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23.10.23

História dos bancários: um olhar (X)



O Espelho - Revista Nacional dos Funcionários do Banco do Brasil

23 de outubro de 2023


Unidade e organização pela defesa dos nossos direitos

Ao ler as informações contidas na revista O Espelho nº 2, de fevereiro de 1983, me veio à memória muitas lembranças a respeito desse importante veículo de comunicação dos funcionários e funcionárias do maior banco público do país, o Banco do Brasil.

Durante mais de uma década fui um dos responsáveis pela confecção e edição da revista nacional O Espelho, produzida na minha época de militância pela Confederação Nacional dos Bancários (CNB/CUT) e depois pela Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramos Financeiro (Contraf-CUT), na qual fui secretário de imprensa, depois secretário de formação e também coordenei a Comissão de Empresa dos Funcionários do Banco do Brasil (COE BB ou CEBB). 

A responsabilidade pela publicação à época desta edição (número 2) era da Comissão Executiva Nacional dos Funcionários do Banco do Brasil, escolhida no IX Encontro Nacional dos Funcionários do BB, realizado em outubro/82. A informação está na última página do jornal. A Comissão era composta pela Contec e pelos sindicatos de Brasília, Rio de Janeiro e São Paulo.

Esta edição que tenho em casa é uma relíquia, ela é anterior à criação da CNB/CUT (1992), e anterior ao DNB/CUT (1985/86), departamento criado dentro da CUT (1983) para organizar os bancários em nível nacional.

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Reprodução da primeira página

Unidade e organização pela defesa dos nossos direitos

Neste momento, em que o país passa por difíceis situações e no qual se procura de todas as formas desestabilizar as empresas estatais, entre elas o Banco do Brasil, os funcionários do BB - mais do que nunca - devem reforçar sua unidade e organização, a nível nacional, para lutar pela manutenção de seus legítimos direitos, adquiridos ao longo da História.

Aqui está o segundo número d'O ESPELHO/Edição Nacional procurando levar aos colegas de todos os estados, das capitais e interior, o recado animador, com os informes do que já foi encaminhado e do que devemos fazer daqui para frente.


No dia 2 de dezembro de 1982 a Diretoria do BB recebeu em audiência representantes da CONTEC e dos Sindicatos de Brasília e do Rio de Janeiro. Na oportunidade discutiram-se as possibilidades de negociação e do cumprimento das convenções coletivas pelo BB, mediante autorização do CNPS (Conselho Nacional de Política Salarial).

Até agora não obtivemos resposta do Banco. Não sabemos sequer se o seu Conselho diretor aprovou tal consulta ao CNPS, apesar da insistência da Contec e dos Sindicatos. Entretanto, mais do que nunca se firma a necessidade de estabelecermos uma pauta de reivindicações que contente a totalidade dos funcionários do BB, com vista à realização de negociações com o Banco. Com esse objetivo, foi definida a realização do X ENCONTRO NACIONAL DE DIRIGENTES E FUNCIONÁRIOS DO BANCO DO BRASIL, nos dias 19 e 20 de março de 1983 (sábado e domingo), no Rio de Janeiro, na sede do Sindicato dos Bancários.

Na sua Circular nº 83/008, de 4 de fevereiro, a CONTEC dirigiu às Federações, Sindicatos e Associações de Bancários todas as informações necessárias à participação no X Encontro: ele deve ser precedido da realização de Assembleias dos funcionários do BB nos Sindicatos até o dia 10 de março, para aprovar a pauta de reivindicações que será apresentada ao Banco, delegação de poderes para negociação e escolha de delegados ao X Encontro. A CONTEC sugere que os sindicatos componham as suas delegações com um representante de cada Agência do Banco existente em sua base territorial e que compareça, pelo menos, um dos seus dirigentes, mesmo que não seja funcionário do BB.

Os funcionários do BB sempre estiveram à frente nas lutas dos trabalhadores. O momento agora exige de nós um trabalho persistente: todo funcionário está chamado a ajudar o seu Sindicato a convocar amplamente a assembleia preparatória para o X ENCONTRO, fator fundamental para a nossa vitória.

