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10.12.21

Memórias (XIII)



Entre 1988 e 2018, tive uma formação política e sindical construída a partir do local de trabalho (OLT). Sou grato ao movimento sindical pela oportunidade de ter contribuído para as lutas de classe. Apesar de excluído dos fóruns políticos neste momento, desejo boas lutas ao meu lado da classe


INTRODUÇÃO

Estou revisitando meus registros e anotações sindicais e refletindo a respeito de minha formação política enquanto cidadão bancário do Unibanco e Banco do Brasil, sindicalizado ao Sindicato dos Bancários de São Paulo, Osasco e região desde o final dos anos oitenta, com uma interrupção entre a saída de um banco e a entrada por concurso no BB. 

As bases de consultas de minhas Memórias são principalmente meus registros no blog A Categoria Bancária, de 2006 adiante, e subsidiariamente sites de entidades representativas. Fuço também em minhas pilhas de guardados em papel - jornais, revistas, livros, papéis e mais papéis.

Hoje quero relembrar um pouco do meu aprendizado - minha formação política - a respeito dos fóruns democráticos nos quais aprendi como nós fazíamos política nos anos noventa e dois mil. Como bancário sindicalizado, aprendi política de forma orgânica ao participar dos diversos fóruns políticos do movimento sindical ao qual eu pertencia enquanto bancário de base e depois como dirigente eleito pelos trabalhadores.

Eu compreendi mais tarde, depois de me politizar, que fui um militante brigador contra as injustiças que via por aí desde muito cedo, adolescente, mas não era um militante político orgânico a um movimento organizado, era um rapaz voluntarioso, como boa parte das pessoas que não aguenta ver coisa errada e não fazer nada a respeito.

Enfim, vamos refletir um pouco.

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REPRESENTATIVIDADE A PARTIR DA OLT

UNIBANCO

Trabalhei no Unibanco entre abril de 1988 e maio de 1990. Meu local de trabalho era o Centro Administrativo do Unibanco (CAU) na Raposo Tavares. Foi lá que conheci o pessoal do Sindicato. Faz muito tempo isso, mas nossa memória seletiva guarda instantes marcantes em nossa vida. 

Me lembro que o representante do Sindicato me pediu para ajudar a parar a agência dentro do CAU, onde eu trabalhava. Eu deveria organizar por dentro a paralisação e, no dia da greve, eu deveria chegar às 5 horas da manhã para garantir que ninguém entraria para trabalhar. Deu certo! Foi um momento que meu cérebro guardou. Depois fui aprender que isso era Organização no Local de Trabalho (OLT).

O banco depois foi pra cima de todos nós, os militantes que organizavam os trabalhadores. Eu fui transferido para outro bloco do centro administrativo. Minha vida ficou mais difícil no departamento. Acabei saindo depois de não aguentar mais encheção de saco do chefe. Falei umas merdas pra ele e fui mandado embora. A experiência no Unibanco foi um começo de politização de forma orgânica.

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BANCO DO BRASIL

Passei no concurso nacional do Banco do Brasil em 1991. Foi uma alegria imensa. Depois de uma adolescência de trabalhos braçais, seria um funcionário de banco público. Cancelaram o concurso por fraude em Brasília... meu sonho se foi da noite para o dia. Em 1991, eu fazia faculdade de Ciências Contábeis e já conhecia um pouco do ambiente do BB porque era estagiário na agência Ceagesp. Tive que prestar o concurso de novo. Ufa! Passei novamente e tomei posse em setembro de 1992.

Voltei a receber a visita de representantes do Sindicato na agência onde trabalhava e alguns meses depois voltei a me sindicalizar: em fevereiro de 1993. Tomei posse no BB sob a gestão Collor, depois Itamar e depois vivi todo o martírio dos 8 anos tucanos de FHC: programas de demissão (PDV), transferências compulsórias (PAQ), destruição da vida das pessoas, dezenas de suicídios de colegas do banco, redução de 50 mil postos de trabalho entre 1995 e 1999. O caos! Durante o PDV, nossa agência, Rua Clélia, fechou na sexta-feira com 21 colegas e abriu na segunda-feira com 10 colegas pra fazer o mesmo serviço. Algo assim, se estiver errado o número é coisa mínima.

