Greve dos bancários 2013. Foto: M. Moraes. |
O ano de 2013 foi um ano no qual participei de muitas coisas importantes para a categoria bancária e para a classe trabalhadora
Revi 49 postagens de meu blog sindical A Categoria Bancária, postagens dos meses de outubro, novembro e dezembro de 2013. Avalio que aquele ano foi um dos anos em que mais contribuí para a classe trabalhadora enquanto dirigente maduro e formado nas bases dos bancários brasileiros. Foi praticamente meu último ano na coordenação nacional das mesas do Banco do Brasil. No ano seguinte eu iria participar das eleições da Cassi a partir de março.
Nas postagens do mês de outubro, revivi aqueles dias da longa greve da categoria bancária, foi uma queda de braço memorável entre nós e os banqueiros, 22 dias de greve. Os caras haviam decidido que não atenderiam mais nossas justas reivindicações de aumento real, novos direitos e melhorias nos direitos acordados na Convenção Coletiva de Trabalho (CCT). Foi a maior greve dos bancários em 20 anos.
No final, nós arrancamos um reajuste de 8% nas verbas salariais com aumento real de 1,82%, reajuste de 8,5% e aumento real nos pisos de 2,29%, aumento no valor da PLR, um direito novo na CCT - um abono assiduidade por ano -, vale-cultura, cláusulas de questões contra assédio moral e metas abusivas etc (ler aqui). Foi uma campanha muito vitoriosa para a categoria bancária. Os banqueiros ficaram muito putos e o troco da casa-grande viria mais tarde, com o golpe de Estado e as perdas de direitos do povo brasileiro.
No BB, foram diversas questões novas. Estávamos num processo de negociações permanentes desde anos anteriores e finalizamos a campanha 2013 efetivando diversas conquistas; entre 2012 e 2013, mesas negociais que coordenei, foram mais de 30 questões que avançaram no BB (ler resumo aqui).
Algumas conquistas foram muito caras para mim como negociador, pois me dediquei muito a elas entre os anos de 2012 e 2013. Um exemplo é a questão da bolsa dos estagiários do Banco do Brasil. Quando eu soube o quanto abaixo dos outros bancos estava a bolsa estágio no BB, fiquei indignado e prometi a mim mesmo que daria atenção a essa injustiça com cerca de 10 mil estagiários do banco.
Nas negociações em 2012, surpreendi os negociadores do BB em mesa com a questão e foi um constrangimento geral. Mostrei o valor dos outros bancos e o do BB. Não foi possível resolver naquela campanha. Em 2013 deu certo. Nós conseguimos um aumento de 71% na bolsa estágio no Banco do Brasil e a conquista favoreceu 10 mil pessoas, jovens estudantes. Fiquei muito feliz por isso. Eu fui estagiário do BB em 1992 e sei o quanto é dura a vida de estagiário.
Veja aqui uma avaliação que fiz sobre as conquistas da campanha 2013.
Uma das maiores pelejas entre nós e os banqueiros foi a questão da compensação das horas da greve da categoria. Foram horas de impasse na negociação final. Os banqueiros queriam 180 dias de compensação integral das horas. Nós não aceitamos, a culpa daquela greve longa foi exclusivamente dos banqueiros! No fim, só permitimos compensar até 1 hora por dia e até o dia 15 de dezembro. Boa parte da categoria não iria compensar boa parte das horas da greve. Vitória da persistência nossa.
Depois de assinados os acordos - o geral e os aditivos - a direção do Banco do Brasil começou o assédio moral e a prática antissindical em relação aos colegas que participaram da greve e construíram a campanha vitoriosa. Nós fomos pra cima dos assediadores do banco. Já de cara, paralisamos em São Paulo as maiores concentrações de bancários. Orientamos os sindicatos a radicalizarem onde houvesse perseguição a um colega grevista. Deu trabalho o pós-greve, mas fizemos o que tinha que ser feito.
Lembranças! Eu olho para os meus papéis e documentos relativos àquelas semanas de negociações em 2013 e fico com dó de jogar fora. Cheguei a pensar em escrever um livro sobre aqueles onze anos de campanhas salariais (2003-2013) nas quais tive participação na condução delas, inclusive com defesas das propostas nas assembleias na quadra dos bancários em São Paulo... campanhas e estratégias que trouxeram novos paradigmas para a classe trabalhadora. Acho que fiz meu melhor nessa missão de vida.
Campanhas unificadas entre bancos públicos e privados, fortalecimento da única convenção coletiva com a abrangência da nossa assinada em 1992 e renovada desde então, direitos novos e conquistas por uma década inteira. Fizemos boas campanhas. Enfim, pensei em escrever um livro de memórias das campanhas dos bancários do período posterior a 2002 porque já tínhamos dois livros de resgates históricos, um do Sindicato de São Paulo, resgatando a história até 1992, e tínhamos o da CNB/CUT, resgatando nossa história até 2002.
Vieram novas funções de representação a partir de 2014 e acabei dedicando minha vida e minhas energias nos anos seguintes à gestão de uma Caixa de Assistência em saúde, a dos funcionários do Banco do Brasil (Cassi), e as pilhas de documentos e as anotações e papeladas a respeito da construção de muitas histórias dos bancários perderam o sentido para mim e acredito que para todo mundo. Os tempos não são mais de resgatar a história de lutas da classe trabalhadora.
É isso. Para hoje tá bom. Memórias de lutas vividas. Em 2013, nós bancários brasileiros fomos bons combatentes na defesa dos direitos, inclusive fomos preponderantes na luta ferrenha contra a aprovação no Congresso do PL 4330, da terceirização total. Tenho orgulho de ter feito parte dessas lutas. Seguramos mais um tempo os direitos dos trabalhadores. Depois do golpe "com o Supremo com tudo" não teve mais jeito... mas essa é outra história.
William
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