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3.10.23

História dos bancários: um olhar (VIII)


 

A história do Banco do Brasil - Afonso Arinos

03 de outubro de 2023.


"Em 1905, o Presidente Rodrigues Alves, sob pretexto de reformar o inviável Banco da República, fundou o que deve ser considerado como o Banco do Brasil atual. Os estatutos do Banco da República foram alterados por iniciativa do governo e com aprovação dos acionistas. O novo Instituto, que retomou o nome tradicional de Banco do Brasil, devia 'exercer as funções de um banco central, dispondo de capital abundante para redescontos de papel dos outros bancos, para adiantar aos outros bancos e ampará-los nos momentos de crise'. O governo enviou mensagem ao Congresso regulando a matéria e a lei foi aprovada ainda em 1905, com os primeiros estatutos do atual Banco do Brasil." (p. 36)


No momento em que retomo a leitura desta cartilha sobre "A história do Banco do Brasil", nosso BB está sob um risco menor de existência como banco público porque Lula (PT) venceu as eleições presidenciais contra Jair Bolsonaro em outubro de 2022 e Guedes não pode mais "vender essa merda" como ele chamou nossa estatal quando era o ministro daquele governo fascista e lesa-pátria da família de milicianos.

O BB, os demais bancos públicos e estatais brasileiras seguem enfrentando cenários adversos por causa do contexto mundial de crise econômica e política em relação aos sistemas financeiros do mundo. As instituições multilaterais do período pós 2a Guerra Mundial já não funcionam mais como ocorreu nas últimas décadas (funcionavam de forma imperialista, mas evitavam conflitos generalizados e ininterruptos). Hoje, nem a ONU apita mais nada no chamado "concerto das nações".

O mundo do trabalho está o caos, se desfazendo, principalmente quando pensamos em direitos trabalhistas e sociais. Nós da categoria bancária estamos sob sério risco de desaparecimento. Infelizmente! Eu não acho isso algo irreversível, não acho. Se um governo trabalhista e progressista tiver vontade, correlação de forças e estratégias corretas, acredito que seja possível salvar os empregos com direitos sociais como os da categoria bancária. 

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O 3º E DEFINITIVO BB

Enfim, retomando a leitura da história do BB, vemos o quanto o banco público foi fundamental para o país nas primeiras décadas do século 20. O BB ajudou a República no financiamento de estradas de ferro e demais setores estratégicos da economia nacional, criou a carteira agrícola, fez papel de banco dos bancos etc.

No capítulo 8, temos a informação sobre a criação definitiva do Banco do Brasil, empresa pública que vigora até hoje, que conseguiu sobreviver pela luta de seus trabalhadores e da sociedade civil a governos privatistas como os de Collor, FHC e Bolsonaro/Guedes.

Em 1892, sob o governo de Floriano Peixoto, o Banco do Brasil, que havia sido refundado, se uniu a outro banco do governo para formar o Banco da República do Brasil:

"Decidido a concentrar a atividade bancária para conter a inflação, o Presidente Floriano Peixoto assinou, em 11 de dezembro de 1892, um decreto que autorizava a fusão do Banco do Brasil com o da República dos Estados Unidos do Brasil, sob a denominação de Banco da República do Brasil..." (p. 36)

O Banco do Brasil definitivo seria o que o governo criou em 1905, citado na abertura do texto.

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O capítulo 9 da cartilha ou livro de Afonso Arinos nos relata o período da 1a Guerra Mundial e os anos 20, terminando com a crise de 1929 e a "Revolução de Outubro de 1930", com Vargas assumindo o poder.

CREAI, criada por Getúlio Vargas: "A história da agricultura brasileira pode ser contada em duas fases: antes e depois do surgimento da Carteira de Crédito Agrícola e Industrial do Banco do Brasil. " (p. 41)

O BB passaria a ser reconhecido nas décadas seguintes como o banco do financiamento da agricultura brasileira. Em bons momentos, ou seja, em governos bons, o BB teve papel importante na agricultura familiar, o setor que realmente alimenta o povo brasileiro.

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O capítulo 10 nos traz um resumo dos anos 30, nos lembrando sempre do papel do BB nos grandes momentos do país e do mundo. A criação da Carteira de Crédito Agrícola do BB (CREAI) é um bom exemplo. 

O apoio ao crédito rural contribuiu a partir dos anos 30 para a expansão da rede de agências do BB país afora.

"A atuação do Banco, através da CREAI, foi decisiva para que zonas improdutivas e despovoadas do vasto território nacional se transformassem aos poucos em verdadeiros celeiros, como aconteceu com o oeste paranaense, Mato Grosso e, mais recentemente, Rondônia, Bahia, a Amazônia e algumas regiões do Nordeste. " (p. 41)

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Comentário: neste trecho acima podemos ver na prática a crítica que a jornalista e escritora Eliane Brum nos explica em seu livro "Banzeiro òkòtó (2021)" sobre conceitos equivocados de "progresso" e "desenvolvimento" ligados à destruição da Amazônia e demais biomas nacionais. Reparem que esta obra comemorativa é do final dos anos oitenta e o conceito de destruir os biomas para colocar pasto e plantações ainda vigorava...

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O capítulo 10 termina falando da participação do Brasil na 2a Guerra Mundial, através da FEB. Colegas do BB foram para a Itália, junto à Força Expedicionária Brasileira. 

"(...) Com o segundo escalão da FEB partiram funcionários do Banco para a Itália, a 22 de setembro de 1944. Outros funcionários seguiram com o quarto escalão, a 23 de novembro. Iam organizar, com a eficiência de sempre, os serviços bancários e financeiros junto às tropas combatentes e ajudar, assim, aos lutadores pela liberdade mundial." (p. 44)

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BANCÁRIOS BRASILEIROS: UMA CATEGORIA DE LUTAS

Ao longo de minha vida de representação da classe trabalhadora, a partir de minha condição de trabalhador do ramo financeiro, sempre expliquei em palestras e debates o quanto a categoria bancária foi vanguarda na organização de trabalhadores e da sociedade civil na luta por direitos sociais, civis e políticos.

Grandes foram as lutas e conquistas para a coletividade com bancários à frente de mobilizações da sociedade civil. Os anos oitenta foram bem característicos dessas lutas como, por exemplo, nas mobilizações pelas "Diretas Já" e pela volta da democracia no país. Já escrevi que os bancários se posicionaram nas primeiras eleições para a presidência depois de décadas de ditadura (ler aqui).

Os tempos seguem sendo desafiadores neste início do 3º governo Lula. Avalio que o mundo corre o risco de grandes conflitos políticos e guerras e o Brasil não é uma ilha isolada na disputa de hegemonia que vivemos neste momento.

A fala do presidente Lula na abertura da 78ª Assembleia Geral das Nações Unidas foi de nos deixar orgulhosos por voltarmos ao cenário global, foi uma fala ativa e altiva e Lula falou de paz, falou de distribuição de renda, falou sobre a emergência climática, cobrou instituições multilaterais com capacidade operativa etc. Foi uma fala histórica de nosso governo.

Os bancários brasileiros seguem com mais desafios que nunca porque a própria existência está ameaçada com as novas tecnologias e com a precarização massiva do mundo do trabalho.

As memórias e as histórias dos bancários continuam...

William


Bibliografia:

História do Banco do Brasil - Texto do Prof. Afonso Arinos de Melo Franco. Colaboração do Prof. Herculano Gomes Mathias. Edição de junho de 1988, produzida pela diretoria do Banco do Brasil.


Para ler o texto anterior, clique aqui. O texto seguinte dessa série pode ser lido aqui.


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