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17.12.23

História dos bancários: um olhar (XII)



Sindicato é sindicato, partido é partido, governo é governo...

O ano em questão era o de 2008, o Banco do Brasil comemorava os seus 200 anos de história e o Brasil era governado pelo Partido dos Trabalhadores, o presidente Lula estava em seu segundo mandato. A ampla maioria das lideranças do movimento sindical cutista e de outras forças políticas definiu em nossos congressos de trabalhadores apoiar a reeleição em 2006. 

No entanto, as condições de trabalho no BB estavam muito ruins, a direção do banco vinha numa sequência de decisões monocráticas que prejudicavam o conjunto dos funcionários, além de estar reestruturando o banco através de terceirizações. As metas e o assédio moral eram institucionalizados da mesma forma que ocorria nos outros bancos, tínhamos até mesa com a Fenaban para tentar frear o abuso na forma de cobrança de metas.

Foi nesse cenário que fiz um artigo de opinião dizendo que o movimento sindical deveria endurecer as relações com a direção do Banco do Brasil. Posso até ter sido duro com o governo ao falar dos seis anos, mas o dirigente sindical está no calor dos problemas e com seus representados sofrendo, é natural que eu carregasse no tom.

CENÁRIO INTERNACIONAL - Além da direção do BB estar atuando pessimamente com o corpo de funcionários e no papel de banco público, vivíamos a maior crise do capitalismo desde 1929, com a crise do subprime e a quebra da economia mundial. 

Meses depois do artigo que fiz criticando a direção do banco - e muita gente sindicalista e de esquerda não gostou de minha crítica ao nosso governo -, ficou claro que o governo Lula cobrava dos bancos públicos uma liderança na redução das taxas de juros e do maior spread do mundo. 

Os bancos públicos tinham a obrigação de liderar o sistema financeiro na queda dos juros e o presidente do BB era o que mais dava entrevistas ao mercado dizendo que não iria seguir as instruções do governo, que iria seguir o mercado blá blá blá... foi demitido!

Como diz o ditado popular, o tempo é o senhor da razão! (isso serve para mim também, pois em relação ao comentário que fiz sobre a China, eu pensaria duas vezes para fazer a mesma observação hoje rsrs)

Enfim, segue abaixo o texto que fiz, se não me engano, em agosto de 2008, estávamos no início da campanha nacional da categoria bancária. Lima Neto foi demitido em abril do ano seguinte. 

William Mendes

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Artigo de opinião


EM RELAÇÃO AO BB, O MOVIMENTO SINDICAL CUTISTA DEVE ROMPER COM O GOVERNO LULA

São 6 anos de governo do Sr. Luís Inácio Lula da Silva, do Partido dos Trabalhadores. É inegável que o Brasil mudou para melhor. Não é preciso destrinchar dados para mostrar melhor distribuição de renda, diminuição da miséria, melhor inserção brasileira no contexto internacional, fortalecimento das instituições públicas (com exceção do Banco do Brasil), entre tantos outros pilares econômicos e sociais.

São 6 anos de governo Lula e também são 6 anos de desmonte do papel do BB enquanto banco público. São 6 anos de assédio moral e condições de trabalho idênticas ou piores do que os piores momentos dos governos anteriores.

Ao mesmo tempo, é revoltante ver que não há sequer condições idênticas de tratamento por parte das empresas cujo comandante é o mesmo governo, pois se no BB tudo vai de mal a pior, na Caixa Federal percebemos nesses 6 anos que ocorreram avanços, com muita luta é verdade, mas as diferenças são substanciais.

Para ficarmos em alguns exemplos, basta lembrarmos que a Caixa executa programas sociais e é agente do governo no PAC (Programa de Aceleração do Crescimento). Além disso, teve negociações do PCS que puderam ser apreciadas pelo corpo social e contratada em acordo. Vem reduzindo a terceirização ano após ano, por força de acordos com o ministério público. Tinha uma força de trabalho de mais de 100 mil trabalhadores em 2002, onde metade era de terceirizados, e hoje os bancários concursados chegam a 75 mil. É evidente que estão sobrecarregados ainda, pois são necessários cerca de 120 mil trabalhadores para as demandas atuais.

O BB, ao contrário, vem lançando pacotes de DESestruturação todos os anos. Enxuga aqui, terceiriza ali, centraliza e descomissiona acolá. Só para lembrar alguns casos: centralização das Eqesps, que viraram Nucacs, que foram incorporadas pelas Geries, que viraram Gerel, que viraram SCO e SCL. Todas elas com movimentações compulsórias de trabalhadores e suas famílias.

Além disso, vieram as centralizações das Corporates e das Empresariais. Também centralizaram-se as Gecex. Agora está centralizando, terceirizando, enxugando e dispensando de novo as pessoas da mesma Gecex. Demissões em massa de advogados das Ajures. Reestrutação de URRs e por aí afora.

Em 2003, chegamos a exigir a nomeação de mais de 5 mil caixas executivos. Achávamos que era uma vitória perene. Mal sabíamos que o banco logo mais viria a não querer mais atender à população, e acabar de vez com os caixas, inclusive terceirizando o processamento dos envelopes de autoatendimento, para a Cobra, que quarteirizou, e hoje existe regime de quase escravidão para o tal setor. Aos caixas sobreviventes, sobra a opção de ser caixa volante: um dia aqui, outro ali, onde precisar... (e o banco sabe que nós sempre fomos contra part-time e contratações sazonais!)

Para não passar em branco, não vamos esquecer que o BB faz concurso extorquindo a população, pois não chega a chamar mais que 10 ou 20% dos aprovados, ludibriando as pessoas com concursos que não prometem vagas e sim “quadro de reservas”. E olha que só em 2007 dispensou mais de 7 mil bancários no auge de suas carreiras para ficarem recebendo em casa por até 10 anos, além da bolada que pagou a eles para aliviar passivo trabalhista. Custo este que ficou na casa de ½ bilhão só no primeiro ano.

É bom saber que o plano foi feito para um conjunto de altos executivos (feito por eles mesmos). Mas, para darem uma capa de transparência, tiveram que estendê-lo a outros funcionários, o que acabou retirando do corpo funcional 5 mil pessoas a mais do que o planejado pela diretoria.

Dessa vez o BB chutou o pau-da-barraca: o LIC que trata da reestrutuação da Gecex (“LIC PAQ GECEX”) é idêntico às instruções que nós enfrentamos na época do PDV/PAQ entre 1995/97. O que é pior, ele diz que não reconhece direitos dos bancários, cipeiros, delegados sindicais (então o banco quer dizer que o contrato com a Contraf-CUT não existe?!).

Penso que o movimento sindical CUTista deve romper com o governo federal em relação ao Banco do Brasil e não deve mais haver negociações com essa diretoria que aí está. Essa diretoria, a começar pelo seu presidente Sr. Lima Neto e incluindo toda a sua cúpula, está envergonhando a todos nós que queríamos mudanças no banco, tanto de diretrizes quanto de tratamento ao corpo funcional.

De que adianta mostrarmos boa vontade em negociar com o banco, sendo que coisas básicas como respeito às leis trabalhistas, condições de trabalho, dignidade humana e não terceirização dos serviços bancários o banco prefere dizer que não negocia e que busquemos a justiça?

Nesse período de (des)comemoração de 200 anos do BB, devemos exigir do Governo Federal a troca desses senhores que, além de não mudarem os rumos da empresa Banco do Brasil a partir de 2003, fizeram foi piorar as condições internas e externas da empresa que, hoje, pouco tem de coisa pública.

O BB está para público, assim como a China está para comunista; ambos gigantes por natureza, antidemocráticos, com alguns mais iguais que os outros, e em função de interesses privados e, às vezes, escusos.

William Mendes

Secretário de imprensa da Contraf-CUT

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Post Scriptum - O texto anterior desta série pode ser lido aqui.


2.11.23

História dos bancários: um olhar (XI)



A Caixa é do povo (I)

02 de novembro de 2023.


Dando sequência aos textos sobre a história dos bancários, hoje vamos trazer um pouco da história de luta das empregadas e empregados da Caixa Econômica Federal, estatal importantíssima para o desenvolvimento do país e para os governos brasileiros por ser um banco importante como agente e executor de políticas públicas e sociais.

A Caixa, seus empregad@s e suas entidades representativas enfrentaram momentos duríssimos ao longo dos governos golpistas de Temer e Bolsonaro entre 2016 e 2022. Foram anos de resistência para a manutenção do banco público e dos direitos dos trabalhadores.

Ao longo dos dez primeiros meses de governo Lula, a Caixa viveu um período de reconstrução sob o comando da presidenta Maria Rita Serrano. 

