Páginas

11.5.22

Memórias (XXV)



A questão do cancelamento de pessoas, ontem e hoje


Osasco, 11 de maio de 2022. Quarta-feira.

Neste momento no qual registro uma nova postagem de Memórias, uma das pessoas do campo da esquerda que mais admiro pelo trabalho que realiza em favor da educação e da conscientização das pessoas (politização), a drag Rita Von Hunty, está passando por um daqueles processos de banimento, apagamento, esquecimento, vaporização, assédio, intolerância e outras definições ao sabor da época, atualmente chamado de "cancelamento" porque disse que não vai votar na chapa Lula e Alckmin no primeiro turno das eleições presidenciais de 2022, ela disse mais ou menos que prefere usar o primeiro turno para radicalizar o voto em candidaturas que expressam aquilo que acredita na política e na visão de mundo dela, a eleitora e cidadã Rita Von Hunty, ou Guilherme Terreri, provavelmente o nome no título de eleitor. 

Esse mundo humano é uma coisa fadada a não dar certo, não vejo a espécie humana como uma espécie animal que vá permanecer na terra como algumas espécies que estão por aqui há centenas de milhares ou milhões de anos como, por exemplo, as baratas. Não vou entrar na discussão se parte de nós humanos temos ou não sangue de barata por aceitarmos votar no Alckmin depois de tudo que ele e a turma dele fizeram contra nós humanos da classe trabalhadora viventes no Brasil. Se entrar nessa discussão, só vou aumentar a intolerância contra a Rita Von Hunty.

Eu nunca gostei ou concordei ou achei que as formas de eleições com primeiro e segundo turno fossem as mais adequadas para se viver através da democracia representativa. Nunca.

Aliás, ao me politizar e estudar a história do movimento sindical e popular, já passado dos trinta anos de idade, quando fui eleito pelos bancários para um mandato eletivo no Sindicato dos Bancários de São Paulo, Osasco e região, foi que aprendi e compreendi um monte de contradições da política sindical e partidária que me dava muita bronca dos partidos, dos sindicatos e dos sindicalistas e políticos em geral. Sério! Só passei a compreender as contradições da política porque tive a oportunidade de conviver com o movimento e saber por que os caras faziam o que faziam, coisas que dão uma raiva da porra na gente que está lá na base ou de fora da política.

Aliás, de novo, quero deixar claro que compreender certas contradições e coisas feitas pelos seres humanos não quer dizer aceitar ou concordar com essas coisas feitas pelas pessoas (físicas ou jurídicas). Quem diz isso na abertura de um livro é o historiador marxista Eric Hobsbawm (A era dos extremos), ao falar sobre a importância de estudar a história e disse que compreender não é aceitar ou concordar justamente quando estava se referindo a Hitler e ao nazismo.

Então, falando sobre modelos de processos eleitorais, que eu me lembre, ontem e hoje, um dos caras que mais defendem a questão de eleições em primeiro e segundo turno é justamente um dos maiores líderes populares da história do Brasil e do mundo: Luiz Inácio Lula da Silva, o nosso presidente Lula. 

Amig@s, não preciso perder tempo procurando documentos ou textos no Partido dos Trabalhadores para afirmar o que ouvi nos últimos vinte e tantos anos de militância sindical e de esquerda. Sempre que vejo Lula falando sobre eleições, lá está ele dizendo que é democrático e é o que ele entende ser o mais adequado para eleições, que as pessoas escolham os candidatos e partidos que quiserem e que tiverem mais identificação ideológica e programática no primeiro turno. No segundo turno, as lideranças partidárias devem ter a grandeza de se reunirem e organizarem as estratégias e táticas para vencerem as eleições no segundo turno.

Caraca! É o Lula que fala isso há décadas! Eu não concordo, não gosto do modelo e acho muito ruim a questão de eleições em primeiro e segundo turno. Eu, um cidadão qualquer. E fui transformando minha impressão sobre o tema numa certeza mais embasada em duas décadas de representação da classe trabalhadora, como político, como dirigente sindical que fui, eleito para diversos tipos de mandatos ao longo de dezesseis anos. 

Acho esse negócio de primeiro e segundo turno muito ruim para o nosso lado da classe, o lado do povo e dos trabalhadores. Até porque o segundo turno é uma etapa de "negócios" ou negociatas ferozes mesmo! E sou contra haver segundo turno muito mais agora com as ferramentas tecnológicas de manipulação e alteração de comportamentos humanos que foram criadas por nós humanos nas últimas duas décadas (algoritmos, fake news por disparos em massa etc). 

Por tudo isso, tendo a concordar muito com a lógica do voto útil na chapa Lula/Alckmin para tentar vencer as eleições no primeiro turno dessa disputa entre a civilidade versus a barbárie em 2022. Mas vamos deixar claro que quem defende as regras de primeiro e segundo turno é o Lula e o Partido dos Trabalhadores. Ponto.

A militância sair assediando, massacrando, cancelando Rita Von Hunty é algo que compreendo... mas não posso de forma alguma concordar. Eu sei o que é ser cancelado dentro do movimento sindical e partidário por ter meu sagrado direito de expressar a minha opinião política e técnica sobre os mais diversos assuntos. Muitos de nós no movimento sabemos o que é ser cancelado, vaporizado, esquecido, posto na geladeira por expressarmos nossas visões de mundo e de temas. Tudo isso é uma merda!

A minha opinião atomizada, de quem está fora dos movimentos, é que o próprio Lula deveria se sensibilizar com essa intolerância da militância de sua candidatura e falar a respeito do equívoco de se cancelar Rita Von Hunty e quaisquer outros companheiros e companheiras do campo democrático e popular, da esquerda, centro-esquerda etc, que estejam azedos com essa frente ampla, com essa ligação Lula e Alckmin "socialista", e estejam manifestando suas legítimas opiniões a respeito de primeiro e segundo turno ou de qualquer outra coisa como, por exemplo, o Lula e o PT não terem deixado claro para a militância e o povo brasileiro se vão ou não rever e mexer em temas por demais caros à esquerda brasileira e mundial.

É isso! Vamos todos e todas lutar para elegermos Lula e Alckmin no primeiro turno e uma grande bancada parlamentar de esquerda ou ao menos que tenha se comprometido a apoiar uma eventual presidência de Lula.

William


Para ler o texto anterior, Memórias (XXIV), clique aqui.

O texto seguinte, Memórias (XXVI), pode ser lido aqui.


2 comentários:

  1. Carlos Alberto de Freitas Nunes7:13 PM

    William Mendes vc conseguiu descrever tudo o q fizeram comigo a partir de Maio de 2019 até hj.

    ResponderExcluir
  2. Meu caro companheiro Nunes, infelizmente ocorreram muitos processos de cancelamento, isolamento e apagamento de lideranças por divergências políticas normais. Quem perdeu e segue perdendo com isso é o próprio movimento, que pode perder protagonismo e representatividade por ideias de pensamento único.

    Abraços e siga firme nas lutas!

    William

    ResponderExcluir