QUAIS SÃO AS NOSSAS REIVINDICAÇÕES

Como sugestões para compor a pauta de reivindicações, a Comissão Executiva dos Funcionários do BB aprovou o seguinte:

Produtividade - a maior conseguida no país;

Anuênio - Cr$ 2.455,00 corrigido pelos INPCs de março e set/83;

Ajuda Alimentação - a) tíquete nas condições de São Paulo, b) restaurante administrado pelos funcionários do banco;

Estabilidade - durante a vigência do acordo;

Quadro de Carreira - criação de uma comissão paritária para estudar o assunto;

Creche - idem, idem;

Conflitos - funcionamento de uma comissão sindical para discuti-los. deverão ser incluídas reivindicações ligadas aos problemas de relações de trabalho, Caixa de Previdência e de Assistência, etc.

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COMENTÁRIO DO BLOG

Eu me tornei trabalhador da categoria bancária em 1988, primeiro no Unibanco, até maio de 1990, e depois no BB, a partir de setembro de 1992. Enquanto fui bancário de base, fui sendo politizado pelo nosso Sindicato na Grande São Paulo. Fui sindicalizado tanto no tempo do Unibanco quanto no BB, alguns meses após tomar posse do cargo de escriturário na agência Rua Clélia. Sou sindicalizado até hoje em nosso Sindicato.

Em 2002 fui eleito diretor do Sindicato dos Bancários de São Paulo, Osasco e região e a partir desse momento passei a estudar a nossa história de lutas para compreender melhor quem eu era enquanto trabalhador bancário e representante de meus colegas.

Sempre que encontrava materiais informativos sobre a categoria e a nossa história eu pegava as mídias para ler. Também fui um leitor atento dos jornais da categoria, tanto a nossa Folha Bancária quanto as revistas e jornais estaduais e ou nacionais.

No início dos anos oitenta, época deste informativo, os trabalhadores brasileiros sofriam horrores sob a ditadura empresarial e militar, que havia começado com o Golpe de 1964 e ainda causava miséria e carestia ao povo. Os salários e acordos coletivos eram regionalizados. 

O movimento sindical que viria a ser conhecido como Novo Sindicalismo começava a se destacar após as greves dos metalúrgicos do ABC e outras greves e enfrentamentos importantes como tivemos na categoria bancária.

Enfim, a história de lutas da classe trabalhadora brasileira e dos bancários é longa e aguerrida. Assim que comecei a estudar a nossa história, compreendi a responsabilidade que teria como dirigente sindical bancário.

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Segunda parte

Nessa página está um texto intitulado "A importância do BB", texto que destaca a história secular do Banco, que alega que a estatal funciona bem e auxilia o governo e o país e que enaltece o quadro de funcionários e a estrutura nacional do Banco

FGTS - A revista traz uma denúncia de que funcionários do Banco estavam sendo obrigados a "optar" pelo regime do FGTS, abrindo mão da estabilidade no emprego.

"A verdade é que o quadro de carreira do Banco do Brasil vem sendo desmantelado. Os novos empregados são obrigados a 'optar' pelo regime do FGTS, abrindo mão de toda a estabilidade. Quase todos os dias há casos de colegas sendo demitidos sem que nenhuma justa causa seja apresentada para a dispensa. Com a chamada 'política salarial', verdadeira salada de casuísmos, regurgitada desde 1965 pelos governos que se sucederam sob o título de 'revolucionários', e com as famosas 'reestruturações' de carreiras aprovadas nos gabinetes do Ministério do Trabalho, sigilosamente, ninguém sabe como, já bem pouco resta da saúde administrativa da estrutura que tornou o Banco do Brasil grande e respeitado."

O jornal denuncia a redução de até 40% dos salários nos últimos dois anos. Com as políticas salariais do regime autoritário, a Comissão Executiva Nacional conclama que todos se envolvam nas lutas:

"É preciso tomar uma posição. Comissionados ou não, chefe ou contínuo, estaremos todos no mesmo barco. Participe do seu sindicato, e contribua para barrarmos as imposições do capital internacional."