Como admirador antigo da Caixa Econômica Federal, fiquei muito feliz ao ver o banco sendo bem administrado pela empregada de carreira e dirigente sindical Rita Serrano, do ABC, liderança com longa história de lutas. 

De forma inversa, fiquei muito decepcionado com a entrega, dias atrás, de nosso banco público para as forças políticas de direita e extrema-direita do grupo com alcunha de "Centrão". Espero que a Caixa não deixe de ser o banco público que vinha sendo reconstruído pela companheira Rita e sua equipe.

Enfim, nesta primeira postagem sobre o material antigo que tenho dos anos 1990 - o folder "A Caixa é do povo" -, vou reproduzir a carta que a diretoria da FENAE enviou ao conjunto dos empregados da empresa. Uma das pessoas que assina é um grande amigo e companheiro de lutas, Plínio Pavão. Aprendi muito com ele ao longo da vida sindical.

Como o material é denso, farei outras postagens com os textos e temas abordados naquele momento importante da história de luta dessa categoria aguerrida que é a categoria bancária. O material conta a história da estatal e contextualiza o perigo de esvaziamento do papel do banco público vivido com a reforma bancária no início dos anos 1990.

Boa leitura!

William

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Reprodução de material de 1990

Aqui começa mais uma caminhada dos bancários da CEF. Para que você possa participar dessa jornada, estamos colocando em suas mãos a base do itinerário a ser cumprido, com informações e avaliações sobre as bases determinadas da atual crise, um pouquinho de nossa história, as consequências do projeto da classe dominante e o eixo básico da Campanha que estamos iniciando. O caminho existe; sem você não haverá caminhada.

Coordenação Nacional em Defesa da CEF

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Abaixo, reproduzo a carta que a direção da FENAE enviou aos empregados da Caixa no início de 1990 para que os trabalhadores contribuíssem com a campanha nacional em defesa do banco público e das demais estatais brasileiras. O Brasil passava por uma reforma bancária, diz o documento, e havia a ameaça de esvaziamento do papel das instituições públicas.

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Brasília (DF)

Companheiro(a)

Nos últimos 3 anos desenvolvemos um grande processo de discussões da Reforma Bancária, reforma que vem sendo efetuada pelo governo brasileiro, financiada pelo Banco Mundial, que já alterou muito as características do nosso Sistema Financeiro.

Você está recebendo em anexo um FOLDER, no qual encontrará uma avaliação profunda desta Reforma.

Em torno das informações, mas principalmente, da concepção política nele contida, lançamos a CAMPANHA EM DEFESA DA CEF. Este documento inicial e sua leitura é condição básica para o entendimento e participação do(a) companheiro(a) neste gigantesco desafio que enfrentaremos nos próximos meses.

Desenvolvemos, ao longo dos últimos 60 dias, um incessante trabalho para estruturar esta campanha, que somente se efetivará com sua participação. Nós, em conjunto, vamos resgatar a identidade e a importância da CEF e de todas as demais estatais para o nosso País e, também, enfrentar o projeto global de internacionalização da economia brasileira, que entrega décadas de esforço do nosso povo.

Até meados deste ano, estará regulamentada a nova Constituição, no tocante ao Sistema Financeiro.

Os projetos que transitam no CONGRESSO NACIONAL com este fim esvaziam os Bancos Públicos, especialmente a CEF, consolidando o projeto de Reforma Bancária do BIRD.

Esta Campanha que desenvolvemos, utilizando todos os recursos de comunicação, mídia e mobilizações possíveis, destaca a cada um de nós um importantíssimo papel.

Por outro lado, consumirá uma considerável soma de recursos financeiros. A previsão é de 5.141.000 BTNF.

Obviamente, nós teremos que arcar com este custo, por isso, estamos iniciando neste momento a campanha financeira que levantará os recursos necessários.

Caberá, assim, a cada um de nós 79,23 BTNF, parceladas em três meses, ou seja, 26,40 BTNF mensais.

Por outro lado, boa parte do material de campanha como "botons", camisetas e plásticos para carros serão vendidos, o que cobrirá as atividades como reuniões, seminários e outros eventos estaduais e nacionais que não constam do orçamento acima citado.

Já definimos com a Direção da CEF o DESCONTO EM FOLHA DE PAGAMENTO, que, naturalmente, depende de uma autorização expressa de cada companheiro.

Para isso, basta que você, num ato de compreensão do momento que vivemos e da importância deste movimento nacional em defesa do patrimônio público, DESTAQUE A "AUTORIZAÇÃO DE DESCONTO EM FOLHA" existente ao final deste manifesto e REMETA PARA A FENAE em Brasília, ou ainda para sua ASSOCIAÇÃO DE PESSOAL ou COMITÊ ESTADUAL EM DEFESA DA CEF ou representante de sua unidade.

O CAMINHO EXISTE, PORÉM, SEM VOCÊ NÃO HAVERÁ CAMINHADA.

A CEF É DO POVO.

DEFENDA A CEF VOCÊ TAMBÉM. VEM!

          SEC. GERAL: Ricardo Freitas 237113 - Florianópolis-SC

          SEC. IMPRENSA: Márcia Kumer 283100/507 - Porto Alegre-RS

                                      Rita Lima 2236988/184 - Vitória-ES

                                      Plínio Pavão 2886065 - São Paulo-SP

          SEC. FINANÇAS: José Hilton 2217200 - Divinópolis-MG

                                      João Bosco 2112405 - Fortaleza-CE

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As próximas postagens abordarão mais conteúdos da cartilha em defesa da Caixa.


Fonte: 

Folder A Caixa é do povo. FENAE e Coordenação Nacional em Defesa da CEF


Post Scriptum: para leitura do texto anterior sobre a "História dos bancários", clique aqui.


23.10.23

História dos bancários: um olhar (X)



O Espelho - Revista Nacional dos Funcionários do Banco do Brasil

23 de outubro de 2023


Unidade e organização pela defesa dos nossos direitos

Ao ler as informações contidas na revista O Espelho nº 2, de fevereiro de 1983, me veio à memória muitas lembranças a respeito desse importante veículo de comunicação dos funcionários e funcionárias do maior banco público do país, o Banco do Brasil.

Durante mais de uma década fui um dos responsáveis pela confecção e edição da revista nacional O Espelho, produzida na minha época de militância pela Confederação Nacional dos Bancários (CNB/CUT) e depois pela Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramos Financeiro (Contraf-CUT), na qual fui secretário de imprensa, depois secretário de formação e também coordenei a Comissão de Empresa dos Funcionários do Banco do Brasil (COE BB ou CEBB). 

A responsabilidade pela publicação à época desta edição (número 2) era da Comissão Executiva Nacional dos Funcionários do Banco do Brasil, escolhida no IX Encontro Nacional dos Funcionários do BB, realizado em outubro/82. A informação está na última página do jornal. A Comissão era composta pela Contec e pelos sindicatos de Brasília, Rio de Janeiro e São Paulo.

Esta edição que tenho em casa é uma relíquia, ela é anterior à criação da CNB/CUT (1992), e anterior ao DNB/CUT (1985/86), departamento criado dentro da CUT (1983) para organizar os bancários em nível nacional.

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Reprodução da primeira página

Unidade e organização pela defesa dos nossos direitos

Neste momento, em que o país passa por difíceis situações e no qual se procura de todas as formas desestabilizar as empresas estatais, entre elas o Banco do Brasil, os funcionários do BB - mais do que nunca - devem reforçar sua unidade e organização, a nível nacional, para lutar pela manutenção de seus legítimos direitos, adquiridos ao longo da História.

Aqui está o segundo número d'O ESPELHO/Edição Nacional procurando levar aos colegas de todos os estados, das capitais e interior, o recado animador, com os informes do que já foi encaminhado e do que devemos fazer daqui para frente.


No dia 2 de dezembro de 1982 a Diretoria do BB recebeu em audiência representantes da CONTEC e dos Sindicatos de Brasília e do Rio de Janeiro. Na oportunidade discutiram-se as possibilidades de negociação e do cumprimento das convenções coletivas pelo BB, mediante autorização do CNPS (Conselho Nacional de Política Salarial).

Até agora não obtivemos resposta do Banco. Não sabemos sequer se o seu Conselho diretor aprovou tal consulta ao CNPS, apesar da insistência da Contec e dos Sindicatos. Entretanto, mais do que nunca se firma a necessidade de estabelecermos uma pauta de reivindicações que contente a totalidade dos funcionários do BB, com vista à realização de negociações com o Banco. Com esse objetivo, foi definida a realização do X ENCONTRO NACIONAL DE DIRIGENTES E FUNCIONÁRIOS DO BANCO DO BRASIL, nos dias 19 e 20 de março de 1983 (sábado e domingo), no Rio de Janeiro, na sede do Sindicato dos Bancários.

