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5.12.20

Dia da médica e do médico de família e comunidade



Opinião

Parabéns às médicas e médicos de família e nosso eterno agradecimento pelo trabalho que vocês realizam!

Ao acordar neste sábado, 5 de dezembro, vi que hoje é o dia dos profissionais de saúde que atuam na área de medicina de família e comunidade. A data comemorativa me trouxe diversas lembranças do tempo que trabalhamos como diretor de saúde na gestão da Caixa de Assistência dos Funcionários do Banco do Brasil, a Cassi.

O que poderia dizer a respeito do tema Medicina de Família e Comunidade e dos profissionais que atuam na área? Posso dizer da importância da medicina de família a partir da experiência de gestor de saúde. A Cassi só conseguiu passar duas décadas com praticamente os mesmos recursos de custeio num mercado de saúde com inflação médica absurda graças ao modelo implantado parcialmente de Estratégia Saúde da Família (ESF). 

Entre junho de 2014 e maio de 2018 tive a oportunidade de trabalhar como diretor de saúde de uma das maiores autogestões do país, a Cassi. Antes disso, meu conhecimento sobre Atenção Primária em Saúde, Medicina de Família e Comunidade e modelos de sistemas de saúde era o conhecimento geral que um representante dos trabalhadores tem ao negociar direitos com os patrões. Temos nossas assessorias técnicas e isso é de muita valia.

Ao ser eleito diretor de saúde da Cassi e iniciar o mandato, sabíamos que teríamos pela frente desafios em diversas frentes de atuação porque saúde é área de conhecimento específico, porque saúde é um dos principais embates nas relações entre capital e trabalho (assim como a jornada), porque saúde demanda recursos e a consequente discussão sobre quem financia e porque teríamos que politizar o tema saúde junto aos trabalhadores da ativa e aposentados, papel fundamental de um dirigente eleito.

Ao fazermos um planejamento estratégico nos primeiros 3 meses, fizemos um diagnóstico importante sobre o que era a Cassi, qual o papel dela do ponto de vista dos associados e seus direitos em saúde, o setor em que ela atuava, o papel do patrocinador, o modelo assistencial definido formalmente pelo estatuto e demais documentos da autogestão e as estratégias a perseguir ao longo de 4 anos de trabalho.

A partir do planejamento, ficou claro que papel tínhamos que desempenhar tanto do ponto de vista da diretoria de saúde, um papel mais técnico, quanto do ponto de vista de um dirigente eleito, um papel mais político. Vamos falar um pouco da diretoria de saúde, do modelo assistencial e do que fizemos naquele período. Estava claro para nós que eu teria que fazer um mandato muito próximo às bases da Cassi, as 27 unidades da federação e as 66 CliniCassi, bem como manter um diálogo permanente com as estruturas de representação dos associados e de gestão do Banco do Brasil, porque o modelo assistencial precisava ser apresentado e defendido pelo diretor de saúde. Assim fizemos!

A Cassi na qual trabalhamos entre 2014 e 2018 era uma Caixa de Assistência cuja essência era o Plano de Associados com cerca de 400 mil participantes entre funcionários da ativa, aposentados, pensionistas e dependentes. O modelo de custeio do plano era um modelo solidário, com financiamento de 40% dos custos assistenciais pelos associados e 60% pelo patrocinador (a base era 3% e 4,5% da remuneração ou benefício dos titulares do plano). O Cassi Família era um plano de custeio semelhante aos do mercado que visam lucro: cobrança por pessoa, por idade etc.

O modelo assistencial era de Atenção Integral à Saúde, a partir da Estratégia Saúde da Família (ESF) e das CliniCassi. Após anos de estudos técnicos e pilotos entre 1996 (Estatuto novo) e 2003 (lançamento do modelo ESF/CliniCassi) a Cassi passou a perseguir seus objetivos de estender para o conjunto dos associados o modelo assistencial com Atenção Primária, Medicina de Família, programas de saúde para acompanhar pacientes crônicos e demais benefícios do modelo preventivo e mais racional no uso dos recursos em todas as 27 Unidades da Federação.