COMENTÁRIO DO BLOG: por décadas, participei das lutas da categoria e as pautas do mundo do trabalho sempre tiveram eixos parecidos. Me lembro de organizar os bancários explicando que os comissionados tinham que participar do movimento, ainda mais depois que os bancos inventaram um monte de função comissionada para manipular os trabalhadores ideologicamente como se eles fossem "chefes" e não "trabalhadores". Já no início dos anos dois mil, praticamente todo mundo nas agências tinha algum tipo de "comissão" para o banco dizer que eram funções de confiança. Uma lábia para enganar a categoria.

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BANCÁRIOS PARTICIPAM DA CRIAÇÃO DA CUT EM AGOSTO DE 1983

Esse excerto que cito abaixo é muito legal! A categoria bancária é estimulada a participar ativamente da criação da Central Única dos Trabalhadores (CUT), em Congresso que se realizará em agosto de 1983 (CONCLAT).

"Os trabalhos da comissão de Política Sindical, aprovados pela plenária, basearam-se nas conclusões da I Conferência Nacional da Classe Trabalhadora realizada em Praia Grande, em 1981. Entre as teses aprovadas, destaca-se o princípio de unicidade sindical, ou seja, um só sindicato representando uma só categoria: a necessidade de liberdade e autonomia sindical, para que os trabalhadores tenham o direito de se organizarem independentemente do Estado, tendo que prestar contas somente aos seus representados. Foi colocada a necessidade de os bancários de todo o país participarem do Congresso Nacional das Classes Trabalhadoras (CONCLAT) em agosto de 1983, do qual sairá, certamente, a Central Única dos Trabalhadores (CUT), um órgão que se propõe a encaminhar unitariamente reivindicações comuns dos assalariados."


Ainda na página três do jornal, lê-se a informação de que ocorreu em 28/01/83 o Encontro Nacional dos funcionários do BB, aproveitando a VII Convenção Nacional dos bancários. A reinvindicação de cumprimento das convenções coletivas constava do documento final. 

Tive a felicidade de ver durante minha época de militância a realização de uma luta antiga: o cumprimento por parte dos bancos públicos da convenção nacional da categoria. Em 2006 o BB passou a cumprir a CCT da categoria e depois a Caixa Federal também.

Na última página, o jornal dá notícias sobre o andamento de ações na justiça em relação ao cumprimento do Dissídio Coletivo de 1974.

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COMENTÁRIO FINAL

É isso! Finalizo a postagem de história dos bancários de hoje. A militância do Banco do Brasil participou ativamente da história das conquistas da classe trabalhadora brasileira, da criação da CUT, e nós sempre fomos vanguarda do movimento sindical.

A revista O Espelho fez parte de minha vida de trabalhador do BB. Durante décadas me informei por esse veículo de informação. 

E mais: durante minha vida de sindicalista, distribuí O Espelho de mão em mão nos locais de trabalho das bases onde atuei.

Abraços a todas e todos!

William


Post Scriptum: para ler o texto anterior desta série é só clicar aqui.


18.10.23

História dos bancários: um olhar (IX)



A história do Banco do Brasil - Afonso Arinos

18 de outubro de 2023


O Banco do Brasil completou nesta semana 215 anos de existência, considerando suas falências e refundações a partir de 12 de outubro de 1808. É uma longa existência, uma longa história de serviços prestados ao Brasil e aos brasileiros e brasileiras!

Tive o privilégio de fazer parte de seu quadro de funcionários entre 9 de setembro de 1992 e 3 de abril de 2019. Agora, sigo pertencendo à comunidade Banco do Brasil, porque sou beneficiário de nossa Caixa de Previdência, a Previ, e sou associado de nossa Caixa de Assistência, a Cassi, entidades cooperativas e solidárias criadas pelos funcionários da empresa pública bicentenária.

Os bancos públicos têm uma importância central no apoio ao desenvolvimento de um país. Sem financiamento com taxas e tempo justos, um país não terá desenvolvimento econômico. Bancos públicos são fundamentais para o financiamento da agricultura, indústria e comércio. Para habitação, grandes obras públicas, ciências e tecnologias etc.

Quando cheguei ao quadro de funcionários do Banco tive outra sorte grande ao me aproximar de nossas entidades representativas, principalmente o sindicato que organizava a base social onde trabalhava na grande São Paulo. Militar no movimento sindical me formou como pessoa e como cidadão.