Na sua Circular nº 83/008, de 4 de fevereiro, a CONTEC dirigiu às Federações, Sindicatos e Associações de Bancários todas as informações necessárias à participação no X Encontro: ele deve ser precedido da realização de Assembleias dos funcionários do BB nos Sindicatos até o dia 10 de março, para aprovar a pauta de reivindicações que será apresentada ao Banco, delegação de poderes para negociação e escolha de delegados ao X Encontro. A CONTEC sugere que os sindicatos componham as suas delegações com um representante de cada Agência do Banco existente em sua base territorial e que compareça, pelo menos, um dos seus dirigentes, mesmo que não seja funcionário do BB.

Os funcionários do BB sempre estiveram à frente nas lutas dos trabalhadores. O momento agora exige de nós um trabalho persistente: todo funcionário está chamado a ajudar o seu Sindicato a convocar amplamente a assembleia preparatória para o X ENCONTRO, fator fundamental para a nossa vitória.

QUAIS SÃO AS NOSSAS REIVINDICAÇÕES

Como sugestões para compor a pauta de reivindicações, a Comissão Executiva dos Funcionários do BB aprovou o seguinte:

Produtividade - a maior conseguida no país;

Anuênio - Cr$ 2.455,00 corrigido pelos INPCs de março e set/83;

Ajuda Alimentação - a) tíquete nas condições de São Paulo, b) restaurante administrado pelos funcionários do banco;

Estabilidade - durante a vigência do acordo;

Quadro de Carreira - criação de uma comissão paritária para estudar o assunto;

Creche - idem, idem;

Conflitos - funcionamento de uma comissão sindical para discuti-los. deverão ser incluídas reivindicações ligadas aos problemas de relações de trabalho, Caixa de Previdência e de Assistência, etc.

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COMENTÁRIO DO BLOG

Eu me tornei trabalhador da categoria bancária em 1988, primeiro no Unibanco, até maio de 1990, e depois no BB, a partir de setembro de 1992. Enquanto fui bancário de base, fui sendo politizado pelo nosso Sindicato na Grande São Paulo. Fui sindicalizado tanto no tempo do Unibanco quanto no BB, alguns meses após tomar posse do cargo de escriturário na agência Rua Clélia. Sou sindicalizado até hoje em nosso Sindicato.

Em 2002 fui eleito diretor do Sindicato dos Bancários de São Paulo, Osasco e região e a partir desse momento passei a estudar a nossa história de lutas para compreender melhor quem eu era enquanto trabalhador bancário e representante de meus colegas.

Sempre que encontrava materiais informativos sobre a categoria e a nossa história eu pegava as mídias para ler. Também fui um leitor atento dos jornais da categoria, tanto a nossa Folha Bancária quanto as revistas e jornais estaduais e ou nacionais.

No início dos anos oitenta, época deste informativo, os trabalhadores brasileiros sofriam horrores sob a ditadura empresarial e militar, que havia começado com o Golpe de 1964 e ainda causava miséria e carestia ao povo. Os salários e acordos coletivos eram regionalizados. 

O movimento sindical que viria a ser conhecido como Novo Sindicalismo começava a se destacar após as greves dos metalúrgicos do ABC e outras greves e enfrentamentos importantes como tivemos na categoria bancária.

Enfim, a história de lutas da classe trabalhadora brasileira e dos bancários é longa e aguerrida. Assim que comecei a estudar a nossa história, compreendi a responsabilidade que teria como dirigente sindical bancário.

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Segunda parte

Nessa página está um texto intitulado "A importância do BB", texto que destaca a história secular do Banco, que alega que a estatal funciona bem e auxilia o governo e o país e que enaltece o quadro de funcionários e a estrutura nacional do Banco

FGTS - A revista traz uma denúncia de que funcionários do Banco estavam sendo obrigados a "optar" pelo regime do FGTS, abrindo mão da estabilidade no emprego.

"A verdade é que o quadro de carreira do Banco do Brasil vem sendo desmantelado. Os novos empregados são obrigados a 'optar' pelo regime do FGTS, abrindo mão de toda a estabilidade. Quase todos os dias há casos de colegas sendo demitidos sem que nenhuma justa causa seja apresentada para a dispensa. Com a chamada 'política salarial', verdadeira salada de casuísmos, regurgitada desde 1965 pelos governos que se sucederam sob o título de 'revolucionários', e com as famosas 'reestruturações' de carreiras aprovadas nos gabinetes do Ministério do Trabalho, sigilosamente, ninguém sabe como, já bem pouco resta da saúde administrativa da estrutura que tornou o Banco do Brasil grande e respeitado."

O jornal denuncia a redução de até 40% dos salários nos últimos dois anos. Com as políticas salariais do regime autoritário, a Comissão Executiva Nacional conclama que todos se envolvam nas lutas:

"É preciso tomar uma posição. Comissionados ou não, chefe ou contínuo, estaremos todos no mesmo barco. Participe do seu sindicato, e contribua para barrarmos as imposições do capital internacional."

COMENTÁRIO DO BLOG: por décadas, participei das lutas da categoria e as pautas do mundo do trabalho sempre tiveram eixos parecidos. Me lembro de organizar os bancários explicando que os comissionados tinham que participar do movimento, ainda mais depois que os bancos inventaram um monte de função comissionada para manipular os trabalhadores ideologicamente como se eles fossem "chefes" e não "trabalhadores". Já no início dos anos dois mil, praticamente todo mundo nas agências tinha algum tipo de "comissão" para o banco dizer que eram funções de confiança. Uma lábia para enganar a categoria.

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BANCÁRIOS PARTICIPAM DA CRIAÇÃO DA CUT EM AGOSTO DE 1983

Esse excerto que cito abaixo é muito legal! A categoria bancária é estimulada a participar ativamente da criação da Central Única dos Trabalhadores (CUT), em Congresso que se realizará em agosto de 1983 (CONCLAT).

"Os trabalhos da comissão de Política Sindical, aprovados pela plenária, basearam-se nas conclusões da I Conferência Nacional da Classe Trabalhadora realizada em Praia Grande, em 1981. Entre as teses aprovadas, destaca-se o princípio de unicidade sindical, ou seja, um só sindicato representando uma só categoria: a necessidade de liberdade e autonomia sindical, para que os trabalhadores tenham o direito de se organizarem independentemente do Estado, tendo que prestar contas somente aos seus representados. Foi colocada a necessidade de os bancários de todo o país participarem do Congresso Nacional das Classes Trabalhadoras (CONCLAT) em agosto de 1983, do qual sairá, certamente, a Central Única dos Trabalhadores (CUT), um órgão que se propõe a encaminhar unitariamente reivindicações comuns dos assalariados."


Ainda na página três do jornal, lê-se a informação de que ocorreu em 28/01/83 o Encontro Nacional dos funcionários do BB, aproveitando a VII Convenção Nacional dos bancários. A reinvindicação de cumprimento das convenções coletivas constava do documento final. 

Tive a felicidade de ver durante minha época de militância a realização de uma luta antiga: o cumprimento por parte dos bancos públicos da convenção nacional da categoria. Em 2006 o BB passou a cumprir a CCT da categoria e depois a Caixa Federal também.

Na última página, o jornal dá notícias sobre o andamento de ações na justiça em relação ao cumprimento do Dissídio Coletivo de 1974.

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COMENTÁRIO FINAL

É isso! Finalizo a postagem de história dos bancários de hoje. A militância do Banco do Brasil participou ativamente da história das conquistas da classe trabalhadora brasileira, da criação da CUT, e nós sempre fomos vanguarda do movimento sindical.

A revista O Espelho fez parte de minha vida de trabalhador do BB. Durante décadas me informei por esse veículo de informação. 

E mais: durante minha vida de sindicalista, distribuí O Espelho de mão em mão nos locais de trabalho das bases onde atuei.

Abraços a todas e todos!

William


Post Scriptum: para ler o texto anterior desta série é só clicar aqui.


18.10.23

História dos bancários: um olhar (IX)



A história do Banco do Brasil - Afonso Arinos

18 de outubro de 2023


O Banco do Brasil completou nesta semana 215 anos de existência, considerando suas falências e refundações a partir de 12 de outubro de 1808. É uma longa existência, uma longa história de serviços prestados ao Brasil e aos brasileiros e brasileiras!

Tive o privilégio de fazer parte de seu quadro de funcionários entre 9 de setembro de 1992 e 3 de abril de 2019. Agora, sigo pertencendo à comunidade Banco do Brasil, porque sou beneficiário de nossa Caixa de Previdência, a Previ, e sou associado de nossa Caixa de Assistência, a Cassi, entidades cooperativas e solidárias criadas pelos funcionários da empresa pública bicentenária.

