Artigo de contribuição aos debates*
O QUE VOCÊ VAI FAZER HOJE?
Quais são os objetivos, as estratégias e as táticas?
1. Pergunto aos leitores e leitoras: vocês têm respostas para essas perguntas? Aí vocês me perguntam: - mas quais são os objetivos, as estratégias e as táticas em relação a que, a quem?
2. Perfeito! Essas questões poderiam e deveriam ser o nosso Norte em relação a quase tudo em nossas existências privadas, pessoais, coletivas, como grupos políticos, como empresas capitalistas, como organizações humanas etc.
3. E junto a essas perguntas viriam outras que fazem parte dos planejamentos estratégicos para definir como alcançar objetivos de forma racional e engajada e com espaços para flexibilizações e correções durante a caminhada.
4. Dentro de um planejamento estratégico são definidos prazos de execução, pontos fortes e pontos fracos do grupo, da instituição ou da pessoa, quais ferramentas e com que material humano se conta, o papel que cada pessoa vai desempenhar e mais questões que possam ser necessárias.
5. Amig@s, é difícil chegar a algum lugar se não sabemos sequer para onde queremos ir. Lembram da Alice falando com o coelho no País das Maravilhas?
6. Durante 16 anos fui dirigente sindical, fui representante da classe trabalhadora, fui sindicalista, fui político, fui liderança sindical, fui militante... A forma de se apresentar pode ser também uma estratégia diante de um cenário ou de um contexto específico. Entendem o que quero dizer?
7. Quais são os objetivos da esquerda? Dos trabalhadores brasileiros? Dos bancários? Da central sindical ou confederação? Da federação ou associação? Do sindicato "a" ou "b"? Da diretoria do sindicato? Do coletivo de determinado banco dentro do sindicato de bancários? Do dirigente com mandato naquele sindicato? Do cidadão que é dirigente?
8. No mundo da luta de classes, das disputas ideológicas, da sobrevivência na sociedade humana, pessoas ou grupos organizados e com objetivos, estratégias e táticas para se alcançar os objetivos têm mais chances de alcançar sucesso do que pessoas e grupos que só vão vivendo de acordo com os acasos ou objetivos surgidos a cada amanhecer.
9. Eu percebi a importância dessas perguntas acima muito mais claramente quando me tornei sindicalista ao ser eleito para um mandato no Sindicato dos Bancários de São Paulo, Osasco e região em 2002, aos 33 anos de idade. Eu já tinha experiência de vida como se vê pela idade e já tinha experiência de trabalho bancário porque havia trabalhado 2 anos no Unibanco e já estava há quase 10 anos no Banco do Brasil. (a palavra "sindicalista" é trabalhada de forma pejorativa e negativa pela imprensa do capital. Conforme o contexto, mais conservador ou não, eu me apresentava como "dirigente sindical" ou "representante dos trabalhadores"; avaliava na hora)
10. Tudo muda o tempo todo, o mundo muda diariamente porque a todo instante os seres humanos estão criando e desenvolvendo novas tecnologias ou porque eventos naturais alteram o mundo material. Mudança é uma constante universal. Mudança é uma das poucas certezas que temos quando se fala do universo e das formas de vida. O mundo do trabalho muda o tempo todo. O pior é que a tendência é sempre piorar para a imensa maioria que vive de vender sua força de trabalho, principalmente no modo de produção capitalista.
11. No entanto, sou da opinião que por mais que as coisas mudem o tempo todo, algumas experiências humanas continuam nos dando suporte para enfrentar as mudanças que ocorrem tanto por causas naturais como por interferência humana. E os planejamentos estratégicos feitos com a participação de todas as pessoas envolvidas em algum momento da definição dos objetivos, das estratégias e táticas a balizarem uma organização qualquer podem ser a diferença entre vencer ou perder, alcançar objetivos ou não alcançar nada e ainda ver tudo ser perdido.
12. Se voltarmos ao que já escrevi acima, no item 7, posso afirmar que aquelas perguntas balizaram meus 16 anos de mandatos eletivos de trabalhadores. Após ser eleito dirigente, tive que refletir e mudar comportamentos pessoais que achava inadequados. Tive que estudar muito para saber quais eram os princípios da esquerda. Estudar as concepções e práticas sindicais da CUT, conhecer a história do movimento ao qual eu agora representava formalmente.
