Páginas

1.9.22

História dos bancários: um olhar (III)



História do Banco do Brasil - Afonso Arinos

O texto do professor Afonso Arinos de Melo Franco, com colaboração do professor Herculano Gomes Mathias é um dos materiais antigos que tenho em minha biblioteca de estudos sindicais, meu centro de documentação da história da categoria bancária (Cedoc do William rsrs).

O texto veio a público em 1988, encomendado pela diretoria do Banco do Brasil em comemoração aos 180 anos da história de nosso banco público mais antigo. Eu ganhei a edição de um dos gerentes com os quais trabalhei nos anos noventa, quando estava na agência Rua Clélia, dependência fechada após o golpe de 2016, neste duro momento de esvaziamento do papel do BB.

Apesar do formato de revista desse texto, ele é praticamente um livro contendo 14 capítulos. Estou lendo o material e o conteúdo tem muita coisa que me desagrada por ser muito baseado naquela história oficial que nos passaram a vida toda. Basta ver as imagens que ilustram os textos para se ter uma ideia dos lugares-comuns. Mas vamos nos lembrar que o material é de 1988 e o mundo daquele momento era um e o de hoje é outro.

As histórias do Brasil e dos povos e do mundo passaram a ter olhares mais diversos nas últimas décadas e isso foi muito importante para refletirmos sobre o caminhar da humanidade ao longo do tempo. As versões oficiais dos donos do poder passaram a conviver com outros olhares e outras interpretações da história. Imaginem no nosso caso como isso foi impactante...

Enfim, já li 4 capítulos e alguns dados são interessantes porque os autores se basearam em documentos de época e a versão de Afonso Arinos e daquela diretoria sobre a história do Banco do Brasil tem seu valor, assim como outras histórias do banco e dos trabalhadores também têm os seus valores.

---

CRIAÇÃO DO BANCO DO BRASIL EM 1808

No capítulo I vemos no texto aquelas versões clássicas de história do Brasil: A expansão territorial; Fundação do Rio de Janeiro; Os bandeirantes; Os tratados de Madri e Santo Ildefonso; Os ciclos econômicos - o Pau-Brasil e o açúcar; o ouro e os diamantes; As limitações impostas por Lisboa.

No capítulo II veremos a parte que conta sobre a criação do BB assim que a corte portuguesa chegou ao Brasil e precisou de uma instituição pública para lidar com as questões financeiras do Estado, no caso a Corte.

Os subtítulos do capítulo: A Corte no Brasil; A abertura dos portos; Importação e Exportação; Fundação do primeiro Banco do Brasil; Primeiros passos da econômica brasileira como nação quase independente; D. Pedro assume a regência do Brasil.

"A desordem na administração financeira era completa, quando a Corte se estabeleceu no Rio de Janeiro.

(...) Naquele tempo as pessoas de recursos recusavam os bilhetes do Real Erário, pois sabiam que o mesmo estava falido. Essa situação perigosa, que já durava desde antes da vinda da Corte, é que levou alguns administradores e estudiosos a pensar na fundação de um Banco de Estado, que viesse atenuar as dificuldades financeiras com as quais se debatia o governo português, tanto em Lisboa como no Rio de Janeiro. O banco cogitado era mais um instrumento de auxílio das finanças públicas do que uma instituição destinada ao progresso da economia particular, quer dizer, da economia do País como um todo e não do governo, como um grupo." (p. 9)

E o autor Afonso Arinos segue em 1988 falando do papel do banco público desde sua criação em 12/10/1808 como um instrumento de Estado.

"Desde os primeiros planos, sempre houve a intenção de fazer do Banco do Brasil um instrumento auxiliar da administração pública, missão que ele, com o progresso do País e as novas normas da administração financeira, continuou sempre realizando e que tem sido a vida dos seus 180 anos.

É datado de 12 de outubro de 1808 o alvará (lei) que criou o Banco do Brasil. Esse documento começa reconhecendo que o Real Erário não tinha condições para realizar os fundos de que depende a manutenção da monarquia. Por isso criava-se, no Rio de Janeiro, um banco público que 'facilite os meios e os recursos de que as rendas reais e as públicas necessitarem para ocorrer às despesas do Estado'." (p. 10)

Fecho as citações dessa parte com uma que tem muita relação com o momento que vivemos no Brasil após o golpe de Estado em 2016, que diz que o BB vai bem ou mal de acordo com o momento político e econômico do país.

"Então, como hoje, como sempre, o Banco do Brasil destinava-se a atender às necessidades do planejamento financeiro do governo e, também, realizar transações com particulares, firmas ou pessoas. As grandes dificuldades que o Banco do Brasil atravessou na sua vida refletiram, sempre, crises internas da nacionalidade. Seus sucessos e fracassos foram o espelho dos momentos de progresso ou recesso nacional..." (p. 10)

BANCO DO BRASIL VIVEU GRANDE MOMENTO NOS GOVERNOS DO PT

Durante os 3 governos do Partido dos Trabalhadores (2003-2014), o BB e demais bancos públicos tiveram papel central de apoio às políticas públicas de Estado para o desenvolvimento do país e de seu povo. Basta citar o papel anticíclico dos bancos públicos na crise mundial de 2008/09 - crise do subprime. BB, Caixa Federal e BNDES financiaram a economia e os setores produtivos do país e o Brasil lidou bem com a crise mundial. Basta ver que o desemprego em 2014 era menos de 5% mesmo com a crise mundial e o desemprego altíssimo no restante dos países centrais e periféricos.

É isso.

À medida que for lendo esse material, vou comentando alguma coisa por aqui. Em 1829, o primeiro BB seria encerrado por lei também... mas essa parte fica para depois.

William Mendes


Post Scriptum: o texto seguinte pode ser lido clicando aqui. Para ler o texto anterior, clique aqui.


Nenhum comentário:

Postar um comentário