogestão, compartilhada entre os patrocinadores Banco do Brasil e Corpo Social. O Banco indica a metade da governança e o Corpo Social elege a outra metade. A Cassi opera dois modelos de planos de saúde: o Plano de Associados e os planos Cassi Família. O Plano de Associados é composto pelos funcionários da ativa e aposentados e seus dependentes. Os planos Cassi Família são compostos por familiares até 3º grau dos funcionários do BB, ex-funcionários do Banco e os funcionários da Cassi. Ou seja, há regras estatutárias e legais para a composição dos participantes dos planos de saúde da Cassi.


O Banco do Brasil afirma em mesas de negociação com as entidades sindicais que não aceita discutir com a Comissão de Empresa da Contraf-CUT o tema Cassi porque, segundo ele, os funcionários já têm seus representantes eleitos na governança da entidade.


Entretanto, na governança da Cassi, chegamos a um impasse ao final de 2014 porque o orçamento da entidade para o exercício de 2015 previa novo déficit no Plano de Associados (este plano tem déficits há anos) e, com isso, o Banco do Brasil, através de seus representantes na governança, propôs na peça orçamentária para 2015, aumentar a mensalidade dos associados em 50%, indo da atual contribuição de 3% sobre o salário para 4,5%. Como o Banco sabe que não pode aumentar a mensalidade sem aprovação do Corpo Social, e isso naturalmente tem um processo que pode durar meses, o BB propôs na mesma peça orçamentária de 2015, o corte de diversos direitos em saúde, como suspensão de programas de cuidados (Atenção aos Crônicos e Assistência Farmacêutica), e propôs aumentar diversas coparticipações nas consultas, exames e até franquias de R$1.500 nas internações, o que prejudicaria sobremaneira as pessoas com mais dificuldades e quebraria a solidariedade no modelo de saúde da Cassi.


Os eleitos, representantes do Corpo Social na governança, rejeitaram essas propostas na peça orçamentária de 2015 e levaram o assunto para as entidades sindicais e associativas para iniciarmos negociações formais com o BB a fim de resolver o problema do déficit do Plano de Associados sem prejudicar os direitos em saúde dos participantes. Os eleitos recorreram às entidades sindicais e associativas porque sabem que só a força da mobilização e da luta unitária em prol da saúde dos funcionários do BB e da Cassi pode fazer com que o Banco negocie e também se responsabilize pelo aporte necessário ao equilíbrio.



- Existe uma previsão de pedido de aporte para o Banco? Qual seria o montante e com base em que este valor foi calculado?


A proposta dos eleitos representantes do Corpo Social foi no sentido inverso daquela feita pelo BB, através de seus indicados na Cassi. O Banco propôs aumentar a contribuição dos funcionários da ativa e aposentados para 4,5%. Com isso a receita da Cassi no Plano de Associados iria para 9%, ou seja, sobre a folha de pagamento da ativa (BB) e dos aposentados e pensionistas (Previ). Segundo as áreas do Banco na governança, o incremento anual seria da ordem de R$ 300 milhões por ano.


Os eleitos propuseram o inverso. Diferente do BB, que propôs aumento permanente de contribuição aos associados, nós propusemos que o Banco do Brasil faça contribuições extraordinárias no mesmo montante – R$ 300 milhões - em 2015 e 2016, só que sendo extraordinário. Isso não obrigaria o Banco a ter que reservar no balanço o valor para garantir os aposentados do Plano, conforme seus gestores afirmam por causa da CVM 695.


O Banco está na gestão de forma ininterrupta desde 1996 e não é correto querer passar a conta do desequilíbrio para os associados, sem que ele também contribua. Além do adoecimento grande do pessoal da ativa (mais de 100 mil trabalhadores) causado pelas condições de trabalho e que onera a Cassi, a reforma de 2007 e o BET trouxeram receitas extraordinárias da ordem de um bilhão de reais e, no entanto, até o momento em que chegamos à gestão (2014), o modelo de promoção de saúde e prevenção de doenças, preconizado na Cassi há mais de 15 anos, não foi ampliado para o conjunto dos associados. É aí que está o problema estrutural com maior responsabilidade no desequilíbrio.


A Cassi não aproveitou as receitas extraordinárias recebidas entre 2007 e 2013 para investir no modelo de saúde aprovado pelo Corpo Social. Nós temos que ser sinceros nisso. A proposta dos eleitos é o Banco do Brasil fazer as contribuições extraordinárias de 300 milhões nestes dois exercícios – 2015 e 2016 - e todos juntos avançarmos no modelo de saúde mais racional e resolutivo e com resultados melhores para os participantes e a Cassi, tanto em saúde como também financeiros. Estamos propondo o que há de melhor nos países de primeiro mundo e de ponta em saúde.


- O modelo de atenção básica, preconizado pelo Estatuto desde 1996, até hoje não foi colocado em prática. Por que, já que os usuários do plano acabam passando por diversos especialistas e fazem tantos exames desnecessários, gerando duplicidade e até triplicidade no fim das contas?


Este é o problema de fundo e o que os eleitos estão propondo é resolver isso. Aprofundar o modelo de Atenção Integral à Saúde, através da Estratégia Saúde da Família (ESF), para o conjunto dos associados. Estamos falando em estender o direito a ter equipes de família cuidando dos 720 mil participantes, com mapas epidemiológicos das populações Cassi e com acessibilidade adequada em todas as bases do país. É possível porque é feito em outros países.


