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16.4.21

Cassi 2021 - Impressões e opiniões (III)

Opinião

Olá, colegas da comunidade Banco do Brasil! Olá, dirigentes sindicais e demais representantes da comunidade BB!

Ao pensar em algumas questões relativas à Cassi para conversar com um grupo de bancários e bancárias do BB de Belo Horizonte e região, acabei inferindo sobre o futuro do nosso Plano de Associados, a razão de ser da autogestão Cassi, associação criada em 1944 por um grupo de colegas do banco, nossa Caixa de Assistência dos Funcionários do Banco do Brasil. 

Ao projetar a Cassi no amanhã, vi um filme com final triste... fiquei descabriado, como dizemos lá em Minas Gerais. Desacorçoei, deu até dor na região abdominal...

A companheira Luciana, diretora do Sindicato e liderança dos bancários, me pediu para abordar 3 questões:

1. Problemas atuais da Caixa de Assistência (Cassi)

2. Perenidade do plano (aí que pensei sobre o Plano de Associados)

3. Importância de eleitos com apoio do movimento sindical

Ontem à noite, estava lendo dois livros que me deixaram bastante pensativo, e ao colocar o cérebro pra pensar, o verdadeiro criador de tudo, como diz o neurocientista Miguel Nicolelis, rapidamente me peguei a pensar nossas cores, nossas coisas, nossos jeitos, nossos dramas... Pau-Brasil, como diria o escritor modernista Oswald de Andrade. 

A Cassi é uma coisa tão nossa... não tem nada igual! A Cassi não é um plano de mercado, não é da Europa, não é dos Estados Unidos, não é da burocracia do banco; tem saúde da família, mas não é o SUS; deve acolher da mesma forma o escriturário, o gerente e o diretor, tanto nas CliniCassi quanto na rede credenciada. A Cassi tem sua própria poesia (Pau-Brasil!). 

Antes de iniciar minha opinião e inferência sobre os 3 temas que vamos abordar, lembro aqui que não tenho nenhum problema pessoal com membros da direção da nossa Cassi, pois são todos colegas nossos associados. Tenho ponto de vista diferente a respeito de alguns atos de gestão, e isso é normal na política.

RELATÓRIO ANUAL 2020 - Quanto ao Relatório Anual que vai a votação na próxima segunda 19, já disse nas postagens que entendo que as informações foram verificadas por órgãos e conselhos responsáveis e por auditoria independente. Cabe agora uma boa participação dos associados e que se manifestem a respeito, pois isso é um exercício de democracia.

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Para falar sobre a Cassi é importante ter claro que as pessoas participantes do sistema não têm uma noção clara do que é a Cassi porque os responsáveis pela Caixa de Assistência e o patrocinador Banco do Brasil não atuam para que os associados saibam o que é a Cassi, principalmente no que diz respeito ao Plano de Associados e em relação ao modelo assistencial - Atenção Integral, com Atenção Primária (APS), através das CliniCassi e da Estratégia Saúde da Família (ESF).

O que é a Cassi? Seria um plano de saúde? Seria o mesmo que as Unimed? Ou seria o mesmo que a Amil? Seria uma empresa concorrente do plano de saúde do Bradesco? A Cassi seria uma "empresa" e agora vai diversificar seus "produtos" para beneficiar seus "clientes"? (não, a Cassi não é nada disso, por enquanto!)

1. QUAIS SÃO OS PROBLEMAS ATUAIS DA CASSI no meu ponto de vista, o ponto de vista do trabalhador, de uma pessoa que representou os trabalhadores por quase duas décadas de vida?

Do ponto de vista econômico-financeiro a Cassi está em equilíbrio neste momento, é o que diz o Relatório Anual 2020, assinado pela direção e aprovado pelos órgãos da gestão e com parecer favorável da auditoria independente. Por direito, os associados vão se manifestar agora sobre o relatório.

Mas quais os problemas atuais da Cassi, para dialogar com os associados e seus representantes? 

COPARTICIPAÇÃO - Alguns problemas já são apontados pelos sindicatos: os bancários estão pagando uma coparticipação muito alta e isso é injusto e indevido, porque a coparticipação está sendo usada como receita do Plano de Associados, o plano dos funcionários da ativa e aposentados. Os sindicatos exigem, e com razão, que a direção reduza os percentuais de coparticipação aos patamares de 2018 porque as justificativas que a direção deu para aumentar sem consultar os usuários do plano NÃO SE JUSTIFICAM MAIS! Além do fato óbvio de a Cassi estar superavitária e ter plenas condições de reduzir a coparticipação de seus associados, donos do Plano de Associados.

