Opinião
Olá, colegas bancários e colegas de entidades representativas da comunidade Banco do Brasil!
Como disse no texto anterior (ler aqui), o primeiro dessa série que vou fazer sobre algumas impressões e opiniões a respeito da nossa Caixa de Assistência (Cassi), vejo com preocupação algumas estratégias adotadas pela autogestão para atingir alguns objetivos desejados por todos os intervenientes ("stakeholders") da associação de trabalhadores para prestar Atenção Integral à Saúde a seus participantes.
A Cassi é para todos da comunidade BB ou só para uma parcela dos trabalhadores da ativa e aposentados? A Cassi é solidária ou só para aqueles que momentaneamente podem arcar com os altos custos da saúde? A questão central é: a Cassi é direito de todos ou privilégio?
Vou apresentar minha impressão e minha opinião a respeito de algumas das estratégias da Cassi que pedem atenção de seus associados e lideranças das entidades representativas, principalmente daquelas pessoas que conhecem minimamente temas como direitos trabalhistas, direitos sociais, gestão de saúde, direitos em saúde, sistemas de saúde, temáticas importantes para termos opinião sob a ótica dos trabalhadores e não só o olhar dos capitalistas e do patronato através de seus representantes indicados.
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ASSISTÊNCIA FARMACÊUTICA A CRÔNICOS (PAF: MAIS AUTONOMIA?)
Ano............................ crônicos assistidos
2017.......................... 53.308
2018.......................... 51.613
2019.......................... 47.859
2020.......................... 39.898
(dados dos relatórios anuais da Cassi)
Essa redução do acesso ao direito de uso do Programa de Assistência Farmacêutica, rápida redução de 13.410 pessoas, participantes, doentes crônicos, é uma coisa boa? Sob qual ótica? Ela foi boa para as pessoas? Será que essa redução de acesso aos materiais e medicamentos foi boa para os participantes do Plano de Associados? Quais serão os segmentos de participantes que não se beneficiaram do direito ao PAF em 2020? Seriam pessoas com mais ou menos recursos? Seriam pessoas residentes em grandes cidades ou em pequenas cidades? Seriam pessoas com mais acesso a tecnologia e ajuda de terceiros ou menos acesso a ajudas? Existe alguma tendência de redução de crônicos na atualidade? Será que as pessoas estão mais sadias nos últimos anos? Por fim, será que os doentes crônicos do Plano de Associados da Cassi estão medicados, estão estabilizados em suas condições crônicas?
Qual deveria ser o objetivo dos programas de saúde de um sistema de saúde cujo objetivo é promoção de saúde, prevenção de doenças, recuperação e reabilitação dos participantes identificados com problemas de saúde, inclusive doenças crônicas? Não seria fundamental medicar e monitorar os participantes crônicos de forma a mantê-los estáveis e sem agudizações de suas condições crônicas? Entregar o medicamento na casa dos doentes crônicos como fazíamos antes era interesse direto da Cassi porque dava qualidade de vida aos doentes e reduzia as despesas assistenciais na utilização da rede credenciada de alto custo.
Os associados do Plano de Associados têm os mesmos direitos na hora da procura por socorro, atendimento, isso é uma questão básica perante os contratos e leis, e se os crônicos não estiverem medicados e estabilizados e vierem a ter piora em suas condições de saúde, o plano de saúde vai ter que arcar com as despesas exponencialmente maiores como consequência da utilização de estruturas mais caras e complexas na rede prestadora de serviços. (infartos, AVC, amputação de membros nos casos de diabetes etc)
Pergunto: não seria interessante manter medicados e estabilizados justamente os participantes crônicos do Plano de Associados para evitar agudizações e piora de saúde e consequentemente procura por rede credenciada e internações, estejam eles onde estiverem, ou seja, naquelas localizações onde há oferta de estrutura de saúde e de medicamentos e naquelas localizações onde NÃO há estrutura adequada ou nenhuma, como alguns milhares de municípios do Brasil?
Pergunto de novo: deveria haver alguma diferença de tratamento na medicalização de pacientes crônicos de acordo com o local onde vivem, estejam eles nas capitais e metrópoles com toda infraestrutura de farmácias e drogarias, estejam eles naqueles milhares de municípios brasileiros e regiões onde não há praticamente estrutura alguma de saúde e de medicamentos?
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"Com isso, a Instituição estende a facilidade de acesso aos medicamentos de uso contínuo aos participantes de todo o país, residentes tanto na capital e regiões metropolitanas, quanto no interior dos Estados. Mais do que comodidade, a Cassi garante equidade no acesso a serviços e tecnologias em saúde e qualidade do cuidado de seus participantes." (matéria do site da Cassi)
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Em março de 2018, a Cassi anunciava aos associados que finalmente havia conseguido igualar para o conjunto dos pacientes crônicos do Plano de Associados o direito a receber materiais e medicamentos por operador logístico, ou seja, a partir daquele momento TODOS os participantes estariam exercendo da mesma forma o uso do direito ao PAF ao receber em suas casas, todas as capitais e regiões do país, localidades com oferta de estrutura ou desabastecidas de estrutura de fornecimento de medicamentos, os remédios e materiais necessários para sua condição satisfatória de saúde, evitando assim agudizações de suas condições crônicas. O PAF havia sido aperfeiçoado por mais de 14 anos na Cassi.