As iniciativas estratégicas propostas por nós no final de 2014 precisam de tempo para serem implementadas e não podemos permitir que um déficit financeiro como o atual, por não ter receita extra em 2014, como teve entre 2007 e 2013, impeça que todos possam usufruir de um modelo que trará mais perenidade à Cassi nas próximas décadas. Por isso é que o Banco do Brasil precisa se responsabilizar também pela solução do problema, que já vem de longe, e nós estamos apresentando um modelo de sistema de saúde com maior perspectiva de perenizar a nossa Caixa de Assistência. Será bom para o Banco e para os associados.



- A última reforma do Estatuto foi feita em 2007, e os prejuízos já são notados desde 2005. Por que só agora a Cassi está adotando estas medidas?


Acredito que já abordamos isso nas respostas anteriores. A Cassi já tem aprovado o modelo de sistema de serviços de saúde baseado na atenção primária e nas equipes de família, através das CliniCassi.


No entanto, o modelo não tem escala e com isso as despesas assistenciais, o volume de exames desnecessários, as internações e o grande gasto com OPMEs acabam sendo muito acima do que seria, caso os 720 mil associados tivessem o direito ao modelo integral de saúde.


A lógica é outra. É cuidar das pessoas e não deixar as pessoas por conta de um “mercado” de saúde que não vê seres humanos com necessidades de cuidados e sim “consumidores” e “planos de saúde” aptos a pagar. Só que o sistema de saúde, tanto público quanto privado, está em uma grave crise e nós estamos defendendo o que é melhor e mais racional para a sobrevivência da Caixa de Assistência.


Contamos com o Corpo Social e suas entidades representativas para fazermos esse debate com o patrocinador Banco do Brasil.



*As opiniões expressas na entrevista não refletem, necessariamente, o posicionamento da diretoria do SEEB/VCR.


Fonte: site do Sindicato de VCR

20.1.15

TV Bancários: Cassi em debate com William Mendes (23/12/14)


Olá companheir@s, amig@s e colegas do Banco do Brasil,

Estou em férias neste mês de janeiro. No entanto, vou interromper minhas férias nesta semana para atender ao convite da Anabb para participar de uma reunião na sede da entidade em Brasília sobre a nossa Caixa de Assistência - Cassi.

Aproveito para disponibilizar o vídeo da TV Bancários com uma entrevista a mim (na véspera do Natal) falando justamente sobre a nossa Cassi. Mais uma vez, agradeço na figura do companheiro Eduardo Araújo o convite feito e a oportunidade que o Sindicato dos Bancários de Brasília me concedeu para falar de nossa querida Caixa de Assistência.

Nós temos objetivos muito claros na gestão da Cassi e estou há sete meses explicando Brasil afora sobre nossos projetos, os problemas que encontramos e as propostas que temos para avançar no modelo de sistema de saúde que acreditamos e a consequente sustentabilidade tanto financeira como em melhores resultados em saúde para o conjunto dos associados.

Abraços e peço que as lideranças compartilhem a entrevista.

William Mendes


23.7.14

Desafio é melhorar a Cassi, diz William Mendes a Revista da AFABB SP


(Reprodução de entrevista em revista)


A Chapa 1 Todos pela Cassi, apoiada pela maioria do movimento sindical bancário, venceu a eleição para a renovação de parte da Diretoria Executiva e dos Conselhos Deliberativo e Fiscal da Caixa de Assistência dos Funcionários do Banco do Brasil.

Encabeçada por William Mendes de Oliveira, (ex)coordenador da Comissão de Empresa dos Funcionários do BB, a Chapa 1 obteve 31.545 votos (37,58%), contra 25.746 (30,67%) da Chapa 3, 14.041 (16,72%) da Chapa 4 e 12.603 (15,01%) da Chapa 2.

William estará à frente da Diretoria de Saúde e Rede de Atendimento. Ele tem 21 anos de Banco do Brasil. Casado, tem um filho. Tem 44 anos e é formado em Ciências Contábeis. Trabalhou em várias agências na Grande São Paulo. Foi diretor do Sindicato dos Bancários de São Paulo, Osasco e Região, onde foi responsável pela gestão administrativa e da infraestrutura. Diretor de Formação da Contraf-CUT.

Sua chapa teve expressiva votação na eleição. Você atribui isso ao bom trabalho que vem sendo feito até aqui pelos eleitos?

Acredito que o resultado da eleição da Cassi expressa um conjunto de fatores. Todos pela Cassi é a chapa da ampla maioria das entidades do funcionalismo. Ou seja, isso é sinônimo de unidade. É a chapa que defende mudanças na Diretoria de Saúde. E também é uma chapa com pessoas que trazem uma história de luta em defesa dos bancários e dos trabalhadores. 

Entendo que os associados votaram nesse conjunto de fatores. A nossa campanha teve um grande empenho de sindicatos e demais entidades parceiras no contato corpo a corpo com os associados debatendo propostas para a Cassi e para a Diretoria de Saúde e Rede de Atendimento, na qual nos apresentamos como chapa de oposição ao grupo que estava nesta diretoria. Grupo que não atuou na defesa de nossos projetos de Atenção Integral à Saúde, foco na prevenção das doenças e na defesa de uma Cassi mais republicana e com menos clientelismo.

