Estudando para ampliar a possibilidade de compreender e alterar o mundo
"A principal tarefa do historiador não é julgar, mas compreender, mesmo o que temos mais dificuldade para compreender." (HOBSBAWM, 2006, p. 15)
Cada vez que paro para pensar na influência que teve em minha vida o Sindicato dos Bancários de São Paulo, Osasco e região tenho claro que a influência foi decisiva naquilo que sou hoje, um homem com consciência política, uma pessoa com posição política definida, uma pessoa de esquerda, que pensa um mundo socialista ou comunista, um mundo que tenha superado o capitalismo.
A primeira etapa de formação política formal em minha vida foi durante o período no qual fui bancário do Unibanco e depois do Banco do Brasil, associado ao Sindicato e em contato com os dirigentes e funcionários políticos da entidade. Mesmo que de forma esporádica, pude vivenciar os momentos de organização de base e lutas coletivas por direitos sociais, políticos e até civis. Ao ser estimulado a contribuir na organização das lutas, pude me politizar bem mais que antes, quando lutava de forma pessoal contra as injustiças diárias em nossa sociedade.
Vale registrar que sempre fui um bom sindicalizador do Sindicato como bancário de base, cheguei até a ganhar prêmios em campanhas de sindicalização.
A segunda etapa de formação política formal em minha vida foi quando fui convidado a integrar uma chapa que disputaria e venceria a eleição do Sindicato em 2002. Eu já era bancário desde 1988 e depois fui entender que no BB fazia o papel de delegado sindical há muitos anos, durante os governos tucanos, de péssima memória para nós pelo que sofríamos diariamente nos locais de trabalho. Até dezenas de suicídios vivenciamos durante os anos entre 1995 e 1999. Os tucanos eliminaram 50 mil postos de trabalho.
Ao assumir o papel político de dirigente sindical de um dos maiores sindicatos da América Latina, eu me transformei radicalmente após o dia 5 de agosto de 2002, meu primeiro dia de liberado das funções diárias na bateria de caixas da agência Vila Iara, em Osasco, para passar a atuar exclusivamente na representação de meus colegas bancários. De cara me tornei uma pessoa mais responsável, passei a pensar melhor antes de falar ou fazer qualquer coisa porque a partir daquele momento eu não era só um cidadão brasileiro bancário, eu era um representante de meus pares, meus colegas de trabalho e categoria.
Os anos como dirigente sindical foram de muita aprendizagem para mim, aprendizagem de todas as formas possíveis. O movimento de lutas dos trabalhadores é uma universidade com um leque de conhecimentos muito maior que o leque de disciplinas e referências que temos acesso em cursos universitários. Muito maior! Como estive em 3 cursos de graduação posso afirmar a vocês com conhecimento prático sobre a questão. Compartilho da opinião de intelectuais que criticam o excesso de especialização e fragmentação do conhecimento humano que virou a regra nas últimas décadas. As pessoas são especialistas em algo e absolutamente ignorantes em tudo.
Como dirigente sindical e representante da classe trabalhadora tive por dezesseis anos uma agenda de vida completamente voltada para as causas que abraçava e defendia. Uma vida assim tem seus ônus e seus bônus. Posso resumir os 16 anos afirmando que valeu a pena o período que dediquei de minha vida ao movimento sindical e à organização da categoria bancária, da classe trabalhadora e dos direitos sociais, políticos e civis do povo brasileiro.
Como disse no primeiro parágrafo, atribuo influência decisiva ao homem que me tornei após os 20 anos de idade ao meu contato e convívio com o sindicato da categoria profissional na qual passei boa parte de minha vida. Sou grato à existência das organizações sindicais e associativas da classe trabalhadora. Sem a união, a unidade e a solidariedade de classe nós não somos nada. Nada! Não há "meritocracia" que dê conta de nos salvaguardar dos efeitos do capitalismo.
Além de grato, me esforço para ser associado e contribuir para a manutenção das entidades de classe relacionadas com a comunidade profissional na qual passei a minha vida laboral e de cidadão brasileiro. Juro que é difícil, mas ainda hoje sou associado a diversas entidades associativas e representativas dos bancários e da comunidade BB.
Fico por aqui no primeiro texto de memórias do ano de 2022, 15º texto desta série. Sigo estudando muito, como disse no título desta postagem. Se não tivesse estudado ao longo dos 16 anos de mandatos o movimento sindical, suas correntes políticas, a história das lutas de classe e das organizações do movimento, eu teria muito mais dificuldades para compreender por que algumas coisas acontecem em nossos sindicatos e na organização do movimento sindical.
Estudando e refletindo compreendo um pouco melhor o fato de não ter sido incluído nos debates sobre Previ e Cassi em meu sindicato de base em dezembro passado. Como diz Hobsbawm, a questão principal não é julgar, é compreender, mesmo quando temos dificuldades para compreender as atitudes e ações tomadas por pessoas e instituições de nossa vida social.
Tenho ouvido alguns intelectuais que estão me fazendo pensar e refletir sobre minha vida no movimento sindical e sobre o nosso país: Mauro Iasi, Sabrina Fernandes, José Paulo Netto, Miguel Nicolelis são alguns dos intelectuais que têm me ajudado a entender o mundo. E sigo com a literatura, lógico, porque um ser humano sem leitura de cultura é um ser humano com menos ferramentas para o viver.
William
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E aqui para ler o texto seguinte, o Memórias (XVI).
Bibliografia:
HOBSBAWM, Eric. Era dos extremos - O breve século XX 1914-1991. São Paulo. Companhia das Letras, 1995. 2ª edição, 33ª reimpressão, 2006.