Acabei sendo eleito dirigente sindical em 2002 e por 16 anos exerci mandatos eletivos nos mais diversos espaços de organização social e lutas por direitos coletivos. Foi um grande aprendizado de vida! Acredito que tenha deixado a minha contribuição à bonita história de luta de nossa categoria profissional pertencente à classe trabalhadora.

Ao longo da vida de trabalhador bancário, uma das categorias mais organizadas do país, acabei estudando nossa história e a história das lutas da classe trabalhadora para poder representar bem meus colegas de trabalho. Além de representante de base e diretor do Sindicato, fui secretário nacional de imprensa e de formação de nossa confederação, depois fui coordenador das negociações nacionais com a direção do Banco e por fim fui diretor eleito de saúde de nossa Cassi.

Nesta série "História dos bancários: um olhar" pretendo registrar um pouco de nossas lutas e conquistas ao longo do tempo, tendo como referência as diversas mídias que acumulei ao longo de minha representação da categoria. Tenho muito material guardado e após dar uma organizada e colocá-lo em ordem cronológica, avalio que dá para ir contando um pouco da caminhada dessa categoria aguerrida e de vanguarda. A intenção é fazer uma publicação por semana.

É isso. Nesta postagem, terminei a releitura de um material feito no final dos anos oitenta para marcar os 180 anos de História do Banco do Brasil. A edição que tenho, foi adquirida através da doação de um gerente que trabalhou na agência Rua Clélia nos anos noventa, o Geraldo.

A postagem anterior desta série pode ser vista aqui.


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Capítulo XI

Nesse capítulo, Arinos faz um retrospecto da história brasileira a partir de meados dos anos quarenta, período final da 2ª Guerra Mundial. No Brasil, Getúlio Vargas estava no poder (1930-1945). Com a queda de Vargas, houve eleições e o Marechal Eurico Gaspar Dutra foi eleito presidente, apoiado pelos partidos Social Democrático e Trabalhista Brasileiro, segundo Arinos (p. 45)

Getúlio Vargas volta à presidência pelo voto popular (1951-1954). Alguns fatos desse período valem a citação pela importância econômica e social para o Brasil: a criação do Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico (BNDE) em 1952, que trinta anos depois seria o BNDES, sendo o "S" de Social; a criação em 1954 do Banco do Nordeste do Brasil (BNB) e a criação da Petrobras em 1953:

"Para disciplinar as diversas atividades relacionadas com essa importante fonte de energia havia sido criado o Conselho Nacional do Petróleo. Uma forte campanha política mobilizou a opinião pública e teve como resultado a criação da PETROBRAS, por lei de 3 de outubro de 1953, do Congresso Nacional. A essa empresa estatal caberia, entre outros privilégios, o monopólio da prospecção do precioso combustível em território nacional, monopólio este também estabelecido por iniciativa do Congresso." (p. 47)

Antes, em 1946, havia sido inaugurada a Companhia Siderúrgica Nacional, em Volta Redonda, no Rio de Janeiro. A industrialização brasileira teve forte impulso no período posterior à 2ª GM.

BANCO DO BRASIL COMEMORA OS 100 ANOS... EM 1954

Pois é, apesar do nosso banco público BB ter comemorado os 215 anos dias atrás, em 12 de outubro de 2023, em 1954 o BB teve festa para comemorar seu centenário. Afonso Arinos nos explica isso, que já lemos nos capítulos anteriores.

"O Banco do Brasil - remodelado em 1893 e em 1905 - tivera suas operações reiniciadas em 10 de abril de 1854, tendo deixado de funcionar desde o ano de 1829, e reaparecera em virtude da fusão do Banco Comercial do Rio de Janeiro (de 1838) com o Banco do Brasil, fundado em 1851 por Irineu Evangelista de Souza, mais tarde barão e visconde de Mauá. As negociações entre os dois estabelecimentos haviam tido o patrocínio de Joaquim José Rodrigues Torres, visconde de Itaboraí, de relevante atuação na política e na administração do Império durante o Segundo Reinado." (p. 47)

O presidente do BB naquele período do governo Getúlio Vargas era o Dr. Marcos de Souza Dantas. E Arinos informa que uma comemoração não invalidava a outra efeméride de 1808.