DOENTES CRÔNICOS SEM MEDICAMENTOS - Outro problema já em discussão pelos sindicatos é que a direção reveja seu ato de gestão de desmontar um dos principais programas de saúde da Cassi, o Programa de Assistência Farmacêutica (PAF), que foi drasticamente reduzido em tudo, tanto na lista de materiais e medicamentos abonáveis (LIMACA), quanto no acesso ao direito ao PAF porque a direção desmontou a distribuição por operador logístico, que garantia equidade no acesso para doentes crônicos tanto das grandes cidades quanto das cidades e regiões com escassez de fornecedores. Mais de 13 mil crônicos perderam o acesso aos benefícios do PAF. Com o caos atual no país os preços dos remédios de uso contínuo dispararam e com a pandemia muitos crônicos do grupo de risco podem estar sem acesso aos medicamentos. Ler aqui artigo a respeito do PAF.

(D)EFICIÊNCIA OPERACIONAL - A Cassi apresenta um índice de eficiência operacional inaceitável. Falei sobre isso durante 4 anos na gestão da associação. De lá para cá, as coisas pioraram! O que significa o índice de 5,5%, enquanto as demais autogestões têm índice de 8% e as demais operadoras de saúde têm índice de 9%? Significa que a Cassi está se desfazendo de sua capacidade própria de gestão do sistema de saúde Cassi. A autogestão está se desfazendo por dentro e isso é o inverso do que o setor inteiro está fazendo. É um equívoco sério de gestão, na minha opinião. 

A autogestão deveria investir em sua estrutura própria de saúde porque é barato e o custo-benefício é de grande retorno porque mais de 90% das receitas da Cassi vão embora para o mercado privado e com características de oligopólio dos conglomerados de hospitais e prestadores de serviços de saúde. A inflação do setor é na casa de 10% a 20% ao ano. Quanto menos estrutura própria, menos capacidade a direção terá para controlar custos básicos na operação de saúde. Isso é uma coisa óbvia!

A Cassi deveria ampliar sua estrutura de Atenção Primária (via ESF), investir um pouco em atenção em 2º grau para seus participantes cadastrados na ESF, com especialidades nas CliniCassi para monitoramento cada vez melhor de seus participantes. Só assim, seria possível usar melhor os recursos ao necessitar comprar serviços caros na rede prestadora. A Cassi poderia investir em pequenas estruturas em regiões específicas como faz a autogestão Cassems no Estado do Mato Grosso do Sul, que tem 10 hospitais próprios. O mercado da saúde atua assim. Controle de custo das operações de saúde em toda a rede de atenção. É outra questão meio óbvia! Olhem o setor de saúde, o mercado!

A cada dia, a Cassi se torna menos capaz de cuidar de seus mais de 650 mil assistidos porque terceiriza para os empresários da saúde sua estrutura, seu conhecimento, sua capacidade de fazer promoção de saúde, prevenção de doenças, monitoramento de doentes crônicos e perde sua característica de autogestão com Atenção Integral à Saúde (cuja Atenção Primária só funciona bem por ser realizada através da Estratégia Saúde da Família, centralizada a partir das CliniCassi e suas equipes de família). Foram duas décadas de experiências para o modelo exitoso da Cassi estar em funcionamento. (Não confundam questões de financiamento e custeio - quanto cada parte paga - com a operação do modelo assistencial da Cassi, que é testado e aprovado e está sendo desfeito por terceirização)

A direção quer implantar porta de entrada em seu sistema e ao mesmo tempo quer fazer isso com "parceiros" e terceirizando tudo. É um contrassenso isso. Os conglomerados de hospitais e planos de saúde que vendem planos de saúde com porta de entrada fazem isso por terem controle de custo de toda a rede para instituir porta de entrada. A Cassi quer fazer o inverso, quer apostar em "parceiros" privados como se eles fossem fiéis eternamente, coisa duvidável porque empresa visa lucro e assim que a Cassi não pagar o que eles querem, eles simplesmente deixam de ser "parceiros". Mas a Cassi ficará com as obrigações registradas na ANS da mesma forma. Sem estrutura própria mínima, isso não vai acabar bem. (o tal piloto de terceirização "Bem Cassi" não é a solução para a perenidade da Cassi!)

