Apresentação do Blog:
Olá prezad@s associados da Cassi e companheir@s de lutas pela saúde,
Segue abaixo uma matéria divulgada neste domingo, denunciando algo que já temos abordado ao longo de nosso mandato como gestor da Caixa de Assistência dos Funcionários do Banco do Brasil, uma autogestão em saúde, organizada através do Modelo de Atenção Integral e Estratégia Saúde da Família (ESF). O mercado de serviços de saúde é um sistema fragmentado, desorganizado e não racional, permitindo abusos como a matéria denuncia.
A Cassi tem uma estrutura própria de Atenção Primária, as unidades CliniCassi, onde já temos cadastradas 182 mil pessoas cuidadas por equipes de família. Ao longo dos dois anos e meio de mandato, temos feito boletins que explicam nosso modelo assistencial, os gargalos a superar para reorganizar nosso sistema de serviços de saúde Cassi como, por exemplo, criar Redes Referenciadas, justamente para racionalizar o uso dos recursos da Cassi com exames e consultas, porque os participantes utilizariam a rede de prestadores (hospitais, clínicas e demais) com orientação a partir da própria Cassi, protegendo os assistidos de casos como esses relatados na matéria.
O Boletim Prestando Contas Cassi nº 29 aborda o tema das Redes Referenciadas, leia AQUI. E o Boletim nº 26 aborda o sistema integrado de saúde que a Cassi deveria estabelecer para o futuro sustentável, ler AQUI.
Outra questão que está em debate na Cassi (Plano de Associados) após o Memorando de Entendimentos e o Acordo com receitas extraordinárias para os anos de 2017, 2018 e 2019, incluindo uma consultoria paga pelo patrão patrocinador Banco do Brasil, é sobre a forma como a Cassi buscará o equilíbrio e a sustentabilidade nos próximos anos.
Como gestor eleito na área da saúde e a partir de nossos estudos e conhecimentos acumulados nesses quase 3 anos à frente da Cassi, temos opinião clara de que só com investimento já a partir deste ano na ampliação da cobertura da ESF, Atenção Primária, com mais equipes de família, de pronto atendimento e gestão na desinternação hospitalar (PAD), saltando de 182 mil para cerca de 220 mil participantes na ESF, teremos melhores perspectivas de uso dos recursos arrecadados pelo Plano de Associados. E poderemos lidar melhor com a alta conta que chega da rede de prestadores de serviços de saúde, orientando melhor as demandas e usos do sistema todo. Quando os pedidos de consultas e exames partem da Cassi, através do acompanhamento dos participantes cuidados, reduz-se o risco de problemas como a matéria expõe.
Também entendo que está na hora de abrir no mínimo mais 2 (duas) unidades CliniCassi onde há populações gigantes não cobertas pelo Modelo ESF/Atenção Primária. Uma unidade na grande São Paulo, e outra na capital do Rio de Janeiro.
Leiam a matéria abaixo e acompanhem nossas informações e opiniões através do Blog, dos Boletins e das reuniões presenciais que fazemos nas bases sociais da Cassi.
Abraços,
William Mendes
Diretor de Saúde e Rede de Atendimento (mandato 2014/18)
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(reprodução de matéria)
Atrás de prêmios, médicos indicam exames, cirurgias e internações sem necessidade
26 de fevereiro de 2017
26 de fevereiro de 2017
Foto de reprodução da matéria na Revista Fórum. |
Hospitais privados do país dão prêmios e benefícios a médicos pelo volume de exames, cirurgias, internações e outros métodos. A prática faz com que, muitas vezes, procedimentos desnecessários sejam realizados expondo pacientes a riscos e onerando planos de saúde. Há casos de médicos que ganham até estacionamento e lavagem de carro
(Da Redação da Revista Fórum, com Informações da Folha)
Hospitais privados do país dão prêmios e benefícios a médicos pelo volume de exames, cirurgias, internações e outros métodos. A prática faz com que, muitas vezes, procedimentos desnecessários são realizados expondo pacientes a riscos e onerando planos de saúde.
Quanto mais procedimentos, mais pontos ganham na avaliação – que inclui itens como fidelização, adesão aos protocolos clínicos e atuação em ensino e pesquisa.
O médico que soma mais pontos consegue mais reputação dentro do hospital e privilégios como presentes, descontos em exames para ele e seus familiares e prioridade no uso do centro cirúrgico.
Na condição de anonimato e de não identificar a instituição em que atuam, a Folha conversou com 12 médicos de hospitais de São Paulo, Rio de Janeiro, Porto Alegre e Salvador. Todos confirmam a existência de programas de benefícios em que o volume de procedimentos é considerado na premiação.
“O médico do pronto-atendimento que interna mais ganha mais pontos”, conta um médico do Rio de Janeiro. “Tem um médico que segura paciente internado sem necessidade só para gerar mais diária hospitalar”, relata um outro de São Paulo.
“Eu já ouvi pressões do tipo: ‘a ressonância precisa ser otimizada'”, afirma um médico de Porto Alegre (RS). “Aqui se pede exame de urina até para unha encravada”, diz outro de Salvador (BA).
A prática tem sido questionada por especialistas em ética e em gestão porque pode resultar em procedimentos desnecessários, que expõem pacientes a riscos, e no aumento do custo da saúde-a conta vai para os planos, e quem paga são os usuários.