"O fato não invalidava a comemoração de outra efeméride do Banco - a da assinatura do 'Alvará com força de Lei, pelo qual Vossa Alteza Real há por bem criar um Banco Nacional nesta Capital, para animar o comércio, promovendo os interesses Reais e Públicos, na forma que nele se declara.

     Para Vossa Alteza Real ver.

     Rio de Janeiro, 12 de outubro de 1808'." 


Enfim, sempre achei que essa questão de datas de aniversário é algo bastante arbitrário, inclusive o nosso calendário, já que tivemos ao longo da história diversas definições de qual calendário se deveria seguir de acordo com algum poderoso da vez, como o calendário gregoriano que substituiu o calendário juliano na idade média, calendário mais utilizado no mundo ocidental na atualidade.

Arinos fecha o capítulo falando do suicídio de Getúlio Vargas sem falar absolutamente nada sobre o contexto. Eu não esperava outra coisa dele.

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Capítulo XII

O destaque no capítulo é o "desenvolvimentismo" do governo de Juscelino Kubitschek. De forma bastante parcial, Arinos termina esse período enaltecendo a "revolução", nome que ele dá ao golpe de Estado civil-militar que depôs o Presidente da República João Goulart, que assumiu o governo após a renúncia de Jânio Quadros.

"(...) Já então alguns governadores, entre os quais os de Minas Gerais, de São Paulo e da Guanabara haviam decidido, contando com a colaboração decisiva de grande parte das Forças Armadas, promover a deposição do presidente. Iniciou-se a 31 de março de 1964 em Minas Gerais - Juiz de Fora - o deslocamento de contingentes do Exército em direção à cidade do Rio de Janeiro onde se encontrava o presidente. No dia seguinte a revolução triunfava sem que fosse oferecida qualquer resistência da parte dos que sustentavam o governo." (p. 49)

COMENTÁRIO: Amig@s leitores, que nojo sinto ao ler uma descrição dessas do "Prof." Afonso Arinos! UMA VERGONHA! O cara faz uma narrativa asséptica do golpe como se os golpistas tivessem escolhido o terno que usariam à noite, diz que eles decidiram "promover a deposição do presidente...". Observem que o presidente de esquerda "promovido" a deposição está com o "p" minúsculo, enquanto os outros ele escreve com "P" maiúsculo... Que nojo!

O tema central do estudo, o Banco do Brasil, não é citado no capítulo.

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Capítulo XIII (Os governos militares)

"Em cumprimento ao disposto no art. 2º do Ato Institucional do dia 9 do mês de abril de 1964, foi eleito indiretamente para exercer a Presidência da República o General Humberto de Alencar Castelo Branco, transferido, na mesma ocasião, para a Reserva do Exército no posto de marechal." (p. 50)

Não poderia ser mais ridículo um texto desses... o autor tenta dar um verniz de legalidade à merda do golpe de Estado! Vergonha!


BACEN - Neste capítulo, Arinos fala sobre a Reforma Bancária de 1964, que criou o Banco Central do Brasil e definiu diversas funções do Banco do Brasil como agente financeiro do Tesouro Nacional, sendo o BB o recebedor da arrecadação de tributos e rendas federais.

BASA - Após a criação em 1967 da Superintendência da Zona Franca de Manaus (Suframa), o antigo Banco de Crédito da Borracha passa a se chamar Banco da Amazônia.

INCRA - O Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária foi criado em 1970 "com a finalidade de acelerar a execução de vários projetos de redistribuição de terras não-produtivas e cooperar para a fixação do trabalhador rural no campo." (p. 52)

Arinos não economiza no texto elogioso aos ditadores do período. Ele vai enumerando instituições criadas durante os governos militares. Como o país vinha buscando formas de desenvolvimento econômico, usinas hidrelétricas foram inauguradas, a produção da Petrobras passou de meio milhão de barris por dia etc.

Ao final do capítulo, os militares "gente boa" entregam o governo para José Sarney, que sucedeu Tancredo Neves, eleito presidente de forma indireta pelo colégio eleitoral e falecido antes da posse em 1985.