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2. PERENIDADE DO PLANO (Plano de Associados e os diversos planos de mercado que a Cassi quer lançar)

Ano ............................ Plano Associados

2004 .......................... 400.506

2009 .......................... 403.281

2014 .......................... 418.335

2017 .......................... 409.405 (-5.704)

2018 .......................... 403.701 (-6.951)

2019 .......................... 396.750 (-8.077)

2020 .......................... 388.673

O Plano de Associados não teve uma perda tão grande de participantes em duas décadas de existência após a reforma estatutária de 1996. A gestão dos tucanos foi traumática e quase destruiu o banco com o PDV/PAQ e as reestruturações, mas depois estabilizamos em 400 mil assistidos por décadas.

Após o golpe de 2016, e após as mudanças que vêm sendo promovidas pela direção atual do banco e da Cassi, o Plano de Associados perdeu 20.732 participantes em 3 anos, uma redução drástica de 5,33%.

Ao ver as apresentações da direção da Cassi em relação ao Relatório Anual 2020 - dados contábeis e atos de gestão -, algumas falas me chamaram a atenção: 

- TELEMEDICINA: a telemedicina virou uma espécie de panaceia (pretenso remédio universal para todos os males, um "emplasto Brás Cubas"), virou a solução de todos os problemas dos planos de saúde. Acho positivo a telemedicina ser incluída como mais uma opção de atendimento aos participantes (na Cassi o conceito é "acolhimento"), mas me parece que há um exagero na questão. Ficou claro que a telemedicina contribui muito na redução de custo das operações, mas isso não significa necessariamente solução em saúde na ponta, para os assistidos pelo plano, principalmente depois do primeiro atendimento (que não é Atenção Primária).

Me parece que a Cassi está mesclando dois conceitos e ou ferramentas de gestão de sistemas de saúde: Atenção Primária e Telemedicina. Repito: minha impressão até agora é que há uma confusão entre "Atenção Primária" e "primeiro atendimento". Bom, esse não é o tema dessa postagem, mas acho que é preciso se falar mais sobre isso. 

- TERCEIRIZAÇÃO DA ESSÊNCIA DA CAIXA DE ASSISTÊNCIA: o piloto em Curitiba, o "Bem Cassi" é isso. Faço um apelo aos sindicatos e associações e conselhos de usuários que reforcem suas atenções a esse piloto de terceirização das CliniCassi e da ESF/equipes de família. O risco de se desfazer a estrutura do nosso modelo assistencial é enorme. O Plano de Associados e os associados serão os prejudicados na hora que isso não seguir adiante.

- DIVERSOS PLANOS DE MERCADO: lançamento de diversos planos de mercado para um suposto público-alvo (familiares até 4º); seriam milhões de novos "clientes" a se prospectar. Segundo a direção, isso iria contribuir para que a operadora Cassi melhorasse suas margens contábeis no balanço consolidado dos planos, tanto o dos associados como os de mercado. 

Falaram em um plano "Cassi essencial" que custaria uns 30% menos que o Cassi Família disponível hoje. E têm pressa em lançar outros "produtos", um plano para "alta renda" ou executivos, outros regionais etc. Para os planos custarem menos, teriam menos direitos e coberturas que o plano disponível hoje. E os clientes vão pagar coparticipação, que não existe no Cassi Família.

A direção da Cassi comentou nas apresentações que tem associados que disseram ter interesse em sair do Plano de Associados e comprar algum desses planos de mercado porque seria mais vantajoso para eles. É muito importante que se alerte esses bancários e ou aposentados que não façam isso, por diversas razões. Uma delas é que ao sair do plano não é possível retornar, o plano é de custeio solidário e mutualista e inclusive o patrocinador BB é obrigado a pagar 4,5% por associado da ativa e aposentados. Outra razão básica, não cobra por idade.

Francamente, são tantas coisas envolvidas neste ato de gestão de lançar diversos planos Cassi, são tantos riscos que o texto ficaria enorme para citar alguns dos riscos mais sérios. Pelo conhecimento que acumulei na gestão da Cassi, fica claro para mim que essa opção da direção pode comprometer de forma irreparável a perenidade do Plano de Associados - a razão de ser da Caixa de Assistência desde sua criação em 1944 -, criada pelos trabalhadores do banco público.