A OLT foi muito importante pra nós naqueles anos de FHC. Me aproximei do pessoal do Sindicato. O Sindicato me procurava quando precisava de alguma organização interna na agência, eu procurava o Sindicato quando alguma merda estava acontecendo conosco. Eu me reunia com os colegas da agência no bar, na rua, na casa de alguém e definíamos como enfrentar o assédio que rolava contra nós. O mesmo com o Sindicato, eu ia até a sede ou o Sindicato vinha até mim. Depois fui descobrir que isso era o papel de um delegado sindical.

CONVITE PARA SER CANDIDATO A DIRETOR DO SINDICATO

Dessa relação política de companheirismo nas lutas e da OLT surgiu o convite para que eu compusesse a chapa da situação para uma eleição que ocorreria em 2000. Não deu certo nas discussões internas da formação de chapa e não fui para a direção do Sindicato. A vida seguiu e em 2002 algumas lideranças do Sindicato me procuraram de novo propondo que eu dispusesse meu nome para os debates de formação de chapa. Acabei aceitando participar do processo interno. Foi assim que virei representante dos trabalhadores na diretoria do Sindicato.

MANDATO SINDICAL DE 2002 A 2005

Se eu tivesse que escolher uma palavra para sintetizar a minha experiência do 1º mandato sindical eu escolheria a palavra qualificativa INTENSO(A). Foi uma experiência intensa em todos os sentidos. Acho que me tornei um dirigente sindical "intenso" (rsrs) depois de "sobreviver" ao 1º mandato no Sindicato. 

O pessoal que fui conhecendo nas regionais e nos coletivos de bancos e na militância do BB dizia que eu não passaria do 1º mandato porque só mexia em vespeiro. Era um encrenqueiro de carteirinha.

ESTUDOS - Por achar que não tinha conhecimento político e histórico suficiente para estar na representação de milhares de colegas, me tornei um cara que passava 24 horas por dia tentando recuperar um suposto tempo perdido em não saber tudo sobre o movimento sindical brasileiro. 

Mudei até meu comportamento pessoal, passei a ser mais sério, mais sisudo, mais responsável etc. Tinha um sentimento ético de que eu não poderia errar, me desviar do bom caminho, porque meu papel era muito importante, eu representava aqueles colegas que estavam sofrendo toda aquela desgraça que os tucanos e os banqueiros faziam conosco em nosso mundo do trabalho.

Enfim, o foco desta postagem é a questão da representação política e os processos democráticos dentro do movimento, principalmente o sindical, no qual aprendi a fazer política. Vou resumir essa história que vinha contando daqui adiante. Tempos depois de ter entrado na direção do Sindicato, fui entender que eu pertencia à corrente política Articulação Sindical da CUT.

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CONCEPÇÃO E PRÁTICA SINDICAL

A maior parte do meu aprendizado político como dirigente sindical se deu no dia a dia da convivência com o coletivo de diretores e diretoras do Banco do Brasil no Sindicato (Coletivo BB), nos espaços do Sindicato com dirigentes e funcionári@s e no contato permanente com a base, principalmente do BB - militância e colegas em geral - e subsidiariamente dos demais bancos, quando fiz micro com diversos bancos no roteiro. Mais adiante, fui entender que nossas referências na prática sindical eram os princípios da Central Única dos Trabalhadores. Algumas práticas cito abaixo.

MANTENHA CONTATO COM A BASE SOCIAL QUE REPRESENTA - Aprendi com o Coletivo BB que nunca deveria deixar de fazer base, nunca! Ao longo da vida sindical é importante se dar bem com as lideranças e forças políticas internas do Sindicato e do movimento, mas quem nos garante de verdade é a base, é a representatividade que você conquista nos locais de trabalho. A OLT é um dos princípios cutistas que a corrente política a qual nós pertencíamos tinha como base. Esteja onde estiver na estrutura sindical, vá a base, converse com os trabalhadores, seja franco com eles, ouça o que eles têm a dizer, receba as críticas, pondere e apresente argumentos para construir uma relação de respeito entre pares.