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Capítulo XIV

O último capítulo da cartilha comemorativa dos 180 anos da fundação do Banco do Brasil traz números expressivos do maior banco público do país em 1988.

"De um primeiro departamento, no Rio de Janeiro, com 22 funcionários, em 1816, passou o Banco a contar, em dezembro de 1987, com 128.528, dos quais mais de 1.500 nas agências e escritórios do exterior. As antigas três filiais, existentes em 1817, na Bahia, São Paulo e Recife, deram origem em 1987 a uma rede com 3.641 unidades, das quais 41 no exterior, compreendendo no total 2.284 agências, 393 postos avançados de crédito rural e 964 outras dependências de menor porte."

Desses números expressivos do banco público, ainda temos a informação de que 90% das agências no país estavam localizadas em cidades do interior, o que demonstrava a importância do BB na vida local das comunidades brasileiras.

Com a saída da Conta-movimento em 1986, quando usava recursos do Tesouro Nacional, o Banco teve que se adaptar a uma nova realidade para seu funcionamento enquanto banco público no mercado bancário. O BB passou a dispor de diversos serviços bancários e produtos que antes não eram o seu foco.

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Termina aqui a leitura desta cartilha História do Banco do Brasil, escrita pelo professor Afonso Arinos de Melo Franco, com a colaboração do professor Herculano Gomes Mathias.

A cartilha foi produzida pela diretoria do Banco do Brasil em 1988.

William

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Post Scriptum: o texto seguinte desta série pode ser lido aqui.


3.10.23

História dos bancários: um olhar (VIII)


 

A história do Banco do Brasil - Afonso Arinos

03 de outubro de 2023.


"Em 1905, o Presidente Rodrigues Alves, sob pretexto de reformar o inviável Banco da República, fundou o que deve ser considerado como o Banco do Brasil atual. Os estatutos do Banco da República foram alterados por iniciativa do governo e com aprovação dos acionistas. O novo Instituto, que retomou o nome tradicional de Banco do Brasil, devia 'exercer as funções de um banco central, dispondo de capital abundante para redescontos de papel dos outros bancos, para adiantar aos outros bancos e ampará-los nos momentos de crise'. O governo enviou mensagem ao Congresso regulando a matéria e a lei foi aprovada ainda em 1905, com os primeiros estatutos do atual Banco do Brasil." (p. 36)


No momento em que retomo a leitura desta cartilha sobre "A história do Banco do Brasil", nosso BB está sob um risco menor de existência como banco público porque Lula (PT) venceu as eleições presidenciais contra Jair Bolsonaro em outubro de 2022 e Guedes não pode mais "vender essa merda" como ele chamou nossa estatal quando era o ministro daquele governo fascista e lesa-pátria da família de milicianos.

O BB, os demais bancos públicos e estatais brasileiras seguem enfrentando cenários adversos por causa do contexto mundial de crise econômica e política em relação aos sistemas financeiros do mundo. As instituições multilaterais do período pós 2a Guerra Mundial já não funcionam mais como ocorreu nas últimas décadas (funcionavam de forma imperialista, mas evitavam conflitos generalizados e ininterruptos). Hoje, nem a ONU apita mais nada no chamado "concerto das nações".

O mundo do trabalho está o caos, se desfazendo, principalmente quando pensamos em direitos trabalhistas e sociais. Nós da categoria bancária estamos sob sério risco de desaparecimento. Infelizmente! Eu não acho isso algo irreversível, não acho. Se um governo trabalhista e progressista tiver vontade, correlação de forças e estratégias corretas, acredito que seja possível salvar os empregos com direitos sociais como os da categoria bancária. 

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O 3º E DEFINITIVO BB

Enfim, retomando a leitura da história do BB, vemos o quanto o banco público foi fundamental para o país nas primeiras décadas do século 20. O BB ajudou a República no financiamento de estradas de ferro e demais setores estratégicos da economia nacional, criou a carteira agrícola, fez papel de banco dos bancos etc.

No capítulo 8, temos a informação sobre a criação definitiva do Banco do Brasil, empresa pública que vigora até hoje, que conseguiu sobreviver pela luta de seus trabalhadores e da sociedade civil a governos privatistas como os de Collor, FHC e Bolsonaro/Guedes.