“Não se pode atrelar a participação médica a nenhuma volumetria. Seria como remunerar bombeiro que apaga mais incêndios. Logo começariam a queimar casas para ganhar mais”, diz Francisco Balestrin, presidente da Anahp (Associação Nacional de Hospitais Privados).
Ele afirma que a prática não é “corrente” entre as instituições e que há vários programas pautados pela ética. Em março, a Anahp fará um evento com dirigentes para discutir um “mapa de riscos”, e os programas de benefícios entrarão na discussão.
Para o médico Yussif Ali Mere Jr., presidente da Federação e do Sindicato de Hospitais, Clínicas e Laboratórios, “a era de o médico fazer tudo o que quer e ser valorizado pelo hospital [por gerar mais lucro] tem que acabar”. “O custo é insustentável.”
Pedro Ramos, diretor da Abramge (Associação Brasileira de Planos de Saúde), diz que a entidade tinha informações sobre esses incentivos por volume, mas nunca conseguiu provar que eles existiam. Agora, deve pedir uma investigação sobre isso. “É inaceitável”, afirmou.
Para ele, a raiz do problema está no modelo de remuneração. Os hospitais ganham dos planos pela quantidade de serviços que prestam (“fee for service”), não pela qualidade da assistência que prestam ao paciente.
“Os hospitais estão cada vez mais ricos, e os planos cada vez mais pobres. É dramática a situação.” Em razão da crise econômica, os planos perderam mais de 2 milhões de usuários em dois anos.
Ali Mere Jr. também acredita que é preciso mudar o modelo de remuneração, mas discorda de Ramos. “Os hospitais estão mais caros, mas não mais ricos.”
EXCESSO NO USO
Gláucio Libório, presidente do Instituto Ética Saúde, critica programas que incentivam volume de procedimentos e diz que eles abrem brechas para crimes como os vistos na “máfia das próteses”.
A prática é investigada há dois anos pela Polícia Federal e ao menos 40 pessoas já foram indiciadas. Além de compras superfaturadas, que lesaram o SUS e os planos, em alguns casos cirurgias foram indicadas sem necessidade.
“Sou totalmente contra programas que envolvam volume. Médicos não podem receber nenhum benefício atrelado a quantidade de procedimentos de nenhum tipo.”
O cardiologista Luís Cláudio Correia, representante da Choosing Wisely no Brasil (campanha contra o excesso de exames e o sobrediagnóstico), não acredita que os programas tenham papel crucial em indicações excessivas ou desnecessárias de exames.
“A questão é mais cognitiva do que de premiação, de incentivo. Imagino que na ausência de qualquer conflito de interesse, o ‘overuse’ continuaria prevalente.”
Para o intensivista Guilherme Barcellos, que preside a Sociedade Panamericana dos Médicos Hospitalistas e também integra a Choosing Wisely, não é frequente nesses programas uma remuneração direta a médicos por indicações de procedimentos.
“Entram num combo que garante privilégios. Mais receita para o hospital e o médico vira 5 estrelas, ganha estacionamento grátis, lavagem do carro e coisas do tipo.”
EINSTEIN ‘EXPORTA’ PROGRAMA
Considerado modelo no setor, o programa de benefícios do hospital Albert Einstein está sendo replicado em outras oito instituições do país.
Segundo o presidente do hospital, Sidney Klajner, o programa de segmentação médica é usado como forma de fidelizar profissionais autônomos à instituição. São 70 indicadores que geram pontuações que classificam médicos como “premium, advance, evolution e special”.
Os indicadores são baseados em qualidade (adesão a protocolos, interação com a equipe), fidelização (número de pacientes trazidos para o hospital), filantropia (atividades voluntárias nos programa filantrópicos) e participação em ensino e pesquisa.
Klajner diz que o hospital valoriza mais a fidelidade do médico ao Einstein do que o volume de procedimentos.
“Médicos que têm cadastramento e internam pacientes em vários hospitais têm pontuação menor do que aqueles que estão exclusivamente no Einstein.”
Segundo ele, em relação a exames, para cada especialidade existe uma meta mediana esperada. “A partir dessa mediana não é contado mais nada. Estamos mais interessados que o médico peça o exame no Einstein e não no Fleury do que no volume.”
O Einstein vetou recentemente uma prática que poderia gerar conflito de interesse: postos de coleta de exames mantidos por laboratórios em consultórios médicos.
“Por mais que cause perda de receita, isso poderia gerar incentivo para exames complementares desnecessários.”
Também proíbe que seus médicos recebam comissões por tipo de quimioterapia que indicam. “Perdemos profissionais por isso.”
O Hospital Sírio-Libanês diz que não remunera os médicos por quantidade de exames e que “repugna essa prática”. Também não há remuneração por quimioterapia indicada, segundo o CEO, Paulo Chapchap. “Os médicos são remunerados pelo cuidado com o paciente.”
O Hospital Oswaldo Cruz disse que o porta-voz indicado a falar sobre o assunto estava viajando.
O Hospital Moinhos de Vento, de Porto Alegre, informou que seu programa médico passa por reestruturação e que só se manifestará após a conclusão do processo.
A Rede D’Or, que tem 31 unidades no país, disse que “não tinha interesse em participar da reportagem”.
Fonte: Revista Fórum, com informações da Folha.