REDUÇÃO DRÁSTICA DA LIMACA
Antes Depois Redução
Princípio ativo.......... 365 ........... 92 ............74,8%
Medicamentos.......... 2.985 ........ 1.167 .........60.9%
Materiais................... 143 ............ 31 ............78,3%
(Fonte: matéria site do Sindicato dos Bancários de São Paulo em 10/9/20)
Tenho a impressão e opinião de que a redução drástica da LIMACA e o desfazimento da distribuição de medicamentos e materiais por operador logístico aos associados de TODOS os municípios e regiões do país não foi uma opção vantajosa para os doentes crônicos da Cassi, porque um sistema de saúde tem que ser isonômico e atuar para atender a todos da forma mais igualitária possível, isso é solidariedade.
O PAF operacionalizado na forma anterior (ver aqui a reprodução da notícia de 13/3/18 da Cassi em matéria deste blog), após mais de uma década de aperfeiçoamento pela Cassi, era um programa de saúde solidário e isonômico, e contribuía para reduzir as despesas assistenciais na rede prestadora de serviços (o mercado e seus produtos), a rede onde a Cassi compra serviços com uma inflação médica que varia de 10% a 20% ao ano, com serviços de alta complexidade e mercado onde a Cassi tem capacidade limitada de impor tabelas de preços a pagar pelo serviço/produto vendido pelo conglomerado médico.
Entendo que todos ganharão caso avancem as negociações entre a Cassi, o patrocinador Banco do Brasil e as entidades representativas dos associados no sentido de ampliar as alternativas disponíveis na Lista de Materiais e Medicamentos Abonáveis Cassi (LIMACA) e na forma de se acessar o direito ao Programa de Assistência Farmacêutica (PAF), de forma que o conjunto dos participantes acometidos de uma ou várias doenças crônicas possam estar medicados e estabilizados, estejam eles nas capitais e regiões metropolitanas dos Estados, estejam eles nos interiores e regiões carentes de estruturas de saúde.
E VEM MAIS PROBLEMAS POR AÍ (COVID-19, FARMÁCIA POPULAR)
Aliás, por falar em doentes crônicos, alguém já leu alguma matéria a respeito das consequências duradouras dos efeitos do terrível vírus Sars-Cov-2 (Covid-19)? Os estudos têm demonstrado um número impressionante de sequelados após contraírem o novo coronavírus. Ao que parece, teremos daqui adiante uma população mundial, brasileira e de participantes da Cassi com mais problemas de saúde do que tínhamos antes de 2020. Não é uma preocupação a mais em mantermos estabilizados e medicados todos os nossos doentes crônicos como fazíamos na Cassi antes das reduções drásticas do PAF?
Matéria no Jornal da USP alerta para os prejuízos que serão causados ao Sistema Único de Saúde e o aumento dos custos no sistema de saúde por causa dos ataques que o programa Farmácia Popular vem sofrendo. Vejam abaixo e reflitam se não é a mesma preocupação que expressei acima em relação aos crônicos da Cassi e a redução dos direitos ao PAF.
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"Fim do Programa Farmácia Popular pode elevar custos da saúde
Sílvia Storpirtis afirma que internações hospitalares devem aumentar em decorrência das doenças crônicas se o programa, que distribui medicamentos gratuitamente, for extinto
A justificativa para acabar com o Programa Farmácia Popular é o plano de reformulação de políticas sociais do governo, que prevê cortes no orçamento. Em novembro de 2017, o governo já havia demonstrado a intenção de acabar com o programa, chegando a fechar 400 lojas da rede própria. No ano seguinte, cogitou reformular o modelo de pagamento para estabelecimentos particulares credenciados. Com 28 mil farmácias cadastradas, somente em 2019, o sistema foi responsável por atender 21,3 milhões de pessoas, oferecendo medicamentos gratuitos ou com descontos de até 90% para a população. Entre os remédios oferecidos estão os de uso contínuo para tratamento da asma, rinite, dislipidemia, diabete, hipertensão arterial, osteoporose e muitos mais.
“Como consequência do fim do Farmácia Popular, os custos dos sistemas de saúde vão aumentar muito, dado o elevado número de internações hospitalares em decorrência das doenças crônicas, que poderiam ser evitadas”, cita Sílvia Storpirtis, professora formada e aposentada pela Faculdade de Ciências Farmacêuticas da USP e vice-presidente da Sociedade Brasileira de Farmácia Clínica. O prejuízo será maior para o SUS, o que já vem ocorrendo nos últimos anos pela falta de investimentos. Segundo a professora Sílvia, “este não é um programa que deva ser extinto, mas aprimorado, porque é um avanço em relação à saúde no nosso país”."
Fonte: Jornal da USP, 17/9/20
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Próximos temas que pretendemos abordar em postagens:
- (D)EFICIÊNCIA OPERACIONAL (5,5%)
- TERCEIRIZAÇÃO DO MODELO ASSISTENCIAL DA CASSI ("BEM CASSI")
- ATENÇÃO PRIMÁRIA TERCEIRIZADA (ESF SOB RISCO SÉRIO DE CONTINUIDADE)
- NOVOS PLANOS DE MERCADO (ALTO RISCO PARA A CASSI)
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Esses temas elencados acima são outros temas que tenho algumas impressões e opiniões a respeito deles. Conhecendo um pouco a Cassi, a "indústria" da saúde e as tendências do mercado entendo que são questões preocupantes e que merecem atenção dos associados da autogestão.
Abraços,
William
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