13. E mais. Entendi que havia técnica na organização sindical na qual eu me tornava dirigente. Meus companheiros e companheiras de coletivo de banco contribuíram para que soubesse quais eram nossos objetivos, nossas estratégias e táticas e onde queríamos chegar em determinados momentos. Com a participação de todos, nós definíamos o papel de cada um naquela organização. Havia cobrança e havia solidariedade nas dificuldades enfrentadas por cada dirigente. Conforme o fórum que frequentava, novos conhecimentos, novos objetivos coletivos, novos pertencimentos de classe.
14. Um planejamento estratégico que ajudamos a construir nos permite sentir pertencimento a alguma coisa, e ao olhar para trás é muito claro isso para mim. Durante os 16 anos de mandatos, de militância em organizações da classe trabalhadora, eu acordava todos os dias sabendo o que iria fazer, noções do que estava acontecendo, o que precisava estudar, as pessoas que deveria contatar etc. Eu pertencia a alguma coisa, eu tinha um Norte. Mas quando titubeava, quando estava perdido nas discussões internas, os mais experientes diziam: - vá para a base conversar com os trabalhadores, você vai voltar sabendo o que está fazendo aqui no movimento.
15. Amig@s, foi assim quando fui dirigente que organizava os bancários de todos os bancos na regional Osasco com um roteiro de agências; foi assim quando organizava os bancários do Banco do Brasil em duas regionais do Sindicato - Osasco e Oeste; foi assim quando fui responsável por complexos como o BB da São João. E foi assim em todas as tarefas que desempenhei, fossem elas na Executiva do Sindicato, na Contraf-CUT como secretário de imprensa depois de formação, como coordenador das negociações do BB e foi assim no mandato na diretoria de saúde da Cassi.
16. Os planejamentos estratégicos que participei e ajudei a construir com minhas opiniões ao longo de 16 anos foram a base de meu acordar todas as manhãs para sair para nossas lutas de classes, para alcançar nossos objetivos. Quantos dias eu estive mal, sem forças para levantar-me? Muitos! Mas saber o que eu deveria fazer, que aquilo só dependia de mim, me fez ter energia e gana mesmo dormindo pouco como, por exemplo, por 4 anos na Cassi (tínhamos planejamento estratégico do mandato!), me fez estudar, ir aonde fosse necessário, me fez ser flexível nas táticas, mas nunca nos princípios e objetivos. Me fez humilde, me fez forte. Nunca me esqueci quem representava, de que lado estava nas discussões com a patronal.
17. É isso! Me parece que os desafios e as tormentas foram tantos após o golpe de Estado contra nós que temos muitas frentes de batalha ao mesmo tempo com os ataques a todos os nossos direitos e talvez por isso, até hoje, não tenhamos conseguido organizar nossos planejamentos estratégicos partidários, sindicais, coletivos e até pessoais para nos nortear diariamente e para avaliarmos a cada tempo se avançamos ou se temos que readequar aquilo que não avançamos na luta para retomar nosso país, nossos direitos e nossas vidas da classe trabalhadora. Tod@s estão trabalhando muito! Acredito que é possível derrotarmos essa extrema direita, essa minoria violenta e antidemocrática que ascendeu ao poder após o golpe de 2016 contra o Brasil e o povo brasileiro.
18. E aí, você tem claro quais são as suas tarefas nesse dia de hoje? Quais os objetivos imediatos, de médio e longo prazo nas frentes nas quais você está participando? Qual o objetivo neste semestre de 2021? E para 2022? E até 2025? Há um grupo organizado contigo perseguindo esses objetivos hoje, vocês se reúnem, prestam contas, aferem avanços e avaliam o que deve ser melhorado e corrigido? Sabemos que mesmo durante a pandemia já é possível nos reunirmos pelos aplicativos como fazíamos as reuniões de trabalho presenciais.
19. Nossos inimigos e nossos adversários estão mais organizados hoje do que antes, do que já vi nesses meus 52 anos de vida. Temos que construir planejamentos estratégicos que nos unifiquem, com estratégias e táticas que deem Norte e pertencimento a cada pessoa que se disponha a nos ajudar a mudar essa desgraça toda que destrói nossas vidas e nossos mundos.
Abraços e boas lutas a todas e todos. Desejo que cada militante de nosso movimento de esquerda alcance seus objetivos pessoais e coletivos.
William Mendes
Ex-dirigente sindical bancário e ex-diretor eleito da Caixa de Assistência dos Funcionários do Banco do Brasil
* publicado originalmente no site Agora é para todos