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30.3.25

Diário e reflexões: Sem anistia pra golpistas!



ATO EM SÃO PAULO CONTRA ANISTIA DE GOLPISTAS E FASCISTAS


30/03/25

Fiquei com o sentimento de dever cumprido ao participar da manifestação de hoje contra a tentativa de anistia dos canalhas golpistas e fascistas do bolsonarismo, essa doença mental que se instalou no Brasil após o golpe de Estado que impediu o mandato da presidenta Dilma Rousseff em 2016. O golpe foi realizado pela casa-grande centenária em parceria com o império do norte.


Ao ver tantos idosos, pessoas com deficiência e ou alguma dificuldade de mobilidade e jovens - muitos jovens - na manifestação, senti uma energia que só sente quem participa de manifestações de massa. Cada rosto, cada movimento, cada grupo reunido, primeiro no ato na Praça Oswaldo Cruz, e depois na passeata até a sede do DOI-Codi, na Tutóia, senti um pouco de esperança, não na prisão do canalha inominável, mas esperança naquelas pessoas ali. 

Com as companheiras Deise, Dulce e Elisete.

Aquela multidão reunida também é humanidade, humanidade que vale a pena.

Em minha cabeça e na minha memória estão registradas imagens do dia de hoje. Acho que basta. Estou cheio de sentimentos diversos, tristezas e consciências sobre as coisas. Contente pelo dia potente de hoje!

Com o companheiro Robinho.

Encontrei várias companheiras e companheiros de uma longa jornada de lutas em defesa de causas da classe trabalhadora. Cada um de nós é um tijolinho na construção de um mundo melhor.

Foi um dia de acúmulo nas lutas do campo progressista. Fiz parte desse dia! (Ver mais fotos aqui)

William


29.3.25

Diário e reflexões: o PT é estratégico nas lutas populares!

 


PARTIDO DOS TRABALHADORES 13 FAZ ANIVERSÁRIO!

O PT é estratégico nas lutas populares!


Estive hoje no evento de comemoração dos 45 anos do PT em Osasco, realizado na sede do Sindicato dos Metalúrgicos. O ato reuniu diversas gerações de lutadores e lutadoras que compõem a militância do partido. Foi um encontro muito bonito e que nos encheu de energia.

O partido voltou à Câmara Municipal de Osasco nesta legislatura após a bela campanha e eleição do JuntOz, o coletivo composto pelos jovens Heber, Gabi e Matheus. A militância da cidade se envolveu e nossas candidaturas petistas somaram votos para voltarmos à Câmara.

O PT segue firme no papel de partido das massas, de instrumento de luta do povo. As filiações tiveram avanços nos últimos meses, foram mais de 600 em Osasco e mais de 22 mil filiações novas no Estado de São Paulo

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100 DIAS DO JUNTOZ

Nossos representantes na Câmara Municipal prestaram contas do início do mandato popular e o trabalho dos três se mostra incansável.

O JuntOz está atuando em diversas frentes de lutas e busca atender demandas da população de todas as regiões da cidade de Osasco.

Só nesses primeiros meses foram mais de 150 solicitações à Prefeitura relativas a questões da cidadania vindas dos bairros.

A viabilidade do Instituto Federal em Osasco contou com a postura firme do JuntOz e os cursinhos populares são prioridade para que a juventude osasquense possa estudar de forma gratuita e com qualidade de ensino em nossa cidade.

A questão ambiental também é pauta central de nossos representantes no parlamento de Osasco.

Estive no gabinete do JuntOz dias atrás, o mandato é aberto ao povo, e pude comprovar que trabalho de qualidade a nossa representação está fazendo.

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MARCOS MARTINS: UMA REFERÊNCIA!

É sempre uma alegria imensa estar com uma de nossas maiores lideranças da cidade de Osasco, o companheiro Marcos Martins.

Como um cidadão politizado pelos bancários da CUT e do PT ao longo de mais de três décadas, tenho em Marcos Martins uma referência que me inspirou a forma de atuar quando fui dirigente do Sindicato dos Bancários de São Paulo, Osasco e região. 

Minha referência em Marcos Martins vem desde que trabalhei no Unibanco da Raposo Tavares, o CAU, nos anos oitenta. Lá estava ele organizando e politizando a categoria como funcionário do Sindicato.

Quando fui eleito diretor do Sindicato, procurei estar presente nas bases e nos locais de trabalho como vi Marcos Martins fazer a vida toda. Ele e Deise Lessa, companheira do Banco do Brasil, foram minhas referências de um bom trabalho de base!

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EMIDIO, ALUISIO E AS LIDERANÇAS DE OSASCO

Não poderia deixar de registrar as falas importantes que tivemos de nossa direção partidária local, dos sindicalistas e movimentos sociais, a potência das falas de nossas companheiras petistas e o resgate histórico que Emidio de Souza e Aluisio Pinheiro fizeram ao final do ato.

A companheira Flávia fez um resgate importante das lutas das mulheres para além do mês de março. O mês tem a data de 8 de março como referência, mas a jornada de luta das mulheres é o ano todo.

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Foi um dia de comemoração e também de organização das lutas e dos próximos passos para avançar com nossos projetos de sociedade.

Toda a militância está convocada para o ato de amanhã, domingo 30, na Avenida Paulista, com pautas de interesse da classe trabalhadora como impedir a tentativa de anistia dos golpistas bolsonaristas, a pauta do fim da jornada 6x1, a pauta da isenção do imposto de renda para quem ganha até 5 mil reais e outras agendas centrais.

É isso. Viva o PT e viva a classe trabalhadora!

William Mendes


24.3.25

Blog A Categoria Bancária - Retrospectiva 2007



RETROSPECTIVA

O ano de 2007 foi o primeiro ano efetivo do blog sindical que criei em outubro de 2006 e ao longo dos meses fui desenvolvendo formas de prestar contas dos mandatos que exercia em nome de nossos colegas bancários, do nosso sindicato de base e da corrente política Articulação Sindical. A internet e as páginas pessoais eram uma novidade e as pessoas que queriam se comunicar estavam criando seus blogs.

Eu estava no segundo mandato sindical no Sindicato dos Bancários de São Paulo, Osasco e região (2005-08), havia pedido para deixar a função na Executiva do sindicato e com isso o nosso coletivo político, o Coletivo BB, me designou como representante paulista na Comissão de Empresa (CEBB) e fui destacado para ser o secretário de imprensa da nossa confederação criada em 2006, a Contraf-CUT.

Exerci as funções que me designaram da melhor forma possível e não abri mão de fazer trabalho de base. Isso fica evidente ao ler minha agenda pública do ano: falei com trabalhadores em praticamente todos os meses, de janeiro a dezembro.

O movimento sindical cutista estava numa luta grande para contratar mais trabalhadores nos bancos públicos e privados. Nossa pressão surtiu efeito nos governos do Partido dos Trabalhadores e após a década de desmonte dos bancos públicos por parte dos governos neoliberais tucanos, o Banco do Brasil e a Caixa Econômica Federal e os demais bancos públicos federais contrataram novos concursados no lugar de terceirizados.

As contradições que o movimento sindical e o mundo do trabalho enfrentam num governo de esquerda são naturais. Vivenciamos isso. Ao mesmo tempo em que ampliamos em dezenas de milhares de trabalhadores concursados o saldo do número de funcionários do BB e empregados da Caixa, enfrentamos reestruturações nesses bancos para desligar trabalhadores mais antigos, terceirizar setores dos bancos etc.

As postagens demonstram que fui à posse dos novos bancários do BB o ano todo, para apresentar o movimento sindical e sindicalizar o(a) trabalhador(a) já no primeiro dia no BB. Tive a felicidade de sindicalizar centenas de colegas novos. Isso foi marcante em minha vida de dirigente. Enquanto fui representante sindical encontrei bancárias e bancários nos mais diversos locais do país que me diziam que foram sindicalizados por mim no primeiro dia de trabalho.

O ano de 2007 foi de muita luta e negociação com o patrão Banco do Brasil para resolver questões da nossa Caixa de Assistência à saúde, a Cassi. Nossa autogestão sofria constantemente com déficits característicos deste setor de saúde suplementar e o patrocinador BB era o principal responsável pelos déficits, além das questões de mercado, porque não cumpria o estatuto da Cassi e porque alterou as bases das receitas do Plano de Associados, a folha de pagamento dos funcionários congelada por anos. Ao alterar a perna de receita e não pagar o que devia, a Cassi passou a ter déficits cada vez maiores. Negociamos entre o final de 2005 e 2007 a reforma estatutária aprovada no segundo semestre do ano.