Por outro lado, nossa campanha defendeu as mudanças positivas já realizadas pela chapa eleita em 2012 e liderada pela companheira Mirian Fochi. Explicamos aos associados que temos o desejo de trabalhar fortemente na integração das pessoas eleitas em 2012 e agora para uma sintonia maior de projetos no intuito de melhorar a nossa Caixa de Assistência para as mais de 800 mil vidas assistidas.

Na plataforma da chapa eleita houve grande ênfase à necessidade de se dar maior atenção às condições de trabalho nas dependências do BB. Essa medida é importante, mas qual será o impacto para a Cassi?

É verdade que um de nossos objetivos é buscar uma atenção maior aos mais de 100 mil bancários da ativa porque o modelo de exploração da mão de obra no setor financeiro - baseado nas metas abusivas e irreais e no assédio moral e violência organizacional - está trazendo um alto grau de adoecimento aos nossos trabalhadores. Isso traz consequências pesadas para a nossa Cassi. 

Vamos atuar com inteligência e com as ferramentas que a legislação da área da saúde já prevê para debater com o patrocinador as causas do adoecimento. Se for verdade o discurso de responsabilidade socioambiental do banco, de que ele se preocupa com as questões de saúde de seus funcionários, vamos buscar formas conjuntas de combater o adoecimento. Se o patrocinador não somar conosco, também vamos lutar para melhorar a saúde do corpo funcional, inclusive responsabilizando o causador do adoecimento. Acreditamos que o banco tem responsabilidade por parte do adoecimento. Isso pode ter impactos positivos para a Cassi.

Como será o diálogo com o segmento de aposentados na sua gestão?

O que tenho dito e defendido é que as pessoas precisam ser bem tratadas e respeitadas. Os nossos colegas aposentados merecem um atendimento respeitoso e são detentores de direitos. Uma das formas de buscar uma atenção respeitosa ao segmento de aposentados é manter forte parceria com as entidades de aposentados e nossa chapa eleita também tem lideranças dos aposentados. 

Fortalecer os Conselhos de Usuários também é uma forma de buscar o diálogo com os aposentados porque todo conselho conta com a importante participação do segmento. Por fim, queremos as CliniCassi bem estruturadas e equipadas para um excelente atendimento aos nossos aposentados, pois como eles não estão no dia a dia nos locais de trabalho, as unidades da Cassi são uma forma de mantê-los conosco, participando dos programas de saúde e integrados nas políticas de Atenção Integral à Saúde da Cassi.

Enfim, temos um desafio grande em melhorar a nossa Caixa de Assistência dos Funcionários do Banco do Brasil, mas é um desafio estimulante e coletivo em fortalecer a cultura do movimento de saúde em nossa Cassi, agindo preventivamente e promovendo a saúde dos associados.


Fonte: Revista AFABB-SP

30.6.14

Diretora eleita da Cassi, Mirian Fochi faz balanço positivo de dois anos de mandato




À frente da Diretoria de Planos de Saúde e Relacionamento com Clientes da Caixa de Assistência dos Funcionários do Banco do Brasil (Cassi), Mirian Fochi acaba de completar dois anos de mandato. Eleita pelos associados, Mirian destaca a adoção de medidas simples, como o aperfeiçoamento do extrato de utilização, até o desenvolvimento de projetos estruturantes, que vão trazer melhorias permanentes.

Informativo Bancário – Mirian, você acaba de completar dois anos à frente da Diretoria de Planos de Saúde e Relacionamento com Clientes da Cassi. Como era a situação da Caixa de Assistência quando você assumiu?

Mirian Fochi – A nossa Caixa de Assistência precisava e ainda precisa melhorar muito. Nesse sentido, já avançamos na melhoria do atendimento e, desde o início do meu mandato, busco resolver problemas de credenciamento e atender a todos com a mesma atenção, sem clientelismo. Havia muito por fazer e trabalhamos em várias frentes, desde a adoção de medidas simples, como o aperfeiçoamento do extrato de utilização, até o desenvolvimento de projetos estruturantes, que vão trazer melhorias permanentes. Além disso, criamos cinco iniciativas estratégicas para melhorar o atendimento, gerar receitas e minimizar despesas, todos em andamento. Melhorar a Cassi é melhorar o dia a dia de nossos associados, dar tranquilidade a eles e seus familiares.

Informativo – E com relação ao Cassi Família, como você encontrou o Plano e como ele está hoje?

Mirian – De 2006 a 2009, não houve reajuste técnico e, em 2009 e 2010, não ocorreu reajuste financeiro. Houve crescimento da carteira a partir de 2009 e, apesar do custo médio assistencial por participante ter aumentado, optou-se por não aplicar o reajuste, o que ocorreu devido aos impactos que isso traria em futura disputa eleitoral, pois alguns “futuros candidatos”, à época, faziam parte da Diretoria Executiva e do Conselho Deliberativo. Os Planos Cassi Família I e II estavam em risco, visto que as despesas cresciam em maior velocidade que as receitas, sem contar o alto consumo das reservas livres. Com base nos pareceres técnicos e atuariais, reiterados desde 2009 pela Consultoria, aplicamos reajustes que possibilitaram a reposição das perdas provenientes de anos anteriores.