Algumas preocupações e inferências sobre o ato de gestão sobre os diversos planos de mercado, com direitos e mensalidades diferenciados:

- O Plano de Associados vai sofrer perdas maiores ainda e isso comprometerá a capacidade de sustentabilidade do plano. Pode ser que saiam os maiores salários e benefícios e os mais jovens por motivos episódicos, momentâneos. A Cassi e os participantes só têm a perder com a redução do Plano. O único que ganha com isso é o patrocinador banco, porque cada vez que sai um associado, reduz o valor que o banco é obrigado a investir por força estatutária.

- Mesmo com a ideia de que os diversos planos terão bom público e carteira, um grande problema desses planos é a longevidade deles, as pessoas acabam saindo e eles ficam com sinistralidade reversa, só ficam os que mais precisam e mais usam. Se às vezes já temos problemas de equilíbrio no Cassi Família I (grupo fechado, sem entrada de novos clientes), imaginem termos diversos planos assim daqui alguns anos.

- Os planos de saúde são regidos por uma legislação draconiana e que é feita com muito lobby das empresas privadas de saúde e conglomerados e multinacionais. A ANS é a agência reguladora e se baseia na legislação e já penalizou a Cassi de forma equivocada, na minha opinião, quando proibiu a entrada de novos funcionários ao Plano de Associados por índices de reclamação como se o Plano fosse um desses de mercado. Imaginem a hora que a Cassi tiver vários planos com clientela revoltada judicializando tudo contra a Cassi!

- Tenho diversas outras preocupações sobre esses planos. Só mais uma: Como pode a Cassi lançar diversos planos para disputar mercados locais com operadoras que têm toda a rede local própria e controle fortíssimo de custo assistencial? A Cassi não terá a mínima condição de vencer essa disputa no mercado terceirizando tudo.

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3. IMPORTÂNCIA DE ELEITOS COM O APOIO DO MOVIMENTO SINDICAL

Enfim, acho fundamental a relação entre eleitos em nossas associações e instituições da comunidade BB e os sindicatos de trabalhadores, essa questão é uma opinião de quem atuou junto aos trabalhadores e representou a categoria bancária e os colegas do Banco do Brasil por muitos anos.

O sindicato é a casa do trabalhador e da trabalhadora, fortaleçam nossas associações de organização e luta por direitos coletivos.

EFEMÉRIDES

Hoje é um dia importante para a classe trabalhadora, em especial para os bancários de São Paulo, Osasco e região e para os trabalhadores do Banco do Brasil. 

O Sindicato comemora 98 anos e é uma história fantástica de lutas e conquistas. Tive a honra de participar das direções da entidade por 12 anos, eleito pelos bancários. Vida longa ao nosso Sindicato.

A nossa Caixa de Previdência, a Previ, completa hoje 117 anos. É um dos maiores fundos de pensão do mundo e nosso patrimônio tem uma das gestões mais modernas do país. A Previ é gerida por nós mesmos, os associados.

Parabéns, parabéns!

Abraços,

William

5 comentários:

  1. Como sempre um bom artigo. Assim como foi sua intervenção na nossa reunião em BH. Obrigado companheiro.

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  2. Olá, companheiro Rogerio! Obrigado! Eu é que agradeço a oportunidade de conversar com vocês. Espero ter contribuído para a reflexão sobre os temas que debatemos.

    Abraços e tudo de bom!

    William

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  3. neide.goncalves@hotmail.com7:40 PM

    BOA NOITE, William Mendes...gratidão por ser um arco-íris em meio à nossa tempestade ....

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  4. Olá, prezada Neide Gonçalves, como vai? Espero que esteja tudo bem contigo e família.

    Obrigado pela mensagem. Tenho uma gratidão muito grande pela nossa Cassi e pelo movimento organizado da categoria bancária. Por 4 anos vivi a nossa Caixa de Assistência 24 horas por dia e fiz tudo que estava ao meu alcance para defender os interesses dos associados. Agora, o que posso fazer é contribuir com a experiência que foi adquirida durante aquele período de representação e gestão. Os artigos no blog têm esse objetivo. Alertar para questões e fomentar o debate entre as representações e os colegas da comunidade BB.

    Abraços e tudo de bom!

    William

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  5. Mais uma vez obgada por sua presença entre nós com sua brilhante ideia e conhecimento da nossa Cassi por dentro. Concordo com suas colocaçoes e o que nos resta é nos unirmos enquanto classe trabalhadora para proteger a nossa Cassi.
    Grande abraço e esteja sempre nos debates da categoria.

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