O mesmo deve se dar quando estamos numa representação da estrutura vertical do sindicalismo, numa federação ou confederação, na central sindical ou até mesmo numa associação de classe como, por exemplo, uma caixa de assistência ou previdência. Normalmente, quem indica nomes e composições de chapas eleitorais para essas entidades são os sindicatos de base. Ouvir e prestar contas do mandato para as entidades que nos indicaram é trabalho de base.

ESTUDE E CONHEÇA A EMPRESA EM QUE TRABALHA - Outro aprendizado que o Coletivo BB sempre apontava como algo fundamental para nos tornarmos referência dos trabalhadores na base era estudarmos e conhecermos o banco no qual trabalhávamos. Você pode ser popular entre seus colegas da direção do Sindicato e até de seus colegas do banco, mas se não souber apontar as questões centrais que afetam o dia a dia dos trabalhadores, se não conhecer o histórico dos problemas, possíveis soluções etc, você não será um bom dirigente e não terá a representatividade necessária nas horas decisivas. Você tem que ser um bom trabalhador! Ouçam o personagem de Gianfrancesco Guarnieri em Eles não usam Black Tie (1981).

ESTUDE E CONHEÇA A HISTÓRIA DAS LUTAS E OS DIREITOS CONQUISTADOS - Essa recomendação é decisiva para sermos um representante de nossos pares num mandato político e sindical. Por isso disse acima que mudei radicalmente ao entrar no Sindicato. Todo dia era dia de estudar e aprender algo novo sobre nossa história, da categoria, do banco público, das lutas por direitos, acordos coletivos, greves históricas, vitórias e derrotas, lições tiradas com as lutas a cada ano etc. O patronato tem domínio de toda a estrutura de comunicação da burguesia, do capital, para jogar o trabalhador(a) contra nós. Temos que desconstruir as mentiras (fake news é coisa antiga) e ilações o tempo todo. 

Produção de textos - O pessoal do Coletivo BB me ensinou desde cedo algo que levei pra vida toda: após estudar e fazer contato com a base, escreva! A prática da escrita é importante, não podemos escrever qualquer coisa, escrever exige um mínimo de pesquisa e informação. Escreveu, está registrado. Então seja criterioso no que escreve.

Paro por aqui algumas das lições que foram muito úteis no 1º mandato sindical e que levei para a vida toda de representação, mesmo quando fui convencido a ocupar outras posições políticas na estrutura do movimento e outras instâncias de classe - executiva do Sindicato ainda no 1º mandato, representação da Comissão de Empresa (CEBB) pela Fetec CUT SP, secretarias de imprensa e formação da Contraf-CUT, coordenação das negociações nacionais no BB (CEBB) e inclusive na diretoria de saúde da Cassi, eleito pelos associad@s com o apoio da ampla maioria dos sindicatos e entidades associativas da comunidade BB.

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FÓRUNS DE DEBATES E INDICAÇÕES PARA FORMAÇÃO DE CHAPAS E CANDIDATURAS NO MOVIMENTO SINDICAL CUTISTA

Ao longo de aproximadamente 25 anos de militância e representação sindical aprendi o modelo cutista de organização das bases e das estruturas políticas e sindicais.

Em linhas gerais, a representação sindical começa nos locais de trabalho, quando a pessoa se destaca na organização dos colegas (OLT). Dessa atuação, pode vir uma indicação de lideranças do sindicato para que aquela pessoa seja mais observada e até convidada para cursos de formação política e para participar de fóruns diversos do movimento.

O movimento de lutas e a política são muito ecléticos. É comum também acontecer o inverso desse roteiro que citei acima. Às vezes, temos pessoas que convidam a si mesmas para tudo quanto é cargo e função, pleiteiam vaga em qualquer eleição que aconteça, são candidatas eternas a tudo. Não vejo nada de errado nisso. Mas posso afirmar a vocês que esse nunca foi o meu perfil! Nunca fui nem seria candidato de mim mesmo a nada.