Informativo – Que dificuldades surgiram ao longo desses dois anos de mandato e o que foi preciso fazer para resolvê-las?

Mirian – Inúmeras são as adversidades em atuar no mercado de saúde, e conhecemos nossas limitações, especialmente quanto às receitas, pois, assim como a Cassi, as autogestões não visam o lucro, mas apenas o bem-estar dos nossos participantes. Mesmo assim, recebemos tratamento muitas vezes com rigor incompatível por parte dos prestadores de serviços, órgãos reguladores do governo e da Justiça, e até mesmo da opinião pública. Além disso, só não implantamos mais ações otimizadoras para a melhoria no atendimento aos usuários da Cassi por ausência de colaboração das áreas meio, situação que impacta a execução dos projetos desta Diretoria. Mesmo assim, de lá para cá, elaboramos, negociamos com os demais diretores, algumas vezes recorremos à interveniência da Governança Corporativa do Banco e, assim, avançamos na implantação dos projetos que começam a dar resultado para os associados.

Informativo – Segundo o Relatório Anual 2013, aprovado pelos associados com 59,42% dos votos, o ano passado para a Cassi foi marcado pela adoção de medidas estratégicas, que tiveram como objetivo minimizar o crescimento das despesas assistenciais, que em 2012 estavam muito acima das projeções. Nesse sentido, o que foi feito para que houvesse, em relação ao ano anterior, uma redução de cerca de R$ 78 milhões no déficit da instituição?

Mirian – As receitas básicas da Cassi, dentre outras, são compostas por contribuições do Plano de Associados, e o incremento em relação a 2012 deve-se à conquista do reajuste dos funcionários da ativa. A luta dos colegas e dos sindicatos foi determinante para se obter índice acima da inflação, o que impactou positivamente as receitas. Além disso, tivemos o acréscimo de 5.051 contribuintes (492 no Plano de Associados e 4.559 no Plano Cassi Família), reajustes de salários e benefícios dos aposentados e pensionistas do Banco do Brasil e a correção das mensalidades do Plano Cassi Família. Outra receita importante é o ressarcimento de convênios de reciprocidade com outras entidades. A Cassi encerrou o ano de 2013 com 16 convênios, totalizando 181.440 beneficiários. Foram cinco novos convênios de reciprocidade estabelecidos em 2013 que possibilitaram o incremento de 26.374 participantes no uso da rede credenciada à Cassi, o que facilita a negociação com prestadores de serviços.

Informativo – Ainda segundo o relatório, as receitas da Cassi cresceram no ano passado em percentual superior ao das despesas e também contribuíram para a melhora no resultado. No que diz respeito à sua pasta, que medidas foram adotadas e que contribuíram para se alcançar esse resultado?

Mirian – Dentre todas as ações, vale destacar a parceria com o Hospital Albert Einstein para segunda opinião e tratamento de doenças da coluna; segunda opinião médica em cirurgia bucomaxilofacial, assegurando a eficácia do tratamento/procedimento cirúrgico adequado, além da centralização de cotação, compra e autorização de OPME (Órteses, Próteses e Materiais Especiais).



Cerimônia de posse do Diretor de Saúde William e demais
componentes da Chapa Todos Pela Cassi.

William Mendes diz que atuará com foco na saúde dos trabalhadores

Informativo – Acaba de tomar posse o novo Diretor de Saúde e Rede de Atendimento, William Mendes, eleito pelos associados e que conta com o apoio da grande maioria dos sindicatos. Na sua visão, o que muda com a chegada de William à Cassi?

Mirian – Muda muito e para melhor! Agora, as duas Diretorias, com representantes eleitos, vão trabalhar de forma conjunta e mais atenta às necessidades do funcionalismo do BB, tanto dos colegas da ativa quanto dos aposentados, além de seus familiares. Viemos do movimento sindical e temos uma visão bem diferente de muitos dirigentes que já passaram pela nossa Caixa de Assistência. Lutaremos para garantir a solidariedade na Cassi, onde cada um paga o quanto pode e usa o quanto precisa. Vamos buscar melhorar ainda mais o atendimento, expandir o Programa de Excelência no Relacionamento, com os participantes e os prestadores, aperfeiçoar ainda mais o processo de credenciamento, fortalecer e criar novos Programas de Saúde e, para isso, contamos com a união de todos os associados, o que também é fundamental para cobrar sempre do banco a sua responsabilidade como patrocinador da Cassi.

Informativo – Quais os desafios e as expectativas daqui para frente?

Mirian – É preciso buscar constantes melhorias no atendimento e gerir racionalmente as despesas, de maneira a evitar que os associados sejam onerados com custos maiores. Nestes últimos dois anos esta preocupação foi uma constante, tanto que a Cassi disponibilizou novos serviços aos associados e adotou medidas saneadoras para buscar maior equilíbrio financeiro, fechando o ano de 2013 com resultado melhor do que o apresentado em 2012. Agora é melhorar e qualificar a rede credenciada, pois precisamos de clínicas, médicos e hospitais conveniados em todos os municípios em que haja agências do BB. Vamos fazer parcerias com as agências, funcionários e conselhos de usuários para credenciar profissionais de saúde, além de acelerar a expansão da rede referenciada (vincular os associados, por adesão espontânea, a um médico referenciado do Programa Mais Cassi, de forma a propiciar atendimento personalizado e integral a um médico referenciado). Mas isso só será possível com a implementação de nova Gestão de Negociação, onde a Diretoria de Planos de Saúde e Relacionamento com Clientes pretende definir novo modelo de negociação que viabilize estratégia em níveis gerais e específicos que permitam maior agilidade nas decisões e descentralize o processo, dando maior autonomia aos gerentes de unidades, com o devido monitoramento e controle dos riscos.


