Nesta sexta-feira 21 haverá nova mesa de negociação com o
Banco do Brasil sobre a Cassi. Essa mesa é o resultado do esforço de unidade e
mobilização das entidades do funcionalismo, esforço construído desde o dia 17/12/14,
quando os representantes eleitos pelo Corpo Social na Cassi procuraram a
Comissão de Empresa da Contraf-CUT para pedir apoio no embate com o Banco, que
propunha na peça orçamentária da entidade aumentar a contribuição dos
associados em 50% e reduzir vários direitos em saúde.
Na próxima semana, começam também as mesas específicas do BB
para negociar as reivindicações debatidas e aprovadas em junho no 26º Congresso
Nacional dos Funcionários do Banco do Brasil. As mesas nos bancos públicos são
concomitantes com a mesa geral da categoria na Fenaban para renovação dos
direitos coletivos na data-base dos bancários. Essa estratégia é definida e votada
no maior fórum desses trabalhadores, a Conferência Nacional, ocorrida no final
de julho.
Fui dirigente do maior sindicato do país, o de São Paulo
Osasco e região, entre 2002 e 2014. Também tive o privilégio de ser dirigente
da Contraf-CUT entre 2006 e 2015. Além de ter coordenado as negociações
nacionais dos funcionários do BB antes de ser eleito Diretor de Saúde e Rede de
Atendimento da Cassi em 2014, participei de todos os debates e fóruns que
construíram a estratégia da Campanha Nacional Unificada a partir de 2003. Foram grandes debates
e fóruns locais e nacionais ao longo da década dos anos dois mil. Acredito francamente
que acertamos e a categoria bancária ganhou com isso.
O QUE PODE E O QUE NÃO PODE NAS NEGOCIAÇÕES: BANCOS X
TRABALHADORES
Foi graças a esta estratégia vitoriosa de Campanha Unificada
na Fenaban, com mesas concomitantes nos bancos públicos, que conseguimos
avançar tanto em novos direitos para a categoria quanto nas pautas específicas
nos bancos públicos. Os banqueiros e Governo Federal iniciam todas as campanhas
e negociações com os chavões clássicos. A Fenaban todo ano diz que não dará
reajuste acima da inflação nem direito novo porque a CCT já é boa demais. Caixa
Federal e BB falam a mesma coisa em relação aos ACTs e dizem que não negociam a
maior parte das reivindicações. A direção do BB começa dizendo que não negocia
Cassi, Previ, PCS, Metas, Assédio Moral, Jornada, Gestão etc. Estão no papel
deles de banqueiros e representantes do Capital.
A nós, classe trabalhadora, compete o inverso: dizer que os
banqueiros têm que discutir e negociar toda a pauta dos trabalhadores.
Querem
ver alguns exemplos que vivi e participei nos debates com o BB que disse que
não iria negociar e, no fim, pela força da estratégia, da unidade das
lideranças, da mobilização e greve foi obrigado a propor e aceitar?
- ÍNDICE (2003): os funcionários queriam cumprimento do
índice aprovado na Fenaban de 12,6%. A direção do Banco falou que só daria
6,6%. A força da greve fez o Banco voltar atrás.
- PLR BB (2003): os funcionários queriam ter direito a PLR
em 2003 nos moldes conquistados pela categoria bancária desde 1995, sem
exclusão de ninguém e sem metas individuais. A direção do BB e o Governo
Federal disseram ser impossível por força de normas do DEST. Um modelo
semelhante à PLR dos bancários da Fenaban gastaria cerca de 12% do lucro do BB e ele só
gastava 6,25% com os funcionários. A greve fortíssima de 2003 fez o BB se virar
e conseguir autorização para pagar 12% de PLR aos funcionários, assinando o ACT
com a CUT. A autorização vale até hoje.
- DÉFICIT NA CASSI (2005): a direção do BB afirmou que não
negociaria Cassi, que vinha consumindo as reservas do Plano de Associados desde 1999. Os
funcionários conquistaram cláusula no ACT obrigando o Banco a abrir negociações
sobre reestruturar a Caixa de Assistência. Processo terminou em 2007 com
aprovação pelo Corpo Social de mudanças no Estatuto e aporte por parte do BB.
- PCR (2010): os funcionários exigiam avançar no debate de
PCS, porque o plano de cargos em vigor foi alterado unilateralmente pelo BB em
1997 reduzindo drasticamente o crescimento salarial e o valor de saída nas
aposentadorias (interstício caiu de 12% para 3% entre os níveis). A força da
greve obrigou o Banco a implantar a tabela de Mérito com 25 letras gerando a
possibilidade de aumento nas verbas pessoais dos funcionários.
- MÉRITO PARA OS CAIXAS (2012): a direção do Banco afirmou
que em hipótese alguma daria as letras de Mérito para os caixas executivos
porque, segundo o Banco, a função não era comissão. Interessante que o próprio
nome da verba era “Comissão de caixa”. A força da mobilização com a insistência
da coordenação nas negociações definiu a conquista.
