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18.6.22

Memórias (XXVIII)


 

Por que os preços da gasolina e dos serviços públicos estão tão caros? Como eu fazia para explicar isso aos colegas bancários que representava como dirigente sindical eleito por eles? Era preciso muito estudo para tentar simplificar coisas complexas de forma correta. Era preciso politizar a classe trabalhadora e dar a ela noções gerais das coisas


Opinião

Um dos primeiros livros que li quando me tornei um dirigente sindical da categoria bancária no início dos anos dois mil foi o livro O Brasil privatizado - Um balanço do desmonte do Estado (1999), de Aloysio Biondi. As lições do jornalista foram centrais para eu começar a entender por onde se passavam as sacanagens do capitalismo, do liberalismo e do neoliberalismo. 

O Estado investe pesado e por anos a fio para construir as estruturas necessárias à economia do país para melhorar a vida do povo e depois vêm uns liberais de merda e repassam tudo que foi feito para uns sujeitos ganharem dinheiro por décadas às custas do povo.

Eu me politizei através do convívio com o movimento sindical. O processo de politização de um trabalhador não é simples. No meu caso, não bastou ser um bancário sindicalizado desde que virei bancário do Unibanco aos 19 anos. Nossos corações e mentes são disputados ininterruptamente pelos donos do poder desde que nascemos. Estou falando de ideologia, ideologia da classe dominante. 

Enquanto alguém do sindicato fala comigo de vez em quando, a mídia da casa-grande invade meu dia 24 horas. É foda! Difícil pros sindicalistas disputarem minha consciência numa disputa desproporcional com todos os meios midiáticos dos capitalistas. Mesmo que você jure que não sofre os efeitos da lavagem cerebral, você tem pouca capacidade para evitar isso. Os meios ideológicos dos capitalistas dominam a pauta - a agenda - do que você vai saber e falar e invisibilizam o que você não deve saber nem falar, ou falar sob a ótica deles.

Olhando para trás, avalio que não me politizei através do núcleo familiar, felizmente. A ampla maioria de meus familiares é despolitizada e parte da família compartilha ideais da extrema-direita e apoia a tragédia que vivemos no Brasil. São pessoas que vieram todas da mesma origem humilde, da pobreza, e hoje se acham da "elite" ou "classe média", são liberais ou conservadores... uns são bolsonaristas declarados, outros enrustidos... fazem parte desse 1/3 de gente que temos que derrotar nas urnas para retomarmos um Brasil da esperança e das oportunidades para todos.

Evidentemente não me politizei também durante a primeira década de trabalhos braçais que fiz desde uns onze anos de idade. Imaginem vocês que esse trabalho semiescravo uberizado dos entregadores de tudo - de moto e bicicleta - não é coisa dos anos dois mil. Aos 14 anos de idade eu trabalhava de entregador de remédios numa rede de drogarias em Uberlândia e me lembro como se fosse hoje do quanto sofríamos, os entregadores uberizados da época, quando as entregas eram nas regiões mais distantes da cidade naquelas bicicletas pesadas, sem marchas, com chuva... tudo que eu queria era que o dia terminasse, queria me deitar e dormir, mas não podia porque depois tinha que ir pra aula. A diferença hoje é a ausência total de direitos trabalhistas, presente do golpe de 2016, Temer, Moro e Bolsonaro... "com Supremo com tudo".

Meus familiares viveram tudo isso que vivi com os trabalhos e subempregos, mas eles são quase todos de direita e conservadores (uns se dizem "liberais")... a ideologia dominante é a ideologia da classe dominante. Quem se desviou da regra familiar fui eu porque no meu caminho apareceu um emprego numa categoria organizada e com sindicato forte e atuante, os bancários. Em outro texto de memórias (o de número XXVI) já falei um pouco sobre isso. Ler aqui.

E mesmo sendo bancário sindicalizado, já no Banco do Brasil em 1997, fiz texto universitário criticando o Movimento dos Trabalhadores Rurais sem Terra (MST), texto daquele tipo que concorda que os sem-terra são uns invasores, uns baderneiros. Na época, usei como referência uma matéria do jornal O Estado de São Paulo (lógico...), que "denunciava" uma invasão no interior do Estado. Como disse acima, o Sindicato tinha contato esporádico comigo, já a mídia dos empresários e coronéis paulistas... 24 horas por dia.

