Blog de William Mendes, ex-dirigente sindical bancário e ex-diretor eleito de saúde da Caixa de Assistência dos funcionários do Banco do Brasil
7.6.15
Artigo: 30 anos de organização dos bancários na CUT
Por: Jacy Afonso (6/06/15)
"Nesse momento de comemoração, há que se perguntar: o sindicalismo fundante das representações das trabalhadoras e dos trabalhadores bancários permanece nas instituições?"
O movimento sindical bancário sempre se caracterizou pelo protagonismo de sua atuação. Os desafios que assumiu no decorrer de sua história apontaram para formas de organização novas, possibilitando estabelecer reivindicações importantes e, em consequência, conquistas fundamentais não somente para a categoria, mas também para toda a classe trabalhadora.
O golpe militar de 1964 estilhaçou a independência sindical e as entidades passaram a ser coordenadas por interventores, asseclas da ditadura e verdadeiros pelegos da burocracia sindical.
Com os sindicatos de bancários não foi diferente. Aqueles que deveriam ser representantes dos trabalhadores esqueceram seus compromissos. Porém, mesmo com o cerceamento da organização e a perseguição aos sindicalistas, algumas lideranças como Olívio Dutra, bancário do Rio Grande do Sul, e Lula, metalúrgico do ABC, compreenderam que os sindicatos oficiais não deveriam ser encarados apenas como espaços de peleguismo. Eles poderiam ser transformados e servir à luta dos trabalhadores.
Com essa perspectiva, houve a reorganização sindical e a retomada dos movimentos de trabalhadores. E assim como na implantação da ditadura militar, novamente em 1979 Lula e Olívio Dutra viveram um processo intervencionista nos sindicatos e tiveram seus mandatos cassados.
Mas, resistir era preciso. E, especialmente a partir de 1978, o movimento dos bancários deu início à organização de oposições para tomarem democraticamente os sindicatos e os transformarem em instrumento da luta por melhores condições de trabalho e de vida, e pela democratização do país. E assim se iniciou uma luta épica para recuperar parte do muito que havia sido subtraído pela ditadura militar.
O chamado Novo Sindicalismo busca a unidade e a retomada da organização da categoria bancária que queria mais do que uma estrutura corporativista.
A partir de 1979, novas lideranças bancárias assumiram entidades sindicais importantes. Citamos Natividade, no Ceará, Horácio Paiva, no Rio Grande do Norte, Milton Montini, no Rio Grande do Sul, Ivan Pinheiro, no Rio de Janeiro, Augusto Campos, em São Paulo, Augusto Carvalho, em Brasília, Osvaldo Laranjeira, na Bahia. Estes líderes participaram da primeira CONCLAT, em agosto de 1981, e parcela deles fizeram parte da Comissão Nacional Pró-CUT, que tinha a determinação de criar uma nova forma de estrutura sindical, independente, democrática e classista. A única confederação que participou desse fato histórico foi a Contag.
As divergências de estratégias de ação das representações sindicais provocaram a ruptura em 1983 e nasceu, então, a CUT.
A fundação de nossa Central contou com o apoio integral das diretorias de dois sindicatos de bancários: o de Porto Alegre e o de São Paulo. Nesse momento, a Unidade Sindical, corrente dos sindicalistas filiados ao PCB, se alia com as confederações oficiais e funda a CGT. Entre elas está a Contec, que praticamente só assinava os acordos negociados pelas entidades que efetivamente organizavam a categoria e cuja direção era escolhida por um colegiado composto por presidentes de 9 federações.
O final da ditadura militar possibilitou a reorganização sindical e, com ela, a ascensão do movimento. A participação na Campanha pelas Diretas Já fortalece a CUT, contrária ao colégio eleitoral e fazendo oposição à Nova República - Governo Tancredo/Sarney.
Os dirigentes sindicais, unidos em torno de causas comuns, se sentem robustecidos e encorajados. A fundação do Sindicato dos Bancários de Ipatinga, no Vale do Aço, em Minas Gerais, um importante polo sindical no Brasil, foi significativa. Assim como o processo de tomada dos sindicatos pelegos, que se inicia com a eleição de uma diretoria CUTista para o Sindicato de Londrina – PR. Em abril de 1985, um mês após a posse do Sarney, um êxito eleitoral, no Sindicato dos Bancários do Rio de Janeiro, contra Ivan Pinheiro, o principal dirigente da Unidade Sindical, propiciou uma espécie de efeito dominó pelo Brasil.