Em 2014, A Cassi era uma desconhecida e isso era um dos principais entraves ao avanço do modelo assistencial. Além da incompreensão do modelo por parte dos patrocinadores - associados e banco -, faltava compreensão sobre o modelo APS/ESF/CliniCassi inclusive em setores internos da Cassi e nos apoiadores, conselhos de usuários, entidades representativas e lideranças dos associados. Com isso, a Cassi recebia críticas indevidas, processos na justiça, reclamações em órgãos de saúde etc. Até as entidades representativas "batiam" na Cassi como se ela fosse o banco, em seus embates trabalhistas.

Um de nossos papéis como diretor de saúde seria o de estudar a Cassi, seu modelo assistencial, ouvir os profissionais da área de saúde e defender a autogestão perante os associados e suas entidades, os formadores de opinião e nas relações com o patrocinador e seus representantes em todos os Estados/DF. Também definimos que iríamos provar que o modelo era exitoso, viável e que deveria ser expandido para o conjunto dos participantes da Cassi.

E assim fizemos. Nossa diretoria de saúde desenvolveu estudos com base nos mais de 600 mil participantes do sistema Cassi que comprovaram que os grupos de usuários vinculados à ESF (por níveis de complexidade) tinham despesas assistenciais na rede credenciada menores que os grupos de usuários não participantes do modelo. Diversas estratégias adotadas por nós deixaram claro para os intervenientes do sistema Cassi que o modelo assistencial e a estrutura da autogestão são eficientes, necessários e referência até para o mercado privado de saúde.

Foi um dos trabalhos mais gratificantes de minha vida profissional e política. Durante 4 anos estivemos nas bases da Cassi, ao lado das médicas e médicos de família, das equipes de saúde e dos gestores, defendendo o modelo, explicando como a Cassi funciona, pedindo apoio dos líderes e formadores de opinião e adesão à ESF por parte dos associados - trabalhadores da ativa e aposentados e familiares. Enquanto estivemos lá, defendemos os direitos dos trabalhadores da Cassi, e fizemos o que foi possível por eles mesmo durante a maior crise financeira da entidade. A Cassi segue sendo um excelente lugar para se trabalhar, apontam pesquisas recentes do mercado.

Eu me lembro das dezenas de reuniões que fizemos com as equipes de saúde da Cassi em todos os Estados e no DF. Estive em 42 das 66 CliniCassi e cada reunião com os profissionais da Cassi foi única, foi um aprendizado. Era muito gratificante ouvir da parte deles que nosso trabalho de gestor e líder na comunidade BB estava fazendo aumentar a adesão ao modelo APS/ESF e a compreensão do papel das CliniCassi.

O resultado do trabalho das equipes de gestão das unidades Cassi (27), das equipes da Sede em Brasília e dos profissionais das equipes de família (cerca de 150) foram tão exitosos que o aumento do número de cadastrados na Estratégia Saúde da Família (ESF), que saiu de cerca de 160 mil para 182 mil entre 2014 e 2018, se deu no período mais difícil da história da Caixa, por causa da questão do financiamento do sistema (os recorrentes déficits) e até hoje a ESF mantém o mesmo número de cadastrados, pelos dados que podemos ver.

Mais uma vez, deixo meu eterno agradecimento aos profissionais da Cassi, de todas as áreas, e principalmente ao trabalho amoroso e dedicado das equipes dos profissionais de saúde que não medem esforços para acolher os participantes do sistema Cassi mesmo quando os períodos são extremamente complicados como nesses tempos de pandemia de Covid-19 e de terraplanismo, período no qual os governantes atuam criminosamente até contra medidas de saúde preventivas como as campanhas de vacinação e de isolamento social para minimizar o contágio do novo coronavírus.

William Mendes


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