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25.8.21

Quais são os objetivos, as estratégias e as táticas?



Artigo de contribuição aos debates* 


O QUE VOCÊ VAI FAZER HOJE?

Quais são os objetivos, as estratégias e as táticas?

1. Pergunto aos leitores e leitoras: vocês têm respostas para essas perguntas? Aí vocês me perguntam: - mas quais são os objetivos, as estratégias e as táticas em relação a que, a quem? 

2. Perfeito! Essas questões poderiam e deveriam ser o nosso Norte em relação a quase tudo em nossas existências privadas, pessoais, coletivas, como grupos políticos, como empresas capitalistas, como organizações humanas etc.

3. E junto a essas perguntas viriam outras que fazem parte dos planejamentos estratégicos para definir como alcançar objetivos de forma racional e engajada e com espaços para flexibilizações e correções durante a caminhada.

4. Dentro de um planejamento estratégico são definidos prazos de execução, pontos fortes e pontos fracos do grupo, da instituição ou da pessoa, quais ferramentas e com que material humano se conta, o papel que cada pessoa vai desempenhar e mais questões que possam ser necessárias.

5. Amig@s, é difícil chegar a algum lugar se não sabemos sequer para onde queremos ir. Lembram da Alice falando com o coelho no País das Maravilhas?

6. Durante 16 anos fui dirigente sindical, fui representante da classe trabalhadora, fui sindicalista, fui político, fui liderança sindical, fui militante... A forma de se apresentar pode ser também uma estratégia diante de um cenário ou de um contexto específico. Entendem o que quero dizer?

7. Quais são os objetivos da esquerda? Dos trabalhadores brasileiros? Dos bancários? Da central sindical ou confederação? Da federação ou associação? Do sindicato "a" ou "b"? Da diretoria do sindicato? Do coletivo de determinado banco dentro do sindicato de bancários? Do dirigente com mandato naquele sindicato? Do cidadão que é dirigente?

8. No mundo da luta de classes, das disputas ideológicas, da sobrevivência na sociedade humana, pessoas ou grupos organizados e com objetivos, estratégias e táticas para se alcançar os objetivos têm mais chances de alcançar sucesso do que pessoas e grupos que só vão vivendo de acordo com os acasos ou objetivos surgidos a cada amanhecer.

9. Eu percebi a importância dessas perguntas acima muito mais claramente quando me tornei sindicalista ao ser eleito para um mandato no Sindicato dos Bancários de São Paulo, Osasco e região em 2002, aos 33 anos de idade. Eu já tinha experiência de vida como se vê pela idade e já tinha experiência de trabalho bancário porque havia trabalhado 2 anos no Unibanco e já estava há quase 10 anos no Banco do Brasil. (a palavra "sindicalista" é trabalhada de forma pejorativa e negativa pela imprensa do capital. Conforme o contexto, mais conservador ou não, eu me apresentava como "dirigente sindical" ou "representante dos trabalhadores"; avaliava na hora)

10. Tudo muda o tempo todo, o mundo muda diariamente porque a todo instante os seres humanos estão criando e desenvolvendo novas tecnologias ou porque eventos naturais alteram o mundo material. Mudança é uma constante universal. Mudança é uma das poucas certezas que temos quando se fala do universo e das formas de vida. O mundo do trabalho muda o tempo todo. O pior é que a tendência é sempre piorar para a imensa maioria que vive de vender sua força de trabalho, principalmente no modo de produção capitalista.

11. No entanto, sou da opinião que por mais que as coisas mudem o tempo todo, algumas experiências humanas continuam nos dando suporte para enfrentar as mudanças que ocorrem tanto por causas naturais como por interferência humana. E os planejamentos estratégicos feitos com a participação de todas as pessoas envolvidas em algum momento da definição dos objetivos, das estratégias e táticas a balizarem uma organização qualquer podem ser a diferença entre vencer ou perder, alcançar objetivos ou não alcançar nada e ainda ver tudo ser perdido.