Os temas nos quais me envolvi no primeiro semestre foram Cassi, PLR do Banco do Brasil, Comissão de Conciliação Voluntário (CCP/CCV), e as reuniões executivas de nosso sindicato, da Fetec CUT SP e do secretariado da Contraf-CUT. Além, é claro, da secretaria de imprensa.

No segundo semestre, participei ativamente da organização da campanha salarial da categoria, inclusive me envolvi em debates internos durante a confecção da minuta dos bancários porque tinha divergências em relação às propostas de contratação da remuneração variável e fiz o debate fraterno dentro da corrente.

Em linhas gerais, ao reler e sistematizar as 226 postagens do blog, percebo claramente a intenção de estabelecer uma prestação de contas do que fazia, como atuava em nome dos trabalhadores e o que defendia como dirigente sindical. A prática foi melhorando a cada ano e de fato as publicações na internet sobre o exercício da representação política tiveram uma importância central em minha vida até o último mandato eletivo no qual representei milhares de pessoas.

Ao longo da história do blog A Categoria Bancária, utilizei a página até para salvar matérias de páginas de sindicatos e outras instituições de classe por saber que aquelas matérias iriam desaparecer assim que os sites das entidades fossem atualizados ou refeitos. O mais comum no mundo virtual é a mensagem “error” ao clicar em um link de uma matéria antiga. Nossa história vem sendo sistematicamente apagada! Uma tragédia isso.

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“Quem controla o passado, controla o futuro;

quem controla o presente, controla o passado.”

(George Orwell, em “1984”)

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Nós todos temos que salvar nossas histórias de lutas, pessoais e coletivas, do mundo do trabalho e da cultura em geral, de forma impressa e em mídias nossas. As big techs são nossas inimigas de classe e estão em uma guerra mundial de disputa de hegemonia. É muito sério o que George Orwell nos alerta no clássico distópico “1984”, de 1949, que virou realidade no século XXI.

William Mendes


23.3.25

Blog A Categoria Bancária - Retrospectiva 2006


William, Cacaio e Marcel no
Congresso da Fetec CUT SP.

RETROSPECTIVA 2006

O ano foi marcado sobretudo pela reeleição de nosso presidente Lula, em outubro. O blog A Categoria Bancária recém iniciava sua trajetória de comunicação direta com os bancários, os trabalhadores em geral e com a militância sindical. Eu havia criado o primeiro blog em 2005, mas o provedor (UOL) encerrou minha página sem consulta e sem minha autorização. Perdi diversos textos guardados somente naquela “nuvem”. Entendam isso!

Após o primeiro mandato como representante sindical de meus colegas bancários no Sindicato dos Bancários de São Paulo, Osasco e região (2002-2005), no qual eu estava na Secretaria de Organização e Suporte Administrativo (SOSA), eu era membro da Diretoria Executiva, decidimos em coletivo político – o Coletivo BB – que eu seria o representante paulista na Comissão de Empresa do BB (CEBB), coletivo que assessora a Fetec CUT SP e a Confederação nas negociações com patrão e governo e na organização dos funcionários do BB em nível nacional.

Também decidimos em coletivo político no Sindicato que eu faria parte da chapa eleita na Contraf-CUT em seu primeiro congresso em abril. Minha função prioritária passou a ser a secretaria de imprensa da Confederação e a representação na CEBB. Estaria à disposição das direções do Sindicato e da Fetec a qualquer tempo.

Uma tarefa que executamos na secretaria de imprensa da Contraf-CUT, um desafio e tanto, foi substituir em poucos meses a marca “CNB-CUT”, uma marca conhecida e histórica. Contamos com o apoio da direção e da equipe que trabalhou conosco na imprensa para termos sucesso no desafio.


Já na campanha salarial daquele ano de 2006, no segundo semestre, a Contraf-CUT era reconhecida na mídia comercial, pelo patronato e pela categoria bancária. Nossa logo é um abraço da categoria mais organizada, os bancários, aos setores menos organizados que trabalhavam para os banqueiros, era a ideia de formalizar o Ramo Financeiro.

Destacaria ainda sobre o ano de 2006, a 3ª Marcha do salário mínimo, fundamental para ampliar a distribuição de renda através do trabalho formal. Fomos bem-sucedidos na estratégia que adotamos desde a 1ª Marcha em 2004. Fui em todas elas.

Realizamos o Congresso de nossa Federação dos Bancários da CUT, a Fetec CUT SP. Estive presente nesse fórum importante em nosso Estado.

E aprovamos a Comissão de Conciliação Prévia (ou CCP/CCV). Foram anos de negociação entre nós cutistas e a direção do BB e governo para corrigirmos distorções que aconteciam nas comissões da outra confederação, a Contec.

As negociações sobre a Cassi estavam emperradas, a direção do banco não vinha facilitando as coisas e ainda seriam vários meses de negociações até aprovarmos a reforma estatutária em 2007.

Mais um caderno do blog organizado. É nossa história.

William 

21.3.25

Diário e reflexões



A NECESSIDADE DE PERTENCER A

Sexta-feira, 21 de março de 2025.

Estive nesta semana em dois fóruns nos quais pessoas estavam reunidas por algo que as unia ou ligava.

Na segunda 17 participei da sessão solene pelo aniversário dos 45 anos do Partido dos Trabalhadores, ocorrida no Plenário Tiradentes da Câmara Municipal de Osasco. 

Sou eleitor do PT desde meu primeiro voto em 1988, em Luíza Erundina, e depois em Lula, em 1989. Me filiei ao partido em 2002. Eu nunca consegui me imaginar em outro partido. Pelas contradições da política, já pensei em me desfiliar, mas jamais pensei entrar em outro partido. Pertencimento!

Nas eleições de 2024, dediquei minhas energias para eleger a jovem Luna Zarattini vereadora por São Paulo. Mas assim que conheci os jovens do JuntOz, fiz o que pude para elegermos eles em Osasco, o coletivo da esperança com Heber, Gabi e Matheus.


Fui à sessão solene de homenagem ao PT a convite pessoal de nossos representantes do JuntOz. O evento foi bonito. Ouvindo os burburinhos no plenário aumentou minha certeza da necessidade de renovação no PT. Viva o JuntOz! Que venham mais jovens para o PT. 

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PREVI

A Caixa de Previdência dos Funcionários do Banco do Brasil é o maior fundo de pensão da América Latina. Nossa Previ está sob ataque neste momento. Os canalhas da casa-grande querem nosso patrimônio acumulado há 120 anos.

A Previ só está bem como demonstram os números apresentados e públicos porque é gerida pelos próprios associados, os trabalhadores, e não é terceirizada para os pilantras do "mercado" (a casa-grande). 

É por isso, aliás, que está sob ataque via manipulação (fake news) e por órgãos que sofrem influência dos nossos inimigos de classe: porque é dos trabalhadores e está bem, e é poderosa.

Estive ontem na apresentação do resultado do Plano 1 da Previ, à convite da direção do fundo de pensão, no Edifício Torre Matarazzo, e comprovei que podemos ficar tranquilos com a gestão do nosso patrimônio. 

Na oportunidade, encontrei diversas lideranças e companheir@s de jornadas de lutas sindicais. 

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PERTENCIMENTO 

Ao pensar sobre a questão de pertencer a alguma coisa, me lembrei da mensagem do jovem Chris McCandless, que registrou que a felicidade só é verdadeira quando é compartilhada.

Eu entendi isso ao refletir sobre a minha existência. Fui feliz quando pertencia a projetos coletivos, mesmo quando estávamos sob ataque de nossos inimigos de classe.

Somos seres humanos e só somos possíveis se formos parte de algo coletivo. 

William 


18.3.25

Previ sob ataque



Comentário do blog:

Reproduzo abaixo um artigo excelente do conselheiro deliberativo eleito da nossa Caixa de Previdência, a Previ.

Antes, teço um breve comentário político, a minha opinião sobre o que se anda dizendo por aí. 

O governo Lula está sob ataque por parte de nossos inimigos de classe. Sendo assim, afirmo que a Previ está sob ataque também, porque isso é estratégico para nossos inimigos.

O conceito de "inimigos" que utilizo aqui inclui o imperialismo norte-americano e as forças que compõem e se colocam a serviço da extrema-direita mundial e nacional. Óbvio que os bolsonarentos estão incluídos na lista de nossos inimigos.

