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3.12.21

Memórias (X)



Memórias de lutas sindicais e democracia no Brasil

Nas memórias de hoje, vou relembrar as agendas de lutas do mês de julho de 2007. Fiz 23 postagens no blog A Categoria Bancária. O mês foi intenso porque foi mês de finalizar a primeira parte da campanha da categoria: tivemos assembleias de base e depois a 9ª Conferência Nacional e os congressos de bancos em seguida.

Este dirigente que revisita as memórias era o secretário de imprensa da Contraf-CUT, diretor do Sindicato dos Bancários de São Paulo, Osasco e região e representante da Fetec-CUT SP na Comissão de Empresa dos Funcionários do Banco do Brasil, uma comissão que assessorava a confederação e o Comando Nacional na organização e negociação de questões específicas por bancos (COE-BB ou CEBB).

A VIDA TODA JUNTO ÀS BASES - Ao ver as postagens do mês (ver aqui), fico feliz em relembrar que não deixei de fazer contatos com a base de trabalhadores do Banco do Brasil nem em meses tão cheios de agendas internas ao movimento como esse de organizar e finalizar as estratégias, as reivindicações e as bandeiras de lutas da campanha nacional dos trabalhadores do ramo financeiro. 

SINDICALIZAÇÃO - Achei espaço na agenda para ir conversar com bancários e bancárias do BB na posse e sindicalizá-los no 1º dia de trabalho deles no banco público. Aliás, as mulheres só tiveram direito de prestar concurso e trabalhar no BB depois de mais de um século de existência do banco. Agendas dos dias 16 e 23 de julho.

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Na 1ª semana de julho tínhamos agendas de reuniões diversas, na secretaria de imprensa da Contraf-CUT, porque estávamos confeccionando a revista nacional O Espelho, definindo propostas para a mídia da campanha nacional 2007 e trabalhando para dar visibilidade à luta da categoria na imprensa empresarial, a dos capitalistas e da casa-grande.

Eram frequentes reuniões de diretoria, tanto gerais como de corrente política. Eu tinha ainda horas e horas de dedicação à confecção da tese política da Articulação Sindical da CUT, feita em conjunto com outras companheiras e companheiros. 

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REMUNERAÇÃO VARIÁVEL - Como já disse nas outras postagens de memórias sindicais, desde cedo no movimento passei a escrever e contribuir com teses, propostas e opiniões a respeito da organização e luta da classe trabalhadora. Nesse ano de 2007, tive que fazer longos e cansativos debates internos na Articulação Sindical a respeito de propostas feitas para regular a remuneração variável na categoria. 

Tínhamos a intenção correta de regular e negociar com o patronato toda a remuneração dos trabalhadores porque os banqueiros estavam criando formas de remuneração variável com diversos programas de participação em resultados, formas de acelerar as metas abusivas e a sobrecarga de trabalho, gerando grande estresse e adoecimento, inclusive com assédio moral.

Eu não concordava com algumas propostas a respeito de contratação da remuneração variável e fiz o debate democrático dentro da corrente. Estudei, escrevi, fiz debates com diversas lideranças etc. Foi um momento rico na democracia interna do movimento e da corrente política. Valeu bastante. 

Ao final do processo, como não tinha concordância em votar a favor da proposta final de contratar remuneração variável na forma de parte do que os bancários produziam com tarifas e taxas de serviços nas agências (entendo isso como um contrassenso para a luta contra as metas abusivas), recebi por parte da Articulação Sindical autorização para me abster nos fóruns de decisão. Inclusive, no fórum final, fiz declaração de voto esclarecendo ao conjunto dos delegados e delegadas da 9ª Conferência Nacional os motivos por que não votei a favor daquela proposta.

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DURANTE GOVERNOS DO PT, AS AGENDAS DA CLASSE TRABALHADORA ERAM POR MAIS E MELHORES DIREITOS SOCIAIS

Ao ler uma matéria sobre a abertura da 9ª Conferência Nacional (ler aqui) vemos o quanto a classe trabalhadora brasileira estava com uma agenda propositiva e em ascensão social, pois queríamos a redução da jornada de trabalho sem redução de salários, aumentos mais significativos no salário mínimo do país, desenvolvimento econômico sustentável e com distribuição de renda para o povo brasileiro que efetivamente produz a riqueza do país. 

Os períodos dos governos do Partido dos Trabalhadores - governos de esquerda ou centro-esquerda, até sociais-democratas podemos dizer - são tempos de mais oportunidades para a base da pirâmide social e de mais felicidade para o povo. E sabemos que as contradições sempre vão existir, sempre. Elas fazem parte das lutas de classes.

ORGANIZAÇÃO DOS TRABALHADORES DO RAMO FINANCEIRO

A criação da Contraf-CUT em 2006 foi uma nova etapa da organização da categoria bancária dentro da Central Única dos Trabalhadores, a nossa CUT.

