Eu, Miguel, Vagner, Carlão e Plínio, parte da direção da Contraf-CUT 2006. |
Fazíamos planejamento estratégico e tínhamos ao menos noção de onde queríamos chegar e quais as etapas que tínhamos que cumprir...
Osasco, 09 de fevereiro de 2023. Quinta-feira.
De vez em quando, acabo pegando essa folha de papel virtual em branco e registro algumas lembranças e sentimentos do período no qual ajudei a construir uma das maiores estruturas sindicais da classe trabalhadora brasileira: a Contraf-CUT, sucessora da CNB/CUT, sucessora do DNB/CUT, uma estratégia ousada dos bancários organizados dentro da Central Única dos Trabalhadores, criada em 1983, após a Conclat.
Ao separar mais um volume de papéis para expurgo, me deparei com o Relatório de Planejamento para o ano de 2007 da direção da Contraf-CUT. A confederação havia sido criada no início do ano de 2006 e o 1º congresso havia sido realizado em abril, se não me falha a memória. Tive o privilégio de ser indicado no congresso para compor a direção da entidade, atuaria na área de comunicação.
O planejamento foi realizado em Itapecerica da Serra (SP), entre os dias 13 e 15 de dezembro de 2006, e contou com a presença de 20 dirigentes e com assessorias, inclusive do Dieese, que coordenou os trabalhos do planejamento.
Veja abaixo o enunciado do projeto da Contraf-CUT que definimos para os doze meses do ano de 2007:
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"A Contraf-CUT irá organizar, representar, de fato e de direito e contratar para todos os trabalhadores e trabalhadoras do ramo financeiro articulada com as federações e principalmente sindicatos"
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A prática de planejar a organização da luta da classe trabalhadora me deu uma formação essencial para ser o dirigente que acabei sendo por 16 anos de mandatos eletivos.
Os coletivos políticos e sindicais acabaram definindo minha caminhada política nesse período. Estive na Executiva do Sindicato, na representação da Comissão de Empresa dos Funcionários do BB (CEBB ou COE) e depois fui coordenador, estive na secretaria de imprensa e depois formação da confederação e estive da direção da Caixa de Assistência em saúde do BB, a Cassi.
Desde que fui eleito para o 1º mandato de representação em 2002, no Sindicato dos Bancários de São Paulo, Osasco e região, fui me politizando e me tornando um dirigente que sabia o que era, o que deveria fazer e onde queria chegar em cada momento sindical que vivi. A prática das reuniões políticas com a base, com a direção e os planejamentos me davam uma segurança em relação ao que fazer.
No sindicato, fazíamos planejamento da diretoria. No coletivo de banco (Coletivo BB) ao qual pertencia, fazíamos planejamento para o mandato, para o ano, para as regiões do sindicato, para cada dirigente e fazíamos reuniões periódicas para avaliar o trabalho de cada um, para alinhar estratégias e táticas e nos ajudarmos mutuamente.
Repito: desde que virei dirigente sindical, eu sabia o que deveria fazer enquanto representante dos trabalhadores em um sindicato combativo e importante como a entidade na qual militei como bancário de base e como dirigente por muitos anos: três décadas na categoria.
CASSI
Depois de mais de uma década de planejamentos, objetivos, estratégias e táticas vivenciados no dia a dia da organização do movimento sindical bancário e da CUT, cheguei eleito a maior e mais antiga autogestão em saúde do país, a Caixa de Assistência dos Funcionários do BB.
A autogestão Cassi é uma das organizações da classe trabalhadora mais interessantes que eu já conheci. Ao começar os trabalhos na associação, fui obrigado a estudá-la profundamente em pouquíssimo tempo e o que nos deu condição de gerir a Diretoria de Saúde e Rede de Atendimento da Cassi ao longo do mandato de 4 anos foi o planejamento que fizemos logo nos primeiros 3 meses de gestão. Eu tinha metas e tarefas para cada ano do mandato e cumpri religiosamente cada etapa.
A Caixa de Assistência passava por uma de suas crises econômico-financeiras, algo que se repete desde a sua criação em 1944 por causa das características intrínsecas a ela e externas em relação ao mercado no qual atua. Felizmente, atravessamos os 4 anos de mandato sem que os associados perdessem direito algum em saúde e ainda fortalecemos o modelo assistencial da Cassi, a Estratégia de Saúde da Família (ESF).
Posso afirmar categoricamente neste registro de memória que se não fossem os estudos que realizamos, a equipe de profissionais que tínhamos, o apoio de entidades representativas e o trabalho permanente de esclarecimento às bases sociais ao longo do mandato, não teríamos conseguido manter os direitos dos associados e o modelo assistencial e, no plano de custeio, não teríamos conseguido manter a solidariedade, que só foi retirada após nossa saída da gestão.
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ORGANIZAÇÃO E PLANEJAMENTO NA ESQUERDA É ESSENCIAL
O planejamento estratégico por parte das organizações sociais é algo essencial para dar um norte, um senso de objetividade aos militantes da classe trabalhadora. Para perseguirmos nossas utopias com um mínimo de organização.
Sem objetivos, estratégias e táticas definidos, sem distribuição de tarefas, e sem formação e politização dos grupos, sem comunicação adequada, as pessoas podem até trabalhar (militar) até o limite de suas forças, mas talvez não consigam ver o resultado de seus trabalhos.
E se o planejamento for feito somente pelas cúpulas (os tais "capas"), sem ouvir e envolver o conjunto das direções sindicais, políticas e militâncias, a tendência é a não realização dos objetivos coletivos e não se chegar a lugar algum. Sem dar pertencimento a quem milita no movimento não se vai muito longe.
Eu desejo muito que as organizações sindicais e as partidárias de esquerda estejam preparadas ou se preparando para o duro embate que temos com nossos adversários, que agora são mais que isso, talvez inimigos. Vejam o exemplo da extrema-direita que nos quer mortos e eliminados da face da Terra.
Olhando para trás, analisando a história da categoria bancária que vivemos juntos, sou testemunha que a classe trabalhadora pode mudar a realidade social e avançar em conquistas coletivas em todas as dimensões sociais, mesmo quando os adversários - patronato - são os donos do capital, os banqueiros e capitalistas.
Deixo meu fraterno abraço e desejo de conquistas e realizações às militâncias e às direções das entidades de luta da classe trabalhadora.
William Mendes
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