Sérgio Riede explica mais uma vez o óbvio: não há rombo algum em nossa Caixa de Previdência. Qualquer pessoa honesta e minimamente conhecedora de sistemas de fundo de pensão e previdência complementar entende as diferenças contábeis que Riede esclarece no artigo. Parto da premissa que nossa comunidade é de "bancários".

A Previ está sob ataque desde que o governo Lula ganhou a eleição e tirou do poder aquela trupe de gente indicada pelo poder executivo em empresas estatais e de economia mista e suas respectivas entidades patrocinadas e ou coligadas.

Óbvio que os ataques à Previ e à direção de nosso fundo de pensão incluem eleitos e indicados. Os eleitos porque a cada dois anos ocorrem eleições e os oportunistas de plantão, os desonestos, se aproveitam de crises reais ou inventadas para tentarem chegar ao poder. Os indicados porque derrubá-los ou prejudicar a Previ equivale a causar crises sérias ao governo que os indicou.

O presidente da Previ, João Fukunaga, está sob ataque desde que o governo Lula indicou a direção atual do fundo de pensão. Ele sofre ataques por parte de grupos adversários e candidatos de chapas de oposição nas eleições em nossa Caixa de Previdência e sofre ataques dos poderosos grupos de oposição ao governo Lula e que atacam o tempo todo às forças de esquerda e progressistas em geral.

Nesse momento de ataques à Previ, com manipulações desonestas em relação aos resultados do Plano 1, não há que se ter dúvidas quanto à posição que se deve tomar como democrata e interessado na perenidade e robustez de nosso fundo de pensão. Estou ao lado da direção de nossa Caixa de Previdência, que vem se mostrando correta e competente na gestão de nosso patrimônio.

É isso. Leiam abaixo as excelentes explicações contábeis e administrativas do conselheiro deliberativo Riede.

Abraços,

William

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(reprodução de matéria)



Informação e desinformação sobre a Previ

Sérgio Riede

1. As maiores polêmicas atuais sobre a Previ são sobre o desempenho do Plano 1.

2. Vou tentar colocar algumas informações objetivas que podem ajudar as pessoas menos familiarizadas com análise de desempenho de fundos da pensão a entenderem melhor as regras específicas para este universo.

3. Como sempre digo, na condição de atual conselheiro deliberativo da entidade, posso estar contaminado pelo fato de estar na gestão. Leiam com senso crítico minhas ponderações – aliás, recomendação que também é válida para as análises daqueles que fazem oposição sistemática à Previ e que apoiam ou fazem parte de chapas de oposição. Senso crítico nunca é demais, para lado nenhum.

4. O resultado mais importante de um Plano de Benefício Definido, como o Plano 1 da Previ, é o RESULTADO ACUMULADO.

5. Diferente de uma empresa de outro ramo, esse resultado não zera ao final de cada ano. A contabilidade continua no ano seguinte a partir dele.

6. Mas, para efeito de eventual Distribuição de Superávit ou Equacionamento de Déficit, a posição que vale para a legislação é a verificada em 31 de dezembro de cada ano.

7. Para Distribuição de Superávit do Plano 1, atualmente seria necessário, pela legislação vigente, que o Plano 1 tivesse SUPERÁVIT ACUMULADO de mais de 42 bilhões de reais ao final de cada um de 3 anos consecutivos – o que é extremamente difícil.

8. Para ter que elaborar um Plano de Equacionamento de Déficit, a legislação prevê um caminho bem mais curto: basta que o Plano 1 tenha um RESULTADO ACUMULADO de cerca de 19 bilhões de reais ao final de um único ano.

9. Esse Plano de Equacionamento deve ser elaborado no ano seguinte a tal déficit, para ser implementado no ano subsequente.

10. Exemplo prático: se em 31/12/2024 o Plano 1 tivesse fechado com DÉFICIT ACUMULADO de cerca de 19 bilhões de reais, em 2025 deveria ser elaborado um Plano de Equacionamento de Déficit, o qual seria implementado somente em 2026.

11. Entretanto, se ao longo de 2025 esse suposto Déficit Acumulado ficasse abaixo dos 19 bilhões de reais, haveria possibilidade de não implementar o referido Plano de Equacionamento em 2026.

12. Claro que os resultados mensais são importantes, porque é a partir de cada resultado mensal (que vai se acumulando) que pode ser construído um Superávit Acumulado ou um Déficit Acumulado em 31 de dezembro de cada ano.

13. Por isso, embora a legislação preveja a obrigatoriedade de publicar seus investimentos e resultados ao final de cada ano, a Previ publica por iniciativa própria seus resultados e a lista de todos os seus investimentos mês a mês, com ampla transparência.

14. Assim, a Previ havia publicado que, ao final de novembro de 2024, o Plano 1 tinha um déficit NO ANO DE 2024 de cerca de 14 bilhões de reais, mas deixava claro que o RESULTADO ACUMULADO até aquele momento era de SUPERÁVIT ACUMULADO de cerca de 528 milhões de reais.

15. O que isso significava de impacto para os participantes do Plano 1? Significava que, apesar do déficit de janeiro a novembro de 2024, o Plano 1 ainda tinha, em novembro de 2024, recursos suficientes para honrar todos os seus compromissos com os associados até o último dia de vida de cada um (e de seus pensionistas). E ainda sobrariam 528 milhões de reais.

16. Isso não quer dizer que o déficit ao longo de 2024 não merecesse preocupação. E a Previ nunca negou isso. Já divulgou inclusive diversas medidas que estão sendo tomadas para ficar mais resiliente frente às oscilações do mercado.

17. Outros conceitos precisam ficar claros: a diminuição de valor em Bolsa de uma ação de um fundo de pensão impacta a contabilização de superávit ou déficit. Mas só se transforma em prejuízo de fato se a Entidade tiver que vender essa ação por um preço bem inferior ao que ela vale de fato.

18. A Previ já deixou claro e comprovou que não precisou e não vendeu nenhum de seus ativos por preços aviltados. Portanto, cada um deles continua na carteira de investimentos e com possibilidades reais de terem seus valores de mercado recuperados, exatamente porque se trata de empresas sólidas e pagadoras de ótimos dividendos ao longo dos anos.

19. Aliás, a razão pela qual a Previ não tem precisado vender nenhum ativo na “bacia das almas” é exatamente porque tem recebido recursos ao longo dos anos suficientes para arcar com todos os seus compromissos.

20. Em 2024, por exemplo, a Previ pagou cerca de 16,5 bilhões de reais em benefícios de aposentadoria e pensão. Só de dividendos, rendimentos de títulos públicos, aluguéis de imóveis e contribuições do patrocinador e dos associados, recebeu mais do que esses 16,5 bilhões. É por isso que a Previ tem afirmado que é muito importante ter uma boa gestão do caixa da Entidade, para não ter que vender algum ativo em momento de baixa valorização.

21. Com a fala do ministro do TCU em fevereiro de 2025 a respeito do resultado do Plano 1 de janeiro a novembro de 2024, vieram à tona alguns conceitos completamente equivocados tecnicamente, como veremos a seguir:

22. “Rombo na Previ”: isso só teria acontecido se a Previ tivesse perdido patrimônio em definitivo. Como ela não foi obrigada a vender nenhum ativo por preço abaixo da realidade, isso não aconteceu. Em abril/maio de 2020, por conta da pandemia, o Plano 1 estava com déficit acumulado de cerca de 23 bilhões de reais. Se esse patamar fosse mantido até 31 de dezembro daquele ano, teria que ser elaborado um Plano de Equacionamento. A Previ foi a público naquela ocasião, falou da solidez da carteira de ativos, disse que a situação era conjuntural. Muita gente duvidou. Em 31/12/2020 o Plano 1 fechou com 13 bilhões de SUPERÁVIT ACUMULADO.

23. “Risco de Contribuições Extraordinárias do BB e dos associados”: Como vimos acima, um Plano de Equacionamento só teria que ser elaborado se o DÉFICIT ACUMULADO do Plano 1 fosse de cerca de 19 bilhões de reais. Em novembro de 2024 o RESULTADO DO PLANO 1 era de SUPERÁVIT ACUMULADO de 528 milhões de reais.

24. Era preocupante o resultado de janeiro a novembro de 2024? Claro que era. Mas eram absolutamente falsas as afirmações de “rombo”, “prejuízo” e, principalmente, “risco imediato de contribuições extraordinárias do BB e dos associados”. Muito menos foi apontado publicamente qualquer indício real de “má gestão”. No entanto, o que está entre aspas neste parágrafo foram as razões apontadas para o TCU pedir uma auditoria de urgência na Previ.