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Texto de memórias tem a mania de ser um texto meio anárquico, sento-me pra escrever sobre o preço caro dos serviços públicos e essenciais para o povo e quando vejo estou falando a esmo sobre o passado vivido. Mas a intenção dessa memória é dar uma noção geral de por que a gasolina está tão cara após o golpe de 2016, após Lava Jato, Temer e Bolsonaro. Minha companheira me perguntou sobre o preço da gasolina ontem e como ando sem paciência disse que depois falava a respeito.

Já no final dos anos noventa, Aloysio Biondi explicava como foram as sacanagens das privatizações dos tucanos, do período FHC. O Estado brasileiro tinha investido bilhões de dinheiros nas estruturas modernizantes das principais empresas públicas do país como as da área de energia elétrica e telecomunicações e aí os desgraçados "liberais" entregaram as empresas de mão beijada, a preço de banana, para uns parças deles ganharem bilhões de dinheiros para si mesmos cobrando altos preços das tarifas de serviços essenciais.

Como noção geral é importante lembrar que privatizar é tornar algo privado, é privar o acesso e o direito que antes eram de todos para aqueles que podem pagar por aquilo. É trocar o interesse público e coletivo pelo interesse de uns caras acionistas doidos pra receber lucros nas veias. A ideologia dominante, dos capitalistas, consegue convencer a gente da minha classe que tirar os nossos direitos é algo bom pra nós. Nos dias que correm, os paulistanos estão se f... com os trens da CPTM privatizados pelos tucanos recentemente e a forma como a mídia empresarial apresenta o problema manipula a realidade de forma impressionante. Os jornais mostram o caos, ficam cobrando melhoria do que piorou e falando em multas, enquanto os acionistas querem saber é do lucro a distribuir. E o povo ó...

GASOLINA, DIESEL E GÁS DE COZINHA - Por que os combustíveis estão com os preços mais altos de nossa história brasileira? Para encher de dinheiro o rabo dos acionistas. É por isso! Durante os governos do Partido dos Trabalhadores - Lula e Dilma - os preços do petróleo no mundo variaram de algumas dezenas de dólares o barril para quase 150 dólares e o preço desse produto essencial na vida do povo brasileiro era de dois a três reais e o gás de cozinha teve o mesmo preço por mais de uma década. O foco da empresa pública Petrobras era servir ao povo brasileiro e à economia do país. São os preços das tarifas públicas que deveriam ser controladas pelo Estado pelo interesse geral da nação.

Uma das primeiras medidas dos golpistas após o golpe de 2016 foi mudar a regra de preço dos combustíveis da Petrobras - uma canetada dentro da empresa que tem os administradores indicados pelo governo (hoje, o Bolsonaro) - regra agora baseada no preço lá fora em dólar, para encher o rabo de dinheiro dos acionistas, mesmo o Brasil tendo capacidade de manter os preços como eram na época do PT (temos produção pra isso). A Petrobras não é mais uma empresa com o objetivo de servir ao povo brasileiro. Não é preciso viajar muito nas ideias pra entender isso. BASTA TER NOÇÕES GERAIS DAS COISAS! A Petrobras deu lucro durante todo o período dos governos do PT, e mesmo assim a empresa contribuiu com a economia e com o povo brasileiro.

O mesmo se dá com todas as privatizações dos serviços e produtos essenciais na vida do país, privar o povo do acesso às coisas para encher as burras de uns caras bilionários é o objetivo central das privatizações, dos capitalistas. É o predomínio do interesse privado sobre o interesse público.

É nauseante e revoltante ver o enganador na presidência e a mídia golpista manipulando parte dos brasileiros, aqueles idiotizados por décadas, com essa questão do preço dos combustíveis no Brasil de Temer, Moro e Bolsonaro (e os Marinho, claro!). Para enganar o povo vale até os caras no Congresso Nacional ferrarem os Estados brasileiros para seguirem com a manipulação tirando a principal fonte de receita dos entes federados... É revoltante!

É isso. 

William


Para ler o texto anterior, Memórias (XXVII), clique aqui.

O texto seguinte pode ser lido aqui.


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