12. Se voltarmos ao que já escrevi acima, no item 7, posso afirmar que aquelas perguntas balizaram meus 16 anos de mandatos eletivos de trabalhadores. Após ser eleito dirigente, tive que refletir e mudar comportamentos pessoais que achava inadequados. Tive que estudar muito para saber quais eram os princípios da esquerda. Estudar as concepções e práticas sindicais da CUT, conhecer a história do movimento ao qual eu agora representava formalmente.

13. E mais. Entendi que havia técnica na organização sindical na qual eu me tornava dirigente. Meus companheiros e companheiras de coletivo de banco contribuíram para que soubesse quais eram nossos objetivos, nossas estratégias e táticas e onde queríamos chegar em determinados momentos. Com a participação de todos, nós definíamos o papel de cada um naquela organização. Havia cobrança e havia solidariedade nas dificuldades enfrentadas por cada dirigente. Conforme o fórum que frequentava, novos conhecimentos, novos objetivos coletivos, novos pertencimentos de classe.

14. Um planejamento estratégico que ajudamos a construir nos permite sentir pertencimento a alguma coisa, e ao olhar para trás é muito claro isso para mim. Durante os 16 anos de mandatos, de militância em organizações da classe trabalhadora, eu acordava todos os dias sabendo o que iria fazer, noções do que estava acontecendo, o que precisava estudar, as pessoas que deveria contatar etc. Eu pertencia a alguma coisa, eu tinha um Norte. Mas quando titubeava, quando estava perdido nas discussões internas, os mais experientes diziam: - vá para a base conversar com os trabalhadores, você vai voltar sabendo o que está fazendo aqui no movimento.

15. Amig@s, foi assim quando fui dirigente que organizava os bancários de todos os bancos na regional Osasco com um roteiro de agências; foi assim quando organizava os bancários do Banco do Brasil em duas regionais do Sindicato - Osasco e Oeste; foi assim quando fui responsável por complexos como o BB da São João. E foi assim em todas as tarefas que desempenhei, fossem elas na Executiva do Sindicato, na Contraf-CUT como secretário de imprensa depois de formação, como coordenador das negociações do BB e foi assim no mandato na diretoria de saúde da Cassi.

16. Os planejamentos estratégicos que participei e ajudei a construir com minhas opiniões ao longo de 16 anos foram a base de meu acordar todas as manhãs para sair para nossas lutas de classes, para alcançar nossos objetivos. Quantos dias eu estive mal, sem forças para levantar-me? Muitos! Mas saber o que eu deveria fazer, que aquilo só dependia de mim, me fez ter energia e gana mesmo dormindo pouco como, por exemplo, por 4 anos na Cassi (tínhamos planejamento estratégico do mandato!), me fez estudar, ir aonde fosse necessário, me fez ser flexível nas táticas, mas nunca nos princípios e objetivos. Me fez humilde, me fez forte. Nunca me esqueci quem representava, de que lado estava nas discussões com a patronal.

17. É isso! Me parece que os desafios e as tormentas foram tantos após o golpe de Estado contra nós que temos muitas frentes de batalha ao mesmo tempo com os ataques a todos os nossos direitos e talvez por isso, até hoje, não tenhamos conseguido organizar nossos planejamentos estratégicos partidários, sindicais, coletivos e até pessoais para nos nortear diariamente e para avaliarmos a cada tempo se avançamos ou se temos que readequar aquilo que não avançamos na luta para retomar nosso país, nossos direitos e nossas vidas da classe trabalhadora. Tod@s estão trabalhando muito! Acredito que é possível derrotarmos essa extrema direita, essa minoria violenta e antidemocrática que ascendeu ao poder após o golpe de 2016 contra o Brasil e o povo brasileiro.

18. E aí, você tem claro quais são as suas tarefas nesse dia de hoje? Quais os objetivos imediatos, de médio e longo prazo nas frentes nas quais você está participando? Qual o objetivo neste semestre de 2021? E para 2022? E até 2025? Há um grupo organizado contigo perseguindo esses objetivos hoje, vocês se reúnem, prestam contas, aferem avanços e avaliam o que deve ser melhorado e corrigido? Sabemos que mesmo durante a pandemia já é possível nos reunirmos pelos aplicativos como fazíamos as reuniões de trabalho presenciais.