25. Essas afirmações supostamente técnicas ganharam corpo na imprensa em geral e entre os associados. A Previ ofereceu várias explicações sobre o assunto. Eu mesmo publiquei várias matérias sobre isso.

26. Diferentes entidades ligadas aos fundos de pensão se posicionaram publicamente sobre a polêmica, quase todas provando que não havia “rombo”, demonstrando que os resultados eram decorrentes de oscilações normais de mercado, que não tinha havido investimentos “heterodoxos” ou mal intencionados da Previ e, sobretudo, que não havia risco sequer da necessidade de elaborar um Plano de Equacionamento (muito menos de ter que implementá-lo), uma vez que o Plano 1 tinha SUPERÁVIT ACUMULADO de 528 milhões ao final de novembro.

27. Entre as entidades que se manifestaram no sentido acima estão a Previc, órgão que tem a obrigação legal de supervisionar e fiscalizar a Previ (e que tem que responder pelo que escreve), e a Abrapp, entidade que congrega todas as entidades fechadas de previdência complementar do Brasil, e que também tem uma reputação a zelar.

28. Grande parte da imprensa entendeu as explicações técnicas e ajustou a percepção sobre os resultados do Plano 1. Atualmente a CNN é um dos raros órgãos de imprensa que teima em manter o discurso de rombo, de má gestão e que insinua uso político da Previ. Em algumas matérias publicadas por ela, as fontes citadas são funcionários do BB que apoiam ou participaram de chapas de oposição nas eleições da Previ.

29. Há pessoas que repetem as desinformações de “rombo” e “risco de contribuições” extraordinárias por falta de conhecimento ou porque foram induzidas por alguém. Entretanto, há também, na imprensa e entre os associados, quem tem conhecimento técnico, sabe o que está falando, mas repete essas expressões com intenções muito claras, que compete a cada associado julgar.

30. Uma coisa é manifestar preocupação legítima com o resultado de 2024. Outra, bem diferente, é replicar conscientemente conceitos equivocados, que espalham pânico injustificado entre os associados.

31.  Em dezembro de 2024 a queda da Bolsa se acentuou e a Previ fechou o ano com um déficit anual de cerca de 17 bilhões, resultando num DÉFICIT ACUMULADO de 3 bilhões de reais, uma vez que o Plano 1 tinha fechado 2023 com SUPERÁVIT ACUMULADO de 14,5 bilhões.

32. Repito: o déficit do Plano 1 ao longo de 2024 merece preocupação e olhar atento da governança da Previ e dos associados.

33. Se ele se repetir na mesma dimensão em 2025, podemos fechar este ano bem próximos da necessidade de ter que elaborar em 2026 um Plano de Equacionamento para ser implementado em 2027. O que nunca aconteceu na história de 120 anos da Previ.

34. Daí a importância de todos nós olharmos os resultados mensais em 2025, para adotar as providências necessárias à manutenção do equilíbrio do Plano 1.

35. Neste sentido, constatar que janeiro de 2025 trouxe um superávit mensal de 1,3 bilhão, significa que o DÉFICIT ACUMULADO do Plano 1, que tinha fechado 2024 na casa dos 3 bilhões, já caiu para uma situação praticamente de equilíbrio técnico. Vamos ver o que acontecerá nos próximos meses.

36. Daqui a alguns dias ou semanas deve sair a manifestação do TCU sobre as informações que eles coletaram na Previ entre 17 e 21 de fevereiro.

37. Em paralelo, a Diretoria da Previ já começa nesta semana a apresentação dos resultados de 2024 em várias capitais de estado, em diálogo franco e direto com os associados. Também haverá transmissões online de algumas apresentações.

38. Continuo à disposição de todos, inclusive no meu contato privado, para prestar contas sobre minha atuação como conselheiro deliberativo.

Abraços a todos.

Sérgio Riede, conselheiro deliberativo da Previ


Fonte: Associados Previ


12.3.25

Blog A Categoria Bancária - Retrospectiva 2021




RETROSPECTIVA 2021

O ano de 2021 foi um ano difícil para o povo brasileiro e para a classe trabalhadora porque foi o terceiro ano de desgoverno daquela figura inominável na Presidência da República, terceiro ano de destruição de direitos e conquistas do povo pobre e trabalhador.

A pandemia mundial de Covid-19 fazia milhares de vítimas diariamente no mundo e no Brasil. A CPI da Pandemia, que encerrou os trabalhos no final daquele ano, recomendou em seu relatório final o indiciamento do presidente da república pela prática de nove infrações.

Perdi muitos amigos e companheiros de longa data na militância política. Presto minha solidariedade a todas as vítimas da pandemia e do descaso do governo bolsonarento, homenageando nosso querido amigo Wanderley Crivellari, ex-presidente do Sindicato dos Bancários de Londrina e região. O companheiro faleceu no dia 3 de janeiro de 2021, vítima da Covid-19. Wanderley, presente!

As trinta e oito postagens no blog A Categoria Bancária retratam um pouco dos acontecimentos e sentimentos que marcaram o nosso ano de lutas. Os textos têm o olhar de um ex-dirigente nacional de uma importante categoria profissional, os bancários.

Óbvio que o ponto de vista é atomizado, é de uma pessoa que pertence a uma comunidade específica da classe trabalhadora, a comunidade de trabalhadores da ativa e aposentados do Banco do Brasil, que sofreu sérias ameaças de privatização por parte daquele governo.

Os temas de cada postagem abordam acontecimentos no banco público e nas entidades associativas de sua comunidade, principalmente no que diz respeito à autogestão em saúde dos funcionários do BB, a Cassi. Fui gestor eleito da Caixa de Assistência e os objetivos dos textos e vídeos que fiz em 2021 foi contribuir com os debates que estavam acontecendo, contribuir com os conhecimentos que adquiri sobre gestão em saúde.

No final do ano, passei a escrever memórias de minha vida como militante e dirigente sindical. Estávamos ainda sob as exigências restritivas da pandemia mundial de Covid-19 como, por exemplo, a orientação de isolamento social na medida do possível.

A triste lembrança daquele ano de milhares de mortes diárias de brasileiras e brasileiros ficará na memória das pessoas que têm consciência política e que não pactuam com os crimes de lesa-pátria e lesa-humanidade cometidos pelo governo dos bolsonarentos.

Ao reler os textos para encadernar e preservar a produção em meio físico, avalio que os textos contêm informações históricas relevantes. Sempre estudei muito para ser um bom representante de meus colegas de trabalho. Escrevendo, quis passar adiante o que aprendi nas lutas.



DESTAQUES

Dos 38 textos do ano de 2021, poderia destacar alguns nos quais coloquei minhas preocupações e experiências de mais de duas décadas de liderança na organização e lutas por direitos da comunidade BB.

O artigo do dia 22 de janeiro é um dos destaques (ler aqui). Além das ameaças de privatização do Banco do Brasil, falo dos riscos em relação à nossa Caixa de Assistência: as mudanças no modelo assistencial e a terceirização da atividade-fim da Cassi, a criação de diversos planos ruins para familiares dos funcionários e outras mudanças feitas pela gestão à época.

Fiz no dia 11 de fevereiro fiz um artigo a respeito de organização de base (aqui), pois é um tema que domino bem e que pautou minha vida de representação política. Cito até Mandela e o CNA para animar a militância e os sindicatos a se organizarem nos locais de trabalho (OLT) para enfrentar os ataques violentos do governo bolsonarento.

Sobre risco de desmonte da estrutura própria de Atenção Primária da Cassi, as CliniCassi e as equipes de família (ESF), fiz um artigo no dia 18 de março com minhas preocupações sobre o tal projeto de terceirização da atividade-fim da Cassi (aqui), o “Bem Cassi”, e deixo em anexo ao artigo uma denúncia de mesmo teor das médicas e médicos de família de Curitiba sobre o desmonte por parte da prefeitura local da Atenção Básica do SUS na cidade.


DOENTES CRÔNICOS MEDICADOS OU NÃO

Outra matéria que merece destaque mesmo em 2025, momento em que estou sistematizando meus textos do blog, é a matéria do dia 20 de março de 2021 sobre os medicamentos de uso contínuo para pessoas com doenças crônicas (aqui). Na Cassi nós tínhamos um programa de fornecimento dos medicamentos (PAF) entregues na casa dos pacientes crônicos porque monitorar e estabilizar pessoas crônicas é a base do nosso modelo de Atenção Integral à Saúde (evita-se agravamento das doenças).