Os bancos públicos têm uma importância central no apoio ao desenvolvimento de um país. Sem financiamento com taxas e tempo justos, um país não terá desenvolvimento econômico. Bancos públicos são fundamentais para o financiamento da agricultura, indústria e comércio. Para habitação, grandes obras públicas, ciências e tecnologias etc.

Quando cheguei ao quadro de funcionários do Banco tive outra sorte grande ao me aproximar de nossas entidades representativas, principalmente o sindicato que organizava a base social onde trabalhava na grande São Paulo. Militar no movimento sindical me formou como pessoa e como cidadão.

Acabei sendo eleito dirigente sindical em 2002 e por 16 anos exerci mandatos eletivos nos mais diversos espaços de organização social e lutas por direitos coletivos. Foi um grande aprendizado de vida! Acredito que tenha deixado a minha contribuição à bonita história de luta de nossa categoria profissional pertencente à classe trabalhadora.

Ao longo da vida de trabalhador bancário, uma das categorias mais organizadas do país, acabei estudando nossa história e a história das lutas da classe trabalhadora para poder representar bem meus colegas de trabalho. Além de representante de base e diretor do Sindicato, fui secretário nacional de imprensa e de formação de nossa confederação, depois fui coordenador das negociações nacionais com a direção do Banco e por fim fui diretor eleito de saúde de nossa Cassi.

Nesta série "História dos bancários: um olhar" pretendo registrar um pouco de nossas lutas e conquistas ao longo do tempo, tendo como referência as diversas mídias que acumulei ao longo de minha representação da categoria. Tenho muito material guardado e após dar uma organizada e colocá-lo em ordem cronológica, avalio que dá para ir contando um pouco da caminhada dessa categoria aguerrida e de vanguarda. A intenção é fazer uma publicação por semana.

É isso. Nesta postagem, terminei a releitura de um material feito no final dos anos oitenta para marcar os 180 anos de História do Banco do Brasil. A edição que tenho, foi adquirida através da doação de um gerente que trabalhou na agência Rua Clélia nos anos noventa, o Geraldo.

A postagem anterior desta série pode ser vista aqui.


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Capítulo XI

Nesse capítulo, Arinos faz um retrospecto da história brasileira a partir de meados dos anos quarenta, período final da 2ª Guerra Mundial. No Brasil, Getúlio Vargas estava no poder (1930-1945). Com a queda de Vargas, houve eleições e o Marechal Eurico Gaspar Dutra foi eleito presidente, apoiado pelos partidos Social Democrático e Trabalhista Brasileiro, segundo Arinos (p. 45)

Getúlio Vargas volta à presidência pelo voto popular (1951-1954). Alguns fatos desse período valem a citação pela importância econômica e social para o Brasil: a criação do Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico (BNDE) em 1952, que trinta anos depois seria o BNDES, sendo o "S" de Social; a criação em 1954 do Banco do Nordeste do Brasil (BNB) e a criação da Petrobras em 1953:

"Para disciplinar as diversas atividades relacionadas com essa importante fonte de energia havia sido criado o Conselho Nacional do Petróleo. Uma forte campanha política mobilizou a opinião pública e teve como resultado a criação da PETROBRAS, por lei de 3 de outubro de 1953, do Congresso Nacional. A essa empresa estatal caberia, entre outros privilégios, o monopólio da prospecção do precioso combustível em território nacional, monopólio este também estabelecido por iniciativa do Congresso." (p. 47)

Antes, em 1946, havia sido inaugurada a Companhia Siderúrgica Nacional, em Volta Redonda, no Rio de Janeiro. A industrialização brasileira teve forte impulso no período posterior à 2ª GM.

BANCO DO BRASIL COMEMORA OS 100 ANOS... EM 1954

Pois é, apesar do nosso banco público BB ter comemorado os 215 anos dias atrás, em 12 de outubro de 2023, em 1954 o BB teve festa para comemorar seu centenário. Afonso Arinos nos explica isso, que já lemos nos capítulos anteriores.

"O Banco do Brasil - remodelado em 1893 e em 1905 - tivera suas operações reiniciadas em 10 de abril de 1854, tendo deixado de funcionar desde o ano de 1829, e reaparecera em virtude da fusão do Banco Comercial do Rio de Janeiro (de 1838) com o Banco do Brasil, fundado em 1851 por Irineu Evangelista de Souza, mais tarde barão e visconde de Mauá. As negociações entre os dois estabelecimentos haviam tido o patrocínio de Joaquim José Rodrigues Torres, visconde de Itaboraí, de relevante atuação na política e na administração do Império durante o Segundo Reinado." (p. 47)

O presidente do BB naquele período do governo Getúlio Vargas era o Dr. Marcos de Souza Dantas. E Arinos informa que uma comemoração não invalidava a outra efeméride de 1808.

"O fato não invalidava a comemoração de outra efeméride do Banco - a da assinatura do 'Alvará com força de Lei, pelo qual Vossa Alteza Real há por bem criar um Banco Nacional nesta Capital, para animar o comércio, promovendo os interesses Reais e Públicos, na forma que nele se declara.

     Para Vossa Alteza Real ver.

     Rio de Janeiro, 12 de outubro de 1808'." 


Enfim, sempre achei que essa questão de datas de aniversário é algo bastante arbitrário, inclusive o nosso calendário, já que tivemos ao longo da história diversas definições de qual calendário se deveria seguir de acordo com algum poderoso da vez, como o calendário gregoriano que substituiu o calendário juliano na idade média, calendário mais utilizado no mundo ocidental na atualidade.

Arinos fecha o capítulo falando do suicídio de Getúlio Vargas sem falar absolutamente nada sobre o contexto. Eu não esperava outra coisa dele.

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Capítulo XII

O destaque no capítulo é o "desenvolvimentismo" do governo de Juscelino Kubitschek. De forma bastante parcial, Arinos termina esse período enaltecendo a "revolução", nome que ele dá ao golpe de Estado civil-militar que depôs o Presidente da República João Goulart, que assumiu o governo após a renúncia de Jânio Quadros.

"(...) Já então alguns governadores, entre os quais os de Minas Gerais, de São Paulo e da Guanabara haviam decidido, contando com a colaboração decisiva de grande parte das Forças Armadas, promover a deposição do presidente. Iniciou-se a 31 de março de 1964 em Minas Gerais - Juiz de Fora - o deslocamento de contingentes do Exército em direção à cidade do Rio de Janeiro onde se encontrava o presidente. No dia seguinte a revolução triunfava sem que fosse oferecida qualquer resistência da parte dos que sustentavam o governo." (p. 49)

COMENTÁRIO: Amig@s leitores, que nojo sinto ao ler uma descrição dessas do "Prof." Afonso Arinos! UMA VERGONHA! O cara faz uma narrativa asséptica do golpe como se os golpistas tivessem escolhido o terno que usariam à noite, diz que eles decidiram "promover a deposição do presidente...". Observem que o presidente de esquerda "promovido" a deposição está com o "p" minúsculo, enquanto os outros ele escreve com "P" maiúsculo... Que nojo!

O tema central do estudo, o Banco do Brasil, não é citado no capítulo.

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Capítulo XIII (Os governos militares)

"Em cumprimento ao disposto no art. 2º do Ato Institucional do dia 9 do mês de abril de 1964, foi eleito indiretamente para exercer a Presidência da República o General Humberto de Alencar Castelo Branco, transferido, na mesma ocasião, para a Reserva do Exército no posto de marechal." (p. 50)

Não poderia ser mais ridículo um texto desses... o autor tenta dar um verniz de legalidade à merda do golpe de Estado! Vergonha!


BACEN - Neste capítulo, Arinos fala sobre a Reforma Bancária de 1964, que criou o Banco Central do Brasil e definiu diversas funções do Banco do Brasil como agente financeiro do Tesouro Nacional, sendo o BB o recebedor da arrecadação de tributos e rendas federais.

BASA - Após a criação em 1967 da Superintendência da Zona Franca de Manaus (Suframa), o antigo Banco de Crédito da Borracha passa a se chamar Banco da Amazônia.

INCRA - O Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária foi criado em 1970 "com a finalidade de acelerar a execução de vários projetos de redistribuição de terras não-produtivas e cooperar para a fixação do trabalhador rural no campo." (p. 52)

Arinos não economiza no texto elogioso aos ditadores do período. Ele vai enumerando instituições criadas durante os governos militares. Como o país vinha buscando formas de desenvolvimento econômico, usinas hidrelétricas foram inauguradas, a produção da Petrobras passou de meio milhão de barris por dia etc.

Ao final do capítulo, os militares "gente boa" entregam o governo para José Sarney, que sucedeu Tancredo Neves, eleito presidente de forma indireta pelo colégio eleitoral e falecido antes da posse em 1985.

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Capítulo XIV

O último capítulo da cartilha comemorativa dos 180 anos da fundação do Banco do Brasil traz números expressivos do maior banco público do país em 1988.