19. Nossos inimigos e nossos adversários estão mais organizados hoje do que antes, do que já vi nesses meus 52 anos de vida. Temos que construir planejamentos estratégicos que nos unifiquem, com estratégias e táticas que deem Norte e pertencimento a cada pessoa que se disponha a nos ajudar a mudar essa desgraça toda que destrói nossas vidas e nossos mundos.

Abraços e boas lutas a todas e todos. Desejo que cada militante de nosso movimento de esquerda alcance seus objetivos pessoais e coletivos.

William Mendes

Ex-dirigente sindical bancário e ex-diretor eleito da Caixa de Assistência dos Funcionários do Banco do Brasil

* publicado originalmente no site Agora é para todos


13.8.21

Cassi e seus planos de saúde, segundo a ANS



Dúvidas sobre a Cassi

Olá, prezad@s colegas da comunidade Banco do Brasil, lideranças dos trabalhadores e associad@s e colegas das entidades representativas!

Ao receber uma mensagem de uma colega do Banco do Brasil me perguntando algumas dúvidas que ela tem em relação à nossa Caixa de Assistência - a Cassi -, e o "Cassi Essencial", pensei por alguns instantes qual seria a melhor forma de responder para ela e fui ao site da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) para balizar minha resposta.

A colega me disse que ficou com dúvidas após participar de um excelente debate promovido pelo sindicato dos bancários da base dela (suponho eu) sobre o Cassi Essencial, "produto" lançado pela direção atual da nossa Caixa de Assistência.

A dúvida da colega seria a respeito de haver ou não vários CGC (CNPJ) em relação aos planos de saúde da Cassi e qual a relação desses planos com os donos da Caixa de Assistência, os associados.

De forma simples, podemos dizer o seguinte. A nossa associação, nossa autogestão Cassi, é uma operadora de planos de saúde com um único CNPJ 33.719.485/0001-27. A Cassi está registrada na ANS sob o número 346659. Então, não há vários CNPJ - esses dados são públicosDito isso, vamos adiante.

O que temos em relação à Cassi são alguns registros de planos de saúde em operação ou não ("comercialização", segundo a ANS). Segundo a agência reguladora, a Cassi tem alguns planos "liberados" ou "suspensos pela ANS". O nosso, o dos funcionários da ativa e aposentados, é o plano de saúde com o registro nº 001.

Depois desse registro do "Plano de Associados", temos o do 1º plano de saúde lançado em 1997 para os familiares, o "Cassi Família I", registro nº 100. Após mudanças na legislação dos planos de saúde, a Cassi lançou em 1999 o "Cassi Família II", registrado na ANS sob o nº 467554121 (está como "Cassi Família").

SURPRESAS - Para minha surpresa, além de encontrar o registro do novo plano lançado pela direção atual, o "Cassi Essencial", registrado sob o nº 487460209, consta na ANS mais dois planos locais, com nomes "Cassi BH Apartamento" e "Cassi BH Enfermaria". Pois é! 

SUSPENSO - O susto maior foi ver que o Plano de Associados está suspenso pela ANS. Eu não sabia! Vocês sabiam, prezad@s leitores? Por não estar acompanhando o dia a dia de nossa autogestão, pode ser que eu não tenha visto algo a respeito. O site da ANS informa que as informações são do dia da consulta, ou seja, de 13/8/21.

Aí a colega pergunta se somos proprietários dos outros planos também, dos demais planos ou "produtos" como diz a direção atual? 

A CASSI É DOS ASSOCIADOS E A CASSI TEM PLANOS DE SAÚDE

Entendo que a Cassi é essencialmente o nosso Plano de Associados, a autogestão em saúde existe por causa desse plano dos trabalhadores da empresa pública Banco do Brasil.