Nossa gestão da diretoria de saúde da Cassi deixou em 2018 o programa (PAF) com 100% de atendimento aos crônicos e o programa foi desfeito pelas gestões seguintes. Logo em seguida veio a pandemia mundial de Covid-19 e os medicamentos de uso contínuo sumiram do mercado e os crônicos ficaram desassistidos em grandes bases sociais do país... Repito: todo crônico não tratado tem sua doença agravada e ele pode se tornar um paciente de alto custo na rede contratada do mercado de saúde que visa lucro com a doença das pessoas.

Hoje, só acessam medicamentos para crônicos na Cassi aqueles que conseguem superar todas as dificuldades para se pedir ressarcimento e até as notas fiscais adequadas estão mais difíceis por mudanças na receita federal. Uma coisa é quem vive em capitais e grandes cidades, com várias farmácias na rua, outra é a multidão de crônicos que não tem facilidade de acesso ao seu medicamento. A Cassi tem dezenas de milhares de participantes com uma ou várias cronicidades.

Felizmente, o governo Lula ampliou em 2025 o Farmácia Popular e a lista de medicamentos fornecidos gratuitamente pelo Estado (SUS), mas insisto que desfazerem o PAF na Cassi foi um prejuízo imenso para a maioria dos crônicos da Caixa de Assistência e para o modelo preventivo, pois a base do programa era a solidariedade no acesso aos medicamentos a um custo-benefício excelente para o sistema Cassi.

Em abril, fiz uma série de artigos sobre a Cassi abordando diversas questões. Como participei de reuniões virtuais com sindicatos, foquei os artigos em temas que as direções sindicais me pediram para abordar. No texto do dia 16 de abril (aqui), abordo pontos de atenção sobre a Caixa de Assistência naquele momento.

Fiz um artigo de opinião em junho, no dia 4, a respeito do fechamento das duas unidades CliniCassi em Brasília, a da Asa Norte e a da Asa Sul, unidades de saúde acreditadas e de excelência no acolhimento aos participantes. Texto pode ser lido aqui.

Durante o nosso trabalho de gestão, nossas equipes haviam ampliado em mais de 50% o número de cadastrados na Estratégia de Saúde da Família (ESF) e os números vinham melhorando nas unidades, até que decidiram fechar as duas para abrir uma só em outro lugar.

Lembro aqui que uma das questões centrais de um sistema de saúde é “acessibilidade”, se não houver bom acesso, as pessoas terão problemas para utilizá-lo adequadamente.


PLANO CASSI ESSENCIAL

Em artigo do dia 22 de julho, comento matéria da confederação dos bancários – a Contraf-CUT - sobre o lançamento do novo plano de saúde da Cassi, o Cassi Essencial, lançado pela direção da autogestão e já marcado desde o início por polêmicas e incertezas para os eventuais “clientes” e ameaças a todo o sistema de saúde da Caixa de Assistência, como o Plano de Associados e o principal plano familiar, o Cassi Família (ler aqui).

As consequências vieram nos anos seguintes, além dos planos lançados não estarem como poderiam estar em termos de equilíbrio por serem planos novos, o Cassi família que tinha 234 mil participantes, o que é importante para o equilíbrio do plano, vem perdendo assistidos e os últimos reajustes foram absurdos, as mensalidades aumentaram muito após aquele ano e o plano está se tornando inviável também. O Cassi Família é o melhor plano porque não tem coparticipação nem franquia na internação.


SUBSÍDIOS SOBRE CASSI EM REUNIÕES COM BANCÁRIOS

Entre o final de julho e o início de agosto, estudei os principais eixos temáticos sobre a Cassi, autogestão dos funcionários do Banco do Brasil, para participar de reuniões e contribuir com subsídios aos debates dos colegas da ativa e aposentados.

Fiz uma matéria no dia 4 de agosto com um bom resumo sobre os temas mais relevantes sobre a Cassi naquele momento em 2021. Artigo pode ser lido aqui.

Um dos últimos textos do ano sobre a Caixa de Assistência dos Funcionários do Banco do Brasil, antes de começar a série de textos sobre memórias, foi o artigo do dia 9 de setembro (aqui). Eu iria fazer uma apresentação em um encontro nacional de Conselhos de Usuários da Cassi que acabou sendo adiado.

No artigo, fiz uma pesquisa em documentos históricos da Cassi do período da reforma estatutária de 1996 e do momento definidor do modelo de APS escolhido para a Cassi em 2001: a Estratégia de Saúde da Família (ESF). Ao reler o texto em 2025 achei o conteúdo com relevância ainda.

A postagem do dia 13 de setembro é uma espécie de ironia trágica que fiz por causa dos rumos da Cassi naquele momento (ler aqui). A autogestão se comportava como aquela que existia antes da reforma estatutária de 1996. A propaganda da Cassi era um incentivo a demandas espontâneas e foco médico-curativo, modelo absolutamente insustentável.

Era a cultura do momento, tanto da Cassi, quanto do patrocinador e também do país, governado à época por Bolsonaro e Paulo Guedes, aquele que chamava o nosso Banco do Brasil de porra, era dele a famosa frase “vende essa porra!”.

Felizmente, o povo brasileiro em sua maioria optou pela mudança em 2022.

Seguimos nas lutas.

William Mendes


8.3.25

Diário e reflexões



Dia Internacional das Mulheres

São Paulo, 8 de março de 2025. Sábado.


Estive hoje na Avenida Paulista para participar dos atos do Dia Internacional das Mulheres, o 8M, ou 8 de Março. Cheguei pontualmente no horário chamado para o início do evento, 14 horas.

O fechamento do vão livre do MASP foi uma sacanagem que deu certo por parte dos poderes da casa-grande. Simplesmente não temos mais como nos concentrarmos em frente ao lugar mais tradicional de São Paulo porque a medida tirou o ambiente de concentração das massas. Não há inocência na política. A medida foi higienista e para nos tirar de lá.

À medida que os grupos de manifestantes foram chegando, e começou a ficar perigoso para as pessoas por risco de atropelamento pelo fluxo constante de carros na avenida, nós fomos obrigados a nos concentrarmos do outro lado do MASP, na praça em frente. As centenas de policiais do governo do Estado não ajudam em nada, na minha opinião.

Felizmente o ato foi encorpando e assim que as mulheres e as organizações se avolumaram, começaram as intervenções das lideranças a partir do caminhão de som principal. Ouvimos falas potentes de diversas mulheres representando os movimentos de lutas.

Tenho procurado observar os movimentos, as pessoas, os gestos, as expressões, e a cada atividade de ocupação das ruas que participo, mais me convenço que nós não deveríamos abandonar as ruas por qualquer que seja o motivo, não deveríamos! A vida real está lá fora, nas ruas.

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Enquanto eu me deslocava de casa para o local da manifestação do 8 de Março, refletia sobre a questão atual do mundo dominado pelas plataformas das big techs e a inevitável manipulação dos seres humanos nessas redes de arrasto que pescam as multidões humanas como sardinhas para serem enlatadas e devoradas como mercadoria.

Cada dia que passa e que não se altera o poder de manipulação dessa meia dúzia de homens bilionários donos das plataformas que alteram o comportamento de seus usuários em benefício do lucro (desses fdp) e em prejuízo de milhões de pessoas, nós estamos perdendo a humanidade, estamos perdendo a chance de seguir adiante enquanto sociedade humana. Temos que mudar a forma como as big techs capturaram o mundo inteiro.

Faz anos escrevi um artigo no qual defendi que todos os governos e estados nacionais deveriam criar suas plataformas e redes sociais de preferência públicas e com regras claras sobre o funcionamento dos algoritmos e felizmente agora muita gente de nosso campo também defende o conceito e a ideia de nos livrarmos da dependência e captura dessas big techs para salvarmos a soberania e a nossa comunidade.

Fica registrado aqui o meu respeito e a minha esperança em cada mulher e cada homem que esteve hoje na Avenida Paulista. Cada pessoa que escolheu não ficar em casa, não ir para bloquinhos de carnaval, não passear ou descansar, que decidiu ocupar as ruas em um ato político, enalteço e aplaudo! Temos que ocupar as ruas enquanto ainda há espaço público e enquanto ainda não nos proibiram de nos manifestarmos.

William Mendes


6.3.25

Blog A Categoria Bancária - Retrospectiva 2020




RETROSPECTIVA 2020

O segundo ano trágico de governo Bolsonaro começou com a paralisação do mundo perante a maior pandemia mundial em mais de um século. A Covid-19 chegou ao Brasil nos primeiros meses do ano e o povo brasileiro sofreu as consequências de forma exponencial por causa de termos no país um governo negacionista em relação às medidas protetivas sugeridas pelos cientistas e especialistas no mundo todo.