As funções que ocupei no movimento sindical bancário entre abril de 2002 e maio de 2018 foram funções decididas em coletivo, em processos de debates que geralmente discutiam projetos, alianças e perfis possíveis para desempenhar aqueles projetos. Minha história no movimento sindical foi construída assim por 25 anos de militância, poderia até dizer 30 anos como contei acima, de 1988 a 2018. 

AGRADECIMENTO - Antes de mais nada, afirmo aqui que sou grato às oportunidades que tive de representar os trabalhadores e as entidades sindicais durante esse período de uma vida porque mudei como pessoa e acho que me tornei um ser humano melhor. As oportunidades de participação nas lutas bancárias começaram e terminaram com o meu sindicato de base, o Sindicato dos Bancários de São Paulo, Osasco e região. E de mais ou menos 1996 adiante, as oportunidades foram todas oriundas de meu coletivo de banco, o Coletivo BB.

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EXPURGADO PELA ARTICULAÇÃO SINDICAL DE SP (MAS SIGO TORCENDO PELO SUCESSO DAS LUTAS QUE SERÃO EMPREENDIDAS)

Nesta sexta-feira, 10 de dezembro de 2021, está acontecendo um dos fóruns democráticos desses que citei acima. Uma das principais correntes políticas da Central Única dos Trabalhadores e trabalhadoras, a Articulação Sindical, está reunida debatendo temas importantes para a categoria bancária do segmento do Banco do Brasil: projetos, arcos de alianças e perfis para processos eleitorais de entidades do movimento para o ano de 2022.

Os fóruns democráticos do campo cutista têm um percurso organizativo que começa sempre a partir das bases sociais de 1º grau, os sindicatos. Isso ocorre tanto quando vai começar uma campanha de data-base de uma categoria profissional como quando vai haver processos eleitorais de caráter nacional ou regional. O pertencimento e a militância ao movimento começam pelo sindicato de base, tanto para o segmento da ativa quanto dos aposentados no caso das empresas e bancos públicos.

Nesta semana que se encerra hoje ocorreu nos mais diversos cantos do país um desses processos organizativos e deliberativos da Articulação Sindical da CUT. Os sindicatos e federações foram orientados a levar para a reunião nacional os debates feitos e acumulados a respeito da pauta em debate. A base sindical na qual me formei politicamente desde 1988 se reuniu também, a começar pelo meu sindicato (o Coletivo BB) e depois a federação cutista de SP.

Entendi de uma vez por todas que fui expurgado do Coletivo BB da Articulação Sindical de SP. Fiquei um pouco surpreso desta vez, confesso, porque aparentemente vínhamos numa relação saudável de construções políticas conjuntas. Nos últimos meses fui convidado a contribuir com diversas questões a respeito de uma das pautas em debate hoje. Encontros diversos, cursos de formação etc. Não achei que fossem fazer comigo o mesmo que ocorreu em 2020. 

Fiquei surpreso com o expurgo. Achei que teria o que contribuir nas discussões sobre projetos, arcos de aliança e perfis para os projetos do ano de 2022 no Banco do Brasil.

Durante o tempo todo em que fui dirigente sindical e inclusive das instâncias ditas "superiores" do movimento, nós tínhamos processos sempre difíceis de devolução de algum militante para a base ou a exclusão de participação formal do movimento, mas havia algum processo. As pessoas eram ouvidas e tinham o direito de serem avaliadas e de se defenderem. Isso não ocorre mais, me parece.

Desejo boa sorte para a companheirada da Articulação Sindical e da CUT para os difíceis processos organizativos e de lutas que teremos pela frente neste Brasil tão complexo em que nos encontramos após o golpe de Estado de 2016.

É isso, me alonguei bastante nesta postagem de memórias sindicais sobre minha formação política e os fóruns e espaços coletivos de organização do movimento de lutas dos bancários e dos trabalhadores e trabalhadoras.

William


Para ler o texto de Memórias (XIV), clique aqui.

Caso queira ler o texto anterior, está aqui.


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