A Caixa de Assistência dos Funcionários do Banco do Brasil, através do Plano de Associados, é hoje um sistema de saúde privado, dos trabalhadores da ativa e aposentados, com custeio mutualista, solidário e intergeracional. 

SISTEMA PRÓPRIO DE MEDICINA DE FAMÍLIA (ESF) - Até o momento e se não for desmontado, a Cassi é um sistema de saúde com uma estrutura própria de atenção primária, através da Estratégia Saúde da Família, organizada por unidades de atendimento CliniCassi e quadro próprio de equipes de família.

NOSSA CASSI pode até ter outros planos de saúde para familiares, os tais "produtos", mas sem o fortalecimento e manutenção do Plano de Associados e da estrutura própria CliniCassi e Equipes de Família, a Cassi não existe e não existirá mais. 

Não adianta inventar "produtos" se a caixa mutualista solidária e intergeracional de assistência dos funcionários da ativa e aposentados for inviabilizada pelas direções da empresa BB e dela própria. 

Por isso é tão sério colocarem em risco a existência do nosso plano solidário e a estrutura própria, terceirizando tudo e não atuando para inscrever nossos associados ao longo do tempo.

É o que penso.

William Mendes

8.8.21

Encontro de trabalhadores do BB



Desejo unidade, paciência e tolerância às lideranças e representações dos bancários e das classes trabalhadoras e populares do nosso Brasil sequestrado

Domingo, 8 de agosto, Dia dos pais

Depois de muitos dias de frio em São Paulo e nas regiões Sudeste e Sul do Brasil, o domingo dos pais foi de calor e sol. Pela janela de casa, vi que o dia convidava para uma caminhada, corrida ou pedalada. Mas não saí de casa. Fiquei sentadinho na frente da tela do computador o dia todo. Assisti à transmissão do encontro anual dos trabalhadores do BB.

Estamos no segundo ano da pandemia mundial de Covid-19. O mundo mudou. Mudou para pior em relação a um período anterior das lutas de classe. Só a pandemia já matou tantos amig@s e pessoas queridas que nossas vidas nunca mais serão as mesmas. 

Pelo segundo ano seguido eu não fui visitar os pais nesta data de confraternização e fazer a romaria de 75 Km em Minas Gerais. Naquilo que é possível, seguimos as recomendações de não aglomerar e expor as pessoas ao vírus. Hoje tudo é virtual. Quase tudo. O mundo mudou muito. (a frase-verso é até um murmúrio, uma lamúria)

Ao longo do dia, fiquei pensando a respeito de algumas questões abordadas pelos palestrantes e participantes do encontro dos colegas do BB. Vivi duas décadas naquele espaço social, em boa parte do tempo como um dos responsáveis pelos trabalhos e por encaminhar as resoluções decididas ali naquele espaço de organização política e luta de classes (ou, muitas vezes, de luta interna dentro da classe...).

Após assistir ao encontro dos bancários e bancárias o dia todo, ainda vi uma excelente entrevista da presidenta Dilma Rousseff ao Canal Resistentes, retransmitida pela TV 247. Ouvir a Dilma é sempre algo impactante! Que mulher! Que guerreira! É muito inspirador o exemplo de figuras como Dilma, Lula, Genoino e outras grandes lideranças imprescindíveis das lutas do povo.

Antes de mais nada, quero registrar aquelas formalidades necessárias, e sinceras. Deixo meus cumprimentos aos companheiros e companheiras da organização do 32º CNFBB, encontro organizado pela Contraf-CUT, federações e sindicatos da categoria. Além de parabenizar a realização de mais esse encontro, parabenizo a temática debatida, a escolha dos palestrantes e a condução dos trabalhos. Desejo que a classe trabalhadora resista e mude a tendência do que vem por aí contra nós.

COMO MUDAR A REALIDADE SEM A PARTICIPAÇÃO DO POVO, SÓ COM IDEIAS DE VANGUARDA?

