Em Curitiba, fortalecendo a participação social na autogestão Cassi. O contato direto com os trabalhadores associados é central para nós. |
Opinião
Após duas semanas intensas de trabalho na autogestão em saúde dos trabalhadores, da qual faço parte da direção como eleito pelo corpo social, cheguei ao final de semana completamente esgotado física e psicologicamente.
Minha condição de cansaço não é por causa das lutas que empreendo de forma total e exclusiva na representação dos trabalhadores da Caixa de Assistência dos Funcionários do Banco do Brasil, porque isso fortalece minha ética e meu caráter. Meu cansaço se dá pelo sentimento de frustração ao não conseguir ver aprovadas as propostas e sugestões tão estudadas e construídas por equipes técnicas abnegadas e apaixonadas pelo que fazem em prol da entidade de saúde que atuam, a Cassi, a maior autogestão em saúde do Brasil.
Estou há mais de três anos cumprindo uma tarefa que considero a mais difícil que o movimento dos trabalhadores já me destacou para fazer nesses quase vinte anos de militância na luta em defesa dos direitos de minha classe, a trabalhadora. A partir de um diagnóstico e um planejamento estratégico do que teríamos que fazer em quatro anos de mandato, viemos cumprindo rigorosamente o que entendíamos ser central para buscar a sobrevivência sustentável e o fortalecimento da autogestão do Banco do Brasil, sem deixar que os direitos dos associados fossem afetados.
De forma urbana e educada tenho lidado com todos os atores intervenientes e responsáveis pelos rumos da Cassi - o patrocinador BB e seus representantes, os associados e suas entidades representativas, o quadro de funcionários da própria autogestão, as entidades e empresas comerciais e politicas do setor. Lidar de forma lhana e cordial com todos da comunidade Cassi nunca interferiu em minha postura firme no dizer "não" para aquilo que entendo ser prejudicial aos associados que represento como, por exemplo, propostas de "soluções" de déficit que afetem a solidariedade ou direitos históricos em saúde. Em um modelo de autogestão compartilhada, se uma parte tiver que assumir novos investimentos e custos, a outra deve fazer o mesmo.
Já fiz um texto recente dizendo que defender a Cassi, seu modelo assistencial e os direitos dos trabalhadores é como o mito de Sísifo (ler AQUI). Todos os dias eu confirmo essa minha leitura comparativa. É um eterno enxugar gelo, é um constante recomeçar ao explicar como as coisas funcionam e como deveriam funcionar para lidarmos melhor com elas e superarmos impasses para etapas seguintes.
Enfim, meu cansaço e decepção ao não ver avançar os trabalhos estratégicos para dar melhores condições de sobrevivência à nossa Caixa de Assistência não quer dizer desistência de lutar pelo que entendemos ser o melhor para os trabalhadores que representamos e para a nossa querida entidade de autogestão em saúde.
A decepção e o cansaço são só estímulos para recomeçar na próxima segunda-feira mais focado ainda em convencer quem ainda tem dúvidas que a melhor alternativa para enfrentar todos os fatores que conspiram para a destruição de sistemas de autogestão em saúde no quadro atual do Brasil é investir em promoção e prevenção, em Atenção Primária (APS) e Estratégia Saúde da Família (ESF), em estruturas próprias de atenção em seus diversos níveis, em mais capacitação e treinamento, em aumentar as equipes que podem evitar que os participantes do sistema Cassi vão para a rede prestadora ou judicializem estimulados por ela, rede prestadora que tem apresentado contas impagáveis de procedimentos muitas vezes desnecessários e outras mazelas do setor privado que vende serviços de saúde e lucram com a doença de nossos participantes.
Passei o meu mandato praticamente sem recursos orçamentários para investir na melhoria do sistema de Atenção Primária e mesmo assim fizemos avanços históricos na Caixa de Assistência pois aumentamos em quase 30 mil vidas o número de cadastrados na ESF.
No entanto, quando achamos que as instâncias decisórias já têm melhor compreensão de que é ruim cortar recursos e investimentos na ampliação da capacidade própria da Cassi em fazer prevenção e promoção, nas recorrentes crises financeiras da autogestão percebemos que as decisões seguem as mesmas de sempre, com tendência de não investir na própria Cassi e fazer contingência do administrativo, enquanto os recursos ficam destinados a outras prioridades como pagar a rede prestadora sem perspectiva de lá na frente usá-la de forma mais racional, porque deixar os participantes soltos na rede não nos dá controle algum da conta que chega. Acho lamentável ver nossa autogestão não sair da rota que pode nos levar à insustentabilidade como o mercado já mostrou.
No final de 2016 quando os associados da Cassi conseguiram na luta e com nossa participação no processo uma proposta do patrocinador Banco do Brasil na qual ele também aceitava por recursos novos extraordinários para que o plano de saúde dos trabalhadores buscasse nos próximos anos alcançar equilíbrio e sustentabilidade, eu escrevi textos opinativos dizendo que os recursos novos sem ampliação no modelo assistencial não resolveriam a questão de equilíbrio. Nosso modelo de Atenção Integral à Saúde (APS, ESF, CliniCassi, e programas de saúde) tem resultados melhores no uso dos recursos em relação à população já vinculada. Hoje isso é público. Temos 37 boletins da Diretoria de Saúde que evidenciam os resultados do modelo assistencial da Cassi e o que falta avançar ainda (ler AQUI no Blog ou no site da Contraf-CUT AQUI).
No entanto, passado um ano da aprovação do Memorando de Entendimentos, não consegui ampliar uma área sequer do modelo assistencial, e nós temos que ampliar as estruturas de atendimento CliniCassi. Nós já mostramos estudos e resultados que a Cassi e a comunidade Cassi nunca tinham visto. Mas será que vamos nadar e morrer na praia?
Sigo firme na defesa do que acreditamos para a nossa autogestão em saúde. Temos melhores condições de superar as dificuldades no fazer atenção à saúde em um universo de assistidos mais estável e perene, e num mercado em crise na saúde, mas se as decisões adotadas continuarem sendo as mesmas do passado - cortar investimento no modelo assistencial da Cassi - acho que nossas oportunidades de avanço podem ser perdidas.
William Mendes
Diretor de Saúde e Rede de Atendimento (mandato 2014/18)
Que todas as decepções sirvam realmente de incentivos, pois, você não pode desistir nem ficar desestimulado. O que seria de nós sem a sua força é a sua garra? Confiamos em você.
ResponderExcluirOlá prezada Maria Helena, como vai? Espero que esteja bem.
ResponderExcluirApesar de termos reveses vez por outra em nossas lutas em defesa da Cassi e dos associados ao longo de nossa história, a Cassi é central em nossas vidas. Estamos firmes e à disposição e contamos com a unidade de todos para superarmos os desafios que estão colocados.
Fraterno abraço, William