O uso de máscaras, álcool em gel e distanciamento social eram medidas básicas para se evitar ou reduzir a contaminação das pessoas e o grande afluxo aos sistemas de saúde em todas as cidades do país. Apoio econômico e financeiro ao povo e às empresas também era uma necessidade básica para a manutenção das condições básicas de vida e cidadania. E, claro, vacinação em massa, pois a ciência já estudava a confecção de vacinas. O tirano era contrário a tudo isso.

O governo Bolsonaro era inimigo do povo e da classe trabalhadora e só tinha olhos e atenção para o empresariado, os militares e a elite do país, grupos que o mantinham no poder. As primeiras matérias do blog demonstram isso. Após uma quarentena que fiz depois do mandato eletivo na Cassi (jun/2014 a maio/2018), voltei a escrever no blog A Categoria Bancária em julho. Não fiz postagens em 2019.

O presidente da república Jair Bolsonaro vetou (ler aqui) uma conquista do movimento sindical e associativo dos trabalhadores negociada no Congresso Nacional: a ultratividade, ou seja, a manutenção de direitos em acordos e convenções coletivas enquanto patrões e empregados não concluíam as negociações salariais e de direitos. A categoria bancária, por exemplo, tem direitos conquistados há décadas, que poderiam ser perdidos caso não renovados até 31 de agosto, data-base da categoria.

As primeiras matérias no blog, postadas em julho, informam ainda outros esforços de nossas entidades de classe para garantir direitos aos trabalhadores e aposentados. Uma delas é a manutenção do convênio entre a Previ e o INSS para que nossos colegas seguissem recebendo a aposentadoria pública pela Previ. O governo Bolsonaro havia encerrado os convênios. Outra luta em desenvolvimento era a defesa da Caixa Federal, na mira da privatização do governo.

LUTA DE CLASSE

As outras postagens do mês de julho abordam as discussões da campanha salarial da categoria bancária, a vitória da Chapa 1 – Previ para o associado nas eleições do fundo de pensão dos funcionários do Banco do Brasil e tem um artigo meu sobre a saúde dos trabalhadores (ver aqui).

No mês de agosto (de 2020), postei matérias antigas da confederação sobre as negociações com o banco público BB no ano de 2006 para registrar as contradições que existem nas lutas sindicais entre capital x trabalho, trabalhadores x governos. Existem pontos positivos e pontos negativos mesmo em governos simpáticos ao povo pobre e humilde como os do Partido dos Trabalhadores (Lula e Dilma). Claro que é pior negociar com governos de direita e ultradireita, mas é sempre duro defender direitos dos trabalhadores.

Vejam a questão da ultratividade, por exemplo, enquanto o direitista de merda Bolsonaro vetou (em 2020) a manutenção dos direitos de acordos coletivos após a data-base, os governos do PT renovaram a ultratividade em todos os anos cuja medida foi necessária.

CASSI

Por outro lado, qual o sentido de executivos do governo Lula fazerem o que os do Banco do Brasil fizeram conosco nas negociações sobre a Cassi em 2006? As propostas da direção do banco eram péssimas, eram mais que liberais e de direita, os caras no papel de negociadores queriam literalmente “economizar” para o banco às custas de milhares de trabalhadores, colegas deles.

A empresa não cumpria o Estatuto da Cassi desde 1998 e os caras ficaram o primeiro mandato do governo Lula fazendo cara de paisagem ao invés de regularizar o que estava errado. Só em 2005 a direção do BB aceitou negociar a Cassi por força de Acordo Coletivo em campanha salarial e foram 3 anos de insistência nas negociações para se regularizar a questão em 2007. Uma sacanagem!

O que estou afirmando é público, é história. No blog tem dezenas de matérias sobre esse período, matérias da confederação e dos sindicatos. Um exemplo de publicações da época pode ser lido aqui.

E mais, em 2014 e 2015, já estando na gestão da Cassi, os executivos do BB do governo do PT fizeram o mesmo que antes. Os colegas do banco defendiam teses contra os trabalhadores do BB por ideologia liberal, prejudicando os associados da Cassi às vezes igual ou pior do que fizeram os tucanos.

Um exemplo na Cassi: a forma de rateio do custeio por parte dos associados do Plano de Associados só competia a nós definir o modelo e não ao patrocinador. Ele tinha que pagar corretamente seu compromisso estatutário e só (4,5% sobre ativos pré e pós-1998 e aposentados). No entanto, aquela direção tinha uma fixação por quebrar a solidariedade do Plano e fez de tudo para conseguir seu objetivo. Liberais!

PLR NO BANCO DO BRASIL

Ainda em agosto, recuperei um artigo que fiz em 2006 contando a história da conquista da Participação nos Lucros e Resultados no Banco do Brasil e demais bancos públicos (ler aqui), conquista de 2003, enquanto na categoria a PLR é paga desde 1995. Em 2020 os banqueiros quiseram se aproveitar do regime bolsonarista para reduzir o direito.

CAMPANHAS SALARIAIS NO BB FORAM MELHORES COM LULA

Após a campanha salarial da categoria bancária em 2020, postei no blog um pequeno livro a respeito das campanhas da categoria bancária após a eleição de Lula em 2002. Estudei e compilei em março de 2009 as campanhas dos bancários, sobretudo no Banco do Brasil, entre os anos de 2003 e 2008. (ler aqui)

TERCEIRIZAÇÃO DA ATIVIDADE-FIM DA CASSI

Fechei o ano de 2020 em dezembro com 4 textos sobre gestão em saúde. Além de abordar a questão do modelo de atenção primária baseado na medicina de família e comunidade, fiz artigos de opinião sobre a terceirização da atividade-fim de nossa Caixa de Assistência dos Funcionários do BB, a Cassi, que lançou naquele ano parcerias no mercado para fazer o que deveria ser feito por unidades próprias de atendimento em saúde, as nossas CliniCassi. Os 4 artigos podem ser lidos aqui.

É isso. Mais um caderno do blog concluído para meu centro de documentação (cedoc).

William Mendes

5.3.25

E o "Bem Cassi" terceirizado lá de 2020? Deu em quê?


Apresentação do blog:

Escrevi sobre o plano "Bem Cassi", modelo de terceirização da atividade-fim da Caixa de Assistência (Cassi), faz mais de 4 anos (em 09/12/20). Como está o plano na atualidade? E o projeto? Ao reler o que escrevi em 2020 me parece que as preocupações que apresentei seguem atuais.

William


"Viver é muito perigoso... Querer o bem com demais força, de incerto jeito, pode já estar sendo se querendo o mal, por principiar. Esses homens! Todos puxavam o mundo para si, para o concertar consertado. Mas cada um só vê e entende as coisas dum seu modo." (ROSA, 2001, p. 32/33)


OPINIÃO


A Cassi apresenta projeto que claramente visa terceirizar o que a Caixa de Assistência tem de melhor, a Atenção Primária e a Estratégia de Saúde da Família, desenvolvidas através das CliniCassi, essência do modelo assistencial que possibilitou o menor custo assistencial de participantes vinculados à ESF em graus complexos de necessidades mesmo nas maiores faixas etárias. Ao invés de ampliar o modelo próprio, de baixo investimento e de bom custo-benefício, direção opta por terceirizar a atividade-fim da Cassi, uma triste escolha ideológica


Terceirização é uma praga! O capitalismo parece invencível, mesmo sabendo que a vida é a grande derrotada com a vitória do modo de produção capitalista, cujo foco absoluto é o lucro e a mais-valia dos explorados em benefício de pouquíssimos humanos. Com a hegemonia do capitalismo neoliberal tudo na sociedade humana gira em torno desse sistema de acumulação de tudo nas mãos de poucos. A terceirização faz parte dessa lógica.

Sinceramente, eu não sei como começar esse artigo. Perdi o jeito para tratar de assuntos mais técnicos como fiz ao longo de muitos anos ao falar de saúde e de sistemas de saúde como gestor eleito de uma autogestão dos trabalhadores, enfim, enquanto meu lugar de fala foi como diretor de saúde da Caixa de Assistência dos Funcionários do Banco do Brasil (jun/2014 a mai/2018) escrevi mais de 600 textos a respeito dos temas de interesse dos trabalhadores na área de saúde. Aliás, eu tinha um público preferencial como leitor: os formadores de opinião, lideranças e representantes dos associados da Cassi, trabalhadores da ativa e aposentados do BB.