"De um primeiro departamento, no Rio de Janeiro, com 22 funcionários, em 1816, passou o Banco a contar, em dezembro de 1987, com 128.528, dos quais mais de 1.500 nas agências e escritórios do exterior. As antigas três filiais, existentes em 1817, na Bahia, São Paulo e Recife, deram origem em 1987 a uma rede com 3.641 unidades, das quais 41 no exterior, compreendendo no total 2.284 agências, 393 postos avançados de crédito rural e 964 outras dependências de menor porte."

Desses números expressivos do banco público, ainda temos a informação de que 90% das agências no país estavam localizadas em cidades do interior, o que demonstrava a importância do BB na vida local das comunidades brasileiras.

Com a saída da Conta-movimento em 1986, quando usava recursos do Tesouro Nacional, o Banco teve que se adaptar a uma nova realidade para seu funcionamento enquanto banco público no mercado bancário. O BB passou a dispor de diversos serviços bancários e produtos que antes não eram o seu foco.

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Termina aqui a leitura desta cartilha História do Banco do Brasil, escrita pelo professor Afonso Arinos de Melo Franco, com a colaboração do professor Herculano Gomes Mathias.

A cartilha foi produzida pela diretoria do Banco do Brasil em 1988.

William

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Post Scriptum: o texto seguinte desta série pode ser lido aqui.


3.10.23

História dos bancários: um olhar (VIII)


 

A história do Banco do Brasil - Afonso Arinos

03 de outubro de 2023.


"Em 1905, o Presidente Rodrigues Alves, sob pretexto de reformar o inviável Banco da República, fundou o que deve ser considerado como o Banco do Brasil atual. Os estatutos do Banco da República foram alterados por iniciativa do governo e com aprovação dos acionistas. O novo Instituto, que retomou o nome tradicional de Banco do Brasil, devia 'exercer as funções de um banco central, dispondo de capital abundante para redescontos de papel dos outros bancos, para adiantar aos outros bancos e ampará-los nos momentos de crise'. O governo enviou mensagem ao Congresso regulando a matéria e a lei foi aprovada ainda em 1905, com os primeiros estatutos do atual Banco do Brasil." (p. 36)


No momento em que retomo a leitura desta cartilha sobre "A história do Banco do Brasil", nosso BB está sob um risco menor de existência como banco público porque Lula (PT) venceu as eleições presidenciais contra Jair Bolsonaro em outubro de 2022 e Guedes não pode mais "vender essa merda" como ele chamou nossa estatal quando era o ministro daquele governo fascista e lesa-pátria da família de milicianos.

O BB, os demais bancos públicos e estatais brasileiras seguem enfrentando cenários adversos por causa do contexto mundial de crise econômica e política em relação aos sistemas financeiros do mundo. As instituições multilaterais do período pós 2a Guerra Mundial já não funcionam mais como ocorreu nas últimas décadas (funcionavam de forma imperialista, mas evitavam conflitos generalizados e ininterruptos). Hoje, nem a ONU apita mais nada no chamado "concerto das nações".

O mundo do trabalho está o caos, se desfazendo, principalmente quando pensamos em direitos trabalhistas e sociais. Nós da categoria bancária estamos sob sério risco de desaparecimento. Infelizmente! Eu não acho isso algo irreversível, não acho. Se um governo trabalhista e progressista tiver vontade, correlação de forças e estratégias corretas, acredito que seja possível salvar os empregos com direitos sociais como os da categoria bancária. 

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O 3º E DEFINITIVO BB

Enfim, retomando a leitura da história do BB, vemos o quanto o banco público foi fundamental para o país nas primeiras décadas do século 20. O BB ajudou a República no financiamento de estradas de ferro e demais setores estratégicos da economia nacional, criou a carteira agrícola, fez papel de banco dos bancos etc.

No capítulo 8, temos a informação sobre a criação definitiva do Banco do Brasil, empresa pública que vigora até hoje, que conseguiu sobreviver pela luta de seus trabalhadores e da sociedade civil a governos privatistas como os de Collor, FHC e Bolsonaro/Guedes.

Em 1892, sob o governo de Floriano Peixoto, o Banco do Brasil, que havia sido refundado, se uniu a outro banco do governo para formar o Banco da República do Brasil:

"Decidido a concentrar a atividade bancária para conter a inflação, o Presidente Floriano Peixoto assinou, em 11 de dezembro de 1892, um decreto que autorizava a fusão do Banco do Brasil com o da República dos Estados Unidos do Brasil, sob a denominação de Banco da República do Brasil..." (p. 36)

O Banco do Brasil definitivo seria o que o governo criou em 1905, citado na abertura do texto.

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O capítulo 9 da cartilha ou livro de Afonso Arinos nos relata o período da 1a Guerra Mundial e os anos 20, terminando com a crise de 1929 e a "Revolução de Outubro de 1930", com Vargas assumindo o poder.

CREAI, criada por Getúlio Vargas: "A história da agricultura brasileira pode ser contada em duas fases: antes e depois do surgimento da Carteira de Crédito Agrícola e Industrial do Banco do Brasil. " (p. 41)

O BB passaria a ser reconhecido nas décadas seguintes como o banco do financiamento da agricultura brasileira. Em bons momentos, ou seja, em governos bons, o BB teve papel importante na agricultura familiar, o setor que realmente alimenta o povo brasileiro.

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O capítulo 10 nos traz um resumo dos anos 30, nos lembrando sempre do papel do BB nos grandes momentos do país e do mundo. A criação da Carteira de Crédito Agrícola do BB (CREAI) é um bom exemplo. 

O apoio ao crédito rural contribuiu a partir dos anos 30 para a expansão da rede de agências do BB país afora.

"A atuação do Banco, através da CREAI, foi decisiva para que zonas improdutivas e despovoadas do vasto território nacional se transformassem aos poucos em verdadeiros celeiros, como aconteceu com o oeste paranaense, Mato Grosso e, mais recentemente, Rondônia, Bahia, a Amazônia e algumas regiões do Nordeste. " (p. 41)

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Comentário: neste trecho acima podemos ver na prática a crítica que a jornalista e escritora Eliane Brum nos explica em seu livro "Banzeiro òkòtó (2021)" sobre conceitos equivocados de "progresso" e "desenvolvimento" ligados à destruição da Amazônia e demais biomas nacionais. Reparem que esta obra comemorativa é do final dos anos oitenta e o conceito de destruir os biomas para colocar pasto e plantações ainda vigorava...

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O capítulo 10 termina falando da participação do Brasil na 2a Guerra Mundial, através da FEB. Colegas do BB foram para a Itália, junto à Força Expedicionária Brasileira. 

"(...) Com o segundo escalão da FEB partiram funcionários do Banco para a Itália, a 22 de setembro de 1944. Outros funcionários seguiram com o quarto escalão, a 23 de novembro. Iam organizar, com a eficiência de sempre, os serviços bancários e financeiros junto às tropas combatentes e ajudar, assim, aos lutadores pela liberdade mundial." (p. 44)

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BANCÁRIOS BRASILEIROS: UMA CATEGORIA DE LUTAS

Ao longo de minha vida de representação da classe trabalhadora, a partir de minha condição de trabalhador do ramo financeiro, sempre expliquei em palestras e debates o quanto a categoria bancária foi vanguarda na organização de trabalhadores e da sociedade civil na luta por direitos sociais, civis e políticos.

Grandes foram as lutas e conquistas para a coletividade com bancários à frente de mobilizações da sociedade civil. Os anos oitenta foram bem característicos dessas lutas como, por exemplo, nas mobilizações pelas "Diretas Já" e pela volta da democracia no país. Já escrevi que os bancários se posicionaram nas primeiras eleições para a presidência depois de décadas de ditadura (ler aqui).

Os tempos seguem sendo desafiadores neste início do 3º governo Lula. Avalio que o mundo corre o risco de grandes conflitos políticos e guerras e o Brasil não é uma ilha isolada na disputa de hegemonia que vivemos neste momento.

A fala do presidente Lula na abertura da 78ª Assembleia Geral das Nações Unidas foi de nos deixar orgulhosos por voltarmos ao cenário global, foi uma fala ativa e altiva e Lula falou de paz, falou de distribuição de renda, falou sobre a emergência climática, cobrou instituições multilaterais com capacidade operativa etc. Foi uma fala histórica de nosso governo.

Os bancários brasileiros seguem com mais desafios que nunca porque a própria existência está ameaçada com as novas tecnologias e com a precarização massiva do mundo do trabalho.

As memórias e as histórias dos bancários continuam...

William


Bibliografia:

História do Banco do Brasil - Texto do Prof. Afonso Arinos de Melo Franco. Colaboração do Prof. Herculano Gomes Mathias. Edição de junho de 1988, produzida pela diretoria do Banco do Brasil.