Ao me atualizar a respeito do Banco do Brasil - através das apresentações dos palestrantes - e ao ouvir algumas questões levantadas pelos palestrantes e participantes, vi um filme em minha memória e também refleti sobre as dificuldades que esta geração que está na organização das lutas deve estar enfrentando. Que dureza! 

Quando cheguei ao movimento organizado da classe trabalhadora, eu tinha pouca noção de política. Isso faz parte da formação do povo trabalhador brasileiro (a desinformação política). Consigo me colocar um pouco no lugar do outro (trabalhador/a) porque aprendi política com o movimento estudantil e sindical. Mas quantas pessoas tiveram acesso à formação política? Imaginem agora, após o golpe, Temer, Bolsonaro e o enfraquecimento dos sindicatos? 

Sem a oportunidade de ser politizado pelo movimento sindical eu poderia ser um bolsonarista, um manipulado dos ideólogos da casa-grande, um branco de origem humilde que acreditasse na "meritocracia" porque passei em concurso público e fiz faculdade pública. As ferramentas do capital são muito foda para manipular o povo com essa ideologia da classe dominante. 

E por que falo isso? Porque temos dificuldade para lidar com colegas, familiares e conhecidos que se tornaram bolsonaristas, que se tornaram pessoas odiosas e apoiadoras de tudo quanto é ideia e pensamento de direita. E como vamos mudar essa realidade hoje e no próximo período? Como? Essa é uma das questões centrais de nossa vida! Para mudar o destino do Banco do Brasil temos que mudar a direção do Brasil, o governo! É difícil entender isso? (O pior é que é)

As leituras de cenários, os objetivos, estratégias e táticas para mudarmos a realidade social, do mundo do trabalho, da luta de classes são discussões antigas. Na minha idade, já vi repetidamente por 3 décadas algumas das questões debatidas no movimento sindical bancário - estatizar o sistema financeiro, o BB ser 100% público, ocupar cargos no banco público só por concurso e ou processos seletivos ou eletivos.

Nesse sentido, gostei das argumentações do Sérgio Rosa e do Vidotto nos debates de hoje. Durante minha aprendizagem no movimento sindical, várias questões como aquelas que citei acima me eram passadas de forma que eu não fizesse somente as proposições, muitas delas "radicais" ou de vanguarda, sem a devida estratégia para tal. Para propor algo, eu tinha que propor a forma de chegar até aquele objetivo. Isso não é algo tão simples.

BB 100% público - Vidotto perguntou como se daria isso? De forma geral, temos duas possibilidades: pelo fato de o BB ser uma empresa pública de economia mista, ele tem ações nas mãos de investidores. Para se atingir o objetivo daquela proposta ou se expropria os investidores ou se adquire o total de ações nas mãos de terceiros: é muita grana! E aí? Qual delas é factível de se realizar no atual cenário?

Esse é um exemplo dos dilemas que a classe trabalhadora e as organizações de classe enfrentam sobre como mudar a realidade objetiva. A gente não consegue ter o povo com a gente!

Não vou me alongar não. Aliás, já me alonguei demais.

Conseguiremos unidade no campo da esquerda? Conseguiremos unidade na suposta oposição ao projeto em andamento no Brasil após o golpe de Estado? Análises políticas avaliam risco real de ruptura democrática maior que a do golpe de 2016. Teremos força para evitar ou reverter isso? 

A missão de organização e condução das lutas da classe trabalhadora está cada dia mais difícil e complexa. Desejo unidade, paciência e tolerância às lideranças e representações dos bancários e das classes trabalhadoras e populares do nosso Brasil sequestrado.

William

4.8.21

Cassi 2021 - Questões abordadas com bancári@s (MG)



Apresentação:

Tive a oportunidade de conversar com as bancárias e bancários de Minas Gerais no encontro estadual realizado na semana passada, evento preparatório para o 32º Congresso Nacional dos Funcionários do Banco do Brasil. Falamos a respeito de questões relativas à nossa Caixa de Assistência (Cassi).

Fiz um breve histórico de nossas conquistas com a criação da associação em 1944, hoje uma autogestão responsável pela saúde de quase 700 mil pessoas.