Quando se estuda a história dos trabalhadores dentro do setor financeiro brasileiro, vemos que nossas lutas começaram ao mesmo tempo em que a família real veio para o Brasil, em fuga de Portugal por medo de Napoleão Bonaparte. Eles chegaram aqui tomando casas e propriedades das pessoas e criando instituições da sociedade moderna como bancos, comércios etc.

Tínhamos trabalhadores bancários atuando no século XIX, tanto nos bancos públicos ou de governo como nos bancos privados. Banco do Brasil e Caixa Federal foram criados naquele período. O século XX foi de grande envolvimento dos bancários nas lutas de trabalhadores por direitos trabalhistas e sociais. Muitos sindicatos nasceram como associações no início do século e ainda hoje são dos mais organizados do país.

A categoria bancária teve papel preponderante na criação da CUT e nós fomos vanguarda na ideia de organizar os bancários em departamento, mesclando a lógica de estrutura vertical com a da Central, mais horizontal e de classe. Em 1985/86, dois anos após a criação da CUT, organizamos o Departamento Nacional dos Bancários (DNB). A estratégia foi muito exitosa e rapidamente estávamos organizados no país todo, fazendo grandes greves nacionais entre 1985 e 1989.

Nos anos noventa, avançamos para uma Confederação e passamos a contratar direitos em acordos e convenções coletivas. A CNB/CUT contribuiu enormemente para o fortalecimento da Central e da classe trabalhadora brasileira.

Ao mesmo tempo em que nós nos organizávamos, os banqueiros e patronato da casa-grande se organizavam também, é lógico. Reestruturações e avanços tecnológicos marcam essa história de embate entre bancários e banqueiros. A Contraf-CUT surge num momento em que mais de meio milhão de trabalhadores estão gerando lucros para as corporações dos banqueiros e não têm os direitos da categoria, reunidos na Convenção Coletiva dos Bancários, a CCT/CUT.

Bom, já me alonguei nessa postagem de memórias sindicais. O fato é que nós tínhamos uma missão ao criar a Contraf-CUT, missão difícil, mas muito bem-intencionada por parte das organizações sindicais dos bancários. Veja aqui a postagem que fala das estratégias definidas naquele ano de 2007, na 9ª Conferência Nacional, para organizar diversas categorias dentro do ramo financeiro e enfrentar a casa-grande e os banqueiros.

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FOCO NA UNIDADE DO LADO DOS TRABALHADORES, AUMENTO DE DIREITOS E CONTRATAÇÃO DA REMUNERAÇÃO TOTAL

A 9ª Conferência definiu suas reinvindicações, estratégias e agendas de campanha a serem aperfeiçoadas e adaptadas dia a dia pelo Comando Nacional dos Bancários, que foi ampliado naquele ano. Ver a matéria aqui.

Abaixo, deixo um trecho da questão que debati intensamente com a companheirada da Articulação Sindical e demais forças políticas e participantes dos fóruns decisórios da categoria. A vida seguiu, eu discordando das propostas e todos lutando juntos contra os banqueiros.

"Além do reajuste salarial, os bancários também querem uma remuneração complementar de 10% do total das vendas de produtos feitas em cada unidade, distribuído de forma linear para todos os empregados da unidade, creditados mensalmente como verba salarial, incidindo sobre FGTS, 13º, férias e descontos previdenciários.

Na mesma linha, outro item que consta na minuta é a remuneração complementar sobre receita de prestação de serviços para todos os bancários. O benefício reivindicado é de 5% da arrecadação com prestação de serviços distribuídos trimestralmente de forma linear a todos os bancários de cada instituição, inclusive aos afastados por licença-saúde. " (Matéria da Contraf-CUT)

Ao ver as propostas acima, sigo pensando do mesmo jeito que pensei 14 anos antes. Acho que elas não eram as propostas ideais para contratar a remuneração variável da categoria. Mas a vida seguiu e tudo mudou para pior após o golpe de Estado em 2016. 

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A HISTÓRIA SERVE DE REFERÊNCIA, ELA NÃO SE REPETE. A HISTÓRIA NOS MOSTRA QUE PODEMOS MUDAR A REALIDADE TERRÍVEL NA QUAL NOS ENCONTRAMOS EM 2021

É isso! Mais um momento de memórias de lutas da classe trabalhadora. Todas as pessoas podem e devem se envolver nas questões inerentes à nossa vida em sociedade.

Hoje vivemos sob pandemia de Covid-19, num país tomado pelo crime organizado dentro do poder do Estado e sem democracia desde abril de 2016.

Mudar a realidade sempre é possível. Depende de cada um de nós, duzentos milhões de brasileiras e brasileiros.

William


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