Em 1892, sob o governo de Floriano Peixoto, o Banco do Brasil, que havia sido refundado, se uniu a outro banco do governo para formar o Banco da República do Brasil:

"Decidido a concentrar a atividade bancária para conter a inflação, o Presidente Floriano Peixoto assinou, em 11 de dezembro de 1892, um decreto que autorizava a fusão do Banco do Brasil com o da República dos Estados Unidos do Brasil, sob a denominação de Banco da República do Brasil..." (p. 36)

O Banco do Brasil definitivo seria o que o governo criou em 1905, citado na abertura do texto.

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O capítulo 9 da cartilha ou livro de Afonso Arinos nos relata o período da 1a Guerra Mundial e os anos 20, terminando com a crise de 1929 e a "Revolução de Outubro de 1930", com Vargas assumindo o poder.

CREAI, criada por Getúlio Vargas: "A história da agricultura brasileira pode ser contada em duas fases: antes e depois do surgimento da Carteira de Crédito Agrícola e Industrial do Banco do Brasil. " (p. 41)

O BB passaria a ser reconhecido nas décadas seguintes como o banco do financiamento da agricultura brasileira. Em bons momentos, ou seja, em governos bons, o BB teve papel importante na agricultura familiar, o setor que realmente alimenta o povo brasileiro.

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O capítulo 10 nos traz um resumo dos anos 30, nos lembrando sempre do papel do BB nos grandes momentos do país e do mundo. A criação da Carteira de Crédito Agrícola do BB (CREAI) é um bom exemplo. 

O apoio ao crédito rural contribuiu a partir dos anos 30 para a expansão da rede de agências do BB país afora.

"A atuação do Banco, através da CREAI, foi decisiva para que zonas improdutivas e despovoadas do vasto território nacional se transformassem aos poucos em verdadeiros celeiros, como aconteceu com o oeste paranaense, Mato Grosso e, mais recentemente, Rondônia, Bahia, a Amazônia e algumas regiões do Nordeste. " (p. 41)

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Comentário: neste trecho acima podemos ver na prática a crítica que a jornalista e escritora Eliane Brum nos explica em seu livro "Banzeiro òkòtó (2021)" sobre conceitos equivocados de "progresso" e "desenvolvimento" ligados à destruição da Amazônia e demais biomas nacionais. Reparem que esta obra comemorativa é do final dos anos oitenta e o conceito de destruir os biomas para colocar pasto e plantações ainda vigorava...

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O capítulo 10 termina falando da participação do Brasil na 2a Guerra Mundial, através da FEB. Colegas do BB foram para a Itália, junto à Força Expedicionária Brasileira. 

"(...) Com o segundo escalão da FEB partiram funcionários do Banco para a Itália, a 22 de setembro de 1944. Outros funcionários seguiram com o quarto escalão, a 23 de novembro. Iam organizar, com a eficiência de sempre, os serviços bancários e financeiros junto às tropas combatentes e ajudar, assim, aos lutadores pela liberdade mundial." (p. 44)

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BANCÁRIOS BRASILEIROS: UMA CATEGORIA DE LUTAS

Ao longo de minha vida de representação da classe trabalhadora, a partir de minha condição de trabalhador do ramo financeiro, sempre expliquei em palestras e debates o quanto a categoria bancária foi vanguarda na organização de trabalhadores e da sociedade civil na luta por direitos sociais, civis e políticos.

Grandes foram as lutas e conquistas para a coletividade com bancários à frente de mobilizações da sociedade civil. Os anos oitenta foram bem característicos dessas lutas como, por exemplo, nas mobilizações pelas "Diretas Já" e pela volta da democracia no país. Já escrevi que os bancários se posicionaram nas primeiras eleições para a presidência depois de décadas de ditadura (ler aqui).

Os tempos seguem sendo desafiadores neste início do 3º governo Lula. Avalio que o mundo corre o risco de grandes conflitos políticos e guerras e o Brasil não é uma ilha isolada na disputa de hegemonia que vivemos neste momento.