Após a síntese da apresentação, que contém opiniões minhas em relação à Cassi, deixei algumas questões e as respostas que dei a elas, afinal de contas num encontro com trabalhadores, a voz e a vez deles é o que mais importa.

Espero que as informações aqui possam incentivar os debates e estudos aos que lerem o resumo abaixo.

William Mendes
Ex-diretor de saúde da Cassi (2014/18)

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Apresentação feita para o Encontro estadual dos bancários e bancárias de Minas Gerais 2021

Cassi 2021 – Breve histórico da luta por direitos em saúde e ameaças existenciais para a autogestão

Temas relevantes para reflexões e debates no movimento d@s trabalhador@s, associad@s e entidades representativas


- A Caixa de Assistência é uma autogestão, é basicamente o Plano de Associados e a Cassi só tem sentido se o foco for a manutenção desse plano e ele só se mantém se for um sistema de custeio solidário, intergeracional e mutualista;

- Foi criada em 1944, muito antes do atual sistema público de saúde (SUS) e órgãos regulatórios como a própria ANS;

- Reforma Estatutária de 1996: alterações importantes foram feitas. Passou a ser autônoma e não mais dentro do RH do BB; definiu-se como objetivo do modelo assistencial a Atenção Integral à Saúde; o debate contou com a expertise de sanitaristas; o foco passou a ser a gestão da saúde da população assistida – cerca de 400 mil pessoas do Plano de Associados –; objetivos do modelo: prevenção de doenças e promoção de saúde, recuperação e reabilitação de pessoas adoecidas;

- Novo custeio na Reforma de 1996: o banco (4,5%) e os associados (3%) sobre a folha de ativos e aposentados; e criação de estrutura própria nas regiões do país para organizar o sistema de cuidados naquelas bases de assistidos - unidades administrativas e de atendimento em saúde (CliniCassi);

- O modelo assistencial seria a essência da mudança no uso dos recursos da Cassi (antes era ressarcir e pagar serviços de saúde do mercado). Os recursos da Caixa sempre foram baseados nos salários e benefícios dos associados. Lembrar que a inflação médica é de 10 a 20% ao ano no mercado (maior que reajustes anuais dos associados). OPINIÃO: Investir em usar mais o mercado de prestadores é um equívoco como tem feito a atual direção 2021. É retroceder no que era a Cassi antes da reforma de 1996;

- Atenção Primária em Saúde (APS): foram testados modelos entre 1996 e 2001 e a Estratégia Saúde da Família (ESF) foi a escolha definida para a Cassi: equipes de família em unidades de atendimentos CliniCassi + programas de saúde. O uso da rede de prestadores seria mais racional e não por incentivo de buscar prestadores à vontade, de acordo com supostas necessidades e desejos dos usuários do sistema (ideia geral do modelo, temos modelos centralizados e descentralizados);

- 1997: ocorre o lançamento do Cassi Família para parentes dos associados. O modelo de plano de saúde não poderia ter menos direitos do que o dos funcionários (imaginem dentro de uma família, direitos diferentes...). OPINIÃO: hoje a direção 2021 fala que os novos planos (tipo Cassi Essencial) com menos direitos e coberturas e menos redes de atendimento é uma "alegria" pois isso seria uma “inclusão”. Isso é no mínimo um exagero! O plano aberto atualmente, o Cassi Família (II), não tem franquia nem coparticipação, os outros terão;

- 1999: lançado o Cassi Família II, com coberturas e regramentos adaptados às regras da ANS para planos de saúde. Foi necessário fechar o CF I para a entrada de novos participantes e abrir esse novo;

- 2001: aprovação das regras do modelo assistencial no âmbito interno da Cassi;

- 2003: lançamento da Estratégia Saúde da Família (ESF) com o objetivo de cobrir toda a população do Plano de Associados e pelo menos os crônicos do Cassi Família (as metas constam nos relatórios anuais seguintes). Já era para toda a população do Plano de Associados estar cadastrada na ESF há muitos muitos anos;

