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24.9.10

Ato dos movimentos sociais pela democracia defende ficha limpa para a mídia


Vagner Freitas lembrou a história de luta da CUT
pela democracia (foto Parizotti).

Dessa vez os movimentos sociais devem agradecer a eles. Caso as cinco famílias - Civita, Frias, Marinho, Saad e Mesquita - que controlam a quase totalidade dos meios de comunicação no Brasil não tivessem unido forças para atacar o ato (e, consequentemente, fazer uma propaganda positiva) em defesa da democracia, contra a baixaria nas eleições e contra o golpismo midiático, o evento organizado pelo Centro de Estudos de Mídia Alternativa Barão de Itararé poderia não ter alcançado tamanho sucesso.

Por volta das 19h de quinta-feira (23), era impossível chegar ao auditório Vladimir Herzog, na sede do Sindicato dos Jornalistas do Estado de São Paulo. Com o local e as escadas de acesso completamente tomadas, muitos resolveram se reunir nas calçadas da Rua Rangel Pestana, região central da capital paulista.

Como ninguém ali estava disfarçado, o portal da CUT pode citar as entidades que participaram da mobilização, ao contrário do que acontece com outros grandes jornais.

Estiveram representadas as centrais sindicais CUT, CTB, CGTB, Força Sindical e Nova Central, a UNE (União Nacional de Estudantes), a Altercom (Associação Brasileira de Empresas e Empreendedores da Comunicação), o Movimento dos Sem Mídia, o MST (Movimento dos Trabalhadores Sem Terra), os partidos PT, PCdoB, PDT e PSB, além de centenas de defensores anônimos da liberdade de expressão.

Ficha limpa, quem tem coragem?

No início da noite, o presidente do Instituto Barão de Itararé, Altamiro Borges, abriu o encontro com a leitura de um manifesto. Ele fez questão de frisar que o ato classificado pelos monopólios de manipulação como "chapa branca" e acusado de ser financiado pelo governo Lula já havia sido proposto e organizado antes de Lula exercer o legítimo direito de criticar a postura leviana da imprensa em comícios nas cidades de Juiz de Fora e Campinas. Informação, aliás, que confirma o que um dos convidados para o evento, o presidente da CUT, Artur Henrique, já havia publicado em seu blog.

Borges propôs solicitar à vice procuradora geral eleitoral, Sandra Cureau, por meio de pedidos individuais e coletivos, a abertura dos contratos e contas de publicidade das organizações Globo, da revista Veja e dos jornais O Estado de São Paulo e Folha de São Paulo. Os documentos teriam função semelhante ao que a doutora enviou à Carta Capital para verificar quais instituições do governo federal anunciam na revista. "Como são defensores da democracia, tenho certeza que esses veículos não farão objeção", ironizou, acrescentando que é preciso colocar em prática uma operação Ficha Limpa para moralizar a imprensa brasileira.

Para ele, é necessário também defender a proposta do jurista Fábio Comparato, que sugere uma Ação Direta de Inconstitucionalidade (Adin) responsabilizando o Congresso Nacional por não regulamentar, desde 1988, os artigos 220, 221 e 224 da Constituição Brasileira, que tratam da proibição de formação de oligopólio na comunicação, da programação do rádio e da TV e da instalação de uma Comissão de Comunicação Social.

Jornalismo: profissão sucateada

Ao avaliar a postura dos principais veículos de comunicação brasileiros, que optaram por atuar como partidos de oposição, ao invés de realizarem uma cobertura plural e isenta durante as eleições, o presidente do Sindicato dos Jornalistas do Estado de São Paulo, José "Guto" Camargo, identificou que parte do problema está no enfraquecimento da função de jornalista.

"Os jornalistas perderam a força no processo de elaboração e produção da informação. A triagem sobre o que escrevem ocorre já na edição e quem descumpre as chamadas linhas editoriais é punido. Além disso, não conseguem atingir os cargos de direção, que são ocupados por executivos preocupados em atender interesses puramente comerciais", criticou.

Segundo o dirigente, diante da disputa entre aqueles que enxergam a informação como um bem privado e os demais que entendem a informação como direito social, é preciso que os comunicadores estabeleçam os limites tendo como ponto de partida o interesse público. 


"Não é por acaso que o debate sobre liberdade de imprensa e democratização da mídia está presente na campanha eleitoral deste ano. Não é uma briga entre partidos ou candidatos, é uma questão bastante difundida na sociedade e que exige posicionamento público das autoridades. A Associação Nacional de Jornais (ANJ) está preparando um código de autoregulamentação para a imprensa que vem, exatamente, no sentido de fazer algo para impedir que o Estado ou a sociedade organizada o faça", denunciou.

Quem realmente defende a democracia

Secretário de Administração e Finanças da CUT, Vagner Freitas, lembrou que a CUT nasceu durante o regime militar para lutar pela redemocratização, algo ainda não consolidado em nossa sociedade. "Surgimos para ajudar a restabelecer a democracia e continuamos em defesa dela. Mas, entendemos que a liberdade de expressão não deve ser como acontece hoje, quando poucas famílias tomam conta de todos os meios de comunicação", afirmou.

Presidente do PCdoB, Renato Rabelo questionou: "durante o regime militar, de que lado muitos jornais ficaram?". Vale lembrar que muitos dos veículos de comunicação que pregam o direito à livre expressão foram omissos perante os crimes de tortura e assassinato ou colaboraram com a ditadura. Caso do Grupo Folha, que se envolveu diretamente com os órgãos de repressão, inclusive colocando à disposição dos torturadores carros para o deslocamento de presos políticos.

Candidata à reeleição pelo PSB, a deputada federal Luiza Erundina diagnosticou a atuação nervosa dos barões da mídia às vésperas das eleições e ressaltou quem é que pode falar em democracia. "Essa reação é porque eles não têm mais o controle que tinham antes, a ira ocorre porque deu certo o governo do primeiro operário nesse país. Não venham nos dar lição de democracia porque fomos nós que pagamos caro para reconquistá-la."

Com bom humor, Gilmar Mauro, representante do MST, comentou: "o dia em que a Folha e O Estado começarem a falar bem de nós é porque estamos no caminho errado". Ele acredita, porém, que o próximo governo terá a missão de investir na democratização, tanto da mídia quanto da economia e da terra.
Com o hino nacional brasileiro cantado por todos no auditório, o ato terminou deixando no ar a certeza de que os ataques da grande mídia à mobilização dos movimentos sociais apenas ajudam a aprofundar a unidade de um grupo comprometido com um novo modelo de produção, acesso e vinculação da informação. Construída por todos e para todos os brasileiros.

COMENTÁRIO: ESTIVE PRESENTE E FOI MUITO EMOCIONANTE VER QUE AS COISAS ESTÃO MUDANDO NA ÁREA DA ORGANIZAÇÃO SOCIAL EM LUTA PELA DEMOCRACIA NA INFORMAÇÃO. CONSEGUIMOS REUNIR UMA MULTIDÃO DE PESSOAS QUE NÃO CONCORDAM MAIS COM OS DESMANDOS DO P.I.G.


Fonte: Luiz Carvalho - CUT

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