Para ler o texto anterior, clique aqui. O texto seguinte dessa série pode ser lido aqui.


2.10.23

História dos bancários: um olhar (VII)



Somos parte da história porque somos seres humanos

Posso não ser escritor substantivo, mas posso ser verbo: leio, penso e escrevo sobre algumas coisas


Vou voltar a escrever esta categoria de textos aqui no blog, textos de memórias e lembranças das lutas da categoria bancária brasileira, categoria na qual passei três décadas de minha vida como trabalhador e dirigente sindical entre o final dos anos oitenta, nos governos de Sarney e Collor, e o início do governo de destruição de Jair Bolsonaro, em 2019, quando saí do BB em abril daquele ano.

A história dos bancários é muito rica, tem muita luta e é uma referência para as demais categorias e ramos da classe trabalhadora brasileira. O primeiro banco instalado no Brasil foi justamente o banco público ao qual dediquei a minha vida, o Banco do Brasil. Sua história se iniciou em 1808, com a vinda da Corte portuguesa para o Brasil.

Entrei na categoria bancária em abril de 1988, trabalhando no antigo Unibanco, depois saí do banco em maio de 1990. Pouco depois, já seria estagiário no Banco do Brasil em 1992 e funcionário de carreira ao passar no concurso e tomar posse do cargo em setembro de 1992. Saí do BB em abril de 2019. Foram três décadas trabalhando como bancário. Fui representante dos colegas eleito em diversas funções entre o ano 1999 e 2018, quase 20 anos de representação. 

Ou seja, nessa rica história de lutas e conquistas da categoria bancária, deixei o melhor de mim também, deixei minhas contribuições para a coletividade do mundo do trabalho.

Pelos papéis que desempenhei como dirigente eleito, tive a oportunidade de influir em algumas questões importantes na vida de milhares de pessoas. Um privilégio poder representar e participar de construções coletivas que beneficiaram a classe trabalhadora.

Posso citar alguns exemplos de momentos importantes aos quais participei com opinião firme pela função que exercia: 

1. A distribuição de participação nos lucros e resultados dos colegas do Banco do Brasil, a PLR, teve ao longo do tempo decisões que repartiram mais recursos para os trabalhadores da base da pirâmide salarial da empresa. Tive participação direta nisso. 

2. Incluir o patrão no rateio de despesas de saúde em nossa Caixa de Assistência, a Cassi, porque queriam livrar o BB do ônus quando cheguei eleito na direção da autogestão. Minha participação na construção de uma luta nacional por mesa de negociação a partir de 2014 foi fundamental, não é exagero dizer isso.

3. Contribuir para que o nosso Sindicato não cometesse o equívoco de começar uma campanha salarial nacional sem assembleia de base no ano de 2005. O contexto trazia algumas motivações para o receio de meus companheiros e companheiras para que isso ocorresse, mas minha discordância interna fez com que pensássemos mais a respeito e no final correu tudo bem, fizemos assembleia e tivemos uma campanha salarial vitoriosa.

Enfim, vou retomar a leitura, as reflexões e a partir desses estudos e consultas a mídias que tenho, vou escrever semanalmente sobre a história dos bancários com o meu olhar, o meu ponto de vista.

Se uma pessoa ler, já terei cumprido o meu papel de alguém que escreve para as pessoas. Felizmente, tenho tido centenas de acessos aos textos que produzo de contribuições às reflexões das pessoas.

Abraços,

William


Post Scriptum: o texto anterior sobre essa categoria de texto pode ser lido aqui. O texto seguinte pode ser lido aqui.


28.8.23

Memórias (XXXIX)



28 de agosto

Osasco, 28 de agosto de 2023.


Após muita reflexão, e muito sofrimento, decidi reconhecer que não me queriam mais na maior corrente política da Central Única dos Trabalhadores (CUT), a Articulação Sindical. Fui militante político por décadas e deixei minhas contribuições na história da categoria bancária, da Central e dessa corrente política. Entendi que um militante de esquerda precisa ter um mínimo de amor-próprio até para seguir nas lutas. Luto...

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DIA DOS BANCÁRIOS E ANIVERSÁRIO DA CUT

O dia 28 de agosto é uma data histórica para nós por diversos motivos, dois deles muito ligados a nós que dedicamos a nossa vida à construção dos direitos da classe trabalhadora e de um país mais justo e solidário. A data é referência para os bancários por marcar uma de nossas maiores greves da história e a data é efeméride da criação da Central Única dos Trabalhadores, que hoje completa 40 anos de lutas e conquistas.

A CUT foi finalmente fundada em 1983, após longas discussões entre as forças políticas que se organizavam no final dos anos setenta e início dos anos oitenta. Surgiam no período novas forças sindicais que seriam denominadas de Novo Sindicalismo durante e após as Conferências da Classe Trabalhadora, as Conclat. Tínhamos nos metalúrgicos a figura de Lula e tínhamos grandes lideranças de outras categorias profissionais. Como é um texto de memórias não vou ficar citando nomes porque faltariam nomes importantes.

Entre 1985 e 1987 surge a maior tendência política dentro da CUT, a Articulação Sindical. O contexto no qual as forças políticas construíam a Central permitiu e estimulou a convivência fraterna de diversos grupos dentro da CUT. O respeito às diversas formas de pensamento também vinha sendo exercitado dentro do Partido dos Trabalhadores (PT), criado em 1980. As "tendências" eram uma solução para congregar ideias e visões diferentes antes de se decidir no consenso ou no voto as posições finais do Partido ou da Central.

MILITÂNCIA BANCÁRIA

Entrei na categoria bancária 5 anos após a criação da CUT, comecei a trabalhar no Unibanco em 1988, no Centro Administrativo da Raposo Tavares (CAU). Lá, conheci as lideranças do Sindicato dos Bancários de São Paulo, Osasco e região e além de me sindicalizar e fortalecer o nosso sindicato e as lutas, fui convencido pelo pessoal a organizar internamente os colegas para uma greve que ocorreria no período. Deu certo, cheguei de madrugada naqueles dias e paramos a agência bancária dentro do CAU. Pelo que me lembro, a greve no CAU do Unibanco foi boa naquele ano. Depois de um tempo, fui transferido de departamento, sofri um pouco de assédio e acabei sendo demitido em maio de 1990. 

Cito o funcionário do Sindicato e companheiro Marcos Martins como dirigente político que me inspirou para sempre a ser um representante de classe que independente do mandato eletivo que estivesse exercendo jamais deixaria de estar nas bases sociais, ao lado dos trabalhadores e daqueles que representa. Marcos Martins exerceu todos os seus mandatos sempre presente nas bases. Modéstia à parte, fiz isso, exerci 16 anos de mandatos sempre atento a ouvir as bases, fossem mandatos locais ou nacionais. Fiz o esforço ético de estar sempre nas bases que representava.

Voltei à categoria bancária pouco tempo depois da demissão do Unibanco em 1990. Em 1991 prestei o concurso público do Banco do Brasil, comecei a fazer faculdade de Ciências Contábeis, virei estagiário do BB na agência Ceagesp já no início do ano de 1992 e apesar do concurso ter sido cancelado por fraude, e eu havia passado, fiz de novo e passei de novo. Tomei posse de meu cargo de escriturário na agência Rua Clélia em setembro de 1992. Já no início de 1993, me sindicalizei de novo ao Sindicato e até hoje pago em dia minhas mensalidades ao nosso Sindicato que completou 100 anos de existência.

ARTICULAÇÃO SINDICAL

Minha primeira década de bancário do Banco do Brasil foi a década de grandes ataques aos direitos sociais no banco e risco de privatização do maior banco público do país. As correntes políticas na categoria bancária faziam o que era possível para organizar os trabalhadores e a sociedade para resistir aos ataques de Fernando Collor e FHC. Fui aprendendo política no local de trabalho. Nenhuma escola ensina política como a luta organizada no mundo do trabalho. Afirmo isso como quem fez duas graduações e quase concluiu uma terceira. E também fiz muito movimento estudantil como, por exemplo, a famosa greve de mais de 100 dias da FFLCH/USP em 2002.

O Sindicato organizava os locais de trabalho (OLT) criando uma rede de militância por regiões e por concentrações de bancos. Nós que enfrentávamos os gestores e os assediadores éramos disputados pelas forças políticas, toda hora tinha alguém nos convidando para reuniões organizativas. Fui a diversas reuniões políticas que depois entendi que eram de partidos e grupos sindicais diversos: PT, PSTU, PCdoB, PCO, Convergência Socialista, FES, Articulação Sindical, CSD etc. A CUT era composta por uma enormidade de tendências internas, se não me engano eram umas 17 forças políticas dentro da CUT nos anos oitenta.