SALTO NA HISTÓRIA PARA 2014, PERÍODO DE NOSSA PARTICIPAÇÃO NA GESTÃO

- 2014: a ESF tinha 155 mil cadastrados (de todos os planos) no meio do ano quando chegamos e a Cassi tinha 65 unidades de atendimento CliniCassi e a ESF não era o foco da direção do banco, que questionava a eficiência e a serventia do modelo e também a utilidade das CliniCassi. Tínhamos cerca de 150 equipes de família trabalhando nas unidades. Durante o mandato, ampliamos os cadastrados na ESF para 182 mil vidas (fora a rotatividade, ou seja, saldo de cadastrados a mais);

- 2014: Nos debates do orçamento para 2015, a parte patronal na direção da Cassi propôs diversas reduções de direitos em saúde dos associados da ativa e dos aposentados: propuseram aumentar para 4,5% a mensalidade (50% a mais), coparticipações maiores e franquia nas internações de 1.500 reais, reduções nos programas de saúde como o PAF etc. Eleitos rejeitam essas propostas: 2x2 e 4x4 na direção e CD (depois a patronal e a consultoria contratada por ela inventaram uma conversa que a gestão na Cassi era “impossível” porque não se decidia nada, ou seja, ao usar as regras de decisão e rejeitar o que a patronal queria fazer era "não decisão");

- 2015 a 2018: a patronal força o contingenciamento orçamentário e por anos não faz proposta viável e justa aos associados de reequilíbrio do Plano de Associados. Isso leva a Cassi e o Plano de Associados a uma situação mais agravada nos balanços contábeis e no caixa da autogestão (em 2016 houve um acordo provisório acordado entre as partes, um memorando de entendimento);

- 2015: a diretoria de saúde desenvolve com os profissionais da Cassi métodos científicos de aferição de eficiência do modelo assistencial ESF/CliniCassi. Os resultados são impressionantes: durante o mandato, em dezenas de apresentações públicas e internas, provamos o quanto a ESF economizava os recursos da autogestão e beneficiava a saúde dos cadastrados e vinculados ao modelo assistencial. Cadastrados e vinculados tinham de 10 a 30% menos despesas em relação aos não cadastrados ao modelo ESF, fora outros índices melhores;

- 2017 e 2018: o governo Temer (após o golpe de 2016) organiza ataques aos planos de saúde e direitos dos empregados de estatais. Reuniões secretas ocorrem na CGPAR. (as resoluções que fariam na CGPAR-23 seriam muito semelhantes às resoluções da CEE de 1996, da era FHC);

- 2018: os grandes questionamentos em relação à Cassi foram superados junto aos intervenientes do sistema: eficiência da ESF; baixo custo das CliniCassi e custo-benefício delas; o PAF havia completado o seu modelo de cobertura medicamentosa dos crônicos com entrega domiciliar: mais de 50 mil associados receberiam em casa em todas as localidades do país suas receitas médicas. E a direção do banco passou a valorizar e “aceitar” a importância da participação social no dia a dia da Cassi: conselhos de usuários, sindicatos e associações diversas;

- 2019: a Reforma Estatutária traz novos recursos para o orçamento da Cassi a partir de dezembro daquele ano;

- 2020: veio a pandemia Covid-19 a partir de março (no Brasil); um dos efeitos da pandemia naquele ano foi a redução de consultas, exames e procedimentos eletivos. A Cassi também acumulou recursos novos oriundos da Reforma 2019 e cobrando mais dos associados em coparticipações. No entanto, A ESF NÃO AVANÇOU NADA. O PAF teve reduções drásticas, quase o desfazimento do programa em relação ao que era antes para a manutenção da condição de saúde dos crônicos: são milhares de crônicos que não conseguem acessar o direito ou desistiram dele;

- 2020: veio o projeto de TERCEIRIZAÇÃO TOTAL do modelo assistencial de Estratégia Saúde da Família (ESF), com unidades de atendimento CliniCassi e equipes de saúde próprias. Base da terceirização: o piloto "Bem Cassi”, em Curitiba;

