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10.10.12

DESABAFO DE UM MILITANTE DE ESQUERDA



DESABAFO DE UM MILITANTE DE ESQUERDA

Estava voltando pra casa agora à noite no trem que passa em Osasco. Segurei muito as lágrimas, quando li a carta de José Dirceu, militante do Partido dos Trabalhadores condenado sem provas pela “justiça” brasileira, que se somou à direita mais tacanha e nojenta das que existem por aí. Ele foi transformado em inimigo público número um por essa oposição ao Governo do PT e às mudanças implantadas pelo partido no país nos últimos dez anos. Também condenaram o José Genoíno, da mesma forma vil.

Estou pusilânime neste momento. É por um conjunto de fatores. Eu odeio ingratidão. Seja em casa, na política, no trabalho, na vida. Tenho pouca paciência pra lidar com isso. Estou cansado hoje e com muito ódio no coração. É foda! Estou há dez anos no movimento sindical e de esquerda. Nunca fui apegado a poder, dinheiro e status. No entanto, em todos os espaços sociais, praticamente tudo gira em torno da disputa pelo poder, pelo acúmulo do dinheiro e pelo status. A condenação sem provas dos militantes contrários à estrutura capitalista de poder, que inclui a justiça burguesa, mostra que não há como vencer somente na política e acreditar na democracia. A invenção de que alguns líderes praticam crime mesmo sem provas, só porque são os líderes e têm “domínio do fato”, deixa qualquer um de nós à mercê desses desgraçados que controlam as estruturas burguesas do Estado Capitalista. Já podem me condenar hoje mesmo. Sou líder nacional dos bancários. Negocio milhões em nome dos trabalhadores. É só acusar e condenar (apesar de mal ter onde cair morto). Fácil, fácil!

Quando falamos em estruturas burguesas do Estado Capitalista, estou falando de todas. Estou falando dos templos religiosos mancomunados com o poder. Estou falando do poder de polícia. Estou falando dos executivos e legislativos eleitos pelo financiamento privado. Estou falando das máquinas sindicais oficiais e pelegas. Estou falando dos veículos de comunicação comerciais (e os estatais também onde os há). Estou falando da propriedade dos bens de produção (material e ideológica).

Se eu já estou acumulando detratores e caluniadores como dirigente sindical de baixa patente, inclusive dentro do mesmo campo político (querem coisa mais nojenta que isso!), imaginem o que os donos do poder fazem conosco se amanhã começam a por a minha cara na TV, nos jornais e revistas dizendo que eu sou criminoso. Neste momento estou pensando na revolução de Mao Tsé-tung na China. A famosa Revolução Cultural Proletária (e no que fizeram com a elite local pró-ideias ocidentais capitalistas).

Hoje não posso dizer o que poderia fazer com o ódio que estou sentindo. 


William Mendes
(cansado, mas incansável se iniciar uma briga)


Leia, abaixo, a nota de José Dirceu sobre a condenação infame de que foi alvo

AO POVO BRASILEIRO
No dia 12 de outubro de 1968, durante a realização do XXX Congresso da UNE, em Ibiúna, fui preso, juntamente com centenas de estudantes que representavam todos os estados brasileiros naquele evento. Tomamos, naquele momento, lideranças e delegados, a decisão firme, caso a oportunidade se nos apresentasse, de não fugir.
Em 1969 fui banido do país e tive a minha nacionalidade cassada, uma ignomínia do regime de exceção que se instalara cinco anos antes.
Voltei clandestinamente ao país, enfrentando o risco de ser assassinado, para lutar pela liberdade do povo brasileiro.
Por 10 anos fui considerado, pelos que usurparam o poder legalmente constituído, um pária da sociedade, inimigo do Brasil.
Após a anistia, lutei, ao lado de tantos, pela conquista da democracia. Dediquei a minha vida ao PT e ao Brasil.
Na madrugada de dezembro de 2005, a Câmara dos Deputados cassou o mandato que o povo de São Paulo generosamente me concedeu.
A partir de então, em ação orquestrada e dirigida pelos que se opõem ao PT e seu governo, fui transformado em inimigo público numero 1 e, há sete anos, me acusam diariamente pela mídia, de corrupto e chefe de quadrilha.
Fui prejulgado e linchado. Não tive, em meu benefício, a presunção de inocência.
Hoje, a Suprema Corte do meu país, sob forte pressão da imprensa, me condena como corruptor, contrário ao que dizem os autos, que clamam por justiça e registram, para sempre, a ausência de provas e a minha inocência. O Estado de Direito Democrático e os princípios constitucionais não aceitam um juízo político e de exceção.
Lutei pela democracia e fiz dela minha razão de viver. Vou acatar a decisão, mas não me calarei. Continuarei a lutar até provar minha inocência. Não abandonarei a luta. Não me deixarei abater.
Minha sede de justiça, que não se confunde com o ódio, a vingança, a covardia moral e a hipocrisia que meus inimigos lançaram contra mim nestes últimos anos, será minha razão de viver.
Vinhedo, 09 de outubro de 2012
José Dirceu

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