Enfim, como eu não me sentia à vontade em reuniões nas quais a militância mais falava mal da direção do Sindicato e do Sindicato do que dos patrões e governo, acabei ficando nas reuniões dos representantes do Sindicato e quando entendi, eu era um militante da Articulação Sindical da CUT no Sindicato dos Bancários de São Paulo, Osasco e região. Foi assim a minha primeira década de funcionário do BB. 

Minha referência de trabalho sindical e representação de base, de pessoa que ouvia e debatia com a militância, foi a companheira Deise Lessa, do BB. Como eu era um militante de opinião "forte", a Deise sofreu comigo (risos). Me lembro dos debates sobre as reformas dos estatutos da Cassi (1996) e da Previ (1997/98). Foram necessárias diversas reuniões políticas com a Deise e outros companheiros para que eu compreendesse bem as questões e passasse a defender as propostas da corrente política do Sindicato.

Em 2000 eu quase entrei na direção do Sindicato, mas não deu certo. Em abril de 2002, acabei compondo a chapa cutista vencedora das eleições do Sindicato e virei dirigente sindical. Fui liberado do local de trabalho para me dedicar exclusivamente ao mandato sindical em 5 de agosto de 2002. Após quase 10 anos de atendimento ao público no caixa do BB virei dirigente sindical e, infelizmente, por uma estratégia da direção do banco, desde o 1º dia tive uma redução salarial de cerca de 1/3 porque passei a receber salário de escriturário e não de caixa executivo...

Durante 16 anos de mandatos eletivos, nunca deixaria de visitar com regularidade o meu local de trabalho para ouvir os colegas - a agência Vila Iara em Osasco - e fazer os debates políticos em questão. Vi colegas chegarem e partirem para outras dependências, vi diversos gestores passarem pela agência e nunca deixei de visitar o que considerava o meu local de trabalho. Até hoje, tenho contato com amigos da dependência, alguns na ativa, outros aposentados.

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DIRIGENTE POLÍTICO DA CATEGORIA BANCÁRIA

A categoria bancária e a classe trabalhadora brasileira viveram grandes momentos em sua história de lutas e conquistas nos anos dois mil. Fico feliz por ter feito parte dessas lutas.

Como dirigente sindical bancário a partir do ano de 2002 eu fui me desenvolvendo e me politizando a partir das lutas que idealizamos e realizamos durante os mandatos presidenciais de governos progressistas e mais favoráveis à classe trabalhadora e aos movimentos populares.

A campanha para a eleição de Lula em 2002 já foi uma tremenda escola política. Depois vieram as campanhas salariais da categoria e pertencer a um dos maiores sindicatos do país me fez entender que eu não poderia perder tempo em relação à formação e passei a estudar a nossa história e entender quem eu era desde o início do mandato.

Muita coisa já escrevi nessas memórias que postei aqui no blog, não sei se essa será a última postagem, afinal de contas já são 39 capítulos de lembranças e histórias dessa trajetória de militância política na categoria bancária sendo um dirigente da Articulação Sindical da CUT.

Em linhas gerais, e olhando rapidamente para trás, sei que tive uma participação importante em várias conquistas desse período porque ser dirigente de um sindicato grande faz diferença nessas questões. Algumas estratégias políticas de campanha salarial foram gestadas em nosso sindicato e outros dos maiores do país. 

CAMPANHA UNIFICADA E AUMENTO REAL

Posso citar como exemplos de estratégias exitosas a campanha unificada entre bancos públicos e privados na categoria bancária e a estratégia de reivindicar aumentos reais de salários e não focar só na reivindicação de "perdas". Fui um agente importante desses debates entre a companheirada dos bancos públicos do país. Nossa corrente Articulação Sindical praticamente defendeu sozinha essas estratégias no início e com muita argumentação fomos convencendo os demais setores do movimento.

Estratégias de organização do movimento também foram foco de grandes debates durante todos os anos de governos do Partido dos Trabalhadores e sem dúvida deixei a minha contribuição ao debate, sempre falando como uma liderança da Articulação Sindical. Essas decisões se dão nos congressos e sempre fiz defesas das teses da corrente em debates acalorados e muito ricos.

Guardarei sempre na memória a minha participação em dezenas de assembleias lotadas na Quadra dos Bancários e outros espaços durante as campanhas de renovação de direitos nas datas-bases da categoria. Fui um dos inscritos em falas finais de assembleias do BB para aceitar ou rejeitar propostas de acordo coletivo entre 2003 e 2013 na base de São Paulo, Osasco e região.

Além de ter sido membro da Executiva do Sindicato, fui representante de São Paulo na Comissão de Empresa já nos primeiros anos de mandato. Depois acabei sendo coordenador nacional da CEBB (ou COE BB). A tabela da Carreira de Mérito (2010) tem participação minha na idealização alternativa a lutar por "perdas" no PCS antigo do BB (anterior a 1996). Como havíamos perdido os interstícios de 12 e 16%, pensei formas alternativas de premiar antiguidade no banco. Deu certo à época.

MANDATOS NA CONTRAF-CUT

Fui secretário de imprensa e depois de formação de nossa Confederação desde o seu primeiro congresso em 2006. Essas oportunidades me permitiram crescer muito como pessoa e como dirigente porque mergulhei nos estudos de comunicação e imprensa e depois na formação política e histórica da classe trabalhadora. 

Fomos responsáveis juntamente com a direção e os funcionários por dar visibilidade à nova marca "Contraf-CUT" em substituição à antiga "CNB-CUT". E com parcerias com o Dieese, federações e sindicatos fizemos memoráveis cursos de formação entre 2009 e 2015. Foram centenas de participantes de todas as regiões do país.

MANDATO NA CAIXA DE ASSISTÊNCIA DO BB (CASSI)

Minha última contribuição em mandatos eletivos foi na diretoria de saúde da Cassi. Tínhamos alguns objetivos ao iniciar o mandato e durante a gestão fomos estudando e compreendendo melhor o que significava a Caixa de Assistência para os associados e participantes e para o segmento de autogestão em saúde dos trabalhadores.

Além das questões afetas à área que fui responsável, a do modelo de saúde, a Cassi tinha uma questão geral a resolver com o banco patrocinador e os associados: o custeio do Plano de Associados.

As áreas da Cassi sob minha responsabilidade direta foram prioridade absoluta: o modelo de Estratégia de Saúde da Família (ESF) e a estrutura própria de saúde - Unidades e CliniCassi - foram fortalecidos, bem como a ampliação da participação social e compreensão do que era a Cassi.

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A HISTÓRIA DA LUTA DE CLASSES É COLETIVA

Foram mais de três décadas trabalhando como bancário, servindo às brasileiras e brasileiros que precisam de serviços bancários e do sistema financeiro, e representando os colegas em espaços de construção coletiva de direitos. 

A história da luta de classes é e provavelmente sempre será coletiva, construída a diversas mãos. Que bom que seja assim. Sozinhos não somos nada.

Após uma vida dedicada às lutas da categoria bancária, acabei tendo um final de vida laboral de forma isolada e sem despedidas em 2019. Já vivíamos anos difíceis no Brasil, com um golpe de Estado em andamento, tempos de Temer e Bolsonaro.

Diferente daqueles finais felizes, com festas de despedidas e plaquinhas de agradecimento, meu último ano de trabalho no BB foi tenso, já que eu havia sido dirigente dos trabalhadores e estava sem mandato algum. Felizmente eu tinha muitos dias de abonos e licenças acumulados e me afastei até me desligar e exercer meu direito de ser beneficiário de nossa previdência complementar.

Como militante da classe trabalhadora, mesmo retirado do dia a dia da vida bancária, seguirei estudando e compartilhando experiências, memórias e conhecimento através de meus textos e da participação eventual nos movimentos sociais.

Parabéns às bancárias e bancários e vida longa à Central Única dos Trabalhadores! 

William Mendes


Post Scriptum: fiz dezenas de artigos ou capítulos de memórias aqui no blog, estão todos disponíveis, o anterior a este pode ser lido aqui.


22.8.23

Cassi (III)



Opinião

Reflexões de um associado da Caixa de Assistência dos Funcionários do Banco do Brasil


Os planos de saúde Cassi Família sofreram reajuste neste mês de agosto de 14,25%. Para mim que decidi investir na saúde de minha família assim que tive recursos financeiros para isso percebo que o montante investido apostando numa perspectiva de maiores chances de conseguir um atendimento médico está cada dia mais pesado no orçamento familiar. 

Falei "perspectiva" de atendimento porque investir altos valores num plano de saúde não é certeza de conseguir um atendimento médico e a solução em saúde na hora em que o participante do sistema Cassi mais precise, participante ou "cliente", já que a direção da Cassi insiste em chamá-la de "empresa" (de mercado, por suposto).