- 2020: a ferramenta de telemedicina para atender demandas de Covid-19 foi uma opção interessante para o contexto da pandemia. Depois viria a surpresa: a ferramenta seria usada para se somar à terceirização total e desfazer a estrutura de saúde do modelo de Atenção Integral APS/ESF/CliniCassi;

- 2021: a direção atual anuncia o lançamento de diversos planos de mercado para supostos “milhões” de familiares dos associados (público-alvo, segundo defensores dos planos). Reduções drásticas dos assistidos do Plano de Associados (382 mil até maio). OPINIÃO: os concorrentes do mercado de planos de saúde são infinitamente maiores e com mais poder de conquistar clientes nas áreas onde estão estabelecidos e eles têm estrutura própria em toda a cadeia de atendimento, diferente da Cassi (eles controlam os custos). Será muito difícil o sucesso dos planos de mercado da Cassi.


Enfim, esses tópicos apresentados foram apenas para situar o público para as reflexões e debates sobre a Cassi. São pontos de referência que escolhi para rememorar lutas dos associad@s, bancári@s e entidades sindicais em relação aos direitos em saúde na comunidade Banco do Brasil.

William Mendes

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Algumas perguntas e colocações feitas pelos participantes do encontro:

PERTENCIMENTO

É um tema central. Os associad@s são donos da Caixa de Assistência, além de usuários do sistema de saúde. É fundamental que as pessoas saibam o que é a autogestão Cassi para lutarem por ela e para utilizarem o sistema de forma consciente e solidária.

JUDICIALIZAÇÃO E RECLAMAÇÕES NA ANS

São questões muito importantes. Sabemos que existe uma indústria de judicialização na área da saúde, por diversos motivos, e a Cassi também sofre com essa questão (não entro no mérito de qual lado tem razão, cada caso é um caso). Quanto mais os associad@s compreenderem o papel da Caixa e como ela funciona, mais chances temos de evitar reclamações e judicialização. 

Já em relação aos planos de mercado da Cassi, é muito mais difícil evitar isso porque a relação entre os usuários e o sistema Cassi é outra, é praticamente comercial (sem pertencimento). Quando estive na Cassi, me debrucei sobre isso por quatro anos e vi que a judicialização nos planos de mercado é bem maior. O risco com esse monte de planos que pretendem lançar com menos direitos é evidente, na minha opinião.

CASSI FAMÍLIA PODERIA SER MAIS BARATO (CF I e CF II)?

Na minha opinião, seria possível fortalecer o modelo assistencial ESF e as CliniCassi vinculando a adesão ao modelo a descontos por ter a ESF como porta de entrada. REDUZIRÍAMOS o valor das mensalidades sem criar um monte de planos com menos direitos. Como os cadastrados vinculados à ESF têm despesas menores no uso da rede credenciada como os estudos demonstraram, todos ganhariam e o modelo APS/ESF/CliniCassi seria fortalecido. Observação: já poderíamos ter mais procedimentos nas CliniCassi, mais equipes de família e CliniCassi de especialidades como tínhamos proposto na gestão. E sem TERCEIRIZAR!

MIGRAÇÃO ENTRE OS PLANOS DENTRO DA CASSI

O grande risco é de associad@s migrarem para os planos de mercado por algum motivo, até por falta de orientação adequada, achando que em algum momento poderia ser mais vantajoso. Qualquer pessoa que tenha direito ao Plano de Associados não deveria jamais optar pelos outros planos de mercado. Cada pessoa que não exercer seu direito de aderir ao Plano de Associados estará abrindo mão da contribuição da parte patronal no custeio além dos benefícios e direitos maiores do Plano. E com o passar do tempo as pessoas acabam ficando sem plano, porque o valor das mensalidades nos modelos por tabela de idade expulsa os usuários quando mais precisam do plano.

(é uma síntese das questões. Foram abordados muitos temas interessantes, mas ficaria enorme a postagem para comentar todos eles)

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