A fala do presidente Lula na abertura da 78ª Assembleia Geral das Nações Unidas foi de nos deixar orgulhosos por voltarmos ao cenário global, foi uma fala ativa e altiva e Lula falou de paz, falou de distribuição de renda, falou sobre a emergência climática, cobrou instituições multilaterais com capacidade operativa etc. Foi uma fala histórica de nosso governo.

Os bancários brasileiros seguem com mais desafios que nunca porque a própria existência está ameaçada com as novas tecnologias e com a precarização massiva do mundo do trabalho.

As memórias e as histórias dos bancários continuam...

William


Bibliografia:

História do Banco do Brasil - Texto do Prof. Afonso Arinos de Melo Franco. Colaboração do Prof. Herculano Gomes Mathias. Edição de junho de 1988, produzida pela diretoria do Banco do Brasil.


Para ler o texto anterior, clique aqui. O texto seguinte dessa série pode ser lido aqui.


2.10.23

História dos bancários: um olhar (VII)



Somos parte da história porque somos seres humanos

Posso não ser escritor substantivo, mas posso ser verbo: leio, penso e escrevo sobre algumas coisas


Vou voltar a escrever esta categoria de textos aqui no blog, textos de memórias e lembranças das lutas da categoria bancária brasileira, categoria na qual passei três décadas de minha vida como trabalhador e dirigente sindical entre o final dos anos oitenta, nos governos de Sarney e Collor, e o início do governo de destruição de Jair Bolsonaro, em 2019, quando saí do BB em abril daquele ano.

A história dos bancários é muito rica, tem muita luta e é uma referência para as demais categorias e ramos da classe trabalhadora brasileira. O primeiro banco instalado no Brasil foi justamente o banco público ao qual dediquei a minha vida, o Banco do Brasil. Sua história se iniciou em 1808, com a vinda da Corte portuguesa para o Brasil.

Entrei na categoria bancária em abril de 1988, trabalhando no antigo Unibanco, depois saí do banco em maio de 1990. Pouco depois, já seria estagiário no Banco do Brasil em 1992 e funcionário de carreira ao passar no concurso e tomar posse do cargo em setembro de 1992. Saí do BB em abril de 2019. Foram três décadas trabalhando como bancário. Fui representante dos colegas eleito em diversas funções entre o ano 1999 e 2018, quase 20 anos de representação. 

Ou seja, nessa rica história de lutas e conquistas da categoria bancária, deixei o melhor de mim também, deixei minhas contribuições para a coletividade do mundo do trabalho.

Pelos papéis que desempenhei como dirigente eleito, tive a oportunidade de influir em algumas questões importantes na vida de milhares de pessoas. Um privilégio poder representar e participar de construções coletivas que beneficiaram a classe trabalhadora.

Posso citar alguns exemplos de momentos importantes aos quais participei com opinião firme pela função que exercia: 

1. A distribuição de participação nos lucros e resultados dos colegas do Banco do Brasil, a PLR, teve ao longo do tempo decisões que repartiram mais recursos para os trabalhadores da base da pirâmide salarial da empresa. Tive participação direta nisso. 

2. Incluir o patrão no rateio de despesas de saúde em nossa Caixa de Assistência, a Cassi, porque queriam livrar o BB do ônus quando cheguei eleito na direção da autogestão. Minha participação na construção de uma luta nacional por mesa de negociação a partir de 2014 foi fundamental, não é exagero dizer isso.

3. Contribuir para que o nosso Sindicato não cometesse o equívoco de começar uma campanha salarial nacional sem assembleia de base no ano de 2005. O contexto trazia algumas motivações para o receio de meus companheiros e companheiras para que isso ocorresse, mas minha discordância interna fez com que pensássemos mais a respeito e no final correu tudo bem, fizemos assembleia e tivemos uma campanha salarial vitoriosa.

Enfim, vou retomar a leitura, as reflexões e a partir desses estudos e consultas a mídias que tenho, vou escrever semanalmente sobre a história dos bancários com o meu olhar, o meu ponto de vista.

Se uma pessoa ler, já terei cumprido o meu papel de alguém que escreve para as pessoas. Felizmente, tenho tido centenas de acessos aos textos que produzo de contribuições às reflexões das pessoas.

Abraços,

William


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