Para consolidar melhor a organização bancária nacional, em 6 de junho de 1985, feriado de Corpus Christi, foi fundado o Departamento Nacional dos Bancários -DNB/CUT, inaugurando 30 anos de atuação bancária no interior da Central Única dos Trabalhadores. Participaram deste momento os Sindicatos de Bancários de São Paulo, Rio de Janeiro, Londrina, Ipatinga e Porto Alegre. Atualmente são mais de 100 sindicatos de Bancários na CUT, representando mais de 80% da categoria no país.
O DNB/CUT nasceu em defesa da liberdade e autonomia sindicais e da participação das bases das entidades. A partir desse momento, sob a liderança de Luiz Gushiken, então presidente do Sindicato dos Bancários de São Paulo, e Gilmar Carneiro, da Executiva Nacional da CUT, as representações dos trabalhadores bancários passaram a articular ações estruturantes da Central Única dos Trabalhadores e construíram uma forte unidade contra os banqueiros. Essa atuação resultou na estruturação da Campanha Salarial Nacional dos bancários em 1985, que culminou na primeira greve nacional após o golpe militar, retomando os históricos movimentos paredistas realizados antes dos anos de chumbo. O momento também foi importante porque sem abrir mão da unidade de ação com a Contec/CGT, tivemos a capacidade de manter a marca classista do DNB/CUT.
O primeiro Contrato Coletivo Nacional da categoria bancária foi assinado com a Fenaban, representante dos bancos privados, em 1992. Este foi o ano de fundação da Confederação Nacional dos Bancários – CNB/CUT. E somente em 2004, após a eleição de Lula para a Presidência da República foi possível a assinatura de um Contrato Coletivo Nacional com os bancos públicos.
Em 2006, para representar todos os trabalhadores do ramo financeiro, foi criada a Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro da CUT – Contraf/CUT, que incluiu as diversas categorias envolvidas em atividades do sistema financeiro, como securitários, funcionários de bolsas de valores, de cooperativas de crédito, financeiras, lotéricas, e que ficam à margem da Convenção Coletiva Nacional dos Bancários.
Nesses anos de história importantes características marcaram profundamente a organização sindical bancária: a compreensão de classe superando a visão de categoria, o entendimento da nacionalidade em detrimento do estreito conceito bairrista e corporativista e a perspectiva do coletivo sobrepondo interesses individuais. No momento de comemoração dos 30 anos em que passamos há que se perguntar: O sindicalismo fundante das representações das trabalhadoras e dos trabalhadores bancários permanece nas nossas instituições?
Há dúvidas. A rigidez de princípios pela qual nos pautamos tem sido desprezada. Pelo conforto propiciado pelas estruturas sindicais se abriu mão do compromisso e da responsabilidade de olhar adiante e construir estratégias sincronizadas com um passado de luta e conquista e um futuro que exige mais luta para mais conquistas.
Esta é uma oportunidade de reflexão sobre os princípios e a motivação que nos levaram a criar uma organização da categoria bancária. Com o pé na história e os olhos dirigidos para o futuro, a análise necessária é a dos nossos fundamentos e como eles se concretizam em nossas representações institucionais. Elas atendem aos profundos e legítimos interesses da categoria bancária e da classe trabalhadora? Continuam comprometidas com a construção de um país democrático, respeitoso dos direitos e que oferece condições de vida digna para todas e todos? Sabemos do caminho andado? Ele nos baliza com os princípios éticos já construídos?
Ver adiante faz sentido em retrospectiva. Retomar e recriar, revisitar e projetar o futuro são objetos imprescindíveis para seguirmos adiante e fazer acontecer. O fortalecimento e o avanço necessários para a organização sindical bancária exigem pés fincados na base, no piso das instituições financeiras, nas reivindicações e nos direitos das trabalhadoras e trabalhadores bancários. Assumimos esses desafios ou seremos deixados para trás.
Fonte: Brasil 247
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