Eu poderia citar várias conquistas oriundas da estratégia,
determinação e mobilização das entidades sindicais e dos bancários.
A ESTRATÉGIA PARA A CASSI
Quando cheguei eleito a Cassi em junho de 2014, me foi
apresentada a situação deficitária do Plano de Associados da nossa Caixa de
Assistência. Segundo os representantes do patrocinador Banco do Brasil, a
solução única e indiscutível era debater custeio e, consequentemente, aumentar
o valor das contribuições de uma das partes, a dos associados, porque ele Banco
não poderia colocar nenhum centavo a mais, por força inclusive do Estatuto. Expus
minha opinião à época ao conjunto dos representantes eleitos pelo Corpo Social
na Cassi de que eu era terminantemente contrário a entrar naquela discussão de
mão única imposta pelo BB e que nós iríamos fazer o debate de encontrar o
equilíbrio e a sustentabilidade sob a ótica dos trabalhadores, organizando
estratégias internas e estudos dos porquês dos déficits e organizando a unidade
e a mobilização do conjunto dos associados e suas entidades representativas
para a velha luta de classes entre Capital x Trabalho.
Dessa forma, durante o 2º semestre de 2014 aprofundamos os
estudos sobre a Cassi, seu modelo assistencial, os gargalos na gestão, os
problemas no uso dos recursos assistenciais em planos de saúde, tanto na Cassi
quanto no próprio mercado de saúde, e apresentamos iniciativas estratégicas
para colocar a Caixa de Assistência no caminho de completar o modelo
assistencial de Atenção Integral à Saúde, com promoção de saúde e prevenção de
doenças, porque este é o modelo mais exitoso no mundo e ele foi definido e
votado para a Cassi desde a reforma estatutária de 1996, inclusive com recursos
definidos para isso: uma receita de custeio de 7,5% da remuneração dos
associados (ativa e aposentados 3% e banco 4,5%). As propostas dos eleitos
também aprofundam a gestão nas áreas de regulação e negociação de prestadores de
serviços de saúde.
Nos contrapusemos em novembro e dezembro à proposta de peça
orçamentária da Cassi, feita pelos indicados do Banco, em aumentar a
mensalidade dos associados e reduzir direitos e propusemos aportes extraordinários
para resolver a questão financeira imediata, enquanto avançam as medidas
estruturantes e o modelo assistencial de incluir o conjunto dos associados na
Estratégia Saúde da Família. Não teria sentido algum o Banco querer repassar a
conta do déficit atual somente aos associados, já que ele próprio está na gestão
e é responsável também por tudo que acontece na Cassi.
Já na Campanha Nacional de 2014, trabalhei arduamente para
que nas mesas e na proposta final do BB ao Comando Nacional viessem proposições
para a Cassi, inclusive o aporte financeiro. Não avançamos naquele ano, pois as
propostas de avanços foram em outras áreas.
De dezembro até hoje, fizemos um grande esforço para a unidade
de todas as entidades do funcionalismo em torno das questões centrais para a
Cassi e os associados:
- manutenção do modelo de custeio solidário;
- a extensão do
modelo assistencial na entidade para o conjunto dos associados;
- a manutenção
das obrigações do patrocinador BB para com o pós-laboral em relação ao custeio.
ESTRATÉGIA DE CONQUISTAS
DE DIREITOS É FEITA COM ARGUMENTOS SÓLIDOS, JUSTIÇA NAS REIVINDICAÇÕES, UNIDADE
DE AÇÃO E MOBILIZAÇÃO DOS TRABALHADORES
É preciso deixar clara a questão principal de toda a
construção que ajudei a organizar desde que identificamos o déficit no Plano de
Associados e o embate que faríamos com o Banco.
Sem a mobilização social, principalmente dos funcionários da
ativa e suas entidades sindicais, nenhuma estratégia de mesa terá o efeito
esperado em conquistar as reivindicações: aporte do Banco para implantar as
melhorias na gestão e modelo assistencial.
Quando o Banco diz nas mesas dos sindicatos que não negocia
Cassi porque lá tem eleitos e nós eleitos da Cassi procuramos as entidades
sindicais e depois associativas para pedir mobilização e unidade para forçar o Banco a negociar a Cassi, é evidente que essa atitude é decisão estratégica e
política.
Se fosse para debater soluções para a Cassi sem a força da
mobilização dos trabalhadores para pressionar o patrão/patrocinador BB a ceder
em alguma reivindicação, não haveria necessidade de sair dos portões da Cassi,
como defende a própria direção do Banco.
Logo após procurar a Comissão de Empresa da Contraf-CUT em
dezembro e pedir apoio nacional dos sindicatos para debater soluções para a
Cassi – soluções sob a ótica dos eleitos -, fui à Contraf-CUT em janeiro de
2015, logo após o Banco cortar o PAC (Programa de Atenção aos Crônicos), para
pedir mobilização e paralisações para pressionar o Banco a fazer aporte
financeiro extraordinário na Cassi para a entidade de saúde avançar nas medidas
estruturantes e no modelo assistencial sem reduzir direitos em saúde dos
trabalhadores da ativa e aposentados.