RESPEITO A OPINIÃO DE QUEM PENSA DIFERENTE

Em primeiro lugar, quero registrar que minha opinião sobre esse processo de terceirização da atividade fim da Cassi é uma opinião respeitosa, feita no plano das ideias. Eu conheço parte dos colegas que estão na gestão de nossa Caixa de Assistência, e respeito a opinião deles. Sou defensor ardoroso da ampliação da ESF para o conjunto dos participantes Cassi, todos sabem disso. 

A questão de minha divergência é quanto à estratégia adotada de terceirizar a essência da Cassi. Vejo com muita preocupação isso, tanto no presente quanto no futuro. A epígrafe inicial, do personagem Riobaldo Tatarana, traz sabedoria e um alerta aos defensores da APS/ESF na Cassi: "Querer o bem com demais força, de incerto jeito, pode já estar sendo se querendo o mal, por principiar".

NÃO SE ABRE À CONCORRÊNCIA O QUE SE TEM DE MAIS PRECIOSO

Certa vez, ainda jovem, quando participava de estudos sobre autoconhecimento, aprendi que os seres humanos seriam julgados nos finais dos tempos ou no dia do julgamento final - dependendo de como cada um vê essas questões metafísicas - os humanos seriam julgados de acordo com o conhecimento que tinham, de acordo com o que fizeram ou que não fizeram quando poderiam ter feito. Os mestres diziam aos estudantes que quanto mais conhecimentos adquiríamos, maior seria o peso do julgamento de nossos erros porque não poderíamos alegar ignorância ("não-saber", no sentido respeitoso) e desconhecimento das coisas. Nesse sentido, ignorância seria uma benção!

Sinto que tenho que registrar minha opinião sobre o projeto de terceirização da atividade-fim da Cassi, o "Bem Cassi", piloto lançado em Curitiba (PR) nesta conjuntura de "novo normal" do mundo sob pandemia de Covid-19 e sob a fase capitalista atual, que muitos intelectuais chamam de necrocapitalismo. Eu não tenho informações detalhadas e "técnicas" a respeito do projeto "Bem Cassi"; a informação que tenho é a propaganda do lançamento dele, que vi hoje em um vídeo de 4 minutos e que li no hotsite do projeto. A Cassi vai ampliar a APS/ESF através de duas empresas terceirizadas. De novo, cito Riobaldo Tatarana do Grande Sertão: Veredas: "Eu quase que nada não sei. Mas desconfio de muita coisa". (ROSA, 2001, p. 31)

MINHA OPINIÃO RESPEITOSA É BASEADA NO CONHECIMENTO ADQUIRIDO POR EXPERIÊNCIA NA GESTÃO DA CASSI

Durante 4 anos, eu tive a oportunidade de conhecer a autogestão dos funcionários do Banco do Brasil, a Cassi. Estudei sua história de quase oito décadas. Quase não dormi por 4 anos, pois tive que intercalar os percalços da escolha das estratégias que adotamos no planejamento do mandato: estudar as questões técnicas do sistema Cassi, participar dos fóruns deliberativos internos (milhares de súmulas, notas e documentos), estar nas bases formando e informando os participantes. Em síntese, seria:

1. Estudar a Cassi (tudo: história, processos, pontos fracos, pontos fortes, desafios, soluções, essência da associação, modelo assistencial, modelo de custeio, responsabilidades de cada um: os associados, o patrocinador, a própria Cassi e seu corpo de profissionais, os "parceiros" no mercado privado que vendem serviços caríssimos e nem sempre adequados etc). 

2. Manter os direitos dos associados: solidariedade no custeio entre participantes jovens e idosos, sãos e adoecidos, de baixa renda e com remuneração/benefícios maiores, da ativa e aposentados (ex-colaboradores segundo o patrão) e com o patrocinador assumindo a parte dele na proporção estatutária 40/60 no custeio do plano para todos (ativos e aposentados), enfim: solidariedade plena para todos poderem estar no Plano de Associados por toda a vida. 2.1. Manter a democracia na associação: pesos iguais na gestão entre patrocinador BB e associados para tomada de decisões; aumentar a participação dos associados através de envolvimento nos conselhos de usuários, sindicatos, associações, conferências de saúde, parcerias entre unidades do BB nos Estados e Unidades Cassi/CliniCassi (PCMSO, ESF, Convênios, canais de solução locais).

3. Informar e formar a base associada com conceitos básicos sobre a Cassi, o que era a Caixa de Assistência, seu modelo assistencial, os direitos em saúde maiores que os de planos de saúde de mercado, e buscar colocar os intervenientes do sistema Cassi no mesmo objetivo: fortalecer a Cassi perante o mercado privado prestador de serviços e consumidor dos recursos da Caixa. Fizemos mais de 600 matérias a respeito, mais de 40 boletins mensais; 53 conferências de saúde que contaram com milhares de associados, 65 reuniões presenciais com os conselhos de usuários e dezenas de visitas às unidades Cassi e CliniCassi e entidades representativas nos Estados.

DIVERGÊNCIA ENTRE CAPITAL E TRABALHO É NORMAL QUANDO SE TRATA DE DEFINIR AS RECEITAS E AS FORMAS DE RATEIOS DA ASSISTÊNCIA MÉDICA DE UMA COLETIVIDADE

Como representantes dos trabalhadores, tivemos que defender a Cassi e os direitos dos associados diuturnamente, ora porque chegavam propostas "técnicas" (e políticas) que de alguma forma eram desfavoráveis aos associados (principalmente querendo onerar mais os associados e dependentes e/ou reduzir os recursos e custos que o patrocinador tinha obrigações de investir), ora porque as propostas eram prejudiciais à essência do que era a Caixa de Assistência - uma autogestão de trabalhadores, baseada na Atenção Integral à Saúde, cujo modelo assistencial se desenvolvia através de unidades próprias de Atenção Primária em Saúde (APS) e Estratégia de Saúde da Família (ESF), com programas de saúde que se adequavam às estratégias do modelo. Junto a esse modelo de Atenção à Saúde dos associados, tínhamos um convênio exitoso de saúde do trabalhador (PCMSO) que atuava na saúde de 100 mil funcionários do Banco do Brasil. Os dois sistemas convergiam na busca de saúde coletiva da comunidade BB em todo o território nacional.

Para defender a Cassi e seu modelo assistencial, tivemos que desfazer uma quantidade absurda de mal-entendidos, desinformações e ignorâncias (não-saberes), lugares comuns e, às vezes, até mentiras (fake news). O próprio patrocinador, através de alguns de seus representantes à época, contribuía para desinformar os participantes da ativa e aposentados (e suas entidades representativas) quando sugeria que o modelo assistencial da Cassi não era eficiente, que as Unidades Cassi e CliniCassi não atendiam seus objetivos, que a estrutura da Cassi era cara e onerosa etc. Inclusive, o patrocinador atuou fortemente na desconstrução dos direitos estatutários dos associados na gestão da associação, dizendo que a autogestão não tinha mecanismos de decisão adequados. Lógico que aqui estamos falando que a "grita" do banco era quando a Cassi não aprovava as propostas mais favoráveis ao patrão/patrocinador e contrárias aos interesses dos associados.

CONSEGUIMOS UNIR A COMUNIDADE BANCO DO BRASIL NA DEFESA DO MODELO ASSISTENCIAL, DA ESTRUTURA PRÓPRIA DE SAÚDE E DOS PROFISSIONAIS DA CASSI. PROVAMOS QUE A ESF REDUZ O CUSTO DO SISTEMA, MESMO COM POPULAÇÃO MAIS IDOSA

Por 4 anos, mesmo sem recursos financeiros e materiais adequados, fomos grandes incentivadores dos profissionais da Cassi, principalmente das áreas de saúde, para que seguissem atuando naquilo que mais tinham perfil para atuar: desenvolver estratégias para ampliar o modelo de saúde APS/ESF, a promoção de saúde e prevenção de doenças, o acompanhamento dos participantes crônicos, a recuperação dos pacientes adoecidos e agravados etc. Basta ver que ampliamos em mais de 20 mil o número de cadastrados na ESF. A Cassi desenvolveu estudos nunca feitos nos planos de saúde que apresentaram resultados das vantagens do modelo de APS/ESF numa população relativamente estável ao longo do tempo no Plano de Associados e nos crônicos do Cassi Família. Colocamos todos os intervenientes na mesma direção para defender o modelo assistencial da Cassi.