Da Redação do Seeb Brasília

22.6.12

Rafael Correa (Equador) fala da luta contra golpes liderados pela Mídia Corporativa


“Estamos diante de uma guerra não convencional”
Rafael Correa, presidente do Equador.

Em uma entrevista especial concedida à Carta Maior e aos jornais Página/12, da Argentina, e La Jornada, do México, o presidente do Equador, Rafael Correa, analisa o que considera ser um dos principais problemas do mundo hoje: o poder das grandes corporações de mídia que agem como um verdadeiro partido político contra governos que não rezam pela sua cartilha. “Essa é a luta, não há luta maior. Estamos diante de uma guerra não convencional, mas guerra, de conspiração, desestabilização e desgaste”.


Carta Maior, La Jornada e Página/12

Rio de Janeiro - Representante de uma nova geração de líderes políticos da esquerda latino-americana, o presidente do Equador, Rafael Correa, foi lançado para a linha de frente do cenário político mundial com o pedido de asilo político feito, em Londres, pelo fundador do Wikileaks, Julian Assange. Há poucas semanas, Assange entrevistou Correa e os dois conversaram, entre outras coisas, sobre um tema de interesse de ambos: as operações de manipulação conduzidas pelas grandes corporações midiáticas. Agora, durante sua passagem pela Rio+20, Rafael Correa voltou com força ao tema.

Em uma entrevista especial concedida à Carta Maior e aos jornais Página/12, da Argentina, e La Jornada, do México, Correa analisa este que considera ser um dos principais problemas do mundo hoje: o poder das grandes corporações de mídia que, na América Latina, agem como um verdadeiro partido político contra governos que não rezam pela cartilha dos interesses desses grupos. “Essa é a luta, não há luta maior. Estamos diante de uma guerra não convencional, mas guerra, de conspiração, desestabilização e desgaste”.

Na entrevista, Correa fala sobre o pedido de asilo de Assange, relata o debate sobre uma nova lei de comunicações no Equador e faz um balanço pessimista sobre os resultados da Rio+20.


Há um argumento segundo o qual a liberdade de imprensa é propriedade dos meios de comunicação empresariais. Imagino que essa não seja a sua opinião.

Correa: Não nos enganemos. Desde que se inventou a impressora a liberdade de imprensa, entre aspas, responde à vontade, ao capricho e à má fé do dono da impressora. Devemos lutar para inaugurar a verdadeira liberdade de imprensa que é parte de um conceito maior e um direito de todos os cidadãos, que é a liberdade de expressão, que defendemos radicalmente. No entanto, o poder midiático que faz negócios com o objetivo de ter lucro, até isso quer privatizar. Então, se eles têm tanta vocação para comunicar, como dizem, que o façam sem finalidades lucrativas, porque para mim isso é uma contradição.

Este é um grande problema na América Latina e também em nível planetário. Tenho tomado conhecimento que existem posições semelhantes às nossas, mas houve um tempo em que nos sentíamos muito sozinhos, quando fomos vítimas de um ataque tremendo por não abaixar a cabeça diante de um negócio muitas vezes corrupto e encoberto sob a capa da liberdade de expressão. Essa é a luta, não há luta maior.


Presidente, nestes dias foram divulgados telegramas pelo Wikileaks onde apareceram jornalistas equatorianos que eram considerados informantes pela embaixada dos Estados Unidos. Isso confirma as hipóteses levantadas quando o senhor foi vítima de um golpe de Estado.

Correa: As mentiras deles sempre acabam sendo derrubadas. Entidades que financiam esses empórios midiáticos, certas organizações que, em nome da sociedade civil, nos denunciam ante a Comissão Interamericana de Direitos Humanos, a SIP, em todos os lados. Agora vemos que esses senhores são identificados via Wikileaks como informantes da embaixada (estadunidense). Wikileaks que nunca é publicado pela maioria da imprensa comercial. Não é só isso. Essa gente é financiada pela USAID, que vocês conhecem. A USAID financiou com 4,5 milhões de dólares a estes supostos defensores da liberdade de expressão, supostamente para fortalecer a democracia e a ação cívica. Na verdade, para fortalecer a oposição aos governos progressistas da América Latina. Os povos da região têm que reagir contra esse tipo de prática.

Independentemente da solicitação do senhor Assange – ele solicitou asilo político -, ele disse que quer vir para o Equador para seguir cumprindo sua missão em defesa da liberdade de expressão sem limites, porque o Equador é um território de paz comprometido com a justiça e a verdade. Isso que o senhor Assange disse é mais próximo da realidade do Equador do que as porcarias que o poder midiático publica todos os dias.


Sabemos que o senhor ainda não tomou uma decisão sobre a situação que está atravessando alguém que revelou informações secretas sobre conspirações dos Estados Unidos e está pagando com a prisão por ter trabalhado pela liberdade de imprensa.