Sempre deixei isso claro, tanto aos meus pares eleitos na
gestão da Cassi quanto para as entidades sindicais e associativas presentes na
Comissão Negociadora (CONTRAF, CONTEC, ANABB, AAFBB e FAABB).
- Ausência do Diretor
de Saúde nas negociações com BB devido às Conferências de Saúde: eu não
pude participar da última reunião prévia da Comissão Negociadora e da mesa com
o Banco porque elas foram marcadas em datas já sabidas pela coordenação de
compromissos meus com as Conferências de Saúde da Cassi em Roraima e Amazonas.
O mesmo se deu nesta negociação de 21/08. Eu não costumo descumprir meus
compromissos, ainda mais no contexto das Conferências que fortalecem a
participação social e renovam Conselhos de Usuários. Todos sabiam de minha
agenda no Amapá em 20/08. O Banco do Brasil negou ao Diretor de Saúde da Cassi
recursos para as Conferências e estamos realizando elas com o apoio inclusive
financeiro das entidades representativas do funcionalismo. Eu não faltaria aos
compromissos depois de todas as despesas realizadas.
REIVINDICAÇÕES PARA A CASSI FORA DAS MESAS CONCOMITANTES DA CAMPANHA NACIONAL 2015?
Enfim, fui
informado que as entidades presentes na Comissão Negociadora e parte das
federações da Comissão de Empresa da Contraf-CUT decidiram em 23/07 que não vão
aproveitar o maior momento de mobilização dos funcionários do BB – a Campanha
Nacional 2015 – para negociar e pressionar o Banco na mesa específica a fazer
os aportes necessários para a Cassi. A ideia seria manter as mesas da Cassi à parte da Campanha Nacional para "não excluir as outras entidades representativas".
Com todo o respeito, declaro
minha opinião contrária à essa decisão. Tenho convicção em afirmar que a
melhor perspectiva de êxito para nós se dá no momento de data-base e mobilização
dos trabalhadores. Acumulei muita experiência e conhecimento dos ritos das
negociações com a direção do Banco do Brasil e Governo Federal para afirmar
isso. Aliás, caso as entidades sindicais decidam não priorizar a Cassi na mesa
específica do BB na Campanha, estarão indo no sentido contrário daquele
debatido e deliberado pelo 26º Congresso Nacional dos Funcionários do BB.
É na mesa concomitante das negociações da data-base que
temos possibilidades reais, mais uma vez (como dei exemplos acima), de fazer a
direção do BB e Governo voltarem atrás e debaterem soluções para a Cassi sob a
nossa ótica e não a que a direção do Banco apresentou de transferência de risco
atuarial do pós-laboral para o Plano de Associados (o Fundo de 5,8 bilhões).
Essa foi a estratégia que ajudei a construir desde o início
da crise atual da Cassi. Inclusive, deixo clara a minha opinião de que não
adianta soluções simplistas como algumas lideranças e entidades têm anunciado
neste momento de negar a proposta do Banco colocada à mesa de transferência do Fundo de 5,8 bilhões.
De que adianta dizer não à proposta do Banco, se a proposta
dos eleitos e do 26º Congresso dos Funcionários não estiver na prioridade nº 1
para finalizar a Campanha Nacional 2015 na mesa concomitante do BB?
Ao acabarem as reservas livres do Plano de Associados nos
próximos meses, os trabalhadores poderão perder direitos em saúde por outras
medidas que acabarão por ser impostas ou pelo Banco na gestão da Cassi ou externa pela
agência reguladora (ANS).
Essa é a minha opinião de ex-dirigente sindical,
ex-coordenador da Comissão de Empresa da Contraf-CUT e de Diretor eleito da
Cassi. Eu conheço bastante os ritos das negociações decisivas de uma Campanha
Salarial e acredito que é possível conquistarmos os aportes de R$ 300 milhões em
2015 e R$ 300 milhões em 2016, principalmente porque o valor não é absurdo
comparado ao lucro do Banco e às grandezas debatidas em uma data-base entre
bancos e bancários.
William Mendes
Diretor de Saúde e Rede de Atendimento
Post Scriptum (02/03/17):
É uma tristeza relembrar os bastidores deste período em que lutei para a Cassi ser prioridade na Campanha Nacional dos Bancários e para ser priorizada na hora de dizer ao Governo Federal qual eram as prioridades para encerrar a greve e fechar a data-base... O que posso dizer a vocês é que nós passamos perto de receber o aporte)
Post Scriptum (02/03/17):
É uma tristeza relembrar os bastidores deste período em que lutei para a Cassi ser prioridade na Campanha Nacional dos Bancários e para ser priorizada na hora de dizer ao Governo Federal qual eram as prioridades para encerrar a greve e fechar a data-base... O que posso dizer a vocês é que nós passamos perto de receber o aporte)
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