Além disso, também desfizemos os mal-entendidos e as bobagens que se falavam da estrutura de saúde da Cassi, Unidades Cassi, CliniCassi, quadro próprio de profissionais do sistema de Atenção Primária/ESF e PCMSO. O custo administrativo da estrutura Cassi era o menor do setor de saúde brasileiro, em relação às empresas similares de autogestão, das medicinas de grupo e das cooperativas médicas. Uma estrutura absolutamente eficiente ao se comparar o custo-benefício. E isso com a Cassi tendo a maior quantidade de idosos do setor no país! Os recursos do sistema Cassi (mais de 90%) são gastos nos prestadores através das internações, e grandes despesas assistenciais com materiais, exames etc. Os recursos são gastos na estrutura de 2º e 3º graus e de apoio na rede privada.

A estrutura de Atenção Primária da Cassi, com quase 150 equipes de família nas 66 CliniCassi e 27 unidades Cassi, e a estrutura de medicina do trabalho (PCMSO) era e é muito barata e deveria ser ampliada ao longo dos anos para poder reduzir o custo assistencial na compra de serviços de saúde na rede prestadora daquilo que não era possível fazer na estrutura primária da Cassi. A direção e os associados poderiam avaliar diversas formas de verticalização ou parcerias para atendimento das demandas de segundo e terceiro graus e estruturas de apoio à saúde. Isso é normal e faz parte das estratégias de gestão.

A autogestão Cassems dos servidores do Estado do Mato Grosso do Sul, por exemplo, é um caso exitoso de verticalização própria de hospitais pequenos e médios nos interiores do Estado, e também laboratórios e clínicas, inclusive de Atenção Primária. Nós propusemos ampliar a estrutura própria da Cassi de Atenção Primária e ampliar os serviços nas CliniCassi, inclusive criando estruturas para especialidades, para dar sequência no atendimento primária da ESF. O investimento era baixíssimo, se comparado com o custo assistencial dos participantes na rede privada em serviços similares. A estrutura própria de saúde da Cassi é eficiente e de baixo custo administrativo. Isso é fato.

A TERCEIRIZAÇÃO É GRANDE RESPONSÁVEL PELA CONCENTRAÇÃO DE RECURSOS A POUCOS E PELA EXCLUSÃO DO ACESSO A DIREITOS POR PARTE DA CLASSE TRABALHADORA 

Tem uma reflexão do historiador Eric Hobsbawm, contida no livro A era dos extremos, que ilustra bem o que estamos vivendo neste momento da história humana em relação à superexploração do trabalho através de terceirização, quarteirização, uberização, privatizações transformando direitos em serviços etc:

"(...) De qualquer modo, o custo do trabalho humano não pode, por nenhum período de tempo, ser reduzido abaixo do custo necessário para manter seres humanos vivos num nível mínimo aceitável como tal em sua sociedade, ou na verdade em qualquer nível. Os seres humanos não foram eficientemente projetados para um sistema capitalista de produção. Quanto mais alta a tecnologia, mais caro o componente humano de produção comparado com o mecânico." (HOBSBAWM, 2006, p. 404)

Já estamos superando até os cabeças de planilha do sistema capitalista, aqueles que planilham tudo para cortar custos diariamente e aumentar os resultados das empresas (tudo é empresa, e tudo visa eficiência operacional "em tese"). Os próprios trabalhadores são destacados para direcionar os clientes/usuários aos novos serviços tecnológicos que irão cortar os postos de trabalho deles mesmos. 

Um exemplo disso no setor de saúde é a panaceia chamada de "telemedicina", que virou uma espécie de "Emplasto Brás Cubas" para curar todos os males da humanidade. Uma coisa seria a telemedicina auxiliar os processos de saúde durante a crise humanitária da pandemia de Covid-19 ou como sequência de um atendimento já com histórico do paciente; outra coisa é substituir o acolhimento presencial das pessoas por "telemedicina" como começa a surgir no mercado dos serviços de saúde.

Nos bancos, os bancários foram obrigados a empurrar os clientes para terminais de autoatendimento, serviços telefônicos e terceirizadas ao lado do banco. Os trabalhadores com direitos trabalhistas coletivos históricos são demitidos e convidados a serem eles mesmos "empresas" e isso deu nos uberizados do mundo. Os donos de tudo ficam mais bilionários e os trabalhadores mais miseráveis e sem nada. Como diz Hobsbawm, os trabalhos dos seres humanos estão ficando mais caros que qualquer processo por máquina e até os centavos gastos com uberizados têm que ser reduzidos... 

A INTENÇÃO PODE SER BOA, MAS TERCEIRIZAÇÃO DA ATIVIDADE-FIM DA CASSI É UMA OPÇÃO RUIM E TALVEZ SEM VOLTA, CASO SE ABRA MÃO DA ESTRUTURA DE SAÚDE DA CAIXA DE ASSISTÊNCIA

Durante 4 anos de mandato fizemos "loonngos" debates com as representações do patrocinador/patrão contestando e refazendo cálculos de planilhas sobre as Unidades Cassi, as CliniCassi (eram eficientes ou não?), o quadro de profissionais da Cassi (eficientes e preparados ou não?); apresentávamos outro ponto de vista e em muitos casos convencemos os colegas com argumentos consistentes como a eficiência da ESF, como o baixo custo administrativo da Cassi, dentre outros. Discordei de todas as propostas nas quais o Banco poderia deixar de custear os aposentados, ou cobrar mais de quem usasse mais o sistema Cassi, quebras de solidariedade, redução de direitos em saúde etc. 

No entanto, a hegemonia do capital e do mercado é uma praga! É sempre assim! Enquanto se veem com maus olhos qualquer investimento em estrutura própria (ou despesa administrativa), que poderia trazer economias importantes de milhares e milhões de reais em despesa assistencial na compra de serviços caros na rede privada, o foco das discussões acaba sendo repetidamente desviado para o custo administrativo e as supostas vantagens em contratar ou fazer fora o que se poderia fazer na própria autogestão. E daí vem a solução mágica do mercado: TERCEIRIZAÇÃO, com os nomes mais perfumados possíveis.

Por 4 anos, ouvi dos mais diversos setores, dirigentes e profissionais da Cassi que tínhamos razão em quase tudo que discutíamos sobre ampliar a APS/ESF e a estrutura de saúde do modelo assistencial Cassi. A questão era a época errada para aquela discussão: não tínhamos recursos na Caixa por causa dos déficits recorrentes e subfinanciamentos do sistema. E agora? A escolha por terceirizar a atividade-fim do modelo assistencial da Cassi é por falta de recursos? Não me parece.

É isso! Para quem está fora dos debates há mais de dois anos, já fiz o registro respeitoso do que penso sobre esse projeto "Bem Cassi" de terceirização da Cassi naquilo que é a essência da autogestão. A tendência lógica desse "modelo" é vermos depois do piloto as planilhas de "eficiência operacional", depois as comparações com a estrutura interna de saúde da Cassi, depois as dificuldades de investimento próprio, depois a opção em expandir a terceirização e reduzir os "custos" da estrutura da "empresa" etc. 

Eu não culpo as representações dos associados por às vezes apoiarem iniciativas que podem não ser tão ideais para os trabalhadores (TERCEIRIZAÇÃO não é boa para os trabalhadores) porque certas áreas de conhecimento precisariam da assessoria técnica e de dirigentes eleitos com visões de mundo próximas ao mundo do trabalho, dirigentes que dialogassem com os sindicatos, associações e conselhos de usuários e que, se necessário, se colocassem contra os interesses do capital, do patrão. É uma questão de lado, e nesse sentido não tenho visto isso acontecer na Cassi. E repito: respeito os colegas que temos lá, conheço muitos deles. 

Aproveito para reafirmar meu grande apreço pelos trabalhadores da Cassi, que além de serem muito dedicados à autogestão, cumprem suas tarefas com muito profissionalismo.

Esta é minha opinião sobre o "Bem Cassi". Finalizo meu registro com mais uma reflexão do personagem Riobaldo Tatarana, contida no Grande Sertão: Veredas: "pão ou pães, é questão de opiniães... O sertão está em toda a parte" (ROSA, 2001, p. 24)

Abraços a tod@s e desejo uma Cassi fortalecida em seu modelo assistencial, sustentável e com uso racional dos recursos, solidária em seu custeio do Plano de Associados, longeva e que seja para o conjunto dos trabalhadores da ativa e aposentados e seus dependentes.

William


Bibliografia:

HOBSBAWM, Eric. Era dos extremos - O breve século XX, 1914-1991. São Paulo: Companhia das Letras, 2006.

ROSA, João Guimarães. Grande Sertão: Veredas. 19ª edição. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2001.