Minha mãe de 76 anos já teve que se virar com seus chás por não conseguir resolver seus problemas imediatos de saúde porque ela, que nem sabe mexer direito em celular, teve que tentar um atendimento por "telemedicina" e acabou não dando certo.

É sempre importante fazermos algumas reflexões sobre as coisas na sociedade humana, enquanto ainda existem seres humanos com capacidade de parar e pensar a respeito das informações ininterruptas que recebemos sobre tudo e todos a cada instante da vida plugada nas diversas formas de mídias que nos capturaram para todo o sempre. Sem reflexão, a inundação de informações (verdadeiras e falsas) não é nada.

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A CASSI NA QUAL APOSTEI A SAÚDE DA FAMÍLIA

Em 2014, incluí no sistema de saúde Cassi meus pais e sobrinhos. Já participava do sistema minha esposa e filho.

Como gestor do modelo de saúde da Cassi entre junho de 2014 e maio de 2018, e como antigo negociador da confederação dos bancários com a direção do Banco do Brasil até maio de 2014, fui de certa forma desafiado a provar que a Cassi valia a pena, ou seja, provar que o modelo de saúde era viável e sustentável. Um dos antigos diretores do banco vivia cobrando isso nas negociações com o movimento sindical.

Eleito e atuando como diretor de saúde, tive como uma das prioridades do mandato desenvolver formas e estudos que comprovassem que o modelo de Estratégia de Saúde da Família (ESF) valia todo investimento que se fizesse para fortalecê-lo e ampliá-lo. A ESF foi o modelo de Atenção Primária em Saúde (APS) definido pela Cassi após anos de experimentos de modelos de APS. A ESF se mostrou a mais adequada às características da Caixa de Assistência.

Cada profissional que trabalhou em nossas equipes sabe que eu estudei junto com eles maneiras de resolver lacunas de informações que impediam de termos os números para comprovar o quanto a ESF era eficaz não só em relação a resultados em saúde como também em economia de recursos do sistema em relação à parte da população assistida que já estava vinculada ao modelo de saúde ESF e CliniCassi (são indissociáveis a CliniCassi e as equipes de família).

Com muita firmeza de propósito e por acreditar tanto na resolutividade do modelo de Estratégia de Saúde da Família quanto na capacidade dos profissionais da Cassi conseguimos desenvolver modelos e estudos que comprovaram que os grupos de participantes Cassi vinculados ao modelo ESF quando comparados aos grupos de participantes ainda não-vinculados à ESF tinham resultados extraordinários em relação às despesas assistenciais, e isso nas mais diversas faixas etárias e por graus de complexidade. 

Demonstramos a eficiência do modelo ESF por quase 3 anos de mandato. Nem a empresa contratada pelo patrocinador BB durante as negociações de custeio conseguiu questionar a eficiência da ESF. Naquele momento, a ESF se tornou inquestionável entre todos os segmentos envolvidos no sistema Cassi.

NOVOS GESTORES DEIXARAM DE FOCAR NA AMPLIAÇÃO DA ESF

E então vieram recursos novos ao sistema Cassi, ao Plano de Associados. Nós passamos a pagar mais! 

Novas gestões eleitas pelos associados e indicadas por Temer e Bolsonaro passaram a administrar a Cassi após 2018. A aposta no mercado passou a ser a promessa de sustentabilidade do sistema Cassi.

E de forma surpreendente o modelo ESF foi sumindo de cena, não se falou mais em Estratégia de Saúde da Família. Inventaram uma nova marca, uma palavra velha usada de forma nova: "APS"... "telemedicina"...

Tudo que era para ser ampliado - porque havia sido testado e aprovado - passou a ser terceirizado, contratado fora no "mercado". Entrou recurso novo, terceirizaram quase tudo, e os déficits voltaram...

Alterações dramáticas nas unidades Cassi nos Estados. Fecharam as CliniCassi no DF. E pensar que nós ampliamos em 50% a ESF no DF durante nosso mandato... E agora a lógica é "faz uma telemedicina aí..."

Francamente! Eu fico pensando em Saramago e o Ensaio sobre a cegueira...

A Cassi tem dezenas de milhares de participantes com mais de 59 anos de idade. Cada equipe de família em cada cidade onde havia uma CliniCassi cuidava de algumas centenas de crônicos agravados, a maioria idosos, e nossos estudos demonstraram que as despesas assistenciais desses grupos vinculados tinham comportamento melhor que grupos jovens não vinculados.

Eu me pergunto como devem estar as coisas hoje na Cassi. Quando penso nessa enormidade de população idosa e ou crônica que poderia ser monitorada de forma eficiente pelas equipes ESF para só demandar os hospitais empresas sedentos de lucro e com diversas intervenções médicas a oferecer se a Cassi entendesse que era necessário...

CliniCassi Uberlândia, MG, antes de 2018.

Durante o mandato como diretor de saúde da Cassi, conheci pessoalmente 43 CliniCassi das 66 que existiam no sistema. Muitas delas visitei com recursos próprios, porque fazia meu trabalho com paixão, com gosto no que fazia para toda a comunidade BB.

As CliniCassi, todas elas, eram viáveis por vários fatores, dentre eles, porque tinham custo fixo baixíssimo e porque a capacidade de evitar grandes despesas assistenciais na rede capitalista credenciada era enorme, enorme. 

As equipes ESF com menos participantes com graus de complexidade alta tinham umas 200 pessoas. Algumas tinham 600 pessoas com graus de complexidade que mereciam acompanhamento. Tira-se o monitoramento de meia dúzia de participantes agravados e a despesa na rede será o custo de diversas CliniCassi... Um hospital privado gera fácil um custo de 200 mil, 300 mil em um participante de plano de saúde.

A Cassi na qual apostei a saúde de minha família era aquela do modelo ESF que descrevi acima. Francamente, com essa tal panaceia de telemedicina e o lema "se vira aí na telemedicina", eu imagino como estão se virando milhares de idosos e doentes crônicos Brasil afora que não têm alguém pra ajudá-los ou que não conseguem correr até o hospital credenciado de sua cidade... 

Chega por hoje. A opinião é livre quando não fere a lei. Escrevi um pouco do que penso a respeito de nossa autogestão em saúde.

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SIGO APOSTANDO NA SOLIDARIEDADE DE CLASSE E NA FORÇA DO COLETIVO

Sou um cidadão da comunidade Banco do Brasil. Ao longo de décadas trabalhei no banco público e contribuí com as diversas associações e entidades criadas por nós da categoria bancária. Defensor das lutas coletivas, sou sindicalizado e filiado a entidades associativas da comunidade BB.

Sou associado a nossas Caixas de Previdência e Assistência - Previ e Cassi - e minha única fonte de sustento é o meu benefício de aposentadoria antecipada da Previ. Diferente de parte da comunidade, não sou "empresário" nem mantenho nenhuma atividade profissional. Todas as despesas familiares subiram mais que os reajustes nos últimos 4 anos.

Sigo contribuindo com a Previdência Social (INSS), talvez até o fim da vida, pois o prazo sempre aumenta antes do gozo da aposentadoria. No meu caso, o valor do benefício se um dia me aposentar será pequeno, meu sustento e da família é meu benefício do fundo de pensão.

Além de contribuir mensalmente para a Previ e Cassi, sou filiado a AABB, Anabb, Apabb, Afabb SP e ao Sindicato dos Bancários de S. Paulo, Osasco e região. Acho importante ser associado e fortalecer nossas entidades organizativas e recreativas.

Só com as associações e mensalidades que citei acima, mais o desconto do imposto de renda e os planos de saúde da família, todos da Cassi, retorna ao sistema e ao Estado 65% de meu benefício de previdência complementar. 

Sigo torcendo pelo fortalecimento de nossas empresas públicas, pelos nossos sistemas públicos de previdência e saúde, e pelas nossas caixas de previdência e assistência. E quero ver fortalecidas as entidades organizativas dos trabalhadores.

Sempre que reflito sobre a vida e sobre o país no qual vivemos, tenho claro que segmentos organizados como o nosso da categoria bancária e de funcionários de empresas públicas são segmentos que devem ser solidários com os demais segmentos sociais, porque temos privilégios que a maioria não tem, mesmo tendo sido conquistados na luta.

É isso! Toda força às lutas das classes trabalhadoras!

William


Post Scriptum: o texto anterior sobre a Cassi pode ser lido aqui.

Post Scriptum II: ao rever um vídeo que fiz em 2021 sobre a terceirização na Cassi, então hegemonizada na gestão por ideias ultraliberais de Bolsonaro, Guedes e os eleitos da época, disse que aquela estratégia de gestão não resolveria a questão da sustentabilidade econômico-financeira da autogestão em saúde. O vídeo pode ser visto aqui.