Correa: Se, no Equador, alguém tivesse passado a centésima parte do que passou Assange, nós seríamos chamados de ditadores e repressores, mas como o que Assange divulgou afeta as grandes potências e isso evidencia uma moral dupla e como os Estados nos tratam por meio de suas embaixadas, então é preciso aplicar todo o peso da lei contra Assange. E o chamam de violador.

Eu não quero antecipar minha decisão. Recebemos o pedido de asilo, analisaremos as causas desse pedido e tomaremos uma decisão quando for pertinente. Ele está em nossa embaixada em Londres sob a proteção do Estado equatoriano.

É claro que há aqui uma dupla moral, uma para os poderosos e outra para os débeis, uma para os que querem manter o status quo e para sua imprensa, e outra para os governos que querem mudar esse status quo e para a imprensa alternativa. Todos os dias há julgamentos em países desenvolvidos contra jornais. Neste caso não há problema, porque isso é civilização, mas, processar em nosso país um jornal ou um jornalista é qualificado como barbárie. E não é verdade que nós criminalizamos a opinião, pois em nosso país todos os dias publicam tudo, todos os dias publicam que há falta de liberdade de expressão. Qualquer um pode dizer que o governo é bom ou mau, que é competente ou incompetente. Mas o que não pode se dizer em um meio de comunicação é que o presidente, ou qualquer cidadão, é um criminoso de lesa humanidade e que ele disparou sem aviso prévio contra um hospital, porque isso é calúnia, isso é delito em qualquer país.


O caso Assange pode dar origem a uma tensão diplomática entre Equador e Grã-Bretanha?

Correa: Isso é a última coisa que queremos, mas nós não vamos pedir permissão a nenhum país para tomar decisões soberanas. O Equador não tem mais alma de colônia nem alma de vassalo. Se dar asilo, refúgio ou residência a fugitivos da justiça provocasse deterioração, a relação da América Latina com os Estados Unidos estaria deterioradíssima. Porque, provavelmente, Argentina, Brasil, México e outros países não devem estar de acordo que qualquer fugitivo viole a justiça. Esse não é o caso do senhor Assange, mas sim de corruptos como os banqueiros que quebraram o Equador em 99 e fugiram para os Estados Unidos, onde gozam hoje de uma vida bastante cômoda.


Vocês têm um Murdoch no Equador?

Correa: No Equador, temos seis famílias que representam heranças familiares, não é propriedade democrática, um capitalismo popular onde há 10 mil acionistas em um empório. Os meios de comunicação no Equador são manejados por meia dúzia de famílias, que decidem o que os equatorianos devem saber e conhecer. Vocês se dão conta da vulnerabilidade que temos como sociedade? A informação depende dos interesses e dos caprichos de meia dúzia de famílias. Mas se um governo soberano e digno não as chama para consultar sobre o nome dos ministros ou sobre a indicação de embaixadores, como ocorria antes, vão com tudo para cima desse governo porque ele não se submete aos seus caprichos. É um problema mundial, mas em outros países é atenuado com participação, profissionalismo muito profundo, uma ética muito forte, tudo o que brilha por sua ausência aqui no Equador.


Presidente, um funcionário da Usaid acaba de dizer que eles estão ajudando as oposições a estes governos.

Correa: Franqueza anglo-saxã.


Impunidade?

Correa: Impunidade e arrogância.


Essa ideia nos fala de um tempo da informação como arma de guerra e a América Latina sofre uma verdadeira invasão dessas fundações como a USAID, a NED, o IRI. Isso não torna muito perigosa a nossa situação? A presença das ONGs destas fundações não é perigosa para o Equador?

Correa: Oxalá consigamos despertar os povos latino-americanos para essa situação. As direitas, os grupos de poder, sabem que nas urnas não conseguirão nos derrotar. Daí as campanhas contínuas de desgastes, de propaganda, de difamação, de enfraquecimento e desestabilização. Nós vivemos isso desde os primeiros dias de governo. Desde o primeiro dia de governo. O mesmo ocorre na Venezuela, na Bolívia, na Argentina e em todos os governos progressistas da região. Sofremos as campanhas desses meios que são a vanguarda do capitalismo, do status quo dos partidos tradicionais de direita que se afundaram por seus próprios erros, para difamar, para distorcer a verdade com a cumplicidade de veículos da mídia internacional.

Essa é a contradição de que fala Ignacio Ramonet. Na Europa hoje há desemprego, estagnação, resgate de milionários, resgate de bancos e não de cidadãos, e os jornais dizem que isso é necessário, que é sério, técnico e correto. Que as pessoas morram de fome, precisamos salvar o capital! Enquanto isso, em países como o Equador, que é um dos que mais crescem na América Latina, que reduziu a pobreza, gerou mais emprego, tem a taxa de desemprego mais baixa da região e da história, todos os dias nos dizem que isso é populismo e demagogia, que é preciso mudar de governo.

Estamos ante uma campanha propagandística para defender os poderes fáticos que sempre dominaram nossos países. A direita perdeu as eleições nos Estados Unidos e agora chegam essas organizações para financiar esses grupos na América Latina. Estamos diante de uma guerra não convencional, mas guerra, de conspiração, desestabilização e desgaste.


Por isso pergunto sobre o tema da informação como arma de guerra, como a arma letal antes do primeiro disparo.

Correa: Estou convencido disso. Alguns ainda imaginam a imprensa, sobretudo na América Latina, como o quarto poder nascente, que floresceu quando chegaram as democracias, quando ocorreram avanços técnicos e se multiplicaram as publicações, quando se avançou na alfabetização e as grandes massas passaram a poder ler. Esse poder impediria que o poder político, o poder do Estado, ultrapasse certos limites. Assim chegou a desinformação. Lembremos, por exemplo, do affair Dreyfus na França, quando por racismo e xenofobia se acusou um capitão judeu, como denunciou Emile Zola em seu famoso editorial “Eu acuso”. Essa imprensa limitava os excessos do poder político, mas esse vigoroso e ingênuo cachorrinho, bem-intencionado, que lutava pelos interesses dos cidadãos, converteu-se de repente em um mastim feroz, com um poder ilimitado, raivoso, que não só tenta encurralar o Estado como também os próprios cidadãos.

O poder midiático na América Latina, como ocorre no Equador, é frequentemente superior ao poder político. Precisamos tirar certos estereótipos de cena ou do ambiente de certa burocracia internacional como alma de ONG, como a Comissão Interamericana de Direitos Humanos que fala de pobrezinhos jornalistas e de malvados políticos. Isso não é certo. Os políticos são, muitas vezes, patrióticos. A antipatia que certos jornalistas alimentam, desfiando seus ódios e amarguras, acaba fazendo com que se metam inclusive em questões pessoais, com a família, etc.

Então, vejamos a realidade. Trata-se de tabus e nos ensinaram a ter medo de criticar esses negócios, como se, criticando-os, estivéssemos criticando a liberdade de expressão. Esses são os negócios da má imprensa.


Presidente, viremos a página e passemos à crise

Correa – É que esse tema (da mídia) me apaixona. É um tema acadêmico que me apaixona, ao qual dedicarei meu tempo quando sair da presidência. Pretendo me dedicar a ele, investigar e escrever porque se trata de um problema gravíssimo, porque estamos nas mãos de um poder midiático que superou inclusive o poder financeiro e político, e domina o mundo.


Você resumiu ontem em uma palavra o documento final da Rio+20, classificando-o como “lírico”...

Correa – É assim. Não há compromisso concreto. Podem verificar. Onde há um compromisso em cifras, por exemplo, com o limite de emissões de gases, compensações, acordos, acordos vinculantes como seria uma declaração de direitos da natureza em um tribunal internacional do meio ambiente, como propôs o Equador. Não há nada disso. Fala-se de cuidar melhor do planeta, mas não há um compromisso concreto. O avanço é muito pequeno.


A que atribui a ausência dos Estados Unidos e da Alemanha? Elas podem ter contribuído para essa falta de compromissos concretos?

Correa – Vai mais além. O problema não é técnico. Todo mundo sabe qual é o problema, todo o mundo sabe quais são as respostas. O problema é político. Quem gera os bens ambientais e quem consome esses bens ambientais? Se os países ricos ou os países em desenvolvimento podem consumir gratuitamente um bem que outros geram por que é que vão se comprometer a compensar e cuidar. Não farão isso a não ser que esteja em perigo evidente sua própria existência ou seus próprios interesses.

Então, o problema é político, é a relação de poder. Imagine que a situação fosse a inversa, que a Floresta Amazônica, por exemplo, estivesse nos Estados Unidos e que eles fossem geradores de bens ambientais e que nós dos países em desenvolvimento fôssemos os consumidores. Já teriam nos invadido em nome dos direitos humanos, da justiça, da liberdade, etc., para exigir compensações. Então, esse é um problema de poder. Enquanto não mudarem as relações de poder, muito pouco se irá avançar.


Considera então que o saldo provisório da Rio+20 é um fracasso?

Correa – Sim. Não se conseguiu avançar quase nada. Não há compromisso concreto, nada concreto. Nem sequer dinheiro. Houve uma reunião do G-20 no México e a maioria, 80% dos que estavam lá, regressaram para suas casas. Não vieram para a Rio+20. Não interessa. Apenas alguns poucos vieram para a Cúpula, sobretudo latino-americanos.


Houve também a Cúpula dos Povos, um encontro muito interessante.

Correa – Quisemos participar, mas não foi possível, estava muito longe. Infelizmente foi um problema de logística. Mas vamos ter um evento de direitos da natureza, paralelo à Cúpula, nos mesmos locais da Cúpula, para o qual convidamos 400 dirigentes de organizações sociais alternativas, progressistas de esquerda que buscam a justiça de nossa América e do mundo inteiro. O presidente Evo Morales também participará dessa conferência.


Eu queria perguntar-lhe sobre o que representam estas alianças como a do Pacífico (Colômbia, Chile, Peru e México) e o anúncio feito pelo presidente Felipe Calderón do Transpacífico, que é algo novo. Isso pode ser visto como uma ameaça à integração e à unidade da América Latina?

Correa – Bom, o maior problema em essência sobre o tema do cuidado com o meio ambiente e que também está na base da crise da Europa e dos Estados Unidos é que tudo foi mercantilizado. Eles não querem ver isso porque afeta os interesses dominantes. O mercado é uma realidade econômica que não podemos negar, mas o grande desafio da humanidade é que a sociedade deve conseguir dominar o mercado. O que temos hoje é o mercado dominando a sociedade e as pessoas, mercantilizando tudo. Como o mercado só se interessa pelo que é mercadoria, pelo que tem preços explícitos, não administra adequadamente bens públicos como o meio ambiente. Por isso pode consumir irresponsavelmente bens ambientais, bens públicos globais, depredar a natureza, etc., porque não têm preços explícitos, porque não são mercadoria.

Então, quanto mais se ampliar essa lógica do mercado, mais esses problemas se agravarão e os perigos serão ainda maiores para a conservação do planeta. Eu diria que nós somos muito críticos destes tratados de livre comércio, somos muito críticos da mercantilização da vida e da humanidade em geral. Esse é um dos grandes desafios que enfrentamos. Insisto, o mercado é um fenômeno econômico irrefutável, mas o grande desafio é fazer com que as sociedades dominem o mercado e não o contrário.


Senhor presidente, que medidas os países da América Latina deveriam tomar para não perder o rumo da histórica na direção de uma integração regional soberana e progressista. Como vê os avanços no Mercosul, na Unasul e na Comunidade Andina de Nações (CAN)?

Correa – Avançou-se como nunca antes. Isso não quer dizer que estejamos bem. Teremos que avançar muito mais rápido. Creio que há uma vocação concreta e uma posição integracionista sincera, não uma integração mercantilista como havia antes. O Mercosul nasceu na noite neoliberal dos anos 90. A CAN nasceu a todo vapor e depois diminuiu. A integração mercantilista não quer fazer grandes sociedades de nações, mas sim grandes mercados, não fazer cidadãos de nossa América, mas sim consumidores. A concepção da Unasul é diferente. Nós temos uma concepção integral, onde uma parte é comercial, que sempre é importante, mas não é o mais importante, e as outras partes têm a ver com conectividade, nova arquitetura financeira regional, harmonização de políticas, políticas de defesa. Oxalá consigamos avançar também em políticas trabalhistas para que nunca mais caiamos na América Latina na armadilha de competir para atrair investimentos, deteriorando e precarizando as forças de trabalho. Ao invés de atrair capitais na base do suor e das lágrimas de nossos trabalhadores, pensamos em outro mundo. Como disse, creio que avançamos, mas precisamos ir muito mais rápido.


O senhor tocou de passagem o tema do Conselho de Defesa Sul-americano, que está objetivamente estancado, e seu país sofreu um ataque estrangeiro em 2008. Na sua avaliação, com a chegada do presidente Santos na Colômbia, a hipótese de tensões entre Colômbia e Equador está completamente dissipada?

Correa - As relações bilaterais entre Equador e Colômbia gozam de um extraordinário momento. Há uma grande coordenação com o governo do presidente Santos. A Colômbia sempre foi o vizinho com o qual tivemos a melhor relação em nossa história. Infelizmente, essa história, séculos de irmandade, foi rompida pela traição de um presidente como Uribe. Mas, graças a deus, com o governo do presidente Santos isso foi superado e creio que ele também tem uma vocação integracionista muito profunda e apoia – de fato, tem apoiado – a proposta do Conselho de Defesa.


O Conselho de Defesa teve seus primeiros estremecimentos com o anúncio da radicação de tropas dos Estados Unidos na Colômbia. Essa possível radicação de tropas norte-americanas na Colômbia está definitivamente abortada?

Correa – Não tenho maiores conhecimentos a respeito desse assunto. Até onde sei há uma estreita colaboração norte-americana com o pretexto da luta antidrogas e oxalá que a ajuda se concentre aí. Mas temos que fazer um esforço de bastante ingenuidade para nos convencermos disso porque muitas vezes se fazem outras coisas com essas supostas ajudas, sobretudo com governos que não sigam a linha de Washington.


A pergunta anterior está associada a outras situações graves como a remilitarização com novas bases no Panamá e outros três centros operacionais do comando Sul , uma base nova no Chile e nas Malvinas o grande problema é a base britânica ali instalada. Toda esta expansão dos Estados Unidos não é ameaçadora para a região?

Correa - Nós queremos nos convencer que com Barack Obama, que acreditamos ser uma boa pessoa, a política internacional dos EUA mudou, mas as evidências nos mostram que não é assim, que tudo continua lamentavelmente igual, sobretudo no que diz respeito à América Latina, cujos governos comprometidos com justiça, dignidade e soberania passaram a ser vistos como uma ameaça para seus interesses. Devemos estar muito atentos a essa presença das forças armadas norte-americanas em nossa América e a esse processo de re-armamentismo que está ocorrendo nesta época tão difícil e complexa.


Fonte: Cartamaior.com.br

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Post Scriptum (20/1/16):

Havia postado neste dia 22/6/12 em meu perfil em uma rede social (Facebook) o alerta abaixo. O velório em questão era o de minha amada avozinha Cornélia, lá em Uberlândia:

FORMAÇÃO: Gravidade da situação democrática na América Latina - camaradas, estou morrendo de sono, pois passei a noite em um velório, mas é muito grave a derrubada do governo de Lugo no Paraguai. Enquanto movimento de esquerda